"Povo na rua é melhor que silêncio e acomodação", diz historiador
14:05 - 27/06/2013
Plínio Lins
O historiador e professor Alberto Saldanha, da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal), avalia que os recentes protestos
em todo o país mostram que a juventude quer participar mais das
decisões. “Quer transparência, quer transporte público como direito das
pessoas, assim como saúde e educação pública. E quer que todos esses
serviços públicos melhorem”, resumiu. Para o historiador, a movimentação
da juventude e da sociedade em geral é muito boa. “Essas manifestações,
mesmo perturbadas por vândalos e até criminosos, são positivas. Sempre
será melhor o povo gritando nas ruas do que o silêncio e a acomodação”.
A explosão de manifestações da juventude por todo o país, segundo o
professor, “pegou a todos de surpresa, ninguém saiu ileso”, referindo-se
a prefeitos, governadores, presidente da República, políticos em geral e
até a própria população. “Estávamos acomodados, há muito tempo não
havia grandes mobilizações no país”, lembra o professor.
"Nos últimos anos, no Brasil, as classes C, D e E ascenderam, é um
fato. E querem mais. A gente pensava que tinha havido uma acomodação, e
de repente vem essa explosão de mobilizações. Todos foram pegos de
surpresa”. Essa nova realidade está mostrando também que as redes
sociais na internet são a nova forma de comunicação, de acordo com
Saldanha, "e vieram para ficar".
País terá que permitir participação popular nas decisões, prevê historiador
Um dos resultados desse fato político, segundo Saldanha, é que o
Brasil terá que criar e fortalecer instrumentos de democracia direta,
como plebiscitos e referendos, para que a população possa participar com
mais proximidade das decisões. O historiador lembrou das leis de
iniciativa popular. “A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, foi incorporada
pelo Congresso. Mas já há brechas nela, interpretações difusas. A
juventude não se conforma com isso”.
Segundo ele, o jogo político atual, com os partidos, vai ter de
mudar. “Há partidos ideológicos, mas no geral não há uma identidade
entre o eleitor e o sistema partidário. O cidadão não se sente
representado. Isso terá que ser debatido e mudado”, previu.
Para Saldanha, a presidente Dilma “se distanciou dos movimentos
sociais, e o próprio prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, também foi
muito pragmático ao lidar com o tema da passagem de ônibus”.
“Depois, no pronunciamento em cadeia nacional, mostrou que está
atenta e lançou propostas”, acrescentou. “Ela teve que dar uma
resposta”, avaliou. Uma dessas respostas da presidente, segundo
Saldanha, é o tema que passou a dominar a agenda – a reforma política,
com ou sem Constituinte, com ou sem plebiscito.
“Será que a reforma política vai ser suficiente para acalmar as ruas?
Não sabemos”, disse o professor. “As outras propostas que ela lançou
terão que ser muito bem explicadas ao povo, principalmente aos
movimentos sociais”, disse.
Saldanha também se referiu à postura da grande imprensa, querendo se
apropriar do movimento. Citou editoriais de grandes jornais, depois das
grandes mobilizações, que defendiam um refluxo dos protestos, como se
dissessem que as mobiliazações não podem escapar de seu controle. “Eles
querem uma democracia sem povo”, afirmou.
"Ainda vivemos na casa grande e senzala"
Saldanha alfinetou a elite brasileira. “Nossa elite vai para a Europa
e, lá, elogia muito o transporte público, faz questão de andar no
transporte público. Aqui, só anda de carro. Se todo mundo só quiser
andar de carro, a mobilidade urbana vai embora”.
“Ainda vivemos na casa grande e senzala, a verdade é esta. Só agora,
em 2013, aprovamos uma lei que garante direitos aos empregados
domésticos”, exemplificou.
Alberto Saldanha, que é também ex-dirigente estadual e nacional de
organizações estudantis, foi o convidado desta semana do programa
Ricardo Mota Entrevista, apresentado pelo jornalista no TNH1 TV, canal 26 da NET.
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