quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Sexta-feira morreu - Escrito por: Prof. Aloisio Vilela De Vasconcelos

 

Ele nasceu em 23 de junho de 1930, e morreu no dia 4 de janeiro de 2012. Começou a trabalhar nas fazendas viçosenses quando tinha apenas sete anos plantando capim, cortando e limpando cana, ou seja, contribuindo para que seus donos ficassem cada vez mais ricos e ele miserável, pois nunca lhe ensinaram que o certo seria lutar pela socialização da riqueza para que todos tivessem direito a tudo.

Como a renda familiar era muito baixa, ainda cuidava da roça e confeccionava bolsas, balaios e caçuás com titara para serem vendidos na feira e ajudar seu pai a sustentar sua numerosa prole.

Em 1956, tentou se aposentar devido a um derrame, mas perderam seus documentos, fato que adiou sua aposentadoria por 13 anos, uma vez que só conseguiu seu intento, devido à idade, em 1969, depois de ter trabalhado como burro de carga durante 32 anos.

Grande e profunda foi minha tristeza ao saber que este homem, chamado JOÃO CAETANO DA SILVA, mais conhecido por todos como Sexta-Feira, havia morrido. Ele representava um tipo de pessoa que há muito desapareceu, pois apesar de ter trabalhado durante tanto tempo, de sempre ter votado nos brasões de Viçosa, de morar de favor numa pequena meia-água, de viver de sua pequena aposentadoria – com a qual comprava sua alimentação, dava um agrado a quem a fazia, ajudava o sobrinho e pagava a mensalidade de seu funeral – e de ninguém ter melhorado sua vida, ele, como fervoroso devoto de Padre Cícero e do Sagrado Coração de Jesus, não guardava rancor, pois achava que um dia as coisas iam melhorar e vivia assim porque Deus queria.

Nada melhorou, uma vez que sua juventude foi de pobreza e sua velhice de miséria. Também não lhe ensinaram, ou ele não percebeu que todo aquele que possui economia de miséria e se rebela é apoiado por Deus.

Ontem caboclo forte e trabalhador, hoje fraco e pedinte, pois andava curvado e todos os dias fazia a peregrinação dos miseráveis até a porta do rico Banco do Brasil, onde ficava, até o meio-dia, pedindo uma moeda a um e a outro, para minimizar suas necessidades.
Que triste ironia!

Quando deixava seu vergonhoso “ponto”, seguia seu rumo. Rumo que o levava para o nada que possuía.

Que País é este!

Mestre Né, o pedreiro do Casarão, quando viu o enterro passar, disse: “Foia que ta na árve quando seca já é pra caí”.

Tem razão, Mestre Né! O Sexta-Feira secou e caiu.

Caiu nos braços de Deus.

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