

O historiador apresenta dados preciosos ao abordar a história do açúcar em Alagoas desde o período colonial até meados do século 20 e sua importância no desenvolvimento econômico local. Um dos destaques da obra é uma lista de todos os banguês já existentes no estado.
https://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/noticia.php?c=330412
Era dia 25 de setembro de 1932 quando nasceu, na Rua do Cajueiro, pelas bandas da Ladeira do Brito, região central da capital alagoana, Moacir de Medeiros Sant’Ana. Naquela época, era impossível ainda saber o tamanho que o então menino teria. Hoje, 86 anos depois, já se sabe: formado em Direito e diretor do Arquivo Público durante 45 anos, seria Moacir Sant’Ana um dos maiores historiadores do Estado. Esteve à frente do Arquivo desde a criação, em 1962, até 2007, quando deixou o cargo. Antes disso, porém, já ocupava uma cadeira no curso de História da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) – onde fora nomeado pelo Ministério da Educação por notório saber. E durante todo esse período ainda foi, acima de tudo, pesquisador. Não teve tema da terra dos caetés que tenha passado impune à sua curiosidade. Jorge de Lima, Graciliano Ramos, Tavares Bastos, o ciclo do açúcar, os mitos da escravidão, a história do modernismo. Esses são apenas alguns poucos dos muitos assuntos abordados por ele em seus livros. Ao todo, foram mais de 60 publicados. Outros sete inéditos ainda aguardam na gaveta do escritor – que, na biblioteca particular, cultivada durante toda uma vida, tem cerca de 15 mil títulos.
Atualmente com a saúde abalada, o pesquisador ainda terá outro livro nas prateleiras. No prelo da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, a publicação a respeito da revisão criminal do processo de Delmiro Gouveia deve sair agora no final do ano, segundo a família. Outros, como o Pequena Contribuição sobre a História do Açúcar em Alagoas, já trilharam seu caminho e são hoje utilizados até em teses de doutorado no Brasil e no mundo.
“As universidades de Harvard e Cambridge mandaram cartas para ele solicitando autorização para usar o livro lá. Está exposto na biblioteca de Paris, em Haia, na Holanda. Na obra, ele traduziu o desenvolvimento da Companhia das Índias Ocidentais quando explorou Pernambuco e também já citava a preocupação sobre como ficaria a economia alagoana depois do monopólio do açúcar”, diz Manoel Messias Caldeira.
Ele foi discípulo de Moacir. Os dois trabalharam juntos durante 35 anos, numa história que começara ainda em 1978, quando o jovem era estudante e foi mandado ao Arquivo Público para uma pesquisa. “Fui fazer um levantamento sobre Tércio Wanderley, enviado pelo reitor da universidade. A partir daí, começou meu contato com ele”, lembra. “Eu não tinha experiência, então ele me ensinou a pesquisar, a vasculhar”.
A relação duraria o tempo de uma vida, e o pupilo se recorda do caráter metódico do professor. “Ele fazia as pesquisas e repetia três, quatro vezes. Pesquisava, fazia o trabalho, e eu sentava com ele para corrigir e ia aprendendo. Ele não foi só um diretor, foi praticamente uma pessoa que me ensinou a ser alguma coisa na vida. Ele fazia com que eu aprendesse vendo, trabalhando”, acrescenta.
ARQUIVO PÚBLICO
Além dos livros, foram ainda 431 artigos publicados – o primeiro aos 18 ou 19 anos. O que pouca gente sabe, entretanto, é que o sonho do alagoano era mesmo ser químico. “Ele ainda andou inventando umas bombas, explodindo. A paixão dele era ser químico. Só que um historiador chegou aqui, não lembro o ano, e fez uma crítica que Alagoas não tinha Arquivo. Ele levou isso ao secretário de Educação, Deraldo Campos, e os dois foram ao governador, Luiz Cavalcante, que criou o Arquivo Público”.
Com isso, seria nomeado diretor vitalício do órgão. Mas com uma condição: precisaria de um curso superior. Entra aí a formação em Direito. Ao cargo de professor chegou por notório saber, indicado por Théo Brandão. Também ingressou na Academia Alagoana de Letras por outros caminhos – ao contrário dos demais, não fez solicitação para que fosse aceito. Foi, isso, sim, convidado.
“Meu pai foi um dos grandes historiadores de Alagoas; tem um vasto conhecimento da cultura e da história alagoanas. Foi o fundador do Arquivo Público, tem um acervo enorme, com mais de 15 mil livros”, aponta a filha de Moacir Sant’Ana, Ana Roberta. “Ele dava o conhecimento dele às pessoas, ensinava. Junto com outros pesquisadores, como Sávio de Almeira, ele trouxe uma contribuição muito grande”, conta.
Uma de três irmãs, ela fala com carinho do legado do pai. “Poucos historiadores trouxeram tanta contribuição. Não é porque é meu pai, mas posso dizer que ele sempre foi uma memória viva de Alagoas”, ressalta, acrescentando que o genitor não foi um homem de holofotes e que, por defender o que acreditava, muitas vezes também acabou mal interpretado.“Ele era da pesquisa, da busca da verdade e da informação”.
Messias concorda. E destaca que vai demorar mais um bicentenário para que surja em Alagoas outro Moacir Sant’Ana. “Ele não queria pesquisar outra coisa, só Alagoas. O Estado teve poucos historiadores, e outro Moacir só daqui a 200 anos. No meu ponto de vista, ele era um dos poucos que pesquisavam, não escrevia o que ouvia dizer. Se você citou, ele ia procurar, pesquisar. Essa meticulosidade fez ele ser o que é”.
Pesquisador foi um dos fundadores do Arquivo Público do Estado, do qual é diretor vitalício
https://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/noticia.php?c=330412
Era dia 25 de setembro de 1932 quando nasceu, na Rua do Cajueiro, pelas bandas da Ladeira do Brito, região central da capital alagoana, Moacir de Medeiros Sant’Ana. Naquela época, era impossível ainda saber o tamanho que o então menino teria. Hoje, 86 anos depois, já se sabe: formado em Direito e diretor do Arquivo Público durante 45 anos, seria Moacir Sant’Ana um dos maiores historiadores do Estado. Esteve à frente do Arquivo desde a criação, em 1962, até 2007, quando deixou o cargo. Antes disso, porém, já ocupava uma cadeira no curso de História da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) – onde fora nomeado pelo Ministério da Educação por notório saber. E durante todo esse período ainda foi, acima de tudo, pesquisador. Não teve tema da terra dos caetés que tenha passado impune à sua curiosidade. Jorge de Lima, Graciliano Ramos, Tavares Bastos, o ciclo do açúcar, os mitos da escravidão, a história do modernismo. Esses são apenas alguns poucos dos muitos assuntos abordados por ele em seus livros. Ao todo, foram mais de 60 publicados. Outros sete inéditos ainda aguardam na gaveta do escritor – que, na biblioteca particular, cultivada durante toda uma vida, tem cerca de 15 mil títulos.
Atualmente com a saúde abalada, o pesquisador ainda terá outro livro nas prateleiras. No prelo da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, a publicação a respeito da revisão criminal do processo de Delmiro Gouveia deve sair agora no final do ano, segundo a família. Outros, como o Pequena Contribuição sobre a História do Açúcar em Alagoas, já trilharam seu caminho e são hoje utilizados até em teses de doutorado no Brasil e no mundo.
“As universidades de Harvard e Cambridge mandaram cartas para ele solicitando autorização para usar o livro lá. Está exposto na biblioteca de Paris, em Haia, na Holanda. Na obra, ele traduziu o desenvolvimento da Companhia das Índias Ocidentais quando explorou Pernambuco e também já citava a preocupação sobre como ficaria a economia alagoana depois do monopólio do açúcar”, diz Manoel Messias Caldeira.
Ele foi discípulo de Moacir. Os dois trabalharam juntos durante 35 anos, numa história que começara ainda em 1978, quando o jovem era estudante e foi mandado ao Arquivo Público para uma pesquisa. “Fui fazer um levantamento sobre Tércio Wanderley, enviado pelo reitor da universidade. A partir daí, começou meu contato com ele”, lembra. “Eu não tinha experiência, então ele me ensinou a pesquisar, a vasculhar”.
A relação duraria o tempo de uma vida, e o pupilo se recorda do caráter metódico do professor. “Ele fazia as pesquisas e repetia três, quatro vezes. Pesquisava, fazia o trabalho, e eu sentava com ele para corrigir e ia aprendendo. Ele não foi só um diretor, foi praticamente uma pessoa que me ensinou a ser alguma coisa na vida. Ele fazia com que eu aprendesse vendo, trabalhando”, acrescenta.
ARQUIVO PÚBLICO
Além dos livros, foram ainda 431 artigos publicados – o primeiro aos 18 ou 19 anos. O que pouca gente sabe, entretanto, é que o sonho do alagoano era mesmo ser químico. “Ele ainda andou inventando umas bombas, explodindo. A paixão dele era ser químico. Só que um historiador chegou aqui, não lembro o ano, e fez uma crítica que Alagoas não tinha Arquivo. Ele levou isso ao secretário de Educação, Deraldo Campos, e os dois foram ao governador, Luiz Cavalcante, que criou o Arquivo Público”.
Com isso, seria nomeado diretor vitalício do órgão. Mas com uma condição: precisaria de um curso superior. Entra aí a formação em Direito. Ao cargo de professor chegou por notório saber, indicado por Théo Brandão. Também ingressou na Academia Alagoana de Letras por outros caminhos – ao contrário dos demais, não fez solicitação para que fosse aceito. Foi, isso, sim, convidado.
“Meu pai foi um dos grandes historiadores de Alagoas; tem um vasto conhecimento da cultura e da história alagoanas. Foi o fundador do Arquivo Público, tem um acervo enorme, com mais de 15 mil livros”, aponta a filha de Moacir Sant’Ana, Ana Roberta. “Ele dava o conhecimento dele às pessoas, ensinava. Junto com outros pesquisadores, como Sávio de Almeira, ele trouxe uma contribuição muito grande”, conta.
Uma de três irmãs, ela fala com carinho do legado do pai. “Poucos historiadores trouxeram tanta contribuição. Não é porque é meu pai, mas posso dizer que ele sempre foi uma memória viva de Alagoas”, ressalta, acrescentando que o genitor não foi um homem de holofotes e que, por defender o que acreditava, muitas vezes também acabou mal interpretado.“Ele era da pesquisa, da busca da verdade e da informação”.
Messias concorda. E destaca que vai demorar mais um bicentenário para que surja em Alagoas outro Moacir Sant’Ana. “Ele não queria pesquisar outra coisa, só Alagoas. O Estado teve poucos historiadores, e outro Moacir só daqui a 200 anos. No meu ponto de vista, ele era um dos poucos que pesquisavam, não escrevia o que ouvia dizer. Se você citou, ele ia procurar, pesquisar. Essa meticulosidade fez ele ser o que é”.
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