O Capital no Século XXI de Thomas Piketty
Paul Krugman resenhou “o livro da hora”, O Capital no Século XXI, de autoria de Thomas Piketty: Why We’re in a New Gilded Age by Paul Krugman _ The New York Review of Books. A Folha de S.Paulo reproduziu sua resenha, no dia 26 de abril de 2014, porém não deseja sua reprodução neste modesto blog mesmo que seja com a finalidade educativa com longa defasagem em relação à data de publicação.
Leia mais: Apresentação sobre o livro de Thomas Piketty
Thomas Piketty, professor
na Escola de Economia de Paris, não é um nome muito conhecido, ainda que
isso possa mudar com a publicação em inglês de sua abrangente e
magnífica meditação sobre a desigualdade, “Capital in the Twenty-First Century“.
Mas sua influência é profunda. Tornou-se comum afirmar que estamos
vivendo uma segunda Gilded Age [Era Dourada] – ou, nas palavras de
Piketty, uma segunda Belle Époque -, definida pela incrível ascensão do
“1%”. Mas essa afirmação só se tornou lugar comum graças ao trabalho de
Piketty. Ele e alguns colegas (especialmente Anthony Atkinson, de
Oxford, e Emmanuel Saez, de Berkeley) são, especialmente, responsáveis
pelo desenvolvimento de técnicas estatísticas pioneiras que tornam
possível rastrear a concentração de renda e de riqueza no passado
distante – até o começo do século 20, no Reino Unido e Estados Unidos, e
até o final do século 18 no caso da França.
O resultado foi uma
revolução em nossa compreensão sobre as tendências da desigualdade em
longo prazo. Antes dessa revolução, a maioria das discussões sobre a
disparidade econômica mais ou menos desconsiderava os muito ricos.
Alguns economistas (para não mencionar políticos) tentavam sufocar aos
gritos qualquer menção à desigualdade: “De todas as tendências
prejudiciais a um estudo sólido da Economia, a mais sedutora, e em minha
opinião mais venenosa, é tomar por foco as questões de distribuição”,
declarou Robert Lucas, da Universidade de Chicago, o mais influente
macroeconomista de sua geração, em 2004. Mas mesmo aqueles que se
dispunham a discutir a desigualdade se concentravam, em geral, na
disparidade entre os pobres da classe trabalhadora e as pessoas
prósperas, mas não mencionavam os verdadeiramente ricos – o foco eram os
formandos universitários cuja renda superava a de trabalhadores com
nível mais baixo de educação, ou a sorte comparativa dos 20% mais
prósperos da população ante os 80% menos afortunados, e não a rápida
ascensão da renda dos executivos e banqueiros.
Portanto, foi uma revelação
quando Piketty e seus colegas demonstraram que as rendas do hoje famoso
“1%”, e de grupos ainda mais estreitos, na realidade representavam a
história mais importante na ascensão da desigualdade. E essa descoberta
surgiu acompanhada por uma segunda revelação: as menções a uma nova
Gilded Age, que podiam parecer hiperbólicas, na verdade nada tinham de
exagerado. Nos Estados Unidos, especialmente, a proporção da renda
nacional reservada ao 1% mais rico da população seguiu uma curva em U.
Antes da Primeira Guerra Mundial, o 1% mais rico detinha 20% da renda
nacional, tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido. Por volta de
1950, essa proporção havia sido reduzida a menos da metade. Mas de 1980
para cá a parcela reservada ao 1% disparou de novo – e nos Estados
Unidos ela retornou ao ponto em que estava um século atrás.
Ainda assim, a elite
econômica atual é muito diferente da elite do século 19, não? Na época,
as grandes fortunas tendiam a ser hereditárias; a elite econômica atual
não é formada por pessoas que conquistaram suas posições com base no
mérito? Bem, Piketty nos diz que isso não é tão verdade quanto podemos
imaginar, e que de qualquer forma esse estado de coisas pode se provar
não mais duradouro do que a sociedade de classe média que floresceu por
uma geração depois da Segunda Guerra Mundial. A grande ideia de “Capital
in the Twenty-First Century” é não só a de que retornamos ao século 19
em termos de desigualdade de renda como a de que estamos no caminho de
volta ao “capitalismo patrimonial”, no qual os grandes píncaros da
economia são ocupados não por indivíduos talentosos mas por dinastias
familiares.
É uma afirmação notável – e
é precisamente por ser tão notável que ela precisa ser examinada de
maneira crítica e cuidadosa. Antes que eu trate desse assunto, porém,
permita-me afirmar já de saída que Piketty escreveu um livro
verdadeiramente soberbo. O trabalho combina grande abrangência histórica
– quando foi a última vez que você ouviu um economista invocar Jane
Austen e Balzac? – com análise minuciosa de dados. E ainda que Piketty
zombe dos economistas, como profissão, por sua “paixão infantil pela
matemática”, a base de sua argumentação é um tour de force de modelagem
econômica, uma abordagem que integra a análise do crescimento econômico à
da distribuição de renda e riqueza. Esse é um livro que mudará a
maneira pela qual pensamos sobre a sociedade e pela qual concebemos a
economia.
1. O que sabemos sobre a
desigualdade econômica, e sobre os momentos específicos nos quais
adquirimos conhecimento sobre ela? Até que a revolução de Piketty
varresse o campo, a maior parte do que sabíamos sobre desigualdade de
renda e riqueza vinha de pesquisas nas quais domicílios escolhidos
aleatoriamente são convidados a preencher um questionário, e suas
respostas são computadas a fim de produzir um retrato estatístico do
todo. O padrão internacional para essas pesquisas é o levantamento anual
conduzido pelo Serviço de Recenseamento dos Estados Unidos. O Federal
Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) também conduz uma
pesquisa trienal sobre a distribuição de riqueza.
As duas pesquisas são um
guia essencial quanto à mudança da forma da sociedade dos Estados
Unidos. Entre outras coisas, elas apontam para uma virada dramática no
processo de crescimento econômico norte-americano, iniciada por volta de
1980. Antes disso, famílias de todos os níveis viam suas rendas
crescerem mais ou menos em linha com o ritmo de crescimento da economia
como um todo. Depois de 1980, porém, a parte do leão dos ganhos passou a
caber ao topo da escala de renda, e as famílias na metade inferior
ficaram muito para trás.
Historicamente, outros
países não mostravam igual eficiência em rastrear quem fica com o que;
mas a situação mudou ao longo do tempo, em larga medida devido ao Estudo
de Renda do Luxemburgo (do qual em breve farei parte). E a crescente
disponibilidade de dados de pesquisa que podem ser comparados entre
diferentes países resultou em novas percepções importantes. Sabemos
agora, especialmente, tanto que os Estados Unidos têm uma distribuição
de renda muito mais desigual que a das economias avançadas da Europa
quanto que boa parte dessa diferença pode ser atribuída diretamente a
ações do governo. As nações europeias em geral têm rendas altamente
desiguais como resultado das atividades de mercado, como os Estados
Unidos, ainda que talvez não na mesma extensão. Mas conduzem
redistribuição muito maior por meio de taxas e transferências do que os
Estados Unidos fazem, o que resulta em desigualdade muito menor em
termos de renda disponível.
No entanto, apesar de toda a
sua utilidade, os dados dessas pesquisas têm limitações importantes.
Tendem a subestimar, ou desconsiderar de todo, a renda que cabe ao
punhado de indivíduos que ocupam o verdadeiro topo da escala de renda.
Também apresentam profundidade histórica limitada. Os dados de pesquisa
norte-americanos, por exemplo, remontam a apenas 1947.
É aí que entram Piketty e
seus colegas, que se voltaram a uma fonte de dados inteiramente
diferente: os registros tributários. Essa ideia não é novidade. De fato,
as análises iniciais de distribuição de renda dependiam de dados
tributários, porque não havia muitos outros dados com que pudessem
contar. Piketty e seus colaboradores, porém, encontraram maneiras de
combinar dados tributários e outras fontes a fim de produzir informações
que complementam de maneira crucial os dados das pesquisas. E as
estimativas baseadas nos impostos podem recuar muito mais ao passado. Os
Estados Unidos têm um imposto sobre a renda em vigor desde 1913; no
Reino Unido, ele surgiu em 1909; a França, graças aos seus registros
elaborados de coleta de impostos sobre propriedades e aos seus
históricos detalhados, tem dados sobre patrimônio que remontam ao final
do século 18.
Explorar esses dados não é
fácil. Mas usando todos os truques da profissão, e alguns palpites bem
informados, Piketty consegue produzir um sumário da queda e ascensão da
desigualdade extrema ao longo dos últimos 100 anos.
Como eu disse, descrever
nossa era como uma nova Gilded Age ou Belle Époque não é simples
hipérbole; é a verdade pura e simples. Mas como foi que isso aconteceu?
Piketty lança um repto
intelectual imediato, por meio do título do seu livro: “Capital no
Século 21″. Economistas ainda podem falar assim?
Não é apenas a alusão
evidente a Marx que torna o título tão surpreendente. Ao invocar o
capital desde o começo, Piketty abandona as discussões mais modernas
sobre a desigualdade e retorna a uma tradição mais antiga.
A suposição geral da maior
parte dos pesquisadores sobre a desigualdade era a de que a renda
auferida, em geral na forma de salário, é o aspecto mais importante, e
que a renda gerada pelo capital não é nem importante e nem interessante.
Piketty demonstra, porém, que mesmo hoje é a receita do capital, e não a
renda do trabalho, que predomina no topo da distribuição de renda. Ele
também demonstra que, no passado – durante a Belle Époque europeia e, em
menor escala, a Gilded Age norte-americana [período de grande expansão
econômica entre 1870 e 1900]- a propriedade desigual de ativos, e não o
salário desigual, foi o principal propulsor da disparidade de renda. E
ele argumenta que estamos no caminho de volta àquela espécie de
sociedade. E não se trata de especulação casual de sua parte. “Capital
in the Twenty-First Century”, afinal, é um trabalho que respeita os
princípios do empirismo, e é propelido por um arcabouço teórico que
busca unificar a discussão do crescimento econômico e da distribuição
tanto de renda quanto de riqueza. Piketty basicamente vê a história
econômica como a história de uma corrida entre a acumulação de capital e
os demais fatores que propelem o crescimento, como o crescimento
populacional e o progresso tecnológico.
É certo que essa é uma
corrida que não pode ter vencedor permanente. Em prazo muito longo, o
estoque de capital e a renda total precisam crescer mais ou menos no
mesmo ritmo. Mas um lado ou outro pode permanecer décadas ininterruptas
em vantagem. Na véspera da Primeira Guerra Mundial, a Europa havia
acumulado capital seis ou sete vezes maior que a renda nacional de cada
país. Ao longo das quatro décadas seguintes, porém, uma combinação de
destruição física e de desvio de poupança para esforços de guerra
reduziu essa proporção à metade. A acumulação de capital foi retomada
depois da Segunda Guerra Mundial, mas o período registrou crescimento
econômico espetacular – os “Trente Glorieuses”, ou “30 anos gloriosos”.
Por isso, a razão entre capital e renda permaneceu baixa. Desde os anos
70, porém, a desaceleração do crescimento implicou em alta na razão
entre capital e renda, de modo que o capital e a riqueza vêm caminhando
de volta aos níveis que detinham na Belle Époque. E essa acumulação de
capital, diz Piketty, terminará por recriar desigualdade ao estilo da
Belle Époque, a menos que seja combatida por tributação progressiva.
Por quê? É tudo uma questão de r vs. g – a taxa de retorno sobre o capital (r) versus o ritmo de crescimento econômico (g).
Quase todos os modelos
econômicos nos dizem que, caso g caia – o que vem acontecendo desde os
anos 70, um declínio que deve continuar devido ao crescimento menor da
população em idade de trabalho e ao progresso tecnológico mais lento -, r
também cairá. Mas Piketty assevera que r cairá menos que g. Isso não
tem necessariamente de ser verdade. Mas se for suficientemente fácil
substituir trabalhadores por máquinas – se, para usarmos o jargão
técnico, a elasticidade de substituição entre capital e trabalho for
superior a um -, o crescimento lento, e a alta consequente na razão
entre capital e renda, de fato ampliarão a disparidade entre r e g. E
Piketty argumenta que é isso que os registros históricos provam
acontecerá.
Se ele estiver certo, uma
consequência imediata será uma redistribuição da renda, dos
trabalhadores para os detentores de capital. A sabedoria dominante foi
sempre a de que não precisávamos nos preocupar que isso acontecesse, e
que as parcelas respectivas do capital e do trabalho na renda total se
provam fortemente estáveis ao longo do tempo. Em prazo muito longo,
porém, há prova de que isso não seja verdade. No Reino Unido, por
exemplo, a parcela do capital na renda – quer em forma de lucros
empresariais, dividendos, renda fixa ou vendas de propriedades, por
exemplo – caiu de cerca de cerca de 40% antes da Primeira Guerra Mundial
para pouco mais de 20% em 1971, e de lá para cá recuperou cerca de
metade do terreno perdido. Nos Estados Unidos, esse arco histórico é
menos claro, mas aqui também a redistribuição em favor do capital está
em curso. É especialmente importante apontar que os lucros das empresas
dispararam desde o começo da crise financeira, enquanto os salários –
incluindo os salários das pessoas com nível mais elevado de educação –
se estagnavam.
Uma parcela maior para o
capital, por sua vez, eleva diretamente a desigualdade, porque a
propriedade do capital é sempre distribuída de modo mais desigual do que
a renda do trabalho. Mas os efeitos não se limitam a isso, porque,
quando o ritmo de retorno sobre o capital excede fortemente o ritmo de
crescimento econômico, “o passado tende a devorar o futuro”: a sociedade
tende inexoravelmente a ser dominada pela riqueza hereditária.
Considere como esse
processo transcorreu na Europa da Belle Époque. Na época, os
proprietários de capital podiam esperar retornos de 4% a 5% sobre seus
investimentos, com tributação mínima; enquanto isso o crescimento
econômico era de apenas cerca de 1% ao ano. Assim, os indivíduos ricos
podiam facilmente reinvestir parte suficiente de sua renda para garantir
que sua riqueza, e com ela sua renda, crescesse mais rápido que a
economia, o que reforçava seu domínio econômico, e ao mesmo tempo gastar
o suficiente para levar vidas de grande luxo.
E o que acontecia quanto
esses indivíduos ricos morriam? Sua riqueza era legada aos seus
herdeiros – uma vez mais, com tributação mínima. Dinheiro transferido à
geração seguinte respondia por entre 20% e 25% da renda anual; a maior
proporção das riquezas – cerca de 90% – era herdada e não auferida com a
renda do trabalho. E essa riqueza hereditária se concentrava nas mãos
de minorias muito pequenas. Em 1910, o 1% mais rico da população
controlava 60% da riqueza da França; na Grã-Bretanha a proporção era de
70%.
Não admira, portanto, que
os romancistas do século 19 fossem obcecados por heranças. Piketty
discute extensamente os conselhos do canalha Vautrin a Rastignac em “Pai
Goriot”, de Balzac, que podem ser resumidos na afirmação de que nem
mesmo a mais bem sucedida das carreiras poderia resultar em mais que uma
fração da fortuna que Rastignac seria capaz de adquirir de um golpe ao
se casar com a filha de um homem rico. E a verdade é que Vautrin estava
certo: ser parte do 1% mais rico dos herdeiros do século 19 conferia a
alguém um padrão de vida cerca de 2,5 vezes superior ao que essa pessoa
poderia atingir por meio de esforço que a conduzisse ao 1% mais bem pago
dos trabalhadores.
Seria tentador dizer que a
sociedade moderna em nada se parece com isso. Na realidade, porém, tanto
a renda do capital quanto a riqueza hereditária, ainda que menos
importantes do que na Belle Époque, continuam a ser poderosos
propulsores da desigualdade – e sua importância está crescendo. Na
França, demonstra Piketty, a parcela hereditária da riqueza total caiu
acentuadamente na era das guerras e no pós-guerra; por volta de 1970,
ela era de menos de 50%. Mas agora retornou aos 70% e continua a
crescer.
Da mesma forma, houve
primeiro queda e depois nova alta na importância das heranças no que
tange a fazer de alguém parte da elite. O padrão de vida do 1% de
herdeiros mais ricos caiu abaixo do 1% de trabalhadores mais bem pagos,
entre 1910 e 1950, mas voltou a crescer depois de 1970. Ainda não
estamos plenamente de volta ao padrão de Rastignac, mas uma vez mais se
tornou mais valioso ter os pais certos (ou escolher os sogros certos ao
casar) do que ter o emprego certo.
E isso pode ser apenas o
começo. As estimativas de Piketty sobre o r e g mundiais em longo prazo
sugerem que a era da equalização ficou no passado e que as condições são
agora propícias ao restabelecimento do capitalismo patrimonial.
Dado esse quadro, por que a
riqueza hereditária desempenha papel tão pequeno quanto de fato faz no
discurso político moderno? Piketty sugere que as dimensões das fortunas
hereditárias, por serem tão vastas, as tornam invisíveis, de certa
forma: “A riqueza é tão concentrada que um grande segmento da sociedade
literalmente não tem consciência de sua existência, de forma que algumas
pessoas imaginam que pertença a entidades surreais ou misteriosas”. É
um argumento muito bom. Mas certamente não constitui a explicação
completa. Pois o fato é que o exemplo mais conspícuo de uma disparada na
desigualdade no mundo moderno – a ascensão do 1% de muito ricos no
mundo anglo-saxão, especialmente nos Estados Unidos, não tem muito a ver
com acúmulo de capital, pelo menos por enquanto. Tem mais a ver com
remuneração e renda salarial excepcionalmente altas.
“Capital in the
Twenty-First Century”, como espero ter deixado claro, é um trabalho
excelente. Em um momento no qual a concentração de renda e riqueza nas
mãos de uns poucos ressurgiu como questão política central, Piketty não
oferece apenas documentação inestimável sobre o que está acontecendo, e
com profundidade histórica incomparável. Também oferece o que podemos
descrever como uma teoria do campo unificado para a desigualdade,
integrando crescimento econômico, a distribuição de renda entre o
capital e o trabalho e a distribuição de renda e riqueza entre os
indivíduos em um só arcabouço.
E no entanto há uma coisa
que subtrai algum mérito a essa realização – uma espécie de
prestidigitação intelectual, se bem que ela não envolva nenhuma trapaça
ou falsidade da parte de Piketty. Mesmo assim, eis: O principal motivo
para que houvesse necessidade de um livro como esse é a ascensão não só
do 1% mas do 1% dos Estados Unidos, especificamente. Mas essa ascensão,
como se pode verificar, aconteceu por motivos que não fazem parte do
escopo da grande tese de Piketty.
Ele é um economista bom e
honesto demais, é claro, para tentar enrolar com relação a fatos
inconvenientes. “A desigualdade nos Estados Unidos em 2010″, afirma, “é
quantitativamente tão extrema quanto na velha Europa da primeira década
do século 20, mas a estrutura dessa desigualdade é – muito claramente –
distinta”. De fato, o que vimos nos Estados Unidos e estamos começando a
ver em outros lugares é algo de “radicalmente novo”: a ascensão dos
“supersalários”.
O capital ainda importa.
Nos escalões mais elevados da sociedade, a renda do capital ainda excede
a renda dos salários e bonificações. Piketty estima que a desigualdade
aumentada da renda do capital responda por cerca de um terço do aumento
da desigualdade nos Estados Unidos. Mas a renda salarial no topo também
disparou. Os salários reais da maioria dos trabalhadores dos Estados
Unidos cresceram pouco, se alguma coisa, do começo dos anos 70 para cá,
mas os salários do 1% de trabalhadores mais bem pagos subiram em 165%, e
os do 0,1% mais bem pago em 362%. Se Rastignac estivesse vivo hoje,
Vautrin talvez reconhecesse que ele poderia se sair tão bem arrumando
emprego como administrador de um fundo de hedge quanto se arrumasse um
casamento rico.
O que explica essa ascensão
dramática na desigualdade de renda, com a parte do leão dos ganhos
reservada às pessoas no topo da escala? Alguns economistas dos Estados
Unidos sugerem que a tendência seja propelida por mudanças na
tecnologia. Em um famoso estudo publicado em 1981, intitulado “A
Economia dos Superastros”, Sherwin Rosen, economista de Chicago,
argumentava que a moderna tecnologia de comunicação, ao estender o
alcance dos indivíduos talentosos, criava mercados nos quais todas as
recompensas cabiam aos vencedores, mesmo que eles fossem apenas
modestamente melhores naquilo que fazem do que rivais menos bem pagos.
Piketty não aceita essa
teoria. Ele aponta que economistas conservadores adoram falar sobre os
altos salários de astros de uma ou outra ordem, como os de cinema ou do
esporte, como maneira de sugerir que as altas rendas são realmente
merecidas. Mas esse tipo de pessoa forma uma fração muito pequena da
elite da renda. O que encontramos, em lugar disso, são principalmente
executivos de uma ou outra ordem – pessoas cujo desempenho é, de fato,
muito difícil de avaliar ou de definir em termos de valor monetário.
O que determina o valor de
um presidente-executivo em uma grande companhia? Bem, existe um comitê
de remuneração, indicado pelo presidente-executivo mesmo. Na prática,
argumenta Piketty, os executivos de alto nível ditam sua remuneração,
restringidos apenas pelas normas sociais e não por qualquer forma de
disciplina de mercado. E ele atribui a disparada nos salários a uma
erosão das normas sociais. Na prática, ele atribui a disparada na renda
salarial entre os mais bem pagos a forças sociais e políticas, e não
estritamente econômicas.
É justo apontar que ele
oferece uma possível análise econômica sobre essa mudança de normas,
argumentando que a queda das alíquotas tributárias para os ricos na
verdade fez com que a elite salarial ganhasse em ousadia. Quando um
importante executivo retinha apenas uma pequena fração da renda que
poderia receber violando as normas sociais e estabelecendo para si mesmo
um salário muito alto, ele talvez decidisse que o opróbrio que sofreria
não valeria a pena. Mas o corte drástico de sua alíquota tributária
pode levar uma pessoa como essa a se comportar diferentemente. E quanto
mais os titulares de supersalários violarem as normas, mais essas normas
mesmas mudarão.
Há muito a elogiar nesse
diagnóstico, mas lhe falta claramente o rigor e a universidade da
análise de Piketty sobre a distribuição e retornos da riqueza. Além
disso, não acho que “Capital in the Twenty-First Century” rebata
adequadamente a crítica mais reveladora quanto à hipótese sobre o poder
dos executivos: a concentração de rendas muito altas nas finanças, onde é
possível, em certa medida, avaliar desempenhos. Não mencionei
administradores de fundo de hedges irrefletidamente. Pessoas como eles
são pagas com base em sua capacidade de atrair clientes e obter retornos
sobre seus investimentos. Pode-se questionar o valor social das
finanças modernas, mas os Gordon Gekkos do mercado são claramente bons
em alguma coisa, e sua ascensão não pode ser atribuída apenas a relações
de poder, ainda que eu imagine que seja possível argumentar que a
disposição de se envolver em transações financeiras dúbias, assim como a
disposição de violar as normas sociais quanto aos salários, é
incentivada pelos impostos baixos.
No geral, a explicação de
Piketty sobre a alta na desigualdade salarial me parece convincente,
ainda que o fato de que não inclua a desregulamentação no quadro
analítico seja um desapontamento significativo. Mas, como afirmei, a
análise dele quanto a isso carece do rigor de sua análise sobre o
capital, para não mencionar sua imensa e inspiradora elegância
intelectual.
No entanto, não devemos
exagerar em nossa reação a isso. Mesmo que a disparada na desigualdade
norte-americana até o momento tenha sido propelida principalmente por
renda salarial, o capital ainda assim exerceu papel significativo. E de
qualquer jeito, a história no futuro deve se provar bastante diferente. A
atual geração de norte-americanos muito ricos pode consistir em larga
medida de executivos e não rentiers, ou seja, pessoas que vivem de
capitais acumulados. Mas esses executivos têm herdeiros. E dentro de
duas décadas os Estados Unidos podem ser uma sociedade dominada pelos
rentiers, com desigualdade ainda maior do que a da Europa na Belle
Époque.
O que não significa que isso precise inevitavelmente acontecer.
Há momentos em que Piketty
parece oferecer uma visão determinista da História, sob a qual tudo
deriva do ritmo de crescimento populacional e de progresso tecnológico. N
a realidade, porém, “Capital in the Twenty-First Century” deixa claro
que a política pública pode fazer imensa diferença, que mesmo se as
condições econômicas subjacentes apontarem para desigualdade extrema,
aquilo que Piketty define como “deriva em direção à oligarquia” pode ser
detido e até revertido, se o organismo político assim decidir.
O ponto chave é que, quando
fazemos a comparação crucial entre a taxa de retorno sobre a riqueza e a
taxa de crescimento econômico, o que importa é o retorno obtido pela
riqueza após os impostos. Assim, uma estrutura de taxação progressiva –
especialmente a tributação da riqueza e das heranças – pode se tornar
uma força poderosa de limitação da desigualdade. Piketty conclui sua
obra-prima, de fato, como um apelo por uma forma de tributação como
essa. Infelizmente, a história que ele mesmo cobre em seu livro não
oferece motivos para otimismo.
É verdade que, por boa
parte do século 20, uma forte tributação progressiva ajudou a reduzir a
concentração de renda e riqueza, e você poderia imaginar que uma alta
tributação para as rendas mais elevadas seja o desfecho político natural
quanto uma democracia precisa enfrentar desigualdades extremas. Mas
Piketty rejeita essa conclusão: o triunfo da tributação progressiva
durante o século 20, ele argumenta, foi apenas “o efêmero produto do
caos”. Se não tivessem acontecido as guerras e os tumultos da moderna
guerra dos 30 anos europeia, ele sugere, nenhuma tendência parecida
teria surgido.
Como provas, ele oferece o
exemplo da Terceira República francesa [1870-1940]. A ideologia oficial
da república era altamente igualitária. Mas a riqueza e a renda eram
quase tão concentradas, os privilégios econômicos quase tão dominados
pelas heranças, quanto na monarquia constitucional britânica do lado de
lá do Canal da Mancha. E a política pública quase nada fazia para se
opor ao domínio econômico dos rentiers: os impostos sobre as heranças,
especialmente, eram quase ridiculamente baixos.
Por que os cidadãos
franceses, dotados do sufrágio universal, não votavam em políticos que
assumissem o compromisso de enfrentar a classe dos rentiers? Bem, então,
como agora, a riqueza comprava muita influência – não apenas sobre a
política, mas sobre o discurso público. O escritor norte-americano Upton
Sinclair, em uma citação que se tornou famosa, disse que “é difícil
fazer com que um homem compreenda alguma coisa quando seu salário
depende de que ele não a compreenda”. Piketty, contemplando a história
de seu país, chega a uma observação semelhante: “A experiência da França
na Belle Époque prova, se é que provas são necessárias, que nenhuma
hipocrisia é grande demais quando as elites econômicas e financeiras se
veem obrigadas a defender seus interesses”.
O mesmo fenômeno é visível
hoje. Na verdade, um aspecto curioso do cenário norte-americano é que a
política da desigualdade parece estar caminhando até à frente da
realidade. Como vimos, a essa altura as elites econômicas dos Estados
Unidos ainda devem seu status principalmente aos salários, e não à renda
do capital.
Mesmo assim, a retórica
econômica conservadora já enfatiza e celebra o capital, de preferência
ao trabalho – os “criadores de empregos”, não os trabalhadores.
Em 2012, Eric Cantor, líder
da maioria republicana na Câmara dos Deputados, optou por celebrar o
Dia do Trabalho – o Dia do Trabalho! – com uma mensagem no Twitter em
honra dos donos de empresas: “Hoje celebramos aqueles que assumiram
riscos, trabalharam duro, construíram um negócio e mereceram o sucesso
que têm”.
Talvez abalado pela reação
adversa, ele teria supostamente sentido a necessidade de lembrar aos
colegas de partido, em um evento posterior dos republicanos, que a
maioria das pessoas não é dona de empresas – mas isso basta, em si, para
mostrar até que ponto o Partido Republicano se identifica com o
capital, virtualmente excluindo o trabalho.
E essa orientação favorável
ao capital tampouco é apenas retórica. A carga tributária sobre os
norte-americanos de alta renda vem caindo de forma generalizada desde os
anos 70, mas as maiores reduções aconteceram nos impostos sobre a renda
gerada pelo capital – o que inclui uma forte queda nos impostos das
empresas, o que indiretamente beneficia seus acionistas – e nos impostos
sobre heranças. Às vezes, parece que porção substancial de nossa classe
política está trabalhando ativamente para restaurar o capitalismo
patrimonial que Piketty descreve. E se observarmos as fontes de doações
políticas, essa possibilidade parece muito menos absurda do que poderia
ser.
Piketty conclui “Capital in
the Twenty-First Century” com um chamado às armas – um apelo,
especialmente, por impostos sobre a riqueza, se possível em escala
mundial, a fim de restringir o crescente poder da riqueza hereditária. É
fácil ser cínico sobre as perspectivas de sucesso dessa empreitada. Mas
certamente o magistral diagnóstico de Piketty sobre a situação em que
estamos e a situação a que estamos nos encaminhando torna o êxito
consideravelmente mais provável. Por isso, “Capital in the Twenty-First
Century” é um livro extremamente importante em todas as frentes. Piketty
transformou nosso discurso econômico; jamais voltaremos a falar sobre
renda e desigualdade da maneira que fazíamos.
Paul Krugman é
colunista do “New York Times” e professor de Economia e assuntos
internacionais na Universidade de Princeton. Recebeu o Prêmio Nobel de
Economia em 2008.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
“Capital in the Twenty-First Century”
AUTOR Thomas Piketty,
EDITORA Belknap Press/Harvard University Press,
QUANTO A partir de US$ 22 (685 págs.)
AUTOR Thomas Piketty,
EDITORA Belknap Press/Harvard University Press,
QUANTO A partir de US$ 22 (685 págs.)
Resenha no The Economist:
Reading “Capital”: Introduction
LAST year Thomas Piketty, an economist at
the Paris School of Economics and a renowned expert on global
inequality, published a book titled “Capital in the Twenty-first
Century”—in French. It will be released in English on March 10th. We reviewed the
book earlier this year, but it is detailed and important enough, in our
opinion, to deserve additional discussion. We will therefore be
publishing a series of posts over the next few weeks—live-blogging the
book, as it were—to draw out its arguments at slightly greater length.
Starting today, with the book’s introduction.
Capital, as I will refer to Mr Piketty’s
book from here on out, is an incredibly ambitious book. The author has
self-consciously put the book forward as a companion to, and perhaps the
intellectual equal of, Karl Marx’s Capital. Like Marx, Mr Piketty aims
to provide a political economy theory of everything. More specifically,
he attempts to re-establish distribution as the central issue in
economics, and in doing so to reorient our perceptions of the trajectory
of growth in the modern economic era. Mr Piketty’s great advantage in
attempting all this, relative to past peers, is a wealth of data and
analysis, compiled by himself and others over the last 15 or so years.
Mr Piketty begins in an introduction that
proceeds in two parts. He first describes the intellectual tradition
into which the book falls. The second, which is the basic outline of his
theory, I will tackle in the next post.
The study of political economy emerged in
the first decades of the Industrial Revolution, in the late 18th
century, in Britain and France. The great thinkers of the era were
attempting to understand the dramatic societal and economic changes of
the day and to describe their mechanics in a way that would allow them
to anticipate future developments. To a great extent they focused on
distributional issues—and worried that distribution spelled serious
trouble for the capitalist system. The Reverend Thomas Malthus, for
instance, famously worried that overpopulation would drive down wages to
subsistence level, leading to dangerous political upheaval. To
short-circuit this possibility the compassionate reverend recommended
that governments cut off assistance to the poor and limit their
reproduction.
David Ricardo’s 19th century analysis was
more measured but nonetheless similar in its concern about the
sustainability of the contemporary economic system. He focused his
attention on the relative scarcity of factors of production, and the
effect of scarcity on shares of national income. Output and population
were rising fast, he noted, while land supplies remained fixed,
suggesting that land prices might rise without bound. As a result, he
speculated, land rents would come to eat up a steadily rising share of
national income, threatening the capitalist system.
Ricardo was wrong in the long run—soaring
agricultural productivity (which both he and Malthus failed to
anticipate) meant that agricultural land was not the scarce factor for
very long. But he was right in the short run, and the short run matters.
A period of a few decades in which the price of a scarce resource soars
can lead to enormous accumulation of wealth in the hands of relatively
few owners of capital. That concentration can persist even after
technological change eases the initial scarcity: a point Mr Piketty
notes is relevant in thinking about soaring prices for urban property or
natural resources.
And then there was Marx. He (along with
Friedrich Engels) was the first of the great political economists to
wrestle directly with the effects of industrial capitalism. Marx was
reacting to the reality of industrial growth at the time: through the
first century or so of industrialisation output grew steadily, but there
was virtually no meaningful increase in real wages. In the “hungry
1840s”, when the Communist Manifesto was published, capitalism seemed
like an incredibly raw deal for workers. That had begun to change by the
time Marx published the first volume of Capital, in 1867. But the
emergence of steady wage growth did little to diminish concentrated
wealth.
Marx saw capitalism as fundamentally
flawed, containing the roots of its own destruction. As owners of
capital gobbled up the gains from growth, they would accumulate still
greater piles of capital—”infinite accumulation”. This would either
drive the return on capital down to nothing, leading the capitalists to
destroy the system by battling it out with each other, or it would allow
the capitalists to capture a rising share of national income (like
Ricardo’s landowners), leading the workers to revolt. But Marx also
turned out to be mistaken. He did so in large part, says Mr Piketty,
because of a lack of data, and because he and others failed to
anticipate that rapid technological growth could reduce the relevance of
past wealth accumulation.
This latter factor helps shape one of the
main elements of Mr Piketty’s theory of everything: that the rate of
growth is hugely important in determining how long a shadow old wealth
casts. If not exactly an equaliser, fast growth nonetheless puts a
finger on the scale on the side of those without great wealth.
Now, this entire line of theoretical work
was thrown into upheaval by the events of the period from 1914-1945.
The chaos and policy shifts of the period wiped out much of the world’s
previously accumulated wealth and set the stage for a burst of rapid,
broad-based growth. Meanwhile, economists were for the first time
gathering detailed data on personal incomes. And so when Simon Kuznets
began looking at inequality trends in the 1950s, the data suggested to
him that in “advanced phases” of capitalist development inequality
tended to fall. The idea that inequality rose and then fell as an
economy developed became known as the Kuznets curve. For the first time
hard data had been brought to bear on distributional questions, and the
news seemed pretty good. Kuznets’ view became the foundation from which
modern economics approach distributional issues, despite the fact that
it was based on a very limited period during which declining inequality
could not remotely be considered the result of natural economic
processes.
That, as Mr Piketty sees it, is where he
comes in. For most of the 20th century the distribution of incomes was a
minor issue within economics. Growth and management of the business
cycle were the sexy economic issues.
That is now changing, based in part on the academic work Mr Piketty has done (much of which is accessible at the World Top Incomes Database).
While emerging-market growth has narrowed global inequality, income
inequality within countries, including many large emerging markets, has
been rising. The return of the importance of scarce land, resources, and
intellectual property has contributed to a resurgence in wealth
accumulation. Distributional worries are back, and Mr Piketty argues
that that is the natural state of affairs rather than an aberration.
“In a way”, Mr Piketty writes, “we are in
the same position at the beginning of the twenty-first century as our
forebears were in the early nineteenth century: we are witnessing
impressive changes in economies around the world, and it is very
difficult to know how extensive they will turn out to be…”. It can be
frightening and disorienting to find oneself at such an economic
juncture. We look back on Malthus’ worrying with the smugness of
hindsight. But those who read Malthus at the turn of the 19th century
and concluded that industrialisation would result in political upheaval,
misery, and war turned out to be right. It also led to quite a few good
things. But the process of getting there has been anything but smooth,
and distributional issues inevitably play a role when the march toward
prosperity slows or beats a temporary retreat.
This is an important book arriving at an
appropriate moment. It’s also an entertaining and informative read, and
so I hope you’ll join me in reading through and discussing it.
In the first half of
Capital’s introduction, Thomas Piketty lays out the intellectual
background for the work. In the second he shares the main results of the
book. The first is that levels of inequality represent the result of
political choices, rather than deterministic technological or economic
outcomes (a point reinforced by recent IMF research).
Whether or not structural economic shifts generate rising or falling,
low or high inequality is down to the structure of the political system
and the way it chooses to accommodate those changes. “Skill-biased
technological change” or “superstar economics” are incomplete
explanations of rising inequality. They may actually leave out the more
interesting half of the story.
The second result is that
economies do not naturally evolve toward more equal distributions of
resources as they mature. There are some forces pushing toward greater
equality, like the spread of new technologies from rich areas to
poor—what he calls “the principal force for convergence”. And there are
some forces pushing toward less equality, one of the most important of
which is the ability of the rich to secure further economic and
political benefits for themselves. Importantly, he notes, the equalising
power of the diffusion of knowledge is closely linked to state policy:
to investment in infrastructure, education, research, and a regulatory
environment conducive to entrepreneurship and competition. It isn’t a
natural force for convergence at all, but must be actively cultivated
(and may be resisted by those with wealth and power).
At the moment, Mr Piketty
observes, the world is looking at two key dynamics pushing the world
toward greater income divergence. One is soaring inequality in labour
income. This trend is especially noticeable in America, where the top
10% of earners now captures close to 50% of national income, up from
about 35% for the first three postwar decades. The second dynamic is the
return of wealth.
Mr Piketty introduces a
statistic that features prominently throughout the book: the ratio of
private wealth in an economy to GDP. Across most rich countries this
ratio was consistently high in the 19th century, tumbled during the
interwar period, and has since rebounded back within shouting distance
of 19th century highs. To explain this, Mr Piketty unveils a
“fundamental force for divergence”: r>g.
The r in r>g is the
return on capital. It’s worth mentioning now that capital in Capital is
equivalent to wealth, and wealth means anything other than labour which
generates income: land, financial assets, physical capital, and so on.
(Human capital doesn’t count, as that augments labour income.) R, then,
is the income generated by that wealth (meaning rents, dividends,
profits, and so on) as a share of total wealth. The g, on the other
hand, is simply the growth rate of the economy.
If and when r>g, then,
wealth grows faster than output, the ratio of wealth to output
increases, and the share of capital income in total income rises. And
there is an important corollary: a slowdown in overall economic growth
is itself a force for greater concentrations of wealth. This
relationship forms a critical part of the book’s argument, though it is
not necessarily intuitive: shouldn’t lower g imply lower r? But we’ll
get to that. We should be clear, though, about what Mr Piketty is after:
breaking much of modern economic history down into a few constituent
forces that can be easily captured in statements like r>g. The value
of his book will depend, in part, on how much we need to abstract away
from the world to accept that r>g matters across times and places.
The more reality you strip away from a model the easier it is to divine
universal truths, and the less interesting the truths become.
It’s worth mentioning that
Mr Piketty very much wants to explain the real world. He closes the
Introduction with an interesting discussion of his motivations, not
easily summarised here, which includes the factoid that he left America
to return to his native France because he found American economists too
interested in theory and generally unconvincing. That’s not particularly
charitable—there are a lot of American economists working on a lot of
different things! It is of a piece with the francophilia that
suffuses the book, and which the author (rather unsuccessfully) argues
has nothing to do with home-side bias. Nothing wrong with that, of
course, but it is a recurrent and noticeable enough part of the book
that it seems worth pointing out.
policy in the world Mr
Piketty describes. As this section contains some of the book’s weaker
arguments, this seems like an appropriate place to end our discussion
with a grand assessment of the work’s biggest contributions and
shortcomings. I’ll start with the former.
So what are the books main
contributions? First and perhaps most important is the data. As
impressive as “Capital” is, it may ultimately prove less influential and
significant than the World Top Incomes Database, on which much of the
book is based. That, and the data on the distribution and evolution of
wealth, represents an enormous achievement and the basis for the
narrative. It’s worth pointing out again that Mr Piketty has been just
one of many economists working to pull these figures together. Were it
not for this effort, the ongoing discussion on inequality would not be
as serious and relevant as it is.
Second, the book challenges
conventional wisdom concerning the economic history of the rich world
in several important ways. Once again, Mr Piketty is not alone in
demonstrating, for instance, that Simon Kuznets’ view that inequality
would rise and then fall as industrialisation proceeded, or that the
shares of national income flowing to capital and labour are not
constant. But Mr Piketty has given these ideas new prominence, and with
them the view that the 20th century’s dramatic compression of wealth and
incomes was largely down to the one-off shock of the interwar era.
Putting this all together, Mr Piketty’s book goes a long way toward
challenging the 20th century orthodoxy that distribution is not
particularly important.
Third, “Capital” provides a
framework for thinking about how inequality might evolve in future. Mr
Piketty’s data gives us a view of the past. He also gives us his
thoughts on how things might unfold in future (albeit with plenty of
caveats). But even if readers doubt his forecasts for the rate of return
on capital or of economic growth, they will have a way to think about
how key distributions will change thanks to this book. Among pundits,
policy discussions have already begun to reflect this: the
distributional effects of possible policy changes are beginning to be
discussed in terms of how the policy might shift r or g (or s, the
savings rate, or other key variables).
And fourth, “Capital”, by
dint of its extraordinary success, has created a focal point for an
important discussion. It is the right book at the right time, you might
say. It has given the debate about inequality a boost, and it has
provided that debate with a mechanical framework to help shape and
deepen the discussion.
It is undoubtedly an important book, which is why this newspaper has devoted so much space to its discussion.
Now, the shortcomings.
First, there have been
criticisms of the book that Mr Piketty probably ought to have seen
coming and addressed pre-emptively. Writing a book is hard, and the
temptation is often to try to address every criticism a reader might
possibly have. That can make for an unwieldy and less persuasive book.
Given the success “Capital” has had, I’m reluctant to second guess Mr
Piketty, but it does seem as though it would have been worth dwelling a
bit more on how his r relates to other interest rates. While the secular
stagnation discussion had not really gotten going when Mr Piketty was
writing this book, interest rates on rich-world government bonds had
fallen to historically low levels and looked like staying there for
years to come. Given the thrust of his argument, that r is typically
larger than g, the prospect of low rates for years to come ought to have
gotten some discussion.
Second, given the nature
and potential severity of the problem he describes, the proposed
solutions look pretty uninspiring. In Chapter 13, Mr Piketty briefly
looks at the social welfare state and its prospects. Perhaps a much
larger state would be a good thing at some point, he suggests, but not
until bureaucracies can be reformed and shown capable of managing
two-thirds or more of national output. In the meantime, he reckons,
governments need to examine how they provide education for their
citizens, and they should reform pensions. How? He writes, for instance,
that, “One of the most important reforms the twenty-first century
social state needs to make is to establish a unified retirement scheme
based on individual accounts with equal rights for everyone, no matter
how complex one’s career path.” Well, all right.
In Chapter 14, he turns to
income taxes. He states, interestingly, that progressive taxation is
important in maintaining political support for globalisation. He
observes that it was famously tax-antagonistic America that first toyed
with top rates above 70%, first on income and then on estates. He argues
that higher top tax rates were not particularly detrimental to growth.
The main effect of their reduction was to encourage executives to
bargain harder for big rises in pay packages, leading to soaring top
incomes but not necessarily to faster growth. As a result, he says,
higher top rates would be welcome, but he is not optimistic on this
score; the egalitarian spirit and pressures of war that drove initial
rises in top tax rates have faded.
And then in Chapter 15 he
lays out his primary recommendation: a progressive global tax on
capital. This, he freely admits, is a “utopian idea” which is unlikely
to be adopted anytime soon. It is nonetheless a useful thing to talk
about, he reckons, if only as a reference point for other policy
proposals. He describes what a capital tax might look like, and he
argues that alternatives (like communism, protectionism, or capital
controls) would be much more costly.
And that’s the gist of it.
But surely there should be more. If the threat to society is that r is
growing by more than g, then why not outline proposals to dramatically
expand capital ownership? Why not propose a universal basic income: an
inheritance, effectively, for everyone? The space allocated to Part 4
feels wasted.
And that gets to the third
shortcoming, which strikes me as the biggest. The economics gets a
serious treatment in this book, but the politics does not. That’s
somewhat ironic; Mr Piketty winds down his conclusion by saying that
economics should focus less on its aspirations to be a science and
return to its roots, to political economy. But theories of political
economy should be theories of politics. And there is no r>g for
politics in this book.
There are nods at the
importance of the interdependence between the political and economic. He
notes that epoch-ending political shifts, like the French and American
revolutions, were motivated in large part by fiscal questions.
Similarly, he observes that progressive income taxation tended to emerge
alongside the development of democracy and the expansion of the
franchise. (Though, he also admits, the fiscal demands of world war one
deserve most credit for adoption of meaningful income taxation across
the rich world.) And he discusses how concern about rising inequality
(often among elites) helped motivate rising tax rates in America in the
early 20th century.
But the ending the book
deserved was another look back at the data, to see whether patterns in
the interaction between wealth concentration and political shifts could
be detected and described. That’s not Mr Piketty’s area of expertise,
necessarily, but neither is most of the stuff in Part 4. And this really
is the critical question. If the most likely outcome of the trends Mr
Piketty describes is that somewhere down the line a left-of-centre
government is elected and passes higher top income tax rates, higher
estate tax rates, and pension reforms, and that defuses the crisis,
well, that puts the rest of the book in perspective. If the most likely
outcome is revolution, well, that does too. And while it would be absurd
to expect Mr Piketty to say definitely whether one possibility or
another is bound to occur, I don’t think it’s asking too much, given the
ambition of the rest of the book, to think we ought to be given some
sense of his view on how social and political movements generally evolve
in response to widening inequality, and how that evolution tends to be
reflected in policy. What good is it to suggest utopian ideas about how
to fix these problems without at least gesturing toward the political
mechanisms needed to bring them about?
Maybe that is grist for “Capital 2: Capitalized!“. But it belonged here.
For my part, I would say I
generally think Mr Piketty’s analysis is on the mark, with a few
exceptions related to my particular view of how labour markets have been
evolving. But “Capital” was critical to me in forming that view. I
think the really fascinating dynamic in this book is the
substitutability between labour and capital, something Mr Piketty
mentions but does not devote an especially long amount of time to. But
the stories we might tell in which capital becomes a dominant,
potentially malign force are those in which many of the world’s workers
can only hold off the automation of their work by accepting ever lower
levels of compensation. But that’s my hobby horse and not his, and I
don’t fault him for not devoting masses of pages to it.
At any rate, I am grateful
for the opportunity to think through these issues and debate them, and
to have views of mine upended. It’s not often a book manages that, and
this one did. I hope all of you, readers, have gotten something out of
the book, and this series, as well.
You can see the previous entry in the series here: “Capital in the Twenty-first Century” by Thomas Piketty
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