segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O ENSINO SUPERIOR NA AMÉRICA DO SUL E A GESTÃO UNIVERSITÁRIA - Terezinha de Jesus Afonso Tartuce Doutora em Educação pela Universidad de la Empresa (UY) Mestre em Educação pela Universidade São Marcos (SP) Psicopedagoga pela UNICE (CE) Pedagoga pela Universidade Mackenzie (SP) Profa. UNICE –Ensino Superior


O ENSINO SUPERIOR NA AMÉRICA DO SUL E A GESTÃO UNIVERSITÁRIA


Terezinha de Jesus Afonso Tartuce Doutora em Educação pela Universidad de la Empresa (UY) Mestre em Educação pela Universidade São Marcos (SP)
Psicopedagoga pela UNICE (CE) Pedagoga pela Universidade Mackenzie (SP)
Profa. UNICE –Ensino Superior

RESUMO


O artigo propõe a análise dos fundamentos de uma reforma no desempenho das instituições de ensino, enfatizando a transição pela qual passa o ensino superior, sua intensificação e evolução nas políticas de educação superior na América do Sul, nesses últimos anos, marcadas pela preocupação exacerbada com a qualidade de ensino; avaliação contínua dos sistemas universitários; reordenamento dos dispositivos jurídicos reguladores das relações entre o ensino superior e a sociedade; estabelecimento de mecanismos e de instâncias que visam ao reconhecimento de diplomas entre alguns países da região; desempenho da gestão universitária como estratégia de sobrevivência na Universidade contemporânea, dentre outras características mais. Procura-se, então, mostrar que uma nova cultura administrativa pode melhorar o desempenho de instituições de ensino e que esta cultura deve partir dos principais gestores. Para tanto, a obtenção de informação para identificação de novas oportunidades, comunicação persuasiva, perspicácia em negociações, habilidade de comunicação interpessoal e resolução de problemas entre professores, alunos e outras, são as competências necessárias para o gestor de cursos. A pesquisa apresenta também que grande parte das instituições de ensino ainda preserva uma postura tradicional, que não permite abertura para comportamentos arrojados.

INTRODUÇÃO


O processo educativo está presente em todos os momentos mutacionais da existência do ser humano, a educação do homem moderno é considerada assunto inerente em âmbito universal, mas também não deixa de ser um problema de excepcional dificuldade em grande número de países e em todos, sem exceção, como tarefa de maior importância.

As ações culturais se destacam e fixam posição de grande importância no meio de produção do conhecimento científico, devem ser consideradas como elementos de base, de infra-estrutura, indispensáveis à
melhoria do sujeito, como também do sistema educacional, da capacitação profissional e da qualidade de vida da população.

De qualquer forma, um papel se impõe à educação contemporânea, trata-se de sua função social. Aquela que se orienta pelo direito de todas as pessoas à vocação social. Nesta intersecção reside o amplo papel da escola como instituição promotora de cultura.

A formação para o exercício de uma profissão em nível superior, numa época de rápidas, constantes e profundas mudanças, requer atenta consideração por parte das Universidades. A decorrência normal desse processo parece ser a adoção de nova abordagem, de modo a ensejar aos egressos a capacidade de investigação e a deaprender a aprender. Esse objetivo exige o domínio dos modos de produção do saber na respectiva área, de modo a criar as condições necessárias para o permanente processo de educação continuada.

De acordo com PÉREZ LINDO et al. 1 os universitários e cientistas têm que saber que à sua volta suas atividades têm que ver com processos de conhecimento. A maioria deles carece de uma cultura epistemológica, embora conheçam suas disciplinas, falta passar o conhecimento implícito para o explícito.

Ainda segundo os autores, por outro lado os administradores da área da educação se regem por critérios políticos ou corporativos, ignoram os critérios científicos e pedagógicos.

A gestão universitária, nos dias de hoje, é avaliada em geral pela qualidade do todo, que engloba a formação de um currículo moderno embasado em competências e habilidades e, para as privadas, também o resultado financeiro.

No Brasil, os profissionais que trabalham e pesquisam a educação estão vivendo desde 1998, diversificações de deveres e obrigações, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB nº. 9.394/96, mudou a ordem até então estabelecida. Vêem-se presente as novas exigências do Ministério da Educação nas Instituições quanto à atualização de seus Regimentos, profissionais da área pedagógica trabalhando, orientando e executando projetos e planejamentos, grupos de estudos desenvolvendo a aplicabilidade dos novos parâmetros, enfim, mudanças que há muitas décadas se faziam necessárias.

Diante do que acontece no Brasil, ocorre também em outros países sulamericanos. Há uma busca muito grande para a compreensão do sistema educacional de cada país, devido ao processo de mudança constante do mercado de trabalho e as novas demandas sociais, exige-se que o sistema se volte para a formação de um indivíduo com perfil diferenciado: o profissional e o cidadão capaz de buscar e criar oportunidades de trabalho, como também

image
  1. Augusto Pérez Lindo et al. Dimensiones de la Gestión del Conocimiento. 2005, p. 5.
    oportunidades de participação social, transformando-as em realizações para si mesmo e para a comunidade em que vive.

    Dessa maneira, ou se faz uma reforma visando atingir as raízes das deficiências do sistema de educação, reunindo vontade política, acadêmico- científica, administração gestora e competência técnica das escolas, além da saudável fiscalização governamental ou o país pagará o preço de sua própria falta de critério e visão, permanecendo na ignorância e no subdesenvolvimento por mais algumas gerações.

    1. O ENSINO SUPERIOR


      O ensino superior desempenha um importante papel econômico, tecnológico e político na sociedade moderna, onde letrados, investigadores têm o mesmo significado, embora as funções sejam diferenciadas. Além disso, as exigências do mercado com a famosa e polêmica globalização é um outro fator que pressiona as mudanças de rumo na política educacional do país.

      São diversos e complexos os desafios com que se defronta o sistema de ensino superior, cuja população se divide em uma pequena parcela que vive da era da informação globalizada e uma grande massa que luta contra a desigualdade social e a exclusão.

      Ao mesmo tempo em que é preciso integrar-se às redes internacionais de ensino, para compartilhar dos conhecimentos e avanços mundiais, é preciso também se contrapor ao poder manipulador de quem controla as informações para preservar a própria identidade. Desempenhando um papel econômico e social cuja importância tem sido até agora subdimensionada, as Instituições de Ensino Superior devem se colocar à frente do processo de transformações educacionais que poderão conduzir o país ao desenvolvimento justo e igualitário.

      A Universidade é uma organização multifinalista, que realiza vários produtos, sendo os principais: a formação de recursos humanos; a produção de conhecimentos (artísticos e científicos); a prestação de serviços para diferentes setores da sociedade.

      Por ser a Universidade uma comunidade ética, cujos membros têm em comum a busca do saber, esta busca pressupõe-se que o saber não é alguma coisa dada de forma imediata, natural e espontânea, ao alcance de qualquer um, mas é algo que se conquista adquirindo com esforço, mediante hábitos intelectuais específicos. O saber pode ser adquirido de duas maneiras, por intermédio da transmissão (aprendizagem) e por descoberta (pesquisa). De qualquer forma, a simples existência de uma instituição organizada com vista à aquisição do saber já indica seu caráter eminentemente social.
      Primeiramente, a sociedade institui a Universidade com a finalidade de apropriar-se do saber produzido e organizado, depois, em segundo lugar, a própria organização da sociedade supõe normas comuns de procedimento e adequadas às finalidades que ela se propõe.

      Embasado no desenvolvimento alcançado pela ciência e pela tecnologia modernas, a invenção do saber deixa de ser uma aventura isolada e individual, para tornar-se um empreendimento coletivo, metodicamente organizado e socialmente reconhecido.

      Portanto, faz-se necessário proporcionar acesso ao ensino de qualidade aos diferentes segmentos sociais. Criar currículos que atendam à demanda por novas profissões. Ampliar as oportunidades de educação continuada. Acompanhar a constante evolução do conhecimento, as transformações econômicas e os avanços tecnológicos. Como também, ter por finalidade, o ensino superior, preservar a cultura nacional, regional e local, sem perder os benefícios da universalização.

      1.1 Funções da Universidade


      A Universidade moderna assenta sua missão no tripé do ensino, da pesquisa e da extensão. Não há Universidade sem a prática permanente dessas três funções integradas entre si. A importância delas todas para a caracterização da instituição universitária é tamanha que, no Brasil, a própria Constituição Federal de 1988 dispôs em seu Artigo 207 que: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.

      Abordando especificamente a América do Sul, de acordo com AROCENA, 2 a Univesidad de la Republica –UDELAR é a única universidade pública do Uruguay, a qual dá conta de mais de três partes de toda investigação científica e tecnológica que se realiza no país. Os movimentos
      acadêmicos constituem uma referência simbólica fundamental para esta Universidade, moldada espiritualmente pelas memórias e esperanças da Reforma Universitária Latinoamericana.

      ESQUÍVEL em relação ao ensino superior no Chile ressalta que,

      “La modernización del sector terciário de la educación chilena a partir del ano de 1981 es parte del denominado programa de modenizaciones, inspirado en el modelo neoliberal que aplica el régime militar en los sectores de la salud, vivenda, educación, previsional y laborial, una vez

      image
  2. Rodrigo Arocena. Universidad de Republica (UDELAR), Uruguay e PEDECIBA. In: Afrânio Mendes Catani (org.). Novas perspectivas nas políticas de educação superior na América Latina no Limiar do Século XXI. 1988, p. 257- 258.
    consolidado jurídicamente con la aprobación de la Constitución Política de 1980.”3

    Na Argentina, segundo ALVAREZ, 4 os processos de planejamento e desenvolvimento institucional nas Universidades, são considerados como avaliação institucional, realizados pela própria Universidade incluindo a autoavaliação de programas disciplinares, os serviços de apoio acadêmico, as estruturas de tomada de decisões, dentre outros mais.

    Portanto, não basta ocupar-se a Universidade das três funções (ensino, pesquisa e extensão), e sim que precisa fazê-lo dentro do princípio da indissociabilidade entre elas. E nisso está a premissa maior da necessidade de haver em cada instituição um Plano de Desenvolvimento Institucional, que preveja, dimensione e conduza o grau de abrangência e intensidade dessa integração entre as referidas funções. Não se pode falar em exercício da autonomia sem a existência de um plano desses, que marque os limites e dimensione o potencial da ação autônoma em cada caso e situação.

    Um Plano de Desenvolvimento Institucional começa pelo diagnóstico do estado da instituição, em determinado momento de sua evolução de que constem os aspectos positivos e negativos de sua estrutura e do seu funcionamento. E termina pelos planos e projetos de melhoria e qualificação dos pontos negativos encontrados nos levantamentos feitos.

    Para que o trabalho na Universidade, nesse campo, seja inteiramente válido em suas análises e proposições, bem como suficientemente dinâmico para permitir periódicos reajustes e providências, há de funcionar na Instituição uma Comissão Permanente de Avaliação, auxiliada periodicamente, pela ação de um grupo externo altamente qualificado, que proceda à medição dos progressos.

        1. O Ensino


          O ensino é e sempre será o eixo das instituições de educação, sejam elas de qualquer nível. Ensino consiste em organizar, selecionar, sistematizar, difundir, criticar e relacionar com as necessidades sociais e culturais de determinada época e local todo o saber acumulado pela inteligência humana, no passado e no presente. Como não existe ensino sem aprendizagem, estabeleceu-se o processo denominado ensino-aprendizagem. Daí todo ensino tem que ser compartilhado entre os professores e alunos. É um processo coletivo ou interativo de apreensão do conhecimento.

          image
  3. Juan Carlos Campbell Esquível. La Edución Superior en Chile: cambios y desafios. In: Afrânio Mendes Catani (org.). op. cit. p. 247. Tradução livre: “A modernização do setor terciário da educação chilena a partir do ano de 1981 é parte do denominado programa de modernizações, inspirado no modelo neoliberal que aplica o regime militar nos setores da saúde, habitação, educação, previdência e trabalho, uma vez consolidado juridicamente com a aprovação da Constituição Política de 1980.”
  4. Sonia Alvarez. La evaluación de calidad em la Argentina. In: idem. ibidem. p. 228.
    O ensino superior, no Brasil, dada à extrema complexidade dos seus códigos de apreensão da realidade e da peculiaridade semântica das ciências, sejam elas exatas, sociais, humanas ou aplicadas, exigem, para a sua ministração, que os professores sejam, na maioria, de preferência, portadores da titulação de Mestres ou Doutores. A legalidade dessa exigência é exigida pela Lei de Diretrizes e Bases nº. 9.394/96, que vem beneficiando amplamente o sistema de ensino, pela melhor qualificação de seus quadros docentes.

    O que se espera de um professor de educação superior diga-se, é que tenha pleno domínio da área científica e do saber correspondente à disciplina que ministra que seja atualizado em relação ao seu tempo e às tendências políticas, sociais, econômicas e culturais que o marcam, que disponha de recursos didático-pedagógicos, inclusive os da moderna tecnologia educacional para utilizar em suas aulas, que consiga desenvolver os processos interdisciplinares, que saiba relacionar a teoria exposta com sua aplicabilidade prática e que, além do saber em si, tenha competência para desenvolver no aluno atitudes positivas de convívio social e de adequação profissional.

    Nas Universidades, como já se observa o ensino vem relacionado com a pesquisa. No Brasil, essa indissociação entre o ensino e a pesquisa, se aceita apenas o ensino quando se tratar de Centro Universitário, Faculdade Isolada ou Integrada e Institutos outros de Educação Superior.

        1. Pesquisa


          Inseparável do ensino, a pesquisa torna-se um caminho privilegiado para a conquista do saber. Dessa maneira, é que na Universidade fazer pesquisa é obrigatório e indispensável, decorrendo então, a capacidade de criar novos conhecimentos. Essa criação se faz pela invenção, que gera produtos, serviços, idéias e o que mais seja para benefício do homem, antes inexistente, seja por inovação, que transforma e adapta saberes preexistentes às novas necessidades sociais e humanas. Ambas, tanto a invenção como a inovação, são resultantes diretos da atividade de pesquisa.

          Apresentando-se como mola propulsora do progresso cultural, científico e tecnológico da humanidade, a pesquisa também caminha ao lado das atividades de ensino, na Universidade. Não se pode falar de uma, sem se referir à outra. Entre ambas há uma relação de intimidade, que não se pode separar. Nos dias atuais a pesquisa está presente em qualquer nível do sistema educacional.

          DEMO faz uma interessante associação da pesquisa e educação:

          “(...) ambas se postam contra a ignorância; (...) enquanto a pesquisa busca o conhecimento para poder agir na base do saber pensar, a educação busca a consciência crítica (...);” 5

          image
  5. Pedro Demo. Educar pela Pesquisa. 1996, p. 8.
    A pesquisa deve ser um procedimento comum de ensino e de aprendizagem, que envolve o tempo todo tanto os professores como os alunos. Daí ser indispensável, no Ensino Superior, a presença no currículo de todos os cursos a disciplina Metodologia Científica.

        1. Extensão


    A extensão comparece como a terceira função ao conceito de Universidade. Composta de cursos diversos, geralmente de curta duração, oferecidos tanto à comunidade externa como interna da Universidade, eventos da mais variada natureza, participação em campanhas nacionais e locais, como é o caso da alfabetização solidária ou da defesa ambiental, tratamentos médico-dentários para a população carente, assistência jurídica gratuita para quem não pode pagar advogado, programas para idosos e muitos outros.

    As atividades de extensão primam pela informalidade e se dirigem, de preferência, a públicos externos à Universidade.

    Nas atividades de extensão não prevalece a presença de professores de cursos, podem ser utilizados elementos dissociados do corpo docente, como profissionais de diversos ofícios, artistas, sacerdotes, empresários e outros mais.

    A extensão universitária se processa sob a forma de cursos, serviços, difusão de resultado de pesquisas e outras formas de atuação, exigida pela realidade da área onde a Instituição se acha inserida.

    1.2 Reconhecimento de Diplomas


    As instituições de Ensino Superior no século XXI vêm se defrontando com a exigência da integração regional, da qualificação dos egressos do ensino superior, bem como da livre circulação desses profissionais. Nesse contexto, na América do Sul, a mobilidade acadêmica de terceiro grau acontece entre os países componentes do MERCOSUL, via reconhecimento de títulos e diplomas e sua relação com a tendência internacional da avaliação universitária.

    MOROSINI, eminente professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil) comenta que,

    “É pós-segunda guerra que o reconhecimento de diplomas passou a constituir-se em prática normatizada, funcionando como razão geopolítica de fixação população em seus locais de origem. (...) As legislações de reconhecimento que vêm sendo formuladas, apesar dos muitos esforços,
    principalmente da UNESCO, não têm obtido o êxito esperado.”6

    Dessa maneira, a integração regional como forma de enfrentamento dos diferenciais entre regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas, o conhecimento adquire importância ímpar, faz-se necessário qualificar e tornar mais competitivos os recursos humanos de alto nível para fornecer condições de participação do megabloco no mercado mundial com vistas ao desenvolvimento local.

    Para tanto, ressalta-se que uma das facetas propiciadoras dessa competitividade é a mobilidade de egressos de ensino superior, possibilitada pelo reconhecimento de títulos e diplomas.

    2. GESTÃO NO ENSINO SUPERIOR


    A reforma universitária é um desejo social de várias Instituições de Ensino Superior da maioria dos países da América do Sul, desejo esse contido há muito tempo, por uma educação superior de qualidade, comprometida com padrões de excelência.

    Segundo ROMANELLI, no Brasil,

    “O novo modelo de Universidade pretende agregar a racionalidade administrativa à Universidade para torná-la mais moderna e adequada às exigências do desenvolvimento, embora politicamente, essa racionalidade administrativa acaba aumentando, no seio da própria Universidade, o controle de órgãos centrais sobre toda a vida acadêmica e, exatamente, o controle da própria Universidade
    pelos órgãos de administração federal de ensino.”7

    As Instituições de Ensino Superior nacionais, dos países sulamericanos, têm que mudar para nivelarem-se aos níveis de qualidade e aos padrões utilizados no exterior. Principalmente nas questões referentes à área administrativa e além da preocupação com disciplinas e carreiras inovadoras. Reforça-se, nos dias de hoje, esses elementos com uma coligação internacional, que permite a integração de intercâmbios e antecipação de tendências.

    Recriar uma Instituição de Ensino Superior para mantê-la viva e jovial, num mercado dinâmico como o ensino superior, é uma tarefa que exige ousadia e pensamentos inovadores. Interferir no modelo pedagógico é

    image
  6. Marília Costa Morosini. MERCOSUL. Reconhecimento de diplomas e avaliação universitária. In: Afrânio Mendes Catani (org.). op. cit. p. 169.
  7. O.O. Romanelli. História da Educação no Brasil. 2003, p. 232.
    essencial para que a instituição sobreviva, possa captar alunos de classes menos favorecidas e estabelecer um crescimento sustentado e orgânico. É preciso desenvolver nos gestores e nas próprias entidades a cultura do pensamento estratégico.

    Com sabedoria, PÉREZ LINDO et al. 8 escrevem que as Universidades, principalmente as que almejam o poder, convertem, na maioria das vezes, os gestores universitários em gerentes operativos que atendem quase todos os tipos de assuntos da Instituição assistindo-os em séries de intermináveis reuniões, sendo que nem sempre existe um planejamento estratégico, ou uma teoria que permita orientar intencionalmente o futuro da Universidade.

    Rever o que se pratica na escola em termos pedagógicos é assunto considerado inatingível. Os extensos currículos presenciais e as grandes cargas horárias dentro da tradicional sala de aula são considerados elementos intocáveis, como se sua manutenção fosse essencial para a qualidade do ensino. Quebrar essa lógica demanda um enorme esforço por parte da alta gestão para esquecer o tradicional e tentar as oportunidades que pairam na sociedade.

    Ainda de acordo com o brilhante mestre PÉREZ LINDO et al. 9 tentou-se nos últimos anos aplicar uma forte idéia sobre a qualidade das Universidades (coordenação, avaliação e credibilidade). Mas, atualmente, se concebe a idéia da pertinência acadêmica e social. Ao sistema de educação superior sulamericano faltam algumas idéias reguladoras, no sentido de uma filosofia que tenha em comum o sentido de políticas do conhecimento.

    São objetivos fundamentais para a política do ensino superior: a ampliação do seu sistema, melhoria da qualidade de ensino e o desenvolvimento da pesquisa. A educadora DURHAM 1considera que a parte significativa da crise desse sistema deve-se a escassez de recursos face ao
    custo crescente desse nível de ensino, impedindo o atendimento às demandas cada vez mais significativas formuladas pela sociedade.

    A concepção de modernização defendida pela autora tem como centro a modificação da forma de atuação do Estado, substituindo controles burocráticos e detalhistas por um sistema que associe autonomia de execução a controle de desempenho, por intermédio de critérios transparentes de distribuição de recursos que permitam sua maximização.

    Ressaltam LODI e LIMA NETO, 1que a comunidade acadêmica busca na autonomia uma nova relação entre o Estado e a Universidade, no

    image
  8. Augusto Pérez Lindo et al. Op. Cit. p. 15.
  9. Idem. ibidem. p. 15.
  10. Eunice Ribeiro Durhan. A política para o Ensino Superior Brasileiro ante o desafio do novo século. In: Afrânio Mendes Catani (org.). op. cit. p. 2.
  11. Lucia Helena Lodi; Newton Lima Neto. Autonomia universitária e mudanças na Educação Superior Pública. In: Afrânio Mendes Catani (org.). idem. ibidem. p. 54.
sentido de imprimir maior agilidade, transparência e qualidade social ao padrão de gestão das universidades públicas financiadas pelo Estado, de outro lado o governo usa a autonomia para que no âmbito das contas públicas, abrirem novos espaços para a progressiva transferência dessa responsabilidade para os setores privados.

Observa-se, então, que as Universidades têm que adquirir algumas vantagens estratégicas, uma delas é o gestor do conhecimento cuja pressão em que vive é semelhante à vivida por profissionais que atuam em grandes empresas, em que prazos e metas devem ser rigorosamente cumpridos com eficiência. Nesse contexto, esse profissional precisa desenvolver habilidades atualizadas para lidar com suas responsabilidades na análise da qualidade acadêmico-institucional dos serviços oferecidos à comunidade e da relação econômico-social da estrutura da Universidade e sua conseqüente margem de contribuição para o sucesso do conhecimento ofertado.

O gestor deve sempre acompanhar o que está acontecendo desde o que se passa no campo da educação básica, da gestão escolar do sistema escolar do país e, mesmo, no exterior. É de grande importância a obtenção de informação para identificação de novas oportunidades, comunicar-se com convicção, perspicácia em negociações, habilidade de interagir interpessoalmente na resolução de situações acadêmicas, como por exemplo, problemas com professores e alunos. Aquele que atua na gestão do conhecimento não pode se prender somente às competências meramente acadêmicas, estas já não são mais suficientes para uma visão atualizada e futurista.

Percebe-se, então, que esse especialista cresceu em importância, pode ser considerado um dos fatores primordiais para o sucesso ou fracasso da Instituição. Faz-se necessário ressaltar que além de bem informado, deve ter presente que sua atuação se destaca como uma referência para a equipe. Integrar as lideranças é um esforço essencial para que não haja uma focalização apenas na consistência de orientação, mas também coerência estratégica na missão educativa.

Dessa maneira, verifica-se que embora grande parte das Universidades ainda preserve uma postura tradicional, que não permite abertura para comportamentos arrojados, ao mesmo tempo em que se exige dos gestores do conhecimento da Instituição, sejam especialistas dotados de muitas iniciativas, tal tradicionalismo pode, muitas vezes, prejudicar boas idéias.

Adquirindo um caráter mais independente, os profissionais do conhecimento terão mais confiança e autonomia para resolverem os problemas do dia-a-dia e colocarem em prática sua gestão.

Não é concebível que as Instituições de Ensino Superior continuem atuando de maneira retrógrada em um cenário de concorrência regional. Quanto mais aceitar que se mantenham os paradigmas solidificados
enfrentando avaliações e tornando-se o alvo dos objetivos da concorrência global.

CONCLUSÃO


O avanço da sociedade em busca do conhecimento vem se refletindo diretamente sobre as nações, obrigando-as à realização de ações que possibilitam efetivas transformações na educação, tanto no plano das relações de ensino e de aprendizagem, como no das políticas públicas, que devem, cada vez mais, incorporar estratégias visando ao enfrentamento das questões trazidas pela globalização e pelos novos cenários que se apresentam ao desenvolvimento nacional diante do crescimento econômico, às conquistas sociais, à inovação e capacitação tecnológicas.

Esses fatores são indispensáveis à produtividade industrial, à modernização da infra-estrutura, ao fortalecimento da capacidade empresarial e à solidez das relações internacionais.

Considera-se a educação como condição suficiente para o êxito no progresso de qualquer nação somente quando as políticas educacionais forem traçadas em perfeita harmonia com as necessidades de todos os segmentos que interferem, direta ou indiretamente, na vida da sociedade moderna.

Todavia, vale considerar que o planejamento da educação no Brasil, em todos os níveis, depende do enfrentamento de grandes desafios resultantes, e em parte determinantes, das disparidades regionais e sociais, bem como da falta de percepção para a importância das realizações do setor privado e da decorrência de ações descontínuas de governo.

De fato, o Brasil vive uma situação inusitada, em grande parte causada pela desigual distribuição do saber, que ocorre em duas vertentes distintas: a primeira de natureza geográfica evidencia-se pela concentração de capacidade de produção científica e de inovação, como também a maioria de pesquisadores nas regiões sul e sudeste. A segunda manifesta-se pelo desequilibro existente na formação dos profissionais com ensino superior, quando analisados por área de conhecimento.

O que se percebe é a importância de estimular nas Instituições de Ensino Superior a geração de novas estruturas curriculares e de conteúdos programáticos, que assegurem a flexibilidade e a diversidade dos cursos oferecidos.

Em contrapartida, a autonomia para a implantação de cursos inovadores que solucionem demandas reprimidas é estrategicamente decisiva, proporcionando não só a inovação no segmento educacional, como também o atendimento célere das demandas das empresas por profissionais devidamente qualificados e atualizados tecnicamente.

A Universidade teria que contar com financiamentos de procedência variada, não só política, mas como atividades legítimas como créditos estudantis, extensões horárias docentes e recursos extra pressupostos obtidos a partir da demonstração em projetos de intervenção, angustiantes tarefas de empreendimento.
Para isso, verifica-se, nesse estudo, que a Instituição de Ensino Superior com visão não só pedagógica, mas também administrativamente atualizada, que policiasse seu staff docente, seu padrão de egressos e sua matrícula estudantil, como pontos de arranque, fortalecidos também com os funcionários da Instituição.

A formação para a sociedade do conhecimento repousa na definição de competências técnicas, vinculadas aos conteúdos específicos das várias áreas de conhecimento, de competências comportamentais necessárias ao convívio na sociedade moderna e de competências estratégicas, que envolvem a formação de profissionais aptos à tomada de decisões. Assim, as Universidades devem se preocupar em introduzir as culturas do empreendedorismo, das relações interpessoais e do desenvolvimento sustentável em todas suas estruturas curriculares e em suas ações.

Devem, ainda, aqueles que trabalham com o ensino superior, promover o equilíbrio entre o pedagógico e as práticas de aprendizagem, contemplando a ciência, a tecnologia e a gestão, bem como a cidadania, com o objetivo de solucionar problemas decorrentes nas políticas educacionais.

BIBLIOGRAFIA


ALVAREZ, Sonia. La evaluación de calidad em la Argentina. In: Novas perspectivas nas políticas de educação superior na América Latina no Limiar do Século XXI. Campinas – SP: Autores Associados, 1988.

AROCENA, Rodrigo. Universidad de Republica (UDELAR), Uruguay e PEDECIBA. In: Afrânio Mendes Catani (org.). In: Novas perspectivas nas políticas de educação superior na América Latina no Limiar do Século XXI. Campinas – SP: Autores Associados, 1988.

DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas – SP: Autores Associados, 1996.

DURHAN, Eunice Ribeiro. A política para o Ensino Superior Brasileiro ante o desafio do novo século. In: Afrânio Mendes Catani (org.). Novas perspectivas nas políticas de educação superior na América Latina no Limiar do Século XXI. Campinas – SP: Autores Associados, 1988.

ESQUIVEL, Juan Carlos Campbell. La Edución Superior en Chile: cambios y desafios. In: Novas perspectivas nas políticas de educação superior na América Latina no Limiar do Século XXI. Campinas – SP: Autores Associados, 1988.

FREIRE, Paulo. Educação e mudanças. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997
LODI, Lucia Helena; LIMA NETO, Newton. Autonomia universitária e mudanças na Educação Superior Pública. In: Afrânio Mendes Catani (org.). Novas perspectivas nas políticas de educação superior na América Latina no Limiar do Século XXI. Campinas – SP: Autores Associados, 1988.

MOROSINI, Marília Costa. MERCOSUL. Reconhecimento de diplomas e avaliação universitária. In: Afrânio Mendes Catani (org.). Novas perspectivas nas políticas de educação superior na América Latina no Limiar do Século XXI. Campinas – SP: Autores Associados, 1988.

PÉREZ LINDO, Augusto et al. Dimensiones de la Gestión del Conocimiento. Um nuevo enfoque aplicable a las organizaciones y a la universidad. Buenos Aires: Editoral Norma, 2005.
RIBEIRO, Darcy. A Universidade necessária. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1969. ROMANELLI, O. O. História da Educação no Brasil. 28. ed. Petrópolis:
Vozes,2003.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1980.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dr. Sebastião José Palmeira

Honra    e   decência   são   os   legados deixados pelo meu pai, o Senhor de Engenho, Cícero Palmeira. "Só um livro é capaz de fazer a...