As 20 grandes perguntas da ciência
11 de Setembro de 2013
Por Hayley Birch, Colin Stuart e Mun Keat Looi
1. De que é feito o universo?
Os astrônomos enfrentam um enigma
embaraçoso: eles não sabem de que são feitos 95% do universo. Os átomos,
que formam tudo o que vemos a nosso redor, respondem por ínfimos 5%.
Nos últimos 80 anos ficou claro que a maior parte do resto é composta de
duas entidades sombrias -- a matéria escura e a energia escura. A
primeira, descoberta em 1933, age como uma cola invisível, ligando
galáxias e aglomerados de galáxias. Revelada em 1998, a segunda empurra a
expansão do universo a velocidades cada vez maiores. Os astrônomos
estão se aproximando das verdadeiras identidades dessas intermediárias
invisíveis.
2. Como a vida começou?
Há 4 bilhões de anos, alguma coisa
começou a se mexer na sopa primordial. Algumas substâncias químicas
simples se uniram e criaram a biologia – surgiram as primeiras moléculas
capazes de se replicar. Nós, humanos, somos ligados pela evolução
àquelas primeiras moléculas biológicas. Mas como as substâncias químicas
básicas presentes na Terra primitiva se organizaram espontaneamente em
algo semelhante à vida? Como obtivemos o DNA? Qual era a aparência das
primeiras células? Mais de meio século depois que o químico Stanley
Miller propôs sua teoria da "sopa primordial", ainda não chegamos a uma
conclusão sobre o que aconteceu. Alguns dizem que a vida começou em
poças quentes perto de vulcões; outros, que ela foi provocada por
meteoritos que caíram no mar.
3. Estamos sós no universo?
Talvez não. Os astrônomos vasculham o
universo em busca de lugares onde mundos com água poderiam ter dado
origem à vida, de Europa e Marte, em nosso sistema solar, a planetas a
muitos anos-luz de distância. Os radiotelescópios têm vigiado o céu, e
em 1977 ouviu-se um sinal com as características potenciais de uma
mensagem alienígena. Hoje os astrônomos podem rastrear as atmosferas de
mundos distantes em busca de oxigênio e água. As próximas décadas serão
um momento excitante para ser um caçador de alienígenas, com até 60
bilhões de planetas potencialmente habitáveis só em nossa Via Láctea.
4. O que nos torna humanos?
Apenas olhando seu DNA, você não saberá
-- o genoma humano é 99% idêntico ao de um chimpanzé e 50% ao de uma
banana. No entanto, temos um cérebro maior que a maioria dos animais –
não o maior, mas com três vezes mais neurônios que o de um gorila (86
bilhões para ser exato). Muitas coisas que antes considerávamos
características nossas – a linguagem, o uso de ferramentas,
reconhecer-se no espelho – são encontradas em outros animais. Talvez
seja a nossa cultura – e suas consequências em nossos genes (e
vice-versa) – que faça a diferença. Os cientistas acreditam que cozinhar
e dominar o fogo podem ter nos ajudado a desenvolver cérebros maiores.
Mas é possível que nossa capacidade de cooperação e troca de habilidades
seja o que realmente faz da Terra um planeta de humanos, e não de
macacos.
5. O que é a consciência?
Ainda não temos realmente certeza.
Sabemos que tem a ver com diferentes regiões do cérebro ligadas em rede,
mais que uma única parte do cérebro. Há uma teoria de que se
descobrirmos que partes do cérebro estão envolvidas e como funciona o
circuito neural, descobriremos como surge a consciência, algo em que a
inteligência artificial e tentativas de construir um cérebro neurônio
por neurônio poderão ajudar. A questão mais difícil e mais filosófica é
por que alguma coisa deve ser consciente. Uma boa sugestão é que, ao
integrar e processar muita informação, além de focalizar e bloquear, em
vez de reagir aos estímulos sensoriais que nos bombardeiam, podemos
distinguir entre o que é real e o que não é e imaginar diversos cenários
futuros que nos ajudem a adaptar-nos e a sobreviver.
6. Por que sonhamos?
Passamos cerca de um terço de nossas
vidas dormindo. Considerando quanto tempo passamos fazendo isso, você
poderia pensar que sabemos tudo a respeito. Mas os cientistas ainda
buscam uma explicação completa de por que dormimos e sonhamos.
Seguidores das opiniões de Sigmund Freud acreditavam que os sonhos são
expressões de desejos não realizados – muitas vezes sexuais –, enquanto
outros se perguntam se os sonhos são alguma coisa além de disparos
aleatórios do cérebro adormecido. Estudos com animais e os progressos em
imagens do cérebro nos levaram a uma compreensão mais complexa, que
sugere que sonhar pode ter um papel na memória, no aprendizado e nas
emoções. Os ratos, por exemplo, repetem em sonhos suas experiências da
vigília, o que aparentemente os ajuda a solucionar tarefas complexas
como percorrer labirintos.
7. Por que existe matéria?
Na verdade você não deveria estar aqui. A
"matéria" de que você é feito tem uma contrapartida chamada
antimatéria, que só difere em carga elétrica. Quando elas se encontram,
ambas desaparecem em uma fagulha de energia. Nossas melhores teorias
sugerem que o Big Bang criou quantidades iguais das duas, o que
significa que toda matéria, desde então, deve ter encontrado sua
antimatéria, as duas destruindo-se e deixando o universo inundado apenas
de energia. Claramente, a natureza tem uma tendência sutil para a
matéria, ou você não existiria. Os pesquisadores estão peneirando dados
de experiências como o Grande Colisor de Hadrons, tentando compreender
por quê, sendo a supersimetria e os neutrinos os dois principais
candidatos.
8. Existem outros universos?
Nosso universo é um lugar muito
improvável. Modifique algumas de suas características, mesmo
ligeiramente, e a vida como a conhecemos torna-se impossível. Em uma
tentativa de desvendar esse problema de "sintonia fina", os físicos cada
vez mais recorrem à noção de outros universos. Se existir um número
infinito deles em um "multiverso", então cada combinação de
características se desenvolveria em algum lugar e, é claro, você se
encontraria no universo onde é capaz de existir. Pode parecer loucura,
mas evidências da cosmologia e da física quântica apontam nessa direção.
9. Onde colocamos todo o carbono?
Nas últimas centenas de anos, temos
enchido a atmosfera com dióxido de carbono – liberando-o ao queimar
combustíveis fósseis que antes trancavam o carbono abaixo da superfície
da Terra. Hoje temos de colocar todo esse carbono de volta ou nos
arriscarmos às consequências de um aquecimento climático. Mas como
podemos fazê-lo? Uma ideia é enterrá-lo em antigos campos de petróleo e
gás. Outra é escondê-lo no fundo do mar. Mas não sabemos quanto tempo
ele permanecerá lá, ou quais seriam os riscos. Enquanto isso, temos de
proteger os estoques naturais e duradouros de carbono, como as florestas
e a turfa, e começar a fazer energia de uma maneira que não produza
ainda mais carbono.
10. Como conseguimos mais energia do sol?
A redução dos estoques de combustíveis
fósseis significa que realmente precisamos de uma nova maneira de
movimentar nosso planeta. Nossa estrela mais próxima oferece mais que
uma solução possível. Já estamos controlando a energia do sol para
produzir energia solar. Outra ideia é usar a energia da luz do sol para
dividir a água em suas partes componentes: oxigênio e hidrogênio, que
poderia fornecer um combustível limpo para os carros do futuro. Os
cientistas também trabalham em uma solução energética que depende de
recriar os processos que ocorrem no interior das próprias estrelas --
eles estão construindo uma máquina de fusão nuclear. A esperança é que
essas soluções supram nossas necessidades energéticas.
11. O que há de tão estranho nos números primos?
O fato de que você pode comprar em
segurança na internet se deve aos números primos – aqueles números que
só podem ser divididos por si mesmos e por 1. A criptografia de chave
pública – o coração do comércio na internet – usa números primos para
criar códigos capazes de isolar a informação delicada de olhares
curiosos. No entanto, apesar de sua importância fundamental em nossa
vida cotidiana, os primos continuam sendo um enigma. Um aparente padrão
deles – a hipótese de Riemann – intriga algumas das mentes mais
brilhantes da matemática há séculos. No entanto, até hoje ninguém foi
capaz de domar sua originalidade. Fazê-lo poderia simplesmente destruir a
internet.
12. Como derrotar as bactérias?
Os antibióticos são um dos milagres da
medicina moderna. A descoberta de sir Alexander Fleming, que ganhou o
Prêmio Nobel, levou a remédios que combateram algumas das doenças mais
mortíferas e tornou possíveis a cirurgia, os transplantes e a
quimioterapia. Mas esse legado está em perigo – na Europa, cerca de 25
mil pessoas morrem por ano de bactérias resistentes a diversas drogas.
Nossa produção de medicamentos vem falhando há décadas e estamos
agravando o problema por meio da prescrição excessiva e do mau uso de
antibióticos – estima-se que 80% dos antibióticos nos Estados Unidos vão
para reforçar a pecuária. Felizmente, o sequenciamento do DNA está nos
ajudando a descobrir antibióticos que não sabíamos que as bactérias
poderiam produzir. Juntamente com métodos inovadores, embora pareçam
estranhos, como o transplante de bactérias "boas" da matéria fecal e a
busca por novas bactérias no fundo dos oceanos, podemos continuar firmes
nessa corrida com organismos que surgiram 3 bilhões de anos antes de
nós.
13. Os computadores podem continuar se acelerando?
Nossos tablets e smartphones são
minicomputadores que contêm mais poder de computação do que os
astronautas levaram para a lua em 1969. Mas, se quisermos continuar
aumentando o poder de computação que carregamos em nossos bolsos, como
vamos fazê-lo? Existe um número limitado de componentes que podem ser
comprimidos em um chip. O limite já foi alcançado, ou existe outra
maneira de fazer um computador? Os cientistas estão considerando novos
materiais, como carbono atomicamente fino – o grafeno –, assim como
novos sistemas, como a computação quântica.
14. Encontraremos a cura para o câncer?
A resposta curta é não. Não uma única
doença, mas um agrupamento de centenas de doenças, o câncer existe desde
os dinossauros e, sendo causado por genes descontrolados, o risco está
embutido em todos nós. Quanto mais tempo vivermos, maior a probabilidade
de que algo dê errado, de diversas maneiras. Pois o câncer é uma coisa
viva – em constante evolução para sobreviver. Embora seja incrivelmente
complexo, por meio da genética estamos aprendendo cada vez mais o que o
causa e como ele se dissemina, e aperfeiçoando seu tratamento e
prevenção. E saiba disto: até a metade de todos os cânceres – 3,7
milhões por ano – pode ser evitada; pare de fumar e beber e coma
moderadamente, mantenha-se ativo e evite a exposição prolongada ao sol
do meio-dia.
15. Quando poderei ter um mordomo robô?
Os robôs já podem servir bebidas e
carregar malas. A robótica moderna pode nos oferecer uma "equipe" de
robôs individualmente especializados: eles leem suas encomendas na
Amazon, ordenham suas vacas, separam seu correio eletrônico e o
transportam entre terminais no aeroporto. Mas o robô realmente
"inteligente" exige que desvendemos a inteligência artificial. A
verdadeira questão é se você deixaria um mordomo robótico sozinho em
casa com sua avó. Como o Japão pretende ter cuidadores robóticos para
seus idosos até 2025, hoje pensamos seriamente nisso.
16. O que há no fundo do oceano?
Noventa e cinco por cento do oceano
ainda não foram explorados. O que existe lá embaixo? Em 1960, Don Walsh e
Jacques Piccard desceram 11 quilômetros, até a parte mais profunda do
oceano, em busca de respostas. Sua viagem ampliou os limites da aventura
humana, mas lhes deu apenas um vislumbre da vida no leito marinho. É
tão difícil chegar ao fundo do oceano que geralmente temos de recorrer a
veículos não tripulados como batedores. As descobertas que fizemos até
agora – desde peixes bizarros como o "olho de barril", com sua cabeça
transparente, até um potencial tratamento para Alzheimer feito de
crustáceos – são uma pequena fração do estranho mundo que se esconde sob
as ondas.
17. O que há no fundo de um buraco negro?
É uma pergunta que ainda não temos
ferramentas para responder. A teoria da relatividade geral de Einstein
diz que quando um buraco negro é criado por uma estrela enorme que
morre, ele continua escavando para dentro até formar um ponto
infinitamente pequeno e denso, chamado singularidade. Mas nessas escalas
a física quântica provavelmente também tem algo a dizer. O problema é
que a relatividade geral e a física quântica nunca foram grandes amigas –
há décadas elas resistem a todas as tentativas de unificação. No
entanto, uma ideia recente – chamada Teoria-M – poderá um dia explicar o
centro invisível de uma das criações mais radicais do universo.
18. Podemos viver para sempre?
Vivemos em uma época incrível: estamos
começando a pensar no "envelhecimento" não como um fato da vida, mas uma
doença que pode ser tratada e possivelmente evitada, ou pelo menos
adiada por muito tempo. Nosso conhecimento do que nos faz envelhecer – e
o que permite que alguns animais vivam mais que outros – se expande
rapidamente. Apesar de não termos exatamente elucidado todos os
detalhes, as pistas que obtemos sobre danos ao DNA, o equilíbrio de
envelhecimento, metabolismo e capacidade reprodutiva, mais os genes que
regulam isso, estão preenchendo uma imagem maior, e potencialmente
levarão a tratamentos medicinais. Mas a verdadeira pergunta não é como
vamos viver mais, e sim como vamos viver bem por mais tempo. Já que
muitas doenças, como diabetes e câncer, são típicas da idade, tratar o
envelhecimento em si poderá ser a chave.
19. Como solucionar o problema da população?
O número de pessoas em nosso planeta
duplicou para mais de 7 bilhões desde a década de 1960, e calcula-se que
até 2050 haverá pelo menos 9 bilhões de seres humanos. Onde todos nós
vamos viver e como vamos produzir alimentos e combustíveis suficientes
para essa população? Talvez possamos enviar todo mundo para Marte, ou
começar a construir prédios de apartamentos subterrâneos. Poderíamos até
começar a nos alimentar com carne criada em laboratório. Podem parecer
soluções de ficção científica, mas talvez devamos começar a levá-las
mais a sério.
20. É possível viajar no tempo?
Viajantes no tempo já caminham entre
nós. Graças à teoria da relatividade especial de Einstein, os
astronautas que estão em órbita na Estação Espacial Internacional
experimentam o passar do tempo mais lentamente. Naquela velocidade o
efeito é minúsculo, mas aumentando a velocidade o efeito significa que
um dia os humanos poderão viajar milhares de anos no futuro. A natureza
parece apreciar menos as pessoas que vão no outro sentido e voltam ao
passado, mas alguns físicos inventaram um projeto elaborado de fazer
isso usando buracos de minhoca (ou pontes de Einstein-Rosen) e naves
espaciais. Isso poderia ser usado até para dar a si mesmo um presente de
Natal ou responder algumas das muitas perguntas que cercam as grandes
incógnitas do universo.
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