Blatter está preocupado com onda de protestos no Brasil
Presidente da Fifa gostaria que a torcida brasileira se comportasse como a do Corinthians no Japão
Naquela época, quando foi escolhido o Brasil para sediar a copa, nossos grandes políticos anunciavam que não seria usado dinheiro público para se preparar para a copa, e o que aconteceu, foi justamente o contrário, então vamos para as rua sim, essa é a hora de derrubar e tirar esses ladrões do poder e dane-se a copa!
O sexto dia de manifestações em São Paulo e o segundo dia seguido de mobilizações no Brasil foram motivo de análises em jornais europeus e estamparam as capas de jornais dos Estados Unidos e da América Latina.
A publicação nova-iorquina destacou a tentativa das lideranças políticas brasileiras de buscar soluções para dar fim aos protestos. Dentre elas, a reunião entre a presidente Dilma Rousseff, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tarde de terça (18).
As manifestações ainda ocuparam destaque na emissora CNN e no jornal "Washington Post", ressaltando que os atos são os maiores desde o impeachment de Fernando Collor, em 1992. Na Europa, as análises ocuparam as capas dos jornais franceses, espanhóis e italianos.
Enquanto o "Le Monde" deu ênfase aos gastos na Copa do Mundo e na Copa das Confederações, chamados de "suntuosos", o "Le Figaro" afirma que a nova classe média, que ascendeu durante os governos Lula e Dilma, compõe o grosso das manifestações.
O espanhol "El País" disse que Dilma "estendeu a mão" aos manifestantes. O correspondente no Rio, Juan Arias, afirma em análise que a presidente e Lula "estão perplexos" e comparou os manifestantes a filhos que se rebelaram contra os pais.
No italiano "Corriere della Sera" e no alemão "Süddeutsche Zeitung", o foco foram a Copa do Mundo e a Copa das Confederações. Para o português "Diário de Notícias", o país se revoltou contra Dilma Rousseff. Os atos também foram comentados pela rede Al Jazeera, do Qatar.
Na América Latina, o argentino "Clarín" aponta os aumentos excessivos e o Mundial de Futebol como causa dos protestos. As manifestações no Brasil ainda foram publicadas com destaque pelo mexicano "La Jornada" e o colombiano "El Espectador".
19/06/2013 Qual é o limite de ‘tolerância’ para os protestos?
No momento de perplexidade todas as perguntas são pertinentes.
Agora, diante das continuas mobilizações da meninada, uma questão se coloca como prioritária: saber qual é o limite dos protestos nas ruas.
Não trato, aqui, da questão policial, que já conhecemos desde sempre. Faz parte do treinamento da própria corporação “o combate aos movimentos de massa”.
Mas é importante ressaltar que a garotada, hoje, tem o apoio da população como um todo – com as exceções de sempre.
Pode perdê-lo, no entanto, se a minoria incendiária – alguns do tipo rebeldes sem causa – der munição para os setores mais conservadores, inclusive da própria mídia, que vão ressaltar, até pelas imagens que impressionam, o malfeito. Deixando de lado o fundamental: a manifesta insatisfação da população com o conjunto da obra.
É o caso, mais do que nunca, dos jovens que querem expor seus pontos de vista exigir Educação, Saúde e Segurança Pública “no padrão FIFA”, como escreveu um militante da boa causa.
Lembrando: foi essa turma barra-pesada que expulsou o público dos estádios – 68% assim fizeram segundo pesquisa da UERJ sobre a violência no futebol.
Pacifismo não é covardia, nem tampouco vandalismo.
Às ruas, com voz altiva, mas sem a fúria dos idiotas.
A garotada que jogou os partidos na lata de lixo
Entre todos os personagens do mundo político que eu ouvi ontem, o que me pareceu mais sensato foi o secretário da Presidência, Gilberto Carvalho.
Ao ser indagado sobre os acontecimentos do dia, ele expôs toda a sua perplexidade: “Nós não sabemos o que está acontecendo. É diferente de tudo que já vivemos até hoje”.
Nem ele sabe nem ninguém sabe o que, de fato, acontece. Mas acontece com uma força inesperada e bem-vinda.
A garotada, principalmente ela, está indo às ruas para dizer um monumental “não” ao que está posto. Passando por cima das entidades que outrora representavam os movimentos sociais, jogando todos os partidos – sem exceção – na lata do lixo da história, a meninada diz e repete: “Não!”
A vanguarda caquética não tem mais qualquer representatividade junto à população, tampouco a têm os que querem substituí-la. A UNE não consegue mais conter a sua osteoporose, e as centrais sindicais não conseguem tratamento no SUS para o mal de Alzheimer que as acomete.
A esquerda que chegou ao poder repetiu a direita e o centro, desdenhando do futuro e negando o sonho à juventude. Assumiu uma postura “positivista”, na base do: “Eu dou, mas não peçam”.
Tudo velho demais para sobreviver. Fechou-se o ciclo vital de um tempo que não agrada mais a ninguém. A não ser, e tão somente, aos que fizeram da máquina pública sua “crackolândia” particular, onde consomem sofregamente a droga do poder (e da grana sem esforço).
Aparecerão, agora, oportunistas de todos os matizes – imprestáveis, descartáveis, venham de onde vierem, buscando pegar carona no movimento. Perderam o bonde e não têm mais como alcançá-lo.
“É espontaneísmo”, dirão os iluminados intérpretes do “materialismo científico”, seguidores de uma nova bíblia sem que ao menos admitam que o são.
De fato, um movimento que prescinde do pragmatismo de partidos cada vez mais iguais, irmanados em nome de uma tal governabilidade – que deveria se chamar oportunismo grupal -, não pode ter um rumo muito definido.
É tudo isso, mais não é só isso.
Nos grupos que vão às ruas há gente que protesta pelos motivos mais diferentes, mas que se igualam na insatisfação. Há marginais? E do outro lado?
O fenômeno não é exclusivamente nacional. Em 2007, em seu ótimo “Globalização, Democracia e Terrorismo”, o historiador Eric Hobsbawm já apontava que a democracia (liberal) representativa perdera o sentido: é preciso avançar.
Para onde? Não sei, e nem mesmo a vasta experiência de Gilberto Carvalho foi capaz de esboçar uma aposta.
Claro que o que acontece agora é apenas o começo de algo que desconhecemos, cujo futuro é tão incerto quanto a própria vida. A meninada que protesta e rejeita a velhacaria repete os versos de José Régio (poeta português) em “Cântigo Negro”:
“A minha vida é um vendaval que se soltou
É uma onda que se alevantou
É um átomo a mais que se soltou.
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!”
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