Operários encontram tesouro de moedas quando cavavam numa rua em Maragogi
O escritor escocês Robert Louis Stevenson
(1850-1894) escreveu a seu amigo W. H. Henley a respeito de seu novo
livro, “A Ilha do Tesouro”, e declarou: "se isto não encantar os
garotos, ora, então eles mudaram muito desde que eu era criança". Sem
grandes pretensões, o autor escrevera o livro para o divertimento de seu
enteado, Lloyd Osbourne, que tinha doze anos, em 1881. Mais tarde, a
obra se tornaria uma das mais consagradas da literatura mundial.
Desde que o mundo é mundo, histórias de tesouros escondidos mexem com o imaginário das pessoas. E não foi diferente em Maragogi, a 127 km de Maceió. Uma botija encontrada enterrada no meio de uma rua, em pleno centro da cidade, na sexta-feira (23) não só atraiu a curiosidade das crianças, como também, a cobiça de adultos, entre nativos, colecionadores e turistas. Estes, nesta época do ano, lotam os hotéis e pousadas do município e levaram, além das belas paisagens em fotografias, parte da lembrança histórica de Maragogi, simbolizada nas moedas da época do Brasil-reino, que estavam na botija.
Operários trabalhavam na escavação de uma vala, nas obras de saneamento do município, quando encontraram o tesouro, acondicionado numa caixa metálica. Ao toque da pá da retroescavadeira, o baú quebrou-se e mais de 500 moedas foram espalhadas por todos os lados. E o corre-corre foi grande. A meninada, de pés descalços, fez a festa. Ao invés de uma só pessoa ficar com todo o tesouro, como muitas vezes acontece, o caso fortuito tratou de dividir, digamos, “socializar” as moedas com crianças, operários, nativos e turistas. Problema para a polícia, que agora, por força do Ministério Público (MP), instaurou inquérito para reavê-las, consideradas patrimônio histórico do município.
Mas, essa não é o primeiro tesouro encontrado em Maragogi. O município conhecido internacionalmente por suas belezas naturais, agora se consagrou a como a “terra das botijas”. O assunto é o tema principal em todas as rodas de conversa. Não se fala em outra coisa. Porque tais tesouros foram escondidos em solo maragogiense é o que tentam explicar os historiadores, nesta reportagem especial. Contactamos pela Internet, um numismata (especialista em moedas) que analisou alguns exemplares e deu seu parecer sobre o valor do tesouro.
Botijas são produtos de períodos de inquietação, dizem historiadores
COSTA DOS CORAIS- Os historiadores Dirceu Lindoso, um maragogiense de 71 anos, e Frederico Pernambucano de Mello, da Fundação Joaquim Nabuco (PE), comungam da mesma tese: o hábito de esconder botijas é produto de períodos conturbados da história. A área que compreende o município de Maragogi foi palco, no passado, de várias batalhas, entre elas, a Revolução Praieira (1840) e a Guerra dos Cabanos (1832). O período regencial foi marcado por uma inquietação constante, que perdurou até 1840. A região abrigou potentados donos de engenhos e foi rota dos holandeses durante a ocupação.
A fase conturbada vivida no século XIX coincide com as datas das moedas encontradas na botija de Maragogi, que datam, a maioria, de 1810 e 1816, o que leva os historiadores Lindoso e Pernambucano a crerem que a instabilidade gerada pelas guerras fez com que o dono do tesouro o enterrasse como era de costume, temendo perdê-lo de alguma forma.
“Naquela época não havia instituição bancária, a única, o Banco do Brasil, criado por Dom João VI, ficava no Rio de Janeiro, logo, muito distante de Maragogi. Por isso, esconder dinheiro em botijas era comum”, explicou Lindoso, lembrando que as moedas foram cunhadas na época do Brasil-reino. “É preciso um numismata (especialista) para analisar essas moedas, mas vejo que são de prata e possuem referência epigráfica a Dom João VI ”, atesta o historiador, que já enviou exemplares a um especialista.
De acordo com ele, já foram encontradas em Maragogi mais duas botijas. Nelas existiam sempre moedas da época de D. João VI, que veio para o Brasil junto com a família Brasil real, após a tomada de Portugal por Napoleão Bonaparte. “Cheguei a ver moedas de ouro, conhecida como esterlina portuguesa”, revelou o historiador.
“Aqui em Maragogi aconteceram muitos levantes revolucionários. Quando houve a divisão da Revolução Praieira, um dos chefes dissidentes, o doutor Mavignier, potentado dono do Engenho Utinga, veio para Maragogi, à época chamado de Gamela, e baixou decreto tornando-a a capital da Revolução Praieira, que tinha o objetivo de instaurar a República”, contou o historiador.
“Já a Guerra dos Cabanos tornou-se um dos maiores massacres da história brasileira. O Almirante Tamandaré aportou aqui e prendeu o senador Batista de Araújo, um dos chefes dos Cabanos”, recorda. Por causa dos conflitos, Maragogi sempre teve uma população flutuante, com fluxo muito grande de pessoas. Por aqui, circularam índios, negros vindos dos quilombos e que também acabaram se envolvendo nos conflitos. Segundo Lindoso, o porto de Maragogi é o segundo melhor do Estado, onde os navios holandeses atracavam, rumo a Porto Calvo.
O historiador Pernambucano também comunga da tese de que as botijas são produtos de períodos de agitação, no caso a de Maragogi, da fase regencial, que vai da abdicação de D. Pedro I (1831) até 1840. “Foi nessa época que surgiram os conflitos regionais como a Balaiada, a Sabinada e a Cabanada, que explodiram por todo o Brasil.”, explicou o historiador.
Ele recorda que em Pernambuco também foram achadas algumas botijas, mas da época dos holandeses, que por 24 anos ocuparam o Estado. Período este também marcado por intensas batalhas entre as tropas luso-brasileiras e holandesas. No sertão alagoano, o historiador lembra do achado da botija do Serrote do Carié, que foi fruto da inquietação gerada pelo cangaço, e em Pão de Açúcar. “Os próprios cangaceiros guardavam seus tesouros em botijas e chegavam a enterrar até armamentos”.
Desde que o mundo é mundo, histórias de tesouros escondidos mexem com o imaginário das pessoas. E não foi diferente em Maragogi, a 127 km de Maceió. Uma botija encontrada enterrada no meio de uma rua, em pleno centro da cidade, na sexta-feira (23) não só atraiu a curiosidade das crianças, como também, a cobiça de adultos, entre nativos, colecionadores e turistas. Estes, nesta época do ano, lotam os hotéis e pousadas do município e levaram, além das belas paisagens em fotografias, parte da lembrança histórica de Maragogi, simbolizada nas moedas da época do Brasil-reino, que estavam na botija.
Operários trabalhavam na escavação de uma vala, nas obras de saneamento do município, quando encontraram o tesouro, acondicionado numa caixa metálica. Ao toque da pá da retroescavadeira, o baú quebrou-se e mais de 500 moedas foram espalhadas por todos os lados. E o corre-corre foi grande. A meninada, de pés descalços, fez a festa. Ao invés de uma só pessoa ficar com todo o tesouro, como muitas vezes acontece, o caso fortuito tratou de dividir, digamos, “socializar” as moedas com crianças, operários, nativos e turistas. Problema para a polícia, que agora, por força do Ministério Público (MP), instaurou inquérito para reavê-las, consideradas patrimônio histórico do município.
Mas, essa não é o primeiro tesouro encontrado em Maragogi. O município conhecido internacionalmente por suas belezas naturais, agora se consagrou a como a “terra das botijas”. O assunto é o tema principal em todas as rodas de conversa. Não se fala em outra coisa. Porque tais tesouros foram escondidos em solo maragogiense é o que tentam explicar os historiadores, nesta reportagem especial. Contactamos pela Internet, um numismata (especialista em moedas) que analisou alguns exemplares e deu seu parecer sobre o valor do tesouro.
Botijas são produtos de períodos de inquietação, dizem historiadores
COSTA DOS CORAIS- Os historiadores Dirceu Lindoso, um maragogiense de 71 anos, e Frederico Pernambucano de Mello, da Fundação Joaquim Nabuco (PE), comungam da mesma tese: o hábito de esconder botijas é produto de períodos conturbados da história. A área que compreende o município de Maragogi foi palco, no passado, de várias batalhas, entre elas, a Revolução Praieira (1840) e a Guerra dos Cabanos (1832). O período regencial foi marcado por uma inquietação constante, que perdurou até 1840. A região abrigou potentados donos de engenhos e foi rota dos holandeses durante a ocupação.
A fase conturbada vivida no século XIX coincide com as datas das moedas encontradas na botija de Maragogi, que datam, a maioria, de 1810 e 1816, o que leva os historiadores Lindoso e Pernambucano a crerem que a instabilidade gerada pelas guerras fez com que o dono do tesouro o enterrasse como era de costume, temendo perdê-lo de alguma forma.
“Naquela época não havia instituição bancária, a única, o Banco do Brasil, criado por Dom João VI, ficava no Rio de Janeiro, logo, muito distante de Maragogi. Por isso, esconder dinheiro em botijas era comum”, explicou Lindoso, lembrando que as moedas foram cunhadas na época do Brasil-reino. “É preciso um numismata (especialista) para analisar essas moedas, mas vejo que são de prata e possuem referência epigráfica a Dom João VI ”, atesta o historiador, que já enviou exemplares a um especialista.
De acordo com ele, já foram encontradas em Maragogi mais duas botijas. Nelas existiam sempre moedas da época de D. João VI, que veio para o Brasil junto com a família Brasil real, após a tomada de Portugal por Napoleão Bonaparte. “Cheguei a ver moedas de ouro, conhecida como esterlina portuguesa”, revelou o historiador.
“Aqui em Maragogi aconteceram muitos levantes revolucionários. Quando houve a divisão da Revolução Praieira, um dos chefes dissidentes, o doutor Mavignier, potentado dono do Engenho Utinga, veio para Maragogi, à época chamado de Gamela, e baixou decreto tornando-a a capital da Revolução Praieira, que tinha o objetivo de instaurar a República”, contou o historiador.
“Já a Guerra dos Cabanos tornou-se um dos maiores massacres da história brasileira. O Almirante Tamandaré aportou aqui e prendeu o senador Batista de Araújo, um dos chefes dos Cabanos”, recorda. Por causa dos conflitos, Maragogi sempre teve uma população flutuante, com fluxo muito grande de pessoas. Por aqui, circularam índios, negros vindos dos quilombos e que também acabaram se envolvendo nos conflitos. Segundo Lindoso, o porto de Maragogi é o segundo melhor do Estado, onde os navios holandeses atracavam, rumo a Porto Calvo.
O historiador Pernambucano também comunga da tese de que as botijas são produtos de períodos de agitação, no caso a de Maragogi, da fase regencial, que vai da abdicação de D. Pedro I (1831) até 1840. “Foi nessa época que surgiram os conflitos regionais como a Balaiada, a Sabinada e a Cabanada, que explodiram por todo o Brasil.”, explicou o historiador.
Ele recorda que em Pernambuco também foram achadas algumas botijas, mas da época dos holandeses, que por 24 anos ocuparam o Estado. Período este também marcado por intensas batalhas entre as tropas luso-brasileiras e holandesas. No sertão alagoano, o historiador lembra do achado da botija do Serrote do Carié, que foi fruto da inquietação gerada pelo cangaço, e em Pão de Açúcar. “Os próprios cangaceiros guardavam seus tesouros em botijas e chegavam a enterrar até armamentos”.
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