segunda-feira, 29 de junho de 2015

REVOLTA DO “QUEBRA QUILOS” EM ALAGOAS - OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA,

REVOLTA DO “QUEBRA QUILOS” EM ALAGOAS.


OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA, escritor, membro da Academia Alagoana de Cultura, membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Espirito Santo sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Campinas/SP e membro da Comissão Alagoana de Folclore. Membro Correspondente da A.P.H.L.A. 


O Brasil império durante quase todo século XIX viveu imerso em conflitos e beligerâncias , quer entre a coroa e seus lacaios –  e aqui se inclui o povo - e não menos ainda suas províncias, que em busca de autonomia político administrativa desvencilhando-se do poder a que estava subordinada. E nesta amálgama em que a população se via envolvida, acorrentada nos abissais contrastes que subjugavam e impunham um impiedoso “apartheid” entre ricos e pobres, tornando estes ainda mais, e não sendo suficiente, o Estado [Império] mostrava seu poder aumentando a carga tributária que resignado o cidadão tinha que suportar.
A antiga província da “Parahyba”, conhecida pelas inúmeras demonstrações de excessiva violência envolvendo velhos caciques da política local, a estes se somavam grandes latifundiários, abastados comerciantes, figuras do clero, que fizeram daquela comuna nordestina um forte armamentista. E foi no chão arenoso, ressecado pelo calor suportado apenas por aqueles que a ele estavam habituados, que insurgiu uma das grandes revoltas populares denominada “Quebra Quilos” , que ultrapassou os limites geográficos chegando inclusive às províncias irmãs – Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Não foram poucas as razões que culminaram em tal revolta, desde a insatisfação com elevados impostos, o recrutamento para o serviço militar onde apenas pobres e dissidentes do atual governo eram recrutados e ainda a prisão do padre Dom Vital que fez frente a maçonaria, impedindo a participação destes em procissões e demais atos religiosos. A Paraíba desde 1870 se encontrava imersa numa crise econômica devido a queda dos preços do açúcar e algodão, e somado a este declínio financeiro o então governo exige o cumprimento da lei imperial n º 1.157 de 26 de junho de 1862 que instituía o sistema  métrico decimal e pesos oficiais. As formas de medição e aferimento comumente usadas pelos comerciantes eram: vara, côvado, braça, cuia, palmo, quarta, estas agora deveriam obrigatoriamente serem substituídas por quilograma, metro, litro e demais instrumentos averiguadores, cujo novo sistema foi copiado do governo francês, e aqueles que descumprissem tal imposição eram multados e punidos, cuja sanção dar-se-ia inclusive cerrando o infrator na prisão.  Serviços de fiscalização e controle eram montados nas chamadas bodegas, açougues, armazéns e mercados no afã de obrigar o cumprimento da lei.
O estopim da revolta de Quebra Quilos, se deu na manhã de sábado do dia 07 de novembro de 1874 numa paupérrima vila de Campina Grande, quando a população se achando enganada com novas formas de medição e desconfiadas com os altos preços em consequência da volumosa carga de tributos a que tinha que se submeter, invadem a feira munidos de armas, foices, pedras, e apreendem os quilos, metros e demais instrumentos aferidores.  Tal revolta repercutiu por toda a província tendo recebido apoio nas vilas de Ingá, Cabeceiras, Pilar, Areia, Lagoa Grande, Guarabira, Bananeiras, São José do Cariri, dentre outras.
Com muita propriedade e não menos conhecimento intelectual o qual lhe era peculiar, o eminente político, secretário da fazenda, jurista Serzedelo de Barros Correia nome por demais conhecido nesta paragem caeté, brinda os cultores da história com suas pesquisas que culminou na publicação da obra “Quebra Quilos em Alagoas” em 1972, numa lídima alusão a revolta nascida na Paraíba e que ganhou força e apoio popular na terra de Deodoro. Dr. Serzedelo não poupou esforços em demostrar que Alagoas também aderiu a tal movimento, ainda que pouco ou quiçá estranho entre seus conterrâneos.
Nas palavras do historiador viçosense, cujas raízes remontam ainda à sua Boa Esperança de seus antepassados no atual município de Chã Preta, a primeira notícia sobre Quebra Quilos em Alagoas se deu na antiga povoação de Mundaú Mirim em 26 de dezembro de 1874, cuja narrativa do Sr. Manoel Martins de Miranda ao presidente da província  dava conta de uma grande destruição de pesos e medidas e ainda incêndio de cartórios do juiz de paz e do subdelegado o que durou por mais ou menos um ano, conforme prescreve trecho de declaração constada no supramencionado relatório, in verbis:
"Estava o Chefe de Polícia de Maceió, Joaquim Guedes Correia Gondim, convicto de que a causa da perturbação da tranquilidade pública em Alagoas fora, indubitavelmente, a sedição que rebentara nas Províncias da Paraíba e de Pernambuco, e que se ampliara, atingindo o território alagoano".
Tais registros ainda que desconhecidos de grande parte da comunidade acadêmica alagoana, terão doravante sua notoriedade mediante os esforços empreendidos pelo brilhante historiador Dr. Serzedelo Correia, que por anos à fio mergulhou nos anais do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas –IHGAL, do qual fez parte ocupando uma cátedra naquele sodalício. As fontes bibliográficas  foram as mais diversas, desde velhos jornais empoeirados com artigos que fazem menção ao Quebra Quilos, testemunhos epistolares de participantes da revolta em Alagoas até os  relatórios oficiais do presidente da Província dirigidos a Assembleia Legislativa. Todo esse acervo emoldurou uma das mais ricas e proeminentes obras da literatura local, imortalizando a figura inolvidável do Dr. Serzedelo de Barros Correia, cuja inestimável colaboração percebida  pela veracidade histórica com que discorre sobre os fatos, merece os mais sonoros e vibrantes aplausos do povo alagoano, em reconhecimento e gratidão por seus relevantes serviços a terra que um dia lhe serviu de berço.

OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA, escritor, membro da Academia Alagoana de Cultura, membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Espirito Santo, sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Campinas/SP e membro da Comissão Alagoana de Folclore.

HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NO ENSINO MÉDIO: DA OBRIGATORIEDADE À REALIDADE NO IFAL/MACEIÓ - Maria Luciane da Silva1 Anne Francialy da Costa Araújo2 Maria Lucilene da Silva3

HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NO ENSINO MÉDIO:


DA OBRIGATORIEDADE À REALIDADE NO IFAL/MACEIÓ

Maria Luciane da Silva1 Anne Francialy da Costa Araújo2 Maria Lucilene da Silva3

Recebido em: ago. 2013


Aceito em: out.2013


RESUMO


Desde 2003, o Brasil instituiu, por meio de uma norma legal (a Lei nº 10. 639/2003, modificada pela Lei nº 11.645/2008), a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro- brasileira e indígena em todas as escolas do ensino fundamental e médio do país. Transcorridos dez anos de promulgação dessa primeira lei, suas determinações ainda não fazem parte do cotidiano de todas as escolas brasileiras; no máximo, observam-se aplicações pontuais e esparsas. Considerando isso, este artigo discute a obrigatoriedade e a realidade em torno da implantação das referidas leis, citando a experiência com o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, a partir das aulas de Língua Portuguesa para alunos do ensino médio tecnológico. Os dados foram coletados em pesquisa bibliográfica aliada à observação, descrição e análise de situações reais vivenciadas no campus Maceió do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Verificou-se que a realidade ainda está muito distante do que a lei exige, apontando para a necessidade de melhoria na formação docente e mais discussões no contexto escolar sobre a prática com os saberes exigidos pela norma legal.

Palavras-chave: História e cultura afro-brasileira e indígena. Ensino médio tecnológico. IFAL.


HISTORY AND AFRO-BRAZILIAN AND INDIGENOUS CULTURE IN HIGH SCHOOL: FROM OBLIGATION TO PRACTICE IN IFAL/MACEIÓ


ABSTRACT


Since 2003, Brazil has established, through a legal regulation (law n° 10.639/2003, changed by the law n° 11.645/2008), the mandatory teaching of history and afro-Brazilian and indigenous culture in middle and high schools. After ten years of promulgation of this law, its determination has not been implemented in all Brazilian schools, only punctual and sparse applications. Considering this situation, this article discuss the obligation and the practice

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  1. around the implementation of these laws, mentioning the experience in history and afro- Brazilian culture teaching , from the Portuguese Language classes to students of technological High School. Data were collected in bibliographical, observation, description and situations experienced in the Instituto Federal de Alagoas (IFAL), campus Maceió. It was observed that the reality is far from what is demanded by the law, showing the necessity of implementing the teaching education and more discussions in the scholar context about the practice with the knowledge demanded by the legal regulation.

    Keywords: History and afro-Brazilian culture. Technological high school. IFAL.


    INTRODUÇÃO


    O Brasil, como se sabe, é marcado por uma colonização multicultural. Descoberto oficialmente por portugueses, em 1500, o território era habitado por várias tribos indígenas, sofreu invasões francesas, espanholas e holandesas e usou a mão de obra escrava africana, até 1889, data oficial do fim da escravatura. Todos esses povos e suas culturas, entre outros que também vieram para cá, contribuíram para a diversidade cultural e étnica que hoje caracteriza mundialmente o Brasil. Apesar disso, a história oficial, relatada a partir da visão do colonizador branco e europeu, apaga e/ou diminui o papel, a importância e a existência de outras culturas e grupos étnicos na formação do país.
    Especificamente sobre os índios, por exemplo, o que se tem são breves relatos, nos quais os indígenas são definidos apenas como seres ingênuos que habitavam as terras brasileiras, apagando-se as reações à colonização, o extermínio desses habitantes, a variedade de tribos que aqui havia, suas distintas culturas e línguas, etc4. Em relação aos negros, algo semelhante acontece e estes quase sempre são citados apenas pelo trabalho escravo nas plantações e engenhos de cana-de-açúcar; esconde-se ou minimiza-se a forma como eles foram retirados, à força, de suas terras e trazidos para cá, como eram tratados aqui e mesmo assim mantiveram suas tradições, influenciando na constituição do Brasil.
    Depois da luta de vários grupos que defendem a cultura e a identidade negra, reconhecendo a dívida que o país tem com esse grupo étnico, em 2003, foi sancionada a lei nº
    10. 639/2003 que, alterando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº 9394/96), obrigou o ensino da história e cultura afro-brasileiras em todas as escolas da educação básica. Transcorridos cinco anos dessa primeira norma legal, entidades representantes dos indígenas também conseguiram igual reconhecimento e a aprovação da lei nº 11.645/2008, que alterou a lei nº 10.639, acrescentando a obrigatoriedade do ensino, também, da história e cultura indígena.

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  2. Mais informações sobre a influência da colonização sobre os índios brasileiros, ver o livro de Araújo (2007).
Dez anos se passaram desde a sanção da primeira norma legal e a incorporação, pelas escolas, do que se exige na lei, ainda enfrenta muitas dificuldades. Atento a isso, este artigo discute as leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008 e outros textos que abordam temas correlatos, além da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, mostrando- se, especificamente, as experiências que têm sido desenvolvidas no campus Maceió do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Utiliza-se, para tanto, a pesquisa bibliográfica e em sítios eletrônicos, bem como a observação e os registros de experiências desenvolvidas em aulas do ensino médio tecnológico do IFAL.

  1. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A COLONIZAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DE “UMA HISTÓRIA DE BRASIL”

    Portugal, a História mostra isso, não teve para com o Brasil interesse colonizador, no sentido dado a esse termo de ocupar uma terra, povoá-la. Os povos ibéricos (Portugal e Espanha) movidos por suas disputas e relações com a Igreja,

    Se lançaram à aventura no além-mar, abrindo novos mundo atiçados pelo fervor mais fanático, pela violência mais desenfreada, em busca de riquezas a saquear ou de fazer produzir pela escravaria. Certos que eram novos cruzados cumprindo uma missão salvacionista de colocar o mundo inteiro sob a regência católico-romana. Desembarcavam sempre desabusados, acesos e atentos aos mundos novos, querendo fluí-los, recriá-los, convertê-los e mesclar-se racialmente com eles (RIBEIRO, 1995, p.67).

    A colonização das Américas, então, toma a forma de uma grande empresa comercial, “[...] mais complexa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu” (PRADO JÚNIOR, 1998, p. 23). Esse é o sentido, também, da “colonização” brasileira, afinal,

    Se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro e diamantes; depois, algodão e, em seguida, café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras [...] Este início, cujo caráter manter-se-á dominante através dos séculos da formação brasileira, gravar-se-á profunda e totalmente nas feições e na vida do país. Particularmente na sua estrutura econômica (PRADO JÚNIOR, 1998, p. 23, grifou-se).
    Não havia um interesse, portanto, em construir uma nação. O intuito era, tão somente, obter provimentos para alimentar a elite portuguesa e para o comércio com o restante da
    Europa. Essa forma de constituição ganha mais um elemento quando se verifica com Holanda (1995, p.107) que:

    Mesmo em seus melhores momentos, a obra realizada no Brasil pelos portugueses teve caráter mais acentuado de feitorização do que de colonização. Não convinha que aqui se fizessem grandes obras, ao menos quando não produzissem imediatos benefícios. Nada que acarretasse maiores despesas ou resultasse em prejuízo para a metrópole. (Grifou-se).

    Assim, confirmando o dizer de Prado Júnior (1998), a feitorização defendida por Holanda (1995) é marca do desinteresse de Portugal com o desenvolvimento das terras “descobertas”. Aliado a isso, tem-se o fato de que aqueles que vieram “colonizar” o Brasil vieram por falta de opção melhor. Quando a “Colônia” foi dividida em capitanias, por exemplo, isso se fez para que essas capitanias fossem “distribuídas aos fidalgos da pequena nobreza, pois os de grande nobreza desejavam terras nas Índias, no Reino ou nas ilhas adjacentes” (SILVA, 1990, p.57).
    Voltando ao interesse “fornecedor”, nota-se que o Brasil, por um certo tempo, passa despercebido por seus “descobridores”, até que questões religiosas e político-econômicas fazem a Metrópole olhar para a “Colônia” de uma forma cada vez mais sequiosa, exigindo desta um “fornecimento” mais eficaz de riquezas.
    Nesse sentido, os jesuítas cumpriram durante bastante tempo a missão que lhes foi imposta pela Coroa, qual seja atuarem como “amansadores de índios” para a incorporação destes “na força de trabalho ou nas expedições armadas da Colônia” (RIBEIRO, 1995, p.54).
    Apesar de não ser este o seu propósito explícito, os jesuítas cumpriram, por muitos anos, um papel de dizimador de índios, ao afastá-los de suas aldeias e concentrá-los em pontos, nos quais ficaram mais sujeitos às contaminações por moléstias brancas e, apenas serviam aos padres e aos portugueses, em lutas contra tribos hostis (RIBEIRO, 1995, p. 55). Passado algum tempo, arrependidos de seu “papel alienador” e de responsabilidade na “dizimação” resultante disso, alguns jesuítas chegaram a assumir riscos no resguardo e defesa de índios, entrando em choque, muitas vezes, com os interesses econômico-políticos de colonos e da Coroa. São, por isso, expulsos do Brasil e, obedientemente, entregam “[...] as missões aos colonos ricos, contemplados com a propriedade das terras e dos índios” pelo governo português. (RIBEIRO, 1995, p.56).
    Nesse pequeno resumo de uma história do Brasil, vê-se o quanto os índios foram usados, tanto pela coroa portuguesa, quanto pelos demais invasores europeus, missionários e colonos. As tribos indígenas foram dizimadas e escravizadas e, quando não serviram mais aos interesses daqueles que as exploraram, foram trocadas por outra mão de obra: os negros
    trazidos d’África como se escravos fossem, desde o nascimento, e não uma condição que lhes foi imposta, para que servissem aos colonos.
    Em Casa-Grande & Senzala, Freyre (2002, p. 223) relata como os sistemas escravocrata e missionário jesuítico devastaram a raça nativa brasileira, afirmando que “[...] os escravos índios, como depois os africanos, foram, no Brasil dos primeiros tempos, o capital de instalação dos brancos, muitas vezes chegados aqui sem recurso nenhum.” Assim, a presença dos indígenas, aos poucos, será cada vez menos percebida, a partir de “[...] seu desaparecimento como contingente demográfico relevante na sociedade brasileira e pelo esmaecimento da visibilidade de sua participação na composição da população inserida na estrutura demográfica e social do País” (DELGADO, 2006, p. 10).
    Os afrodescendentes, ao contrário disso, depois de séculos de escravismo colonial terão uma percepção diferente. Conforme Delgado (2006, p.10):

    plasticidade dos portugueses, referida por Gilberto Freyre ao descrever o intercurso sexual entre os senhores de terra e suas escravas, e a relativa proximidade social de libertos e brancos pobres favoreceram a inegável expansão da mestiçagem no Brasil. Entretanto, a ela associou-se uma hierarquia valorativa – em boa medida entronizada na própria percepção que os negros têm de si na sociedade brasileira –, na qual a pessoa de pele preta está situada no patamar inferior de uma escala, que se eleva conforme o gradiente da cor da pele e o manejo dos símbolos próprios do mundo dos brancos. Durante décadas, tal percepção instruiu políticas abertamente racistas, nas quais o recurso à imigração européia [sic] era tomado como necessário ao branqueamento da população.

    Contraditoriamente arraigados e negados, o racismo contra os afrodescendentes e o apagamento da existência dos índios estão presentes na atual história do Brasil, contribuindo para a desigualdade social que atinge esses grupos étnicos, isolando-os entre a população mais pobre, mais carente de recursos de toda espécie, de saúde, de educação e de melhores condições de vida. Apenas muito recentemente, políticas e ações afirmativas procuram garantir, aos afrodescendentes, indígenas e pessoas portadoras de necessidades especiais, as condições para que estes possam inserir-se de forma mais igualitária na sociedade de hoje. Uma dessas ações foi a promulgação da lei 10.639/2003, modificada a seguir pela lei 11. 645/2008, abaixo descritas.

  2. A OBRIGATORIEDADE NORMATIVA DO ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

    O Brasil, como se descreveu, nasceu mestiço e plural. Apesar disso, de acordo com Machado et.al. (2012, p. 25), “No passado, houve políticas que visavam à homogeneização
    cultural, com ênfase na cultura do colonizador europeu”. Essas ações, no entanto, “[...] não impediram que muitos aspectos das culturas dos indígenas que aqui habitavam e dos negros trazidos para o Brasil se mesclassem à cultura do colonizador para formar a chamada cultura brasileira” (MACHADO et.al., 2012, p. 26).
    Reconhecendo isso, os séculos de apagamento dessas influências e o clamor das entidades representativas de grupos negros foi editada pelo então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 9 de janeiro de 2003, a lei nº 10.639, a qual modificava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – lei nº 9394/96], afirmando:

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    Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
    "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
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    § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
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    § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados
    no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
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    § 3o (VETADO)"
    "Art. 79-A. (VETADO)"
    "Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’." (BRASIL, 2013a, grifos no original).

    Como se pode observar, essa lei acrescentou artigos à LDB os quais tornaram obrigatórios o “ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira”, propondo que o conteúdo programático das disciplinas seja desenvolvido de modo a promover o resgate da “contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”. A lei nº 10.639/2003, ensina Pereira (2013), é resultante

    [...] de um processo muito longo de trabalho e de reivindicação das organizações negras do final do século XIX e início do século XX. Em meados do século XX, essa discussão foi proposta pela instituição da Frente Negra Brasileira, que atuou de forma mais incisiva politicamente. E, nos anos 1970, o movimento negro atuou politicamente e concretizou essa reivindicação sobre a questão negra da educação no sistema de ensino. Esse processo vem se desenvolvendo desde o período colonial com as Irmandades do Rosário, que sempre tiveram na pauta das suas ações a preocupação também com a educação. (Grifos no original).

    Ainda sobre essa lei, segundo a análise de Machado et.al. (2012, p. 27), seu objetivo era “[...] assegurar o reconhecimento e a igualdade de valor das culturas africanas em relação à matriz europeia. Resta-nos pensar se a promulgação da lei tem realizado, de fato, uma mudança de conceitos ante ao que se refere à África.”
    Essa tem sido a grande preocupação dos estudos em torno da lei nº 10. 639/2003. De acordo com Pereira (2013):
    A instituição da lei prevê uma revolução na educação do país para mostrar que o Brasil foi construído a partir de vários grupos étnicos: o grupo indígena, o grupo negro e o grupo europeu, e que essas histórias todas têm que vir à tona para entendermos como funciona nossa sociedade.
    Ainda hoje há aqueles que são resistentes à lei. Porém, o lado bom é que, diferente de dez anos atrás, mais pessoas, escolas e educadores têm ciência, se não consciência, dessa outra parcela da população, a qual precisa se ver na história e se ver de forma positiva.

    Numa recente audiência pública realizada na Comissão de Educação da Câmara de Deputados, estudiosos, políticos e professores avaliaram os dez anos de promulgação da lei 10.639 e reconheceram que ainda há muitos desafios a superar, a fim de que esta, de fato, torne-se ação concreta; um desses desafios é a própria formação dos docentes, que é falha e não incorpora o trabalho com a diversidade como prática corrente. Para Ana José Marques (apud AGÊNCIA CÂMARA, 2013), coordenadora de Educação em Diversidade da Secretaria de Educação do Distrito Federal e uma das participantes da audiência:

    [...] As escolas ainda trabalham a questão racial apenas em 13 de maio (data da abolição da escravatura no Brasil, em 1888) ou em 20 de novembro (dia da Consciência Negra), mas isso tem que fazer parte do cotidiano. Um professor não pode fazer carinho apenas no cabelo liso, mas também no cabelo crespo.

    Sem a preparação adequada, os docentes sentem-se inseguros e, quando muito, promovem ações pontuais em datas comemorativas e/ou aproveitando algumas indicações que os livros didáticos têm apontado, a partir da edição da lei nº 10. 639/2003. No que se refere à inserção da história e cultura indígena, tal como exigiu a lei nº 11. 645 de 10 de março de 2008, igualmente promulgada pelo ex-presidente Luiz Inácio da Lula Silva, a questão parece ainda caminhar mais lentamente. Essa última norma legal alterou o Art. 26-A da LDB, anteriormente alterado pela lei 10.639/2003, acrescentando-se a questão indígena:

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    Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
    Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
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    § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir
    desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
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    § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos
    indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (BRASIL, 2013b, grifos no original).
    Denota-se nesse artigo a preocupação de se resgatar, além da presença negra nos diversos setores da sociedade, a influência dos índios. Destaque-se a observação de que “os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas” devam ser explorados por todo o currículo escolar, ressaltando-se as áreas de artes, literatura e história. Esse, aliás, é mais um dos desafios a superar. A lei trata como em especial, e não exclusivamente por essas três áreas. O fato é que, nas escolas, muitos têm entendido que a responsabilidade é exclusiva das artes, da literatura e da história, quando não é.
    Outro aspecto de relevo nessa lei é indicação de “povos indígenas”, o que aponta para o reconhecimento de que por aqui não havia apenas uma tribo, com uma só cultura e uma língua. Cabe, mais uma vez, a reflexão sobre o papel que a escola exerce/exercerá a partir do que essas leis indicam como obrigação para o seu currículo. Pensando nesse trilho, a seguir, discutem-se algumas ações que vêm sendo realizadas no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), buscando-se a inclusão dos conteúdos antes listados e o trabalho com a pluralidade e diversidade cultural e étnica que caracterizam o Brasil. Afinal, como apontam Machado et.al. (2012, p. 25):

    Um dos objetivos do trabalho sobre a pluralidade cultural, apresentado nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, é permitir que cada aluno tenha a oportunidade de conhecer as suas origens e, dessa forma, sentir-se inserido em algum grupo cultural específico. O sentido de pertencimento favorece a constituição de uma autoestima positiva, o que possibilita à criança expor suas ideias e vivências e orgulhar-se do grupo ao qual pertence.

    Esse também é o interesse das leis aqui indicadas e dos educadores, as questões que se põem para a reflexão e análise são: que caminhos seguir? O que e como fazer? Que obras usar? Como usá-las? Onde inserir? Como abordar os conteúdos de forma multi, pluri e transdisciplinar? Essas e outras questões fazem parte do cotidiano de muitos educadores; a seguir, tratam-se algumas, a partir da realidade do IFAL-Maceió.

  3. ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO COM CONTEÚDOS AFRO- BRASILEIROS EM DISCIPLINAS DO IFAL-MACEIÓ-AL


Embora se saiba que, como Instituto Tecnológico, no IFAL haja a prevalência do ensino técnico, como meio de inserção do aluno no mercado de trabalho, não se pode deixar à margem a formação humanística, nem o que determinam as leis objeto desta análise. Na área de Linguagens e Códigos, a qual congrega Artes, Letras e outras linguagens, há uma preocupação, a partir da própria especificidade dos temas nela abordados, em formar um
indivíduo que, além do domínio do conhecimento técnico-científico, seja um ser social, crítico, capaz de articular vários saberes em sua prática.
No IFAL, a disciplina de Língua Portuguesa está no componente curricular das três primeiras séries do ensino médio, com uma carga horária semanal de 3 horas aulas, destinadas ao trabalho com Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Produção de Textos. Esse aspecto já merece uma observação: tem-se um extenso conjunto de saberes a serem abordados e pouco tempo destinado para tanto; além do mais, apesar da determinação legal, não há espaço explícito nesse componente curricular para o trabalho com outras literaturas, especificamente a afro-brasileira e indígena. Isso acaba abrindo espaço para a improvisação de ações e/ou autoriza a falta de interesse de muitos em construir uma prática que envolva multi, trans e pluridisciplinarmente esses saberes.
Apesar disso, tem-se um projeto, voltado mais especificamente para Literatura, cuja proposta é, a partir da leitura e discussão de autores que abordam o negro e/ou o índio em suas obras, confrontar o texto literário e a vivência de cada aluno, percebendo esses elementos na formação da identidade individual e coletiva do brasileiro.
Nesse projeto, foram selecionados autores e, considerando-se a periodização literária, observou-se, do período romântico, a fase indianista, e do modernismo sua proposta de resgatar os valores nacionais. O objetivo era contrapor esses dois momentos da história literária, cuja ênfase é a construção da identidade brasileira, destacando assim o papel que o índio e o negro têm na formação dessa identidade. Foram selecionadas, de acordo com essa proposta, obras de Gonçalves Dias, Castro Alves, Jorge Amado e Solano Trindade, além da obra do escritor africano Mia Couto.
Feita a seleção de autores e obras específicas, buscou-se desenvolver atividades reflexivas, complementares e motivadoras para a leitura e análise dos textos selecionados. Realizaram-se, nesse sentido, a visita ao Museu Xucurus, em Palmeira dos Índios-AL, além da exibição e debate de 3 filmes relacionados à temática indígena e africana, quais sejam: “O grande debate”, “Tainá” e “O guarani”.
Concluídas essas atividades, procedeu-se um seminário, no qual os alunos, individual e coletivamente, expuseram sua compreensão/ponto de vista sobre a diversidade cultural que constitui o mundo contemporâneo e, especificamente o Brasil, e a implicação/importância dessa diversidade para a constituição dos valores pessoais e a prática cidadã de cada indivíduo.
A avaliação dessa experiência foi muito positiva, tanto do ponto de vista dos discentes, quanto para o educador, mas deve-se ressaltar, para os fins da crítica que aqui se elabora, mais uma vez, o caráter isolado dessa prática. Infelizmente, essa tem sido a realidade
observada em torno da aplicação do que as leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 exigem. O desafio que se coloca rotineiramente é como torná-las uma realidade? Inserir a história e a cultura afro-brasileira e indígena nos componentes curriculares do ensino médio tecnológico de maneira formal, atribuindo, inclusive uma carga horária específica para tanto, pode ser um caminho.

CONCLUSÃO


Expôs-se aqui o que determinam as leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 sobre a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena. Verificou-se que essas leis são resultado da luta de entidades representativas desses dois grupos étnicos, não sendo, portanto, como apontam alguns críticos destas, algo que foi imposto pelo governo e que, por isso, não teve a repercussão desejada.
Os dados apontam que as normas precisam, sim, ser melhor discutidas, especialmente, nos cursos de formação de professores, mas também dentro das escolas, para que as ações sejam desenvolvidas rotineiramente dentro do currículo escolar, tal qual se estuda a história e geografia geral ou a literatura portuguesa, por exemplo.
Enquanto o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena continuar sendo restrito a uma data comemorativa, tal qual o dia do Índio ou o dia da Consciência Negra, ou ser tratado, como o título deste artigo anuncia, uma “experiência”, não se terá, de fato, conseguido implantar o que as leis aqui expostas exigem.
É preciso que o vocábulo “experiências” se torne uma prática que, de tão comum, não seja necessário mais experimentar, mas sim vivenciar. Dessa forma, a escola poderá concretizar o seu papel social e educativo, possibilitando que essa vivência espalhe-se, contribuindo para a diminuição do racismo, valorização da cultura e identidade negra e indígena e o reconhecimento da diversidade e o pluralismo que constitui e torna os brasileiros únicos em todo o mundo.

REFERÊNCIAS


AGÊNCIA CÂMARA. Ensino da cultura afro-brasileira ainda enfrenta desafios, dizem especialistas. Todos pela educação. Disponível em: < http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na- midia/26912/ensino-da-cultura-afro-brasileira-ainda-enfrenta-desafios-dizem-especialistas/>. Acesso em: 03 ago. 2013.

ARAÚJO, Anne Francialy da Costa. Língua e Identidade: reflexões discursivas a partir do Diretório dos Índios. Maceió: EDUFAL, 2007.
BRASIL. Lei nº 10. 639 de 9 de Janeiro de 2003. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 02 ago. 2013a.

BRASIL. Lei nº 11. 645 de 10 de Março de 2008. Planalto. Disponível em:

DELGADO, Ignacio Godinho. Apresentação. In: DELGADO, Ignacio Godinho (Coord.). Vozes (além) da África: tópicos sobre identidade negra, literatura e história africanas. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 46 ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das
Letras,1995.

MACHADO, Emilia et.al. Da África e sobre a África. Textos de lá e de cá. São Paulo: Cortez Editora, 2012.

PEREIRA, Lúcia Regina. Entrevista. Unisinos. Disponível em:< http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/519509-lei-106393-a-cultura-tem-de-ser-tratada-como- uma-questao-educacional-entrevista-especial-com-lucia-regina-pereira>. Acesso em: 03 ago. 2013

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil43 ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Conquista e colonização da América Portuguesa – O Brasil Colônia – 1500/1750. In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. 9 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

sábado, 6 de junho de 2015

Dirceu Lindoso: “Alagoas nasceu da paixão pela vida e pela morte - Odilon Rios Especial para o EXTRA

200 ANOS

Dirceu Lindoso: “Alagoas nasceu da paixão pela vida e pela morte”

Dirceu Lindoso

Alagoas. Uma terra em que se ama e se dói. Onde existe a paixão pela vida. E pela morte. Uma mistura de uma história fabulosa. E das guerras para sua formação.A série “Alagoas, 200” conversou com Dirceu Lindoso. Entre livros e artigos sobre o Estado, vão-se mais de 300 títulos. Seu olhar mistura um passeio pela literatura. E análise documental. Uma praticidade romanceada.  


Um romancista pragmático. “Alagoas, 200” é publicada pelo EXTRA todas as semanas. Um presente ao leitor, reunindo gentes de Alagoas contando histórias para além de sua História oficial, misturando passado e presente, com um olhar para o futuro. Por aqui passaram quatro dos autores clássicos para entender Alagoas: Sávio de Almeida, Douglas Apratto, Élcio Verçosa e Dirceu.  


Veja entrevista: 


Onde o senhor identifica, na nossa história que o modelo pensado e imaginado para Alagoas pelos seus gestores começou a falhar?


Não sei se começou a falhar. Cito em meus livros apenas  seus defeitos. Escrevi um artigo em que mostro que, na formação das Alagoas, a sociedade que vai ser alagoana depois de 1817 apresenta-se com uma dupla face: a da abundância tutelar e a da pobreza social. Ambas com estrutura social e conotações econômicas. A sociedade já mercantilizada desenvolve um conteúdo econômico e esboça uma diferenciação cultural.


Nela, o social prevalece sobre o cultural. Ela vai adquirindo uma autoconsciência social. Só que se especificam as ambivalências sociais, principalmente nas classes baixas; algumas delas - como a dos escravos - não chegam a ser uma classe. No máximo, um estamento, no qual as ambiguidades culturais prevalecem sobre as diferenciações econômicas.  É o que descreve Tonelare sobre o mundo rural do sul de Pernambuco do século XIX - uma região rural especificamente de transição, com índios que contestam a posse da terra, com moradores que plantam de aluguel e lavradores empobrecidos. Essa região de Ipojuca, visitada pelo viajante francês, serve de exemplo a toda a região dominada pelos engenhos de açúcar.  



No ensaio “Primeiros Passos da Formação de Alagoas”, o senhor escreveu que nascemos da paixão pela morte. A morte de negros, índios. Essa pode ser uma explicação para o extermínio anual de duas mil pessoas, a maioria também carregando as suas paixões pela vida e pela morte?


A violência hoje tem outras origens. Quando eu falo  na minha obra sobre violência eu falo como historiador baseando-me em documentos e não como um cientista social.  Porém, como ser social eu diria que a violência contra negros, índios, mulheres e demais grupos sociais,  se transformou em outras formas de violência, mascaradas socialmente. Alagoas surgiu da morte de milhares de índios, que hoje vivem encurralados em suas aldeias de sertão, da morte e prisão de milhares de negros escondidos nas Cabeceiras do Porto Calvo, para que, desse genocídio, dessas paixões humanas de raças tão diferentes, surgisse Alagoas.


Uma vez escrevi: Alagoas é o que se ama e dói. Alagoas não nasceu do sonho de um monarca. Nasceu da morte de milhares de índios Tapuia-Kariri, da morte de milhares de negros de etnias diversas, do trabalho de milhares de homens pobres: índios, negros, brancos e mulatos. Houve uma riqueza de poucos e uma pobreza de muitos. Esse foi o jeito que encontramos de criar Alagoas. Pois é bom que se diga: Alagoas nasceu de uma grande paixão. A paixão pela vida, a paixão pela morte.


A paixão pela riqueza, a resignação pela pobreza. E, desculpe-me o orgulho do nosso antigo Pernambuco, pelas escolhas que fizemos na História. Alagoas é terra mater. Antes da emancipação de Alagoas, em 1817, quem era a Alagoas colonial? A Alagoas Colonial era apenas a parte sul da capitania de Pernambuco. A comarca de Alagoas surge em 1774. O espaço alagoano passa 199 anos sem divisão administrativa, um espaço geográfico dominado pela abundância das águas, e daí o nome alagoas, pelas muitas que existiam de norte a sul.  Só no século XVIII, depois da destruição do Quilombo dos Palmares e da ocupação flamenga de Porto Calvo, Alagoas aparece como um espaço de ocupação político-administrativa, ainda que precário. Passa a ser a comarca das Alagoas, uma divisão administrativa da capitania de Pernambuco.


Os historiadores alagoanos mais antigos costumam preencher esse vazio colonial tentando localizar o descobrimento do Brasil por Cabral no litoral alagoano, desconhecendo que Diogo de Leppe descobriu o cabo de Santo Agostinho antes de Cabral descobrir o Brasil no litoral da Bahia, e navegou pelo mar do norte de Alagoas, onde deu o bordo de retorno à Europa, alguns meses antes de Cabral, mas que estabelecem uma precedência. 


O senhor escreveu em “Primeiros Passos da Formação de Alagoas” sobre a formação de dois pólos primitivos de Alagoas: Penedo, em 1575, e Porto Calvo, dez anos depois. Hoje, há diferenças econômicas e culturais evidentes entre estas duas cidades, em duas bandas diferentes, incluindo o tratamento histórico. Até onde é possível dizer que a forma de exploração dos lados sul e norte alagoanos influencia nos dias de hoje? 


Diferenciam. A formação de Penedo, com a formação de Maceió tardiamente, assim como a formação de Porto Calvo, foram coisas historicamente diferentes. São dois os pólos primitivos de colonização do território hoje alagoano: Penedo e Porto Calvo.   O de Penedo, fundado em 1575, mais antigo e com uma orientação diferencial, pois dele surgiram a ocupação do sertão alagoano e a criação da civilização do couro [para usar a expressão célebre do historiador cearense João Capistrano de Abreu no seu livro Capítulos da História Colonial (1500-1800), um estudo clássico da nossa historiografia colonial].


Porto Calvo, dez anos depois, inicia a formação dos engenhos de açúcar na zona das matas úmidas e justa-marítimas, baseada no trabalho dos negros escravos, trazidos cativos de África.  Penedo, fundada como uma fortaleza de onde nasceu a cidade histórica, expandiu a colonização para o sertão, facilitada pelo rio São Francisco e pelos caminhos de gado e os trilhos de índios. Porto Calvo começou como fortaleza - que, no tempo dos holandeses, eram três, como mostra um quadro pintado por Frans Post - e ao pé da fortaleza surgiu a sociedade sob a forma de um casario e o engenho próximo do sesmeiro Christopher Linz, onde floresceram em terras cisunenses as plantações de cana e o complexo casa-grande, senzala, capela e engenho. De Penedo surgiu a conquista dos sertões alagoanos, e de Porto Calvo a sociedade tutelar dos donos de terras, de escravos e de fábricas de açúcar da futura Alagoas.


Quando o senhor percebeu que a Alagoas heroica comemorada nos desfiles cívicos não existiu?


Percebi quando estudei a história documental nos arquivos de Portugal. A parte menos conhecida da história de Alagoas é a colonial. Até parece que Alagoas não tinha história que justificasse seu nascimento num papel comum de despacho assinado por Dom João VI em 1817, criando a capitania de Alagoas e separando-a da capitania de Pernambuco.  


A fábula inventada pelo grande historiador pernambucano Pereira da Costa dá as Alagoas como uma criação áulica, durante o período do Reino Unido, como “uma gratidão” por tropas alagoanas, saídas de Porto de Pedras, terem ajudado na derrota da Revolução Pernambucana de 1817. No espaço alagoano, ocorreram duas guerras fundamentais para sua criação: a Guerra dos Bárbaros ou o Levante Tapuia, que foi uma guerra dos currais de bois contra a confederação de tribos Tapuia-Kariri de índios de corso e que com a derrota dos Tapuia-Kriri consolidou o devassamento do sertão, configurando o quadro de uma entidade política que iria surgir em 1817.  


A conquista do sertão, tendo como pólo Penedo, foi importante, com a criação de povoados sertanejos, para que se configurasse um quadro de conquista e ocupação de um território; assim como a guerra contra o Quilombo dos Palmares, dissipando o maior aglomerado de negros escravos fugidos que se conhece em nossa história, e aliviando o medo histórico que espantou a nossa aristocracia rural. O medo foi tanto, que Zumbi entrou na História do Brasil como herói nacional.


E entrou merecidamente, pela sua consciência da liberdade. Foram esses fatos que criaram uma autoconsciência social alagoana, em que ocultamos toda a nossa consciência nacional e nossas paixões, nossos sonhos e nossos desesperos. Alagoas já se prefigurava antes de 1817. Já era pensada como um sonho político, que o mais inteligente dos Braganças concretizou. Sabia o douto historiador pernambucano que uma simples gratidão política não cria um sonho político. São os fatos da vida social, o sangue derramado das paixões, os sonhos que duram séculos, a ida e a vinda dos homens, as suas vontades e amarguras, que fazem do sonho uma verdade.    



Quem é?


Dirceu Aciolly Lindoso, 82 anos, é diplomado pela Faculdade de Direito de Alagoas (1957) e, em Economia (1966). Professor conferencista do Instituto de Antropologia da Universidade Federal da Bahia; professor do curso de Metodologia Econômica e Ciências Sociais para Pós-Graduação da PUC-RJ e UFRJ, coordenador de Etnografia da Universidade Gama Filho (RJ) e conferencista em cursos de inverno da Faculdade de Letras da Universidade de Buenos Aires (Argentina).


Assessor do Ministro de Educação e Cultura, na área de Desenvolvimento do Patrimônio Cultural. Membro da Academia Alagoana de Letras (AAL), onde ocupa a cadeira 1.


Sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Na sua produção intelectual, transita entre a História, a Antropologia, costuradas pelas memórias de sua família. Principais obras:  


- O Nu e o Vestido (Fundamentos Etnográficos da Antropofagia de Oswald de Andrade), Rio de Janeiro, Editora Fontana, 1977 (ensaio) - Uma Cultura em Questão: a Alagoana, Maceió, EDUFAL, 1981 (ensaio)  


- Póvoa-Mundo, capa e ilustração de Poty e bico-de pena de Luís Jardim, Rio de Janeiro, José Olympio Ed., 1981,


- 2º lugar no prêmio José Lins do Rego, 1980, (romance) - A Diferença Selvagem, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983, (ensaio)-  A Utopia Armada - Rebelião de Pobres nas Matas do Tombo Real, (1832-1850), Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983 (ensaio) -  Liberdade e Socialismo, Petrópolis, AMPM Ed., 1987 (ensaios) 


 -  O Cônego e a Catequese Indígena, Rio de Janeiro, Fundação Biblioteca Nacional, 1993 -  O Andarilho e a Mãe de Santo (O Negro na Obra de Arthur Ramos), Rio de Janeiro, Fundação Biblioteca Nacional, 1992 - Na Aldeia de Iati-lha


- Etnografia dos Índios Tapuias no Nordeste, Rio de Janeiro, Fundação Biblioteca Nacional, 1992  -


A Serpente e a Máscara (Sobre a Etnologia Estética de C. Levi-Strauss), Rio de Janeiro, Editora Fontana, 1977   - Formação de Alagoas Boreal, Maceió, Ed. Catavento, 2000 - Negros Papa Méis e Negros Escravos na Guerra dos Cabanos, Petrópolis, Ed. Vozes, 1988 (ensaio) Contato: dirceulindoso@gmail.        


Élcio Verçosa: “Alagoas é uma terra de vencidos e humilhados” - Odilon Rios Repórter

Élcio Verçosa: “Alagoas é uma terra de vencidos e humilhados”

Foto: Reprodução
Élcio Verçosa
Élcio Verçosa

Élcio Verçosa


O quadro é trágico e a solução vem de um ambiente escolar público, estimulante e currículos escolares modernos. A defesa é do professor Élcio de Gusmão Verçosa, o terceiro personagem da série “Alagoas, 200” publicada pelo EXTRA todas as semanas, em comemoração ao bicentenário alagoano.Veja entrevista:


Educar era o grande objetivo/meta dos gestores logo após a emancipação alagoana?
Numa leitura menos atenta das mensagens dos mandatários máximos do Executivo alagoano, tem-se frequentemente a tentação de pensar que, desde suas origens, aqui a educação escolar, ao menos após a Emancipação de Alagoas da Capitania de Pernambuco, foi sempre uma prioridade. Se a leitura dos discursos oficiais for feita, então, sem contemplar uma série histórica, somos levados a concluir que a prioridade dada à escolarização era absoluta, até porque em muitos exercícios fiscais se gastava mais de 20 a 25% dos impostos estaduais ou se lançava mão de reformas como se aí residisse a chave do sucesso. 

Douglas Apratto e a visão do povo alagoano: sujo, atrasado, bárbaro -Odilon Rios Repórter

ATUALIZADO 08 DE ABRIL DE 2015 - 10:24 

200 ANOS

Douglas Apratto e a visão do povo alagoano: sujo, atrasado, bárbaro

Foto: Reprodução
Douglas Apratto
Douglas Apratto
A romântica visão da História alagoana é quebrada por uma frase que impacta o olhar do leitor exigente: um historiador que não mede a grafia das palavras. Mostra que a elite alagoana detesta viver no Estado que a pariu; “ganha dinheiro e adora o exterior”. E tem uma visão, há 400 anos, sobre o povo: ele é “sujo, atrasado, bárbaro”. A série “Alagoas, 200”- que faz um raio X sobre o passado, o presente e o futuro de Alagoas em seu bicentenário- continua no EXTRA desta semana entrevistando Douglas Apratto Tenório, 70 anos.
É autor de mais de uma centena de livros e artigos que transitam entre o Jornalismo e a História. “Fico estarrecido com certas atitudes machistas, discriminatórias, enganadoras, narcisísticas, truculentas. Até temas literários, artísticos e históricos têm dono, são proprietários que se declaram inimigos de qualquer um que ousar trabalhar o mesmo assunto que não tem dono e é enriquecedor que haja muitos e muitos trabalhos sobre o tema”. 

Veja entrevista: 

Há duas contradições na História: Zumbi é retratado como o heroi que se matou para não se entregar às tropas portuguesas; Calabar era o traidor que decidiu o rumo de uma guerra. Os mitos da elite são pouco conhecidos ou estão nas fachadas das escolas municipais. Como explicar a um estudante alagoano essa contradição?

Contradição para uns e coerência para outros. As paisagens de Paris, as belezas norte-americanas são muito mais interessantes que as vistas de Piranhas ou os panoramas do rio Manguaba, em Porto de Pedras e Porto Calvo. Nosso povo é sujo, atrasado, bárbaro. Assim pensa nossa “casa grande” que detesta onde vive e ganha dinheiro e adora o exterior, onde sempre pensa e vai gastar o que aufere aqui.. Por isso temos, embora ambos guerreiros, valentes, uma figura histórica, Nassau, de atitudes nobres, progressistas e a outra, do povo de Alagoas, Calabar, de feições duras, feia, mestiça, meio negro, meio índio, sem eira nem beira, representante da plebe ignara, com o infame labéu de traidor. O cidadão deve estudar suas raízes, pesquisar nossa formação, a história de seu povo, conhecer seu Estado, suas regiões, e se possível conhecer também o exterior e até reconhecer suas excelências, mas deve sempre considerar que o rio mais belo é o riacho que corre em sua cidade natal.

Onde o senhor identifica, na nossa história que o modelo pensado e imaginado para Alagoas pelos seus gestores começou a falhar?

Entendo que o marco zero de nossas dificuldades está no século XIX, precisamente após a emancipação em setembro de 1817. Não é que o passado colonial fosse uma maravilha. Foi ele o pai, a mãe e matriz de nossa involução em setores vitais. Exploração desenfreada dos recursos naturais, monopólio, feudalização, economia de exportação em detrimento de uma atividade econômica diversificada e mais escravidão, latifúndio, agrarismo, anti-industrialização, e principalmente o desprezo à educação universal. Nada bom. Mas é no momento da autonomia, que foi um processo gestado na luta havida no século XVIII que tivemos a oportunidade de mudar o modelo. E com a nossa emancipação as coisas infelizmente mudaram para continuarem como eram.
( vide Lampedusa). Mais adiante a província convertida em Estado federativo, continuou pobre, segregacionista, excludente, sem uma classe média forte e crítica, posicionada, que dissesse não a certas coisas. Creio que nossa elite pensante, progressista, aderiu, omitiu-se, emudeceu. E La nave va. O tráfico negreiro proibido pela Coroa Imperial, era feito às escancaras nos portos do Francês, em Paripueira, em Coruripe, em Barra Grande.
A educação continuou para pouquíssimos, só para os mais ricos que mandavam seus rebentos estudarem nos melhores centros da Europa ou em Olinda, Salvador e Rio de Janeiro. A política foi empalmada pelas grandes famílias que se digladiavam entre si, mas sempre chegavam a algum acordo vantajoso para elas. É triste vermos que essa consciência de classe ainda vigora hoje. Pessoas esclarecidas, até com verniz socialista, progressista, de esquerda, que tem atitudes inconscientes extremamente esquisitas, reacionárias. Fico estarrecido com certas atitudes machistas, discriminatórias, enganadoras, narcisiticas, truculentas.
Até temas literários, artísticos e históricos tem dono, são proprietários que se declaram inimigos de qualquer um que ousar trabalhar o mesmo assunto que não tem dono e é enriquecedor que haja muitos e muitos trabalhos sobre o tema. É conhecido o episódio, alguns anos após nossa emancipação, quando se fundou, pelo governo, o primeiro jornal alagoano, um importante senhor incomodado em plena via da rua do Comércio porque um escravo passou por ele e não baixou os molhos ou o cumprimentou deu-lhe uma tremenda surra que quase levou o pobre negro a morte..
Uma notinha do redator, o francês Bois Garin,no Iris Alagoense, fê-lo ser alvejado no mesmo dia, com vários tiros, o que levou o jornalista a sair correndo de Maceió e nunca mais voltar.. E nada foi apurado nem corrigido. Foi, portanto, nas décadas seguintes a década de 20 do século XIX que não conseguimos decolar, delineando nossa trajetória de uma forma diferente da montagem do sistema oligárquico, restrito, tradicionalista e de base agrária.

Quem é ou o quê é o povo alagoano? Ele é uma poeira de ouro, como dizia o governador Silvestre Péricles?

A expressão “poeira de ouro” foi cunhada por Silvestre Péricles, membro do clã dos Góis Monteiro que teve forte influência na política alagoana a partir da Revolução de 30. Um dos líderes principais líderes do movimento tenentista triunfante e depois do período varguista foi o General Pedro Aurélio, irmão de Silvestre. Todos os familiares a exemplo de Edgar e Ismar, foram dirigentes políticos em Alagoas, por isso nosso Estado era conhecido no sul como “Alagoes”. Silvestre era alinhado com a linha populista, desenvolvimentista e getulista e é uma figura controvertida por suas atitudes insólitas. Quanto a pergunta inicial Silvestre estava antenado quando o chamava de “poeira de ouro”. Teoricamente é o conjunto de alagoanos unidos pelo pertencimento de tradições, costumes e história comum, mas podemos dizer que na verdade é a parcela maior da população trabalhadora, a mais pobre, excluída, que não possui o mínimo dos direitos fundamentais atendidos como educação pública e saúde assegurada pelo Estado.

Segundo o IBGE, 40 mil crianças em Alagoas passam fome enquanto o Ministério Público revela uma folha de marajás com salários três vezes maiores que um do ministro do STF na Assembleia Legislativa. Nós chegamos ao fim da nossa história?

Nossa divida social é escabrosa, indecente e nela estão educação e saúde em primeiro lugar. O recorde de desigualdade social, a distância entre os mais ricos e os mais pobres, explicam a miséria e os indicadores que nos envergonham. Quando assistimos calados, como se fosse a coisa mais normal do mundo, as escolas públicas fechadas, anos para intermináveis reparos, o calendário escolar interrompido e sem fechar nunca, a contratação de monitores regularmente., a falta de uma educação integral com esporte, musica, teatro,literatura, bibliotecas, oficinas, nós encontramos a razão de nossos indicadores de miséria e de máxima violência. Entendo que não há razão para deplorar nossa emancipação. È um processo histórico e a autonomia é construída por cada geração. Será que não falhamos todos com nosso omissão? Quanto ao “fim da história” preconizado por Francis Fukuyama na década de 90,no bojo de uma seria crise ideológica, ele deu com os burros nagua completamente.
A nova ordem capitalista sem guerras, um mundo dourado de forte desenvolvimento econômico das nações , uma era de plena democracia e igualdade social, onde inexistiria fatos históricos relevantes foi um sonho de uma noite de verão do historiador norte-americano. Por isso “mutatis mutandis” o fim da história alagoana não existirá. A História sempre se transforma através de desvios. A crise alagoana abre incertezas e possibilidades. O exercício da cidadania.
A conscientização e a participação de nossa elite progressista em algum momento abrirá janelas e oportunidades. Vejo as redes sociais com potencial e o pessoal da cultura está mostrando que algo inovador sempre pode acontecer. Alagoas modulada por sua elite verdadeira, não a elite burra, pirata, saqueadora, pode por um sentido da necessidade, calcular o seu caminho. Quem sabe políticos novos como o atual governador e o atual prefeito, parlamentares novos, diferentes, se não eles, decerto outro surgirão, contribuirão para corrigir contradições e arregimentarão nossas próprias energias, políticos,trabalhadores, artistas, intelectuais, poderão contribuir para tratar melhor seus problemas fundamentais. Estamos condenados a nos de

Odilon Rios Repórter

“Viver é uma arte. E seu roteiro deve ser escrito pela sabedoria e pelo bom senso”. Dr. José Reginaldo de Melo Paes (medico, poeta, acadêmico alagoano)

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