sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Delmiro


 
  Amaro Petrúcio  

 

 

 

Delmiro




Admirado, temido ou odiado, Delmiro Gouveia foi um dos personagens mais importantes e controversos da história industrial brasileira como exemplo de empreendedorismo inovador e pelas circunstâncias não resolvidas de seu assassinato, em 1917. Fundador da primeira usina hidrelétrica do Nordeste – que faz 100 anos neste mês de janeiro –, o espírito empreendedor de Delmiro é homenageado com o lançamento de dois livros editados pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos. As obras Delmiro Gouveia – O Pioneiro de Paulo Afonso, de Tadeu Rocha, e O Ninho da Águia – Saga Delmiro Gouveia, de Adalberon Cavalcanti Lins, saem pela coleção Pensar Alagoas, responsável pela reedição de importantes trabalhos sobre o estado de Alagoas e que estariam fora de catálogo. O lançamento acontece neste sábado (26/01), a partir das 10h, e é aberto ao público. 
Conhecido como um ousado homem de negócios que modernizou o sertão no início do século 19, Delmiro Gouveia nasceu em 1863 na cidade de Ipu, no Ceará, mas se muda ainda muito jovem para Recife. Após a morte de sua mãe, Gouveia, para se sustentar, consegue emprego de cobrador de passagens na Brazilian Street Railways Company, uma empresa inglesa de ferrovia urbana, sendo promovido pelo seu esforço em aprender a língua inglesa. Dois anos depois, abandona o emprego para trabalhar com o comércio e exportação de algodão e peles de animais como bodes, carneiros e ovelhas. Em 1896, cria, em sociedade com Clément Levy, a Delmiro & Cia, uma empresa que lhe rende o apelido de “rei das peles” pelo monopólio do comércio dos “courinhos” no Nordeste e pela grande fortuna acumulada. Alguns anos mais tarde, Delmiro é acusado de contratar um capanga para espancar o antigo sócio e desestimular a concorrência na cidade.   
Inspirado pela visita à Exposição Universal de Chicago, Delmiro Gouveia transformou, no que antes era apenas um manguezal, o Mercado do Derby, um centro empresarial revolucionário que pode ser considerado uma versão pioneira do conceito moderno de shopping center no Brasil. O Mercado do Derby era um complexo de comércio e lazer que contava com mais de 250 lojas, um hotel luxuoso que recebia os visitantes, um restaurante considerado um dos melhores da América Latina, um velódromo para ciclismo, mas tinha como principal atração a iluminação elétrica, até então uma tecnologia inédita na capital pernambucana. No entanto, sua ascensão econômica e práticas empresariais consideradas desleais por outros comerciantes o fizeram acumular diversos inimigos. Menos de um ano depois de sua inauguração, o Mercado do Derby sofreu um incêndio supostamente criminoso que acabou sendo o motivo da falência do empresário cearense.
A tensão entre Delmiro Gouveia e políticos de Pernambuco aumentava com trocas de acusações. Dentre as ocorrências que envolveram o empresário e seus opositores se destacam a agressão a bengaladas ao vice-presidente da República na época,Rosa e Silva, e o rapto da filha menor de idade do ex-governador de Pernambuco, Sigismundo Gonçalves, o que fez com que Delmiro Gouveia fugisse para o interior de Alagoas.
Com o apoio da oligarquia alagoana, como o ex-governador Euclides Malta, o empresário cearense se reestabeleceu no mercado de couros. Em 1903, Delmiro chega ao povoado da Pedra, no Sertão alagoano, para, aos poucos, modificar o cenário da região. Com o projeto de construir uma fábrica têxtil em pleno Sertão, Delmiro utilizou a força do rio São Francisco na cachoeira de Paulo Afonso para construir a usina hidrelétrica de Angiquinho.  
 ”E numa cachoeira notável, mencionada sempre com respeito, admiração e inércia, turbinas foram acordar alguns cavalos da manada que lá dormia o sono dos séculos.” – Graciliano Ramos, no livro Viventes das Alagoas
O projeto de Delmiro Gouveia resultou na construção da Companhia Agro-Fabril Mercantil, também conhecida como Fábrica da Pedra, a primeira empresa brasileira a produzir linhas de costura. O empresário foi pessoalmente até a Europa escolher as melhores máquinas e teares que transformaram a marca Estrella conhecida em várias partes do mundo. A Vila Operária que servia para moradia dos trabalhadores da fábrica tinha mais de 250 casas servidas de energia elétrica, água encanada, cinema, serviço médico e odontológico.
Segundo o historiador Edvaldo Nascimento, a estrutura da Vila Operária contava com diversas escolas que eram instaladas nas casas de professoras vindas de outras cidades. Na época, apenas 1% da população alagoana frequentava instituições de ensino, enquanto todas as crianças que moravam na Vila estavam matriculadas nas escolas. No entanto, os investimentos na educação dos moradores não tinham apenas relação com uma preocupação social de Delmiro Gouveia, mas sim com o propósito de criar mão de obra qualificada, ainda segundo Nascimento.
Chamado de coronel dentro das cercas de sua fábrica, Delmiro Gouveia estabelecia regras rígidas de convívio como a proibição do consumo de bebidas. O pesquisador Davi Roberto Bandeira explica que, se por um lado o espírito empreendedor de Delmiro Gouveia transformou a realidade do povoado da Pedra implementando benefícios trabalhistas como o 13° salário, a sua autoridade era imposta por penas como multas e chicotadas.
Com o sucesso financeiro da Fábrica da Pedra, que tinha atingido no ano de 1917 o faturamento de 10 mil contos de réis, aproximadamente 48 milhões de reais nos valores de hoje, a empresa escocesa Machine Cotton, que era líder mundial no setor têxtil, procurou o coronel Delmiro Gouveia por diversas vezes para negociar a compra da indústria alagoana, mas sempre tendo suas propostas rejeitadas.
No dia 10 de outubro de 1917, enquanto lia um exemplar do Jornal de Alagoas na varanda de sua casa, Delmiro Gouveia foi baleado por tiros de espingarda e acabou falecendo. Por conta da enorme lista de inimigos acumulados durante sua carreia empresarial, o assassinato de Delmiro Gouveia nunca teve suas circunstâncias esclarecidas. A fama de conquistador e a relação conturbada com as mulheres também estão associadas às motivações para o crime.
 Principal legado empresarial de Delmiro Gouveia, a Fábrica da Pedra permaneceu sem maiores modificações, apenas com a construção de uma igreja, até a sua venda para a Machine Cotton, em 1929, mais de 10 anos após a morte de Delmiro. A primeira ordem que a empresa escocesa deu aos funcionários foi a destruição das máquinas trazidas da Europa por Delmiro e que elas fossem jogadas no rio São Francisco. Em 1952, a Vila da Pedra consegue seu desmembramento do município de Água Branca e é renomeado para Delmiro Gouveia, em homenagem ao empresário cearense.

SERVIÇOO quê: lançamento dos livros Delmiro Gouveia – O Pioneiro de Paulo Afonso (Tadeu Rocha) e O Ninho da Águia – Saga Delmiro Gouveia (Adalberon Cavalcanti Lins)
Quando: 26 de janeiro de 2013, às 10h
Onde: Sítio Histórico da Usina Angiquinho, Delmiro Gouveia-AL
Aberto ao público
Mais informações: 3315-8303 ou através do site www.imprensaoficial.al

SOBRE OS LIVROSTítulo: Delmiro Gouveia – O Pioneiro de Paulo Afonso
Autor: Tadeu Rocha
Páginas: 252
Editora: Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Título: O Ninho da Águia – Saga Delmiro Gouveia
Autor: Adalberon Cavalcanti Lins
Páginas: 462
Editora: Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Preço do box com os dois livros: R$ 50 (apenas no dia do lançamento); após o lançamento o valor do box é R$ 70
Pontos de venda: lista no site www.imprensaoficial.al

 

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