Gregório de Matos, como filho de senhor de engenho e bacharel em Direito, encontra-se em uma posição central neste cenário, tendo condições de pensar e analisar seu momento histórico sob diversas perspectivas. Gregório de Matos, apesar de ter tido diversos cargos de poder, resolve desligar-se de tudo e viver à margem da sociedade como um poeta itinerante, percorrendo o recôncavo baiano e frequentando festas e rodas boemias. Porém, mesmo distanciado da sociedade hipócrita a qual ele condena, ele também se insere nela, pois Gregório ainda depende da nobreza e vive à custa de favores deles. Ao mesmo tempo, ele encara o papel do portador de uma “voz crítica” sobre essa mesma sociedade na qual ele se insere.
POESIA SATÍRICA
A poesia satírica de Gregório de Matos é a mais conhecida de sua produção. Por meio dela, o poeta não hesitou em reprovar a sociedade e o comportamento de pessoas importantes. Citou, inclusive, nomes de políticos, como o de Antônio Luís da Câmara Coutinho, que governava o estado da Bahia no período.
o poema satírico de Gregório de Matos é marcado por essa “briga” entre uma sociedade “normal” – que é a do homem bem nascido” – e outra “absurda” – que é composta por pessoas oportunistas, mas que estão instaurados no poder. Porém, no caso de Gregório de Matos a “sociedade absurda” é real, pois é a Bahia onde ele vive; e a sociedade considerada “normal”, que é a dos homens bem nascidos e cultos, é absurda perante a realidade baiana. Assim, ambas são consideradas absurdas uma perante a outra. Esse impasse é o da realidade histórica desse momento, coexistindo em um mesmo locas duas Bahia: uma “normal”, que é vista com ar nostálgico, e outra “absurda” e amaldiçoada.
POESIA RELIGIOSA
Na vertente religiosa de sua poesia, Gregório de Matos também expõe sentimentos conflitantes. No poema abaixo, o escritor pede perdão a Deus e busca redimir-se de toda a culpa que carrega.
POESIA LÍRICO-AMOROSA
Seus poemas líricos são comumente divididos em: lírico-amorosos e burlescos/eróticos. Há ainda uma vasta produção de poemas com temática religiosa. Porém, há de se ressaltar que a ironia e crítica social existente nos poemas satíricos não são deixados de lado em sua produção lírica e religiosa.
A poesia lírico-amorosa do poeta exibe a figura de musas de maneira romanceada, comparada a elementos da natureza. Traz ainda sentimentos dúbios, onde o pecado e a culpa se mostram presentes.
No caso de Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem, o amor é visto como uma luta entre a dor e a paixão.
O verso “rio de neve em fogo convertido” expõe um eu-lírico que transita entre os extremos do sentimento amoroso, ora gélido como a neve, ora ardente como o fogo.
Convém comparar esse tipo de linguagem a do célebre poema de Camões, que diz: “O amor é fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente.”
POESIA LÍRICO-ERÓTICA
Gregório de Matos, apesar de escrever sobre o amor de forma delicada, mostra também seu lado mais áspero sobre as relações humanas em alguns poemas considerados eróticos.
Em E isso é o amor? o escritor questiona o sentimento amoroso colocado de forma romântica e com inspiração mitológica. Ele afirma que o amor é, na realidade, um acontecimento carnal, que envolve os prazeres da junção dos corpos dos amantes.
Na poesia amorosa e erótica de Gregório de Matos, o tema básico continua sendo o choque de opostos: “espírito” e “matéria”, “ascetismo” e “sensualismo”. Essa visão dualista também aparece na figura da mulher desejada, sendo que esta representa uma espécie de “anjo-demônio”. É interessante notar que na obra de Gregório de Matos o “outro lado” em um par de opostos sempre irá conter um pedaço do seu par antagônico. Ou seja, se tomarmos por exemplo a figura da mulher, quando ela aparece como um ser angelical, ela também terá uma parte demoníaca, e vice-versa.
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