Historiador dos mais perspicazes, o autor de Formação de Alagoas Boreal costuma se lançar em reflexões capazes de apresentar novas interpretações para pontos de vista já estabelecidos
A ARTE DE FUGIR DO ÓBVIO
No recém-lançado O Grande Sertão – Os Currais de Boi e os Índios de Corso, Dirceu Lindoso investiga a introdução do gado no sertão e suas consequências para os nativos
Foto: FELIPE BRASIL
Por: RAFHAEL BARBOSA - REPÓRTER
Da varanda de seu apartamento, no bairro de
Mangabeiras, todos os dias Dirceu Lindoso se depara com a mesma
paisagem: de um lado a favela, populosa; do outro, um dos
empreendimentos residenciais mais luxuosos da cidade. Para muitos
estudiosos, o contraste logo deflagraria teorias sobre o processo de
favelização em Alagoas, fenômeno que, assim como em outros estados,
levou milhares de pessoas do campo para os subúrbios da capital. Em
paralelo, as consequências desse êxodo e do crescimento desordenado
evidenciariam o grau de desigualdade de um estado que amarga alguns dos
piores índices sociais do País. Na mente do antropólogo e historiador de
79 anos, contudo, as ‘chaves’ para entender a sociedade estão num tempo
anterior, quando aquele cenário era ainda uma serra habitada por
índios.
Em livros como A Utopia Armada: Rebeliões de Pobres nas Matas do Tombo Real (1983), Formação de Alagoas Boreal (2000), O Poder Quilombola (2007) e Marená: um Jardim na Selva (2006), o pesquisador nascido em Maragogi exercita o que ele próprio chama de ‘etnohistória de Alagoas’. Juntas, suas publicações compõem uma densa bibliografia para o estudo não apenas da nossa formação, mas de um período que diz respeito à construção do Brasil em meio às investidas de países como Portugal, Holanda e Espanha.
Na obra de Lindoso, episódios históricos e temas discutidos em numerosos estudos ganham outros contornos. Um de nossos mais importantes intelectuais vivos, o autor costuma se lançar em reflexões particulares, capazes muitas vezes de apresentar novas interpretações para pontos de vista já estabelecidos.
Fruto de três décadas de pesquisas e dez viagens, O Grande Sertão – Os Currais de Boi e os Índios de Corso (Fundação Astrojildo Pereira), seu 15º livro, lança o estudioso num território que há séculos vem seduzindo pensadores e artistas.
Quando se fala do sertão brasileiro, não faltam referências na literatura, no cinema, na música ou nos registros históricos. Região que produziu ícones como Antônio Conselheiro e sua guerra santa, Virgulino Ferreira e o cangaço, Padre Cícero e os milagres do Juazeiro e Luiz Gonzaga e o baião, esse ambiente geográfico já foi objeto para obras de grande relevo como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Os Sertões, de Euclides da Cunha, e para alguns dos filmes mais importantes do Cinema Novo, a exemplo de Deus e o Diabo na Terra do Sol.
O sertão também já surgiu sob a ótica de pensadores do porte de Josué de Castro e Ariano Suassuna. Euclides da Cunha, jornalista e escritor que vivenciou a Guerra de Canudos para depois registrar suas observações no mais fiel relato do que são os hábitos do sertanejo, deu uma contribuição definitiva para o retrato do sertão que se tem hoje. Não à toa, Os Sertões é constantemente citado no trabalho de Lindoso, e também em diversas outras publicações de referência.
O Grande Sertão tem um valor especial dentro da bibliografia sobre o tema, pois vai além das ideias que normalmente habitam nosso imaginário em relação a esse território. No livro, Dirceu Lindoso investiga um período pouco explorado pelos estudos em torno da região. Como avisa em seu subtítulo – “Os Currais de Boi e os Índios de Corso” –, a obra percorre desde o período pré-histórico, quando, acredita-se, o sertão era o fundo de um imenso oceano, até as guerras religiosas tão marcantes de sua história. Suas páginas principais, no entanto, têm como foco a introdução do gado no sertão e suas consequências para os nativos, tribos nômades como os Tapuia-Kariri, dizimadas ou submetidas a um regime de servidão pelos colonos.
Os acontecimentos verificados ali, como o historiador observa, seriam de fundamental importância para a construção de Alagoas. Com um sem número de anotações e principalmente um universo de informações na memória, Lindoso não pretende encerrar sua investigação sobre o assunto. Ainda este ano deve publicar Tapui-Retama, livro no qual retorna à temática sertaneja, dessa vez com foco na origem de Canudos e na formação do estado de Minas Gerais. Além dessa obra, ele também negocia o lançamento de uma coleção em oito volumes, fruto das aulas de Antropologia ministradas em universidades do Rio de Janeiro.
Em livros como A Utopia Armada: Rebeliões de Pobres nas Matas do Tombo Real (1983), Formação de Alagoas Boreal (2000), O Poder Quilombola (2007) e Marená: um Jardim na Selva (2006), o pesquisador nascido em Maragogi exercita o que ele próprio chama de ‘etnohistória de Alagoas’. Juntas, suas publicações compõem uma densa bibliografia para o estudo não apenas da nossa formação, mas de um período que diz respeito à construção do Brasil em meio às investidas de países como Portugal, Holanda e Espanha.
Na obra de Lindoso, episódios históricos e temas discutidos em numerosos estudos ganham outros contornos. Um de nossos mais importantes intelectuais vivos, o autor costuma se lançar em reflexões particulares, capazes muitas vezes de apresentar novas interpretações para pontos de vista já estabelecidos.
Fruto de três décadas de pesquisas e dez viagens, O Grande Sertão – Os Currais de Boi e os Índios de Corso (Fundação Astrojildo Pereira), seu 15º livro, lança o estudioso num território que há séculos vem seduzindo pensadores e artistas.
Quando se fala do sertão brasileiro, não faltam referências na literatura, no cinema, na música ou nos registros históricos. Região que produziu ícones como Antônio Conselheiro e sua guerra santa, Virgulino Ferreira e o cangaço, Padre Cícero e os milagres do Juazeiro e Luiz Gonzaga e o baião, esse ambiente geográfico já foi objeto para obras de grande relevo como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Os Sertões, de Euclides da Cunha, e para alguns dos filmes mais importantes do Cinema Novo, a exemplo de Deus e o Diabo na Terra do Sol.
O sertão também já surgiu sob a ótica de pensadores do porte de Josué de Castro e Ariano Suassuna. Euclides da Cunha, jornalista e escritor que vivenciou a Guerra de Canudos para depois registrar suas observações no mais fiel relato do que são os hábitos do sertanejo, deu uma contribuição definitiva para o retrato do sertão que se tem hoje. Não à toa, Os Sertões é constantemente citado no trabalho de Lindoso, e também em diversas outras publicações de referência.
O Grande Sertão tem um valor especial dentro da bibliografia sobre o tema, pois vai além das ideias que normalmente habitam nosso imaginário em relação a esse território. No livro, Dirceu Lindoso investiga um período pouco explorado pelos estudos em torno da região. Como avisa em seu subtítulo – “Os Currais de Boi e os Índios de Corso” –, a obra percorre desde o período pré-histórico, quando, acredita-se, o sertão era o fundo de um imenso oceano, até as guerras religiosas tão marcantes de sua história. Suas páginas principais, no entanto, têm como foco a introdução do gado no sertão e suas consequências para os nativos, tribos nômades como os Tapuia-Kariri, dizimadas ou submetidas a um regime de servidão pelos colonos.
Os acontecimentos verificados ali, como o historiador observa, seriam de fundamental importância para a construção de Alagoas. Com um sem número de anotações e principalmente um universo de informações na memória, Lindoso não pretende encerrar sua investigação sobre o assunto. Ainda este ano deve publicar Tapui-Retama, livro no qual retorna à temática sertaneja, dessa vez com foco na origem de Canudos e na formação do estado de Minas Gerais. Além dessa obra, ele também negocia o lançamento de uma coleção em oito volumes, fruto das aulas de Antropologia ministradas em universidades do Rio de Janeiro.
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