Luiz Sávio de Almeida
A afirmativa de que se trata de uma epidemia urbana é insustentável, embora, em diversas partes do mundo, ela venha se demonstrando citadina, e, isto, parece deixar evidente que a concentração na e da população favorece o desdobramento da conquista dos terráqueos pelo virus. No entanto, ele nem para e nem pode parar nas grandes concentrações, pois não se importa com endereços e precisa manter um de seus objetivos que é o de tornar-se universal. Por outro lado, acredito, este resultado chamado concentração é difícil de ser aclarado pela necessidade de se determinar pelo menos duas informações: área e número de indivíduos. No entanto, a palavra concentração vem funcionando como algo mágico, capaz de ter seu significado imediatamente apreendido no papo de todos os dias.
Fácil perceber que uma pequena cidade, uma pequena localidade – tal qual a minha Capela, a Rainha do Paraíba e o Arrasto de Santa Efigênia – representam uma concentração neste sentido sugestivo e mágico, que o termo vem tendo nas conversas em torno do Corona. Uma das característica desta fase de vida universal é a de que o isolamento vem sendo cada vez mais impossível, que os espaços estão cada vez mais estreitos e isto interferiu em nossa própria noção de corpo: nossos olhos estão vendo cada vez mais longe, nossos braços se esticaram como se estivéssemos, sempre, a imitar super-heróis. E podemos estar doentes de modo universal, como esta epidemia mais do que demonstra, a viajar em navios e aviões.
Este encontro, é algo que sempre me chamou a atenção desde o tempo da proposta de aldeia global, feita por McLuhan e sua visão do encurtamento das distâncias mudando, e muito, os aqui e acolá. Não resta dúvida que tudo se encurta e isto é típico dos tempos da tecnotrônica, uma genial expressão criada por Darcy Ribeiro. No entanto, apesar de todo este encurtamento, o virus jamais deixou de estar aqui, a meu lado e diferente do virus que está acolá; é como se houvesse condição de se dizer: quanto mais tudo encurta, quanto mais eu elasteço a evidência de mim mesmo. O virus se universaliza não por si, mas por nós; quanto mais a gente encurtou, quanto mais se deu espaço para ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário