ZUMBI:
VALENTE E CORAJOSO OU UM COVARDE FUJÃO?
Existe nos
documentos que relatam o assassinato de Zumbi uma diferença no que reside ao
como de sua morte. Nos documentos nº 38 - “Carta do Governador de
Pernambuco Caetano de Melo e Castro dando conta de se ter conseguido a morte do
Zomby a qual descreve. Pernambuco, 14 de março de
1696” – nº
39 – “Consulta do Conselho Ultramarino de 18 de Agosto de 1696,
em que o Governador
da Capitania de Pernambuco dá conta de se haver conseguido a morte do Zomby, e
perdão que se deu ao Mulato que o entregou” – do livro de Ernesto
Ennes, e nº 28 – “A Morte de Zumbi” – do livro de Décio
Freitas, “República dos Palmares” – este semelhante ao de nº
39, de Ennes - lemos que a morte de Zumbi ocorreu da seguinte maneira:
Senhor
“O
Governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro em carta de 14 de março
deste ano dá conta a Vossa Majestade de se haver conseguido a morte do Zumbi,
ao qual descobrira um mulato de seu maior valimento que os moradores do Rio de
São Francisco aprisionaram, e remetendo-se-lhe topara com troço das tropas que
dedicara àqueles distritos, que acertou ser de paulistas, em que ia por cabo o
Capitão André Furtado de Mendonça, e temendo-se o dito mulato de ser punido por
seus graves crimes oferecera que segurando-se-lhe a vida
em nome dele Governador
se obrigaria a entregar o dito Zumbi, e aceitando-se-lhe a oferta desempenhara
a palavra, guiando a tropa ao mucambo do negro que tinha já lançado fora a
pouca família que o acompanhava, ficando somente com vinte negros, dos quais
mandara quatorze para os postos das emboscadas que esta gente usa no seu modo
de guerra, e indo com os mais que lhe restaram a se ocultar no sumidouro que artificiosamente havia fabricado, achando tomada
a passagem, pelejara valorosa ou desesperadamente, matando um homem, ferindo
alguns, e não querendo render-se nem os companheiros fora preciso matá-lo,
apanhando só um vivo...”.
O que nos
informa sobre o assunto o documento nº 27 – “O Homem que Matou
Zumbi” – publicado no livro de Décio Freitas, “República dos
Palmares”?
Vejamos
o trecho:
“... havido por
cabo de 150 homens a correr a campanha dar nas cabaceiras (ou cabeceiras?) do rio Paraíba com mucambo do
negro Zumbi chamado Rei, avançando por um lado o entrar de sorte que os pôs em
fugida em cuja ocasião indo em seu alcance matou a cinco negros e ao dito
Zumbi...”.
Quais
as diferenças?
1. Aqui, não há a menor referência a
traição do mulato Antônio Soares;
2. É diferente o número de
palmarinos que acompanhavam Zumbi;
3. Não
há menção aos que ficaram nos “postos das emboscadas”;
4. Não se fala da existência de um
“sumidouro”, mas sim, de um “mocambo”;
5. Como óbvia conseqüência, um
completo silêncio em relação aos que, com Zumbi, se dirigiram ao sumidouro;
6. Zumbi não encontrou a entrada do
sumidouro “tomada”, isto é, impedida;
7. Não pelejou “valorosa ou
desesperadamente” e nem feriu ninguém como lemos em todos os livros que
tratam de seu assassinato;
8. Quando
houve o encontro das forças opostas, Zumbi e seus guerreiros fugiram;
9.
Foi morto porque o Capitão
André Furtado de Mendonça o perseguiu e “matou a cinco negros e ao dito Zumbi”;
10.
Finalmente, não há a menor
informação sobre o número e tipos de ferimentos sejam de arma branca ou de fogo
em seu corpo.
Afinal, qual
a versão correta? A que afirma que existia um sumidouro e Zumbi ao pretender
nele se ocultar encontrou a “passagem tomada” e lutou bravamente
até a morte, ou a que informa que ele, como um verdadeiro covarde, fugiu da
luta e só foi morto depois de uma brutal perseguição?
Reconheço que
este é um assunto muito controvertido, pois só a descoberta de novas fontes
históricas primárias pode esclarecer o que realmente ocorreu. Enquanto este
documento-chave não for descoberto permanecerá, sobre o “Tigre dos
Palmares” a tenebrosa dúvida: ele, na realidade, fazia jus a fama de
valente e corajoso ou não passava de um covarde fujão?
ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS
PROFESSOR DA UFAL
Nenhum comentário:
Postar um comentário