segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Guedes de Miranda


Guedes de Miranda

Divaldo Suruagy
07 de Novembro de 2012
  Jurista, político, jornalista, escritor, poeta, administrador, tudo isso, em alta expressão, inspirou Jayme de Altavila a dizer sobre sua singular trajetória: “Encheu todo o seu tempo com o vigor de sua personalidade marcante. Era, sem favor, a maior expressão intelectual das Alagoas”. Por sua vez, Osman Loureiro asseverou: “Guedes de Miranda foi o maior tribuno das últimas gerações de alagoanos”.
A cultura múltipla e marcante que possuía, fez com que, inclusive, se relegasse ao esquecimento o seu trabalho como administrador. Na realidade, quando Interventor Federal, Guedes de Miranda teve atuação profícua. Realizou diversos Congressos de Prefeitos, estudando os problemas das municipalidades. Conseguiu a dragagem do São Francisco, nas imediações de Penedo, e a volta dos navios Loide Brasileiro àquele rio. Construiu a rodovia Penedo/Piaçabuçu, passando pelo Vale de Marituba. A seu crédito, existem, ainda, a construção do Jardim Infantil Ismar de Gois Monteiro, do Salão da Biblioteca do Tribunal de Justiça, as reformas do Hospital Santa Leopoldina, do Liceu  Alagoano, do Colégio Moreira e Silva e do Teatro Deodoro.
Jornalista distinto, esteve presente, com brilhantismo, nas páginas do Jornal do Comércio, Diário do Povo, Jornal de Alagoas e Diário de Alagoas. Neste último, foi o editorialista contundente durante o Governo Muniz Falcão.
Belo espetáculo das manifestações de inteligência, cultura e criatividade de Guedes de Miranda foi o Tribunal do Júri, onde seus debates, com Rodriguez de Melo, ficaram famosos. A participação desses dois gigantes lotava os locais dos julgamentos. Um público atento, ávido das demonstrações de saber jurídico, acompanhava as orações dos contendores.
O pensamento de Guedes de Miranda está sintetizado numa frase que ele pronunciou, quando da Oração da Democracia, no dia sete de setembro de 1943: “Atenas amou a sabedoria e a beleza, mas amou, sobretudo, a liberdade”.
  Em “Eu e o Tempo”,  registra o seu primeiro encontro com a realidade, naquele  16 de maio de 1886, quando, ao meio dia, sob o toque dos sinos da Matriz de Porto Calvo, estremecendo a cada badalada, nasceu o futuro grande tribuno. Começava, então, uma trajetória luminosa, repleta de realizações políticas e culturais, só encerrada em primeiro de agosto de 1961, quando a alma do poeta buscou o seu lugar na amplidão.
Interventor Federal, Vice-Governador, Procurador Geral do Estado, Secretário do Interior, Diretor do Liceu Alagoano e da Faculdade de Direito, advogado famoso, em toda a gama imensa de sua atividade, Guedes de Miranda foi, invariavelmente, a grande dimensão humana de todas as horas.
Foi um dos fundadores da Academia Alagoana de Letras e honrou o quadro de sócios do Instituto Histórico de Alagoas.
De sua bibliografia constam títulos como “Minha Fé no Direito”, “Elogio do Gênio e outros Discursos”, “Exaltação à Terra e a Sua Gente”, “Holandeses em Porto Calvo”, “Antes que Desça a Noite” e “Eu e o Tempo”.
Um aspecto da personalidade de Guedes de Miranda que enriquece o seu espírito é a sua capacidade de perdoar, de esquecer as ofensas, de reconsiderar posições. Havendo, no início de sua carreira, feito sérias acusações ao Governador Fernandes Lima, teve a coragem moral de se retratar, tempos depois, afirmando “Equivoquei-me. Escuso-me dessa injustiça com a humildade de quem quer se penitenciar de um pecado”.
Conheci-o, apresentado por meu pai, à porta do Cinearte, depois Cine São Luiz, na Rua do Comércio, em Maceió. Alto, robusto, cabelos brancos, transmitia uma imagem de força e autoconfiança. Deixei-me cativar por sua personalidade dominadora. Fui seu eleitor quando disputou uma cadeira no Senado da República. Embora tenha exercido importantes cargos políticos no cenário alagoano, sempre o considerei mais o mestre, o intelectual do que o militante da política.
O lirismo da poesia do Velho Guedes é a marca registrada de seu estro. No poema “Tolice” ele se reflete de maneira delicada, repleta de beleza: “Mandei caiar o meu quarto de dormir/para apagar das paredes a tua sombra/. Tolice. Ela se escondeu invisível na minha saudade”. Alagoas tem, em Guedes de Miranda, uma luz de sapiência, portadora da mensagem eterna de grandeza.

Divaldo Suruagy



Antes que desça a noite
.
Guedes de Miranda
.
Antes que desça a noite,
O sol se pondo,
Contemplo em paz o fim da minha tarde.
Recordo o que fui – vencendo o tempo
Percebo o que sou – pelo tempo vencido.
Lutei, sofri, amei – vivi
E, com certeza, morrerei.
A ninguém, neste mundo, posso dizer
Fiz mal.
Quando a noite ontológica, implacável, descer,
Que restará de mim?
– Estes pobres poemas largados à toa:
Minh’alma dançando a valsa das sombras
E palavras, palavras...
E o fim, nada mais.

Ciúme

Guedes de Miranda

A tua sombra procurou-me aflita
e me disse em pranto:
– Tenho ciúme de ti, amigo,
porque o meu corpo está fugindo de mim
para ficar contigo.


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