Maurício SilvaUma parceria entre o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a
Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe) resultará num curioso e
imprescindível trabalho arqueológico, que mapeia os antigos portos para
embarcações fluviais na região do Estado denominada pelos cartógrafos
holandeses de Alagoas Boreal. Os arqueólogos do Iphan e da universidade
fizeram uma expedição pelo largo e caudaloso rio Manguaba, no trecho que
liga o município de Porto Calvo ao vizinho Porto de Pedras, catalogando
12 portos criados à época das invasões holandesas na primeira metade do
século 17.
Os arqueólogos pernambucanos Marcelo Libanês e Doris
Walmsley fizeram essa expedição no dia 10 de dezembro, identificando e
mapeando os 12 portos de Alagoas Boreal – que são conhecidos por alguns
moradores dos dois municípios, interessados na história da região. Desde
as ancestrais batalhas entre Portugal, Espanha e Holanda nas águas do
rio Manguaba, tais portos – embora desativados para fins militares ou
comerciais – continuam sendo chamados pelos antigos nomes por pessoas
que conhecem a tradição do lugar.
Libanês disse que farão “cortes”
para determinar alguns pontos desses velhos portos, para então “fazer o
levantamento arqueológico onde ocorreram as batalhas e onde os soldados
levantavam acampamentos”.
“Vamos fazer todo um estudo para conhecermos melhor o que se passava na época”, afirmou o arqueólogo.
Porto das Barcaças
O
primeiro local mapeado, em Porto Calvo, foi o porto das Barcaças, que
fica próximo ao histórico moinho Manguaba, no antiquíssimo bairro do
Varadouro. Durante muito tempo, este foi o principal porto da região
Norte do Estado – servindo às embarcações comerciais, que até os anos
1970 traziam mantimentos para Porto de Pedras, Japaratinga e Porto
Calvo. Do porto das Barcaças, os pesquisadores seguiram para o porto da
Camboa, onde atracavam as grandes embarcações setecentistas.
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Marcelo Libanês e Doris Walmsley chegam ao porto do Caxangá, no povoado histórico |
Daí,
a pequena lancha que transportava a equipe chegou ao local onde
acampavam soldados, a Ilha do Guedes. Mais à frente, o porto do
Estaleiro – que, de acordo com os arqueólogos, já estava bem ali no ano
de 1600. Este abrigo secular fica nas imediações do engenho Estaleiro,
onde eram fabricados, como o nome sugere, diversos tipos de embarcações,
além de açúcar, rapadura e a famosa cachaça Manguabinha.
O porto
do Espinheiro é o quarto local identificado pelos arqueólogos. O lugar é
cercado por uma vegetação extensa cheia de árvores centenárias. Em
seguida, vem o porto do Caxangá, instalado no povoado de mesmo nome,
cercado por um rico manguezal. O porto do Barbaço é o sexto nesse
percurso fluvial em direção ao município de Porto de Pedras.
O
porto de Taba, na fazenda Porto Grande, é o sétimo e o primeiro
localizado à margem direita do Manguaba, já em território
porto-pedrense. Logo se avista o porto Grande, oitavo ancoradouro, local
cercado por uma densa floresta e também repleto de árvores
centenárias.
O porto do Crasto retorna ao lado esquerdo do
Manguaba e ao município de Porto Calvo. O porto na fazenda Crasto é um
dos mais antigos. Nesse trecho – do porto Grande ao porto do Crasto –,
as águas do Manguaba começam a ficar mais limpas e o rio com uma largura
de mais de 200 metros.
O porto da Ribeira, em Porto de Pedras, é o
décimo nessa viagem histórica pelo Manguaba. A densidade do rio começa a
mudar com a mistura das águas marítimas. O porto do Campo Lino é o
décimo-primeiro identificado pelos arqueólogos. Finalmente, o derradeiro
refúgio, o porto de Pedras que, assim como o porto Calvo, originou o
nome da cidade.
“Começamos esse trabalho em junho e ainda vamos
visitar o rio mais vezes. Vamos percorrer os possíveis locais de
batalhas e fazer um trabalho na busca de objetos históricos. Estamos
trabalhando também com base em um mapa desenhado em 1637 por George
Marcgraf [Holanda, 1610-1644], geógrafo e cartógrafo que veio junto com
Maurício de Nassau”, informou a arqueóloga Doris Walmsley.
Os dois
estudiosos do laboratório de pesquisas arqueológicas da Ufpe (o
Arqueolog Pesquisas) pretendem retornar a Alagoas Boreal e dar
continuidade a esses trabalhos inéditos de prospecção às margens do rio
Manguaba, já no mês de janeiro.
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