segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Um tributo para Sebastião José Palmeira - Por Ênio Lins - 13/01/2025

 Sete dias de mortes sentidas para Alagoas. Além do professor e advogado Sebastião Palmeira, encerraram suas jornadas de lutas o professor e musicista Benedito Pontes e o advogado e professor Marcelo Lavenère Machado. Pretendo cometer umas linhas sobre cada um desses personagens, repassando nas entrelinhas um pouco de minhas memórias pessoais sobre cada um.

De Sebastião Palmeira nunca me esqueci sua colocação de quando fomos apresentados, há muitos anos. “Já lhe conheço, e bem” – disse ele naquela ocasião. Ôxe, como? Interroguei-me em pensamento. Não me
lembrava de tê-lo visto antes. Ele ficou, naturalmente, achando graça da minha perplexidade. Explicou: “Lembra-se de seu discurso na Praça Pirulito? Eu estava lá!”. Puxa vida, nem eu me recordava mais daquele momento, muito menos veio à mente, imediatamente, o que teria falado naquela noite. Só me recordava de ser no começo de 1978, logo depois d’eu ter sido eleito presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFAL. Nunca havia sequer visto um comício e, de uma hora para outra, me vi numa carroceria de caminhão, escalado para falar a uma multidão. Tremia e não sabia o que dizer. Recorri a uma manchete de um jornal de esquerda naqueles dias (ou Tribuna Operária ou Movimento). Sebastião, memória afiada, reproduziu o mote que eu tinha usado, me devolvendo lembranças esquecidas: “Você falou sobre a frase do General Figueiredo, de que ‘preferia cheiro de cavalo ao cheiro do povo’” e ele falou boa parte do discurso que fiz de improviso, suando por estar num palanque onde estavam dois dos maiores oradores do Brasil naqueles tempos: Teotônio Vilela e Paulo Brossard. Hoje, sinceramente, só me ficou na memória as frases lembradas por Sebastião Palmeira. Do que disse na Praça Pirulito naquela noite, quase tudo sumiu, a não ser a recordação os dois magníficos senadores e da sensação de que o microfone dava choque.

Professora universitária, a amiga Lana Palmeira, filha de Sebastião, me fez a gentileza de enviar um resumo da vida do pai, que lhes repasso agora: Sebastião José Palmeira nasceu em Anadia, em 21 de outubro de 1942. Formou-se em Direito pela UNB. Em Brasília, ainda estudante de Direito, na Câmara dos Deputados, foi assessor parlamentar do Deputado Federal Oseas Cardoso (um dos nomes mais emblemáticos da política estadual e único político alagoano a registrar e publicar, em vida, toda a sua trajetória). Sebastião retorna para Alagoas logo depois de formado, onde inicia a vida na advocacia, com ênfase na área criminal, e começa a prestar concursos públicos. Foi promotor de justiça e, posteriormente, procurador de Estado de Alagoas. Na Procuradoria de Estado, ocupou o cargo de Corregedor Geral e membro do Conselho Superior da Advocacia Geral do Estado por dois mandatos consecutivos. Ensonou Criminologia na Academia de Polícia Militar de Alagoas, nos cursos de formação dos oficiais. Foi Sócio Efetivo da Academia Maceioense de Letras.

No meu modo de meu ver, a iniciativa mais ousada de Sebastião Palmeira (e arriscada, do ponto de vista de investir suas economias pessoais) foi fundar a Faculdade SEUNE, num marco para a iniciativa privada alagoana no campo da educação superior. No empreendimento, Sebastião teve a clarividência de trazer para a SEUNE a maestria do educador Élcio de Gusmão Verçosa (1945/2018), grande pesquisador e um dos maiores formadores de intelectuais em Alagoas.

Nesta segunda-feira, a Missa do Sétimo Dia em memória de Sebastião José Palmeira será rezada na Capela da Imaculada Conceição, às 19:30, na Praia de Pajuçara (ao lado do colégio de idêntica denominação).
Para Sebastião Palmeira, meus tributos, meus agradecimentos.

https://eniolins.com.br/blogs/2025/01/13/830-um-tributo-para-sebastiao-jose-palmeira



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dr. Sebastião José Palmeira

Honra    e   decência   são   os   legados deixados pelo meu pai, o Senhor de Engenho, Cícero Palmeira. "Só um livro é capaz de fazer a...