Uma das ruas mais conhecidas em Maceió é a Jangadeiros Alagoanos, que vai da Pajuçara até a Ponta Verde. Muitos acham que ela tem esse nome por causa das jangadas da Praia de Pajuçara, que levam dezenas de turistas para o famoso passeio das piscinas naturais. Mas a verdadeira história faz referência a quatro corajosos pescadores que em 1922 se aventuraram em uma arriscada viagem para homenagear o centenário da Independência do Brasil.
Naquela época, a capital do país era o Rio de Janeiro e, para comemorar a data, vários estados enviaram embarcações para a cidade. Nem todas concluíram a viagem com sucesso, porém, entre as que conseguiram, ganhou destaque nacional a aventura dos pescadores de Alagoas. Valentes, eles decidiram que fariam o longo trajeto em uma simples jangadinha.
A pequena embarcação, batizada “Independência”, era formada por apenas seis paus de madeira e um pequeno mastro com vela, não levava nenhum aparelho de navegação. Era uma manhã de domingo, no dia 27 de agosto, quando os quatro jangadeiros partiram em direção ao sul. A cidade se despediu em clima de festa, sob aplausos! E eles foram acompanhados até a saída da enseada por vários outros barcos.
Jangadeiros alagoanos partindo de Maceió
Embarcação antes da partida, ainda em Jaraguá.
A história dos jangadeiros alagoanos
Quem eram os jangadeiros?
Seus tripulantes foram os pescadores Umbelino José dos Santos, com 45 anos e mestre da embarcação, natural de Passo de Camaragibe; Joaquim Faustilino de Sant’Ana (41), de Barra de São Miguel; Eugênio Antônio de Oliveira (25) e Pedro Ganhado da Silva (36), nascidos em Coruripe.
Ajuda da Bahia
Depois da partida, eles foram vistos em 1º de setembro, entrando no litoral de Sergipe. No entanto, no litoral da Bahia começaram a enfrentar sérios problemas devido ao mau tempo. Chuva, vento, ondas gigantes. Perto da região de Camamu, a jangada virou, fazendo com que eles perdessem todas as provisões: roupas, alimentos, água potável. Como se não bastasse, perderam também a vela da embarcação. Os pescadores não se deram por vencidos. Foram nadando, apoiados sobre os seis paus da jangada, até chegar em terra firma, na orla baiana.
Informado sobre a situação, o então governador da Bahia, José Joaquim Seabra, mandou um telégrafo para o intendente de Camamu e recomendou que proporcionasse “tudo quanto for preciso para que os mesmos possam concluir o seu percurso oceânico”. Graças a ajuda recebida, no dia 6 de setembro eles voltaram ao mar, rumo ao Rio de Janeiro.
Fizeram mais duas paradas na Bahia, em Ilhéus e Porto Seguro, até que em 23 de setembro chegaram no litoral do Espírito Santo. No dia 31, desembarcaram na capital, Vitória. Em 12 de novembro, se aproximaram da costa do Rio de Janeiro, aportando na cidade de Macaé.
Jangadeiros deixam Maceió rumo ao Rio
Iniciando a viagem rumo ao Rio de Janeiro, em 27 de agosto de 1922. (Foto: O Malho 7 de outubro de 1922)
Em 28 de novembro conseguiram chegar em Saquarema e, no dia 29, em Itaipu, onde aportaram após dois dias enfrentando um grande temporal. Ingressaram na Baía da Guanabara apenas no dia 2 de dezembro, após 98 dias de viagem e nove tempestades. Ao todo, os quatro jangadeiros alagoanos percorreram em linha reta mais de 1.100 milhas, o equivalente a aproximadamente 10.000 milhas.
Àquela altura todos na cidade já estavam sabendo do grande feito e eles foram recebidos com festa no Rio. O repórter do Rio-Jornal perguntou ao mestre Umbelino como tinha sido a viagem.
“Foi boa, apesar do tempo estar danado. Mas tivemos sorte e, graças a Deus, chegamos aqui”, disse o experiente jangadeiro.
Recepção presidencial
Em 8 de dezembro, os quatro foram levados pelo presidente da Confederação dos Pescadores do Brasil, Paulo Vianna, até o Palácio do Catete. Lá, foram recebidos pelo presidente da República Arthur Bernardes.
Poucos dias depois, durante as comemorações pelo Dia do Pescador, o pavilhão de exposições das festas do Centenário no Rio de Janeiro promoveu um programa em homenagem aos quatro pescadores alagoanos. Na ocasião, para se ter uma ideia do feito náutico, o jornal A Noite informou que “estará em exposição dentro do Pavilhão de Festas a jangada ‘Independência’, que fez o mais extraordinário “raid” de quantos se fizeram para comemorar o Centenário”.
A volta
Os famosos jangadeiros voltaram a Maceió no vapor “Santos”, no dia 21 de dezembro de 1922, e foram recebidos com flores por uma multidão. Em junho, eles receberam mais uma homenagem: um monumento de concreto pintado de branco foi instalado na Praia de Pajuçara. Com o tempo, não se tem informações exatas sobre o motivo, a escultura foi retirada do local. Três medalhas de ouro maciço também foram feitas para homenagear os aventureiros pescadores, mas hoje também encontram-se desaparecidas.
Jangadeiros Alagoanos
Monumento que foi retirado da Praia de Pajuçara e desapareceu
Em 27 de agosto de 2018, 95 anos depois do feito, o prefeito da cidade de Maceió, Rui Palmeira, resgatou essa história inaugurando o monumento de madeira “Jangada Independência”, em homenagem a história dos bravos jangadeiros alagoanos. De dia ela conta com o visual deslumbrante do mar da Praia de Pajuçara. À noite, recebe uma iluminação especial para que as pessoas visitem e façam fotos, divulgando esta história importante para a cultura de Alagoas.
Jangada Independência inaugurada em 2018. (Foto: Pei Fon/ Secom Maceió)
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