Alagoas aos pedaços
Fernando José de Lira.
Francisco Rosário.
Diante dos grandes desafios e possibilidade de desenvolvimento do Estado de Alagoas, o governo estadual, com os órgãos de apoio aos agentes produtivos, vem procurando abrir espaços á diversificação produtiva, na tentativa de reduzir as desigualdades econômicas e sócias, tão acentuadas.
Considerando a necessidade de promover uma maior inserção produtiva de pessoas em idade ativa, o Estado está atuando, através dos arranjos produtivos locais, no sentido de identificar novas oportunidades de negócios nos municípios, de modo a fortalecer e estimular a criação de cadeias produtivas, que ancorem a expansão e o desenvolvimento das micro e pequenas empresas. Nessa perspectiva, há tentativa de mapear os obstáculos e peculiaridadessocioeconômicas dessas sub-regiões, consideradas mais ricas de Estado.
Essas sub-regiões possuem terras férteis, solos profundos e água em abundância, prestando-se, por isso, a pratica de quase todas as atividades agropecuárias, todavia, seu relevo montanhoso torna mais fácil o exercício das atividades de olericultura, de fruticultura e de piscicultura, podendo contribuir para o melhor uso da terra e da água, e por conseguinte, para o aumento das ocupações e da renda local, bem como para a preservação do meio ambiente.
Com exceção da sub-região das Lagoas, as outras são consideradas essencialmente agrícolas e esse alto nível de concentração da propriedade da terra, em favor dos grandes proprietários, representa um grande obstáculo para uma nova dinâmica econômica mais intensiva em mão-de-obra, que seja mais equitativa, pois a concentração do principal meio de produção nas mãos de aproximadamente 24 famílias leva a uma enorme centralização de renda.
Quanto ao setor industrial, é representada pela agroindústria do açúcar. As usinas de açúcar e álcool representam o núcleo duro do desenvolvimento da economia das sub-regiões. Assim sendo, a forma concentrada da posse da terra e a consequente acumulação concentrada e centralizada da renda dificultam a formação de um mercado interno forte, o suficiente para germinar novas atividades que potencializem novas alternativas de desenvolvimento. As pequenas agroindústrias de leite, mel, pesca,etc, têm representação muito pequena, ficando no nível de subsistência.
O setor serviço é basicamente de responsabilidade do poder publico, mas, particularmente nas sub-regiões do Litoral Sul, de ocupação e renda. As iniciativas turísticas vêm ganhando expressão, beneficiando as atividades de transportes, bares e restaurantes. Na sub-região da lagoa, o turismo e a pesca destacam-se pelo número de mão-de-obra ocupada.
Possuindo um grande potencial agropecuário, turístico, pesqueiro e de recursos naturais, e apresentando um crescimento da receita do ICMS, do FPM, e do FUNDEF nos últimos 25 anos (1970/ 1996), o aumento anual do Produto Interno Bruto (PIB) foi considerado relativamente elevado, se comparado com o das outras sub-regiões do Estado, mas sua distribuição muito concentrada leva ao aumento e reprodução da pobreza. Isso fica bem claro na sub-região da Mata Sul, pois, no período de 1970 a 1996, o PIB de São Miguel dos Campos e o do Município de Roteiro aumentou respectivamente na ordem de 14% e 10%, todavia o nível de pobreza, em São Miguel dos Campos, duplicou e, em Roteiro, mais que triplicou nesse período.
Esse cenário de crescimento econômico e aumento da pobreza está associado a crescente concentração da posse de terra, de renda e poder, mais, sobretudo a falta de educação e iniciativa empreendedora. Na região das Lagoas, por exemplo, existem problemas de toda ordem que dificultam a sobrevivência, mas o poder público prefere dar o peixe pronto, na forma de cesta básica, a capacitar para uma nova modalidade de pesca. Nessas condições, sociais bastante desfavoráveis e na ausência do assistencialismo, é estimulada a emigração. Assim, na ilusão ou por falta de opção, na década de 90, houve uma forte migração para outras cidades de Alagoas, preferencialmente para Maceió, localizadas numa região de pouca diversificação produtiva, bastante dependentes de cana-de-açúcar, ou de pesca, heterogêneas, com crescimento econômico relativamente elevado para um período tão problemático como na década de 90.
Essas sub-regiões não possuem um projeto que envolva todos os seus municípios e muito menos, uma politica voltada para a ocupação produtiva das pessoas em idade ativa, com uma taxa de atividade menor do que a registrada em Alagoas e no Nordeste. Em municípios como São Miguel dos Milagres, Paripueira e Barra de Santo Antônio essa taxa é irrisória, não ultrapassando os 14% da população em idade ativa.
Essas condições adversas á pequena produção, associadas á ausência de empreendedorismo, geram um nível de ocupação muito baixo, com renda familiar correspondente aproximadamente a 40% de um salário mínimo, o que resulta numa situação de quase pobreza absoluta.
Para se ter ideia das condições de vida nas sub-regiões estudadas, exceto na sub-região das Lagoas e em São Miguel dos Campos, que têm aproximadamente 65% das famílias com renda familiar insuficiente, nas outras, essa taxa chega a ser superior a 80%, com destaque para Igreja Nova, onde a percentagem de famílias com renda insuficiente ultrapassa 90% da população. Em Alagoas, esse percentual chega a 44,43%.
Historicamente, a economia desses municípios esta centrada na agropecuária, predominantemente no cultivo da cana-de-açúcar, na pecuária e na pesca, três atividades que geram poucas ocupações e, no caso da cana, a demanda maior por mão-de-obra concentra-se em apenas 4 meses do ano, a saber: outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro.
Portanto o padrão de desenvolvimento vigente tem privilegiado as atividades tradicionais de caráter patronal, em detrimento aos pequenos empreendimentos familiares. Esse modelo está esgotado econômica e socialmente. A maior parte dos entrevistados apontou a pequena empresa como solução, a exemplo do que ocorre com alguns poucos assentamentos de Alagoas que, mesmo com uma área media exígua em torno de 7 hectares, está provocando um impacto social e econômico bastante visível.
5.1 – Caracterização socioeconômicas das sub-regiões
Possuindo um cenário econômico relativamente favorável e um quadro politico e social bastante restritivo, com o mais baixo capital humano e com uma acumulação de capital social, historicamente, pouco expressiva, as sub-regiões dos Corais, Litoral Norte, Litoral Sul, Lagoas e Zona da Mata Sul têm muita dificuldade em adotar um novo padrão de desenvolvimento que resulte num processo de maior mobilidade social e que gere mais ocupações e renda.
O padrão adotado é o agrário tradicional, que pela sua importância econômica e politica acaba por definir o comportamento da agropecuária, da indústria, do setor de serviço e a atuação do setor público em favor dos 10% mais ricos. Nesse modelo, a prioridade é a grande propriedade – com mais de 1000 hectares -, pouca diferenciação da produção, baixa competitividade sistêmica e relações de trabalho predominantemente informais, gerando forte exclusão social e um ambiente desfavorável aos pequenos produtores familiares e a preservação dos recursos naturais.
5.2 – Dinâmica econômica
A Região dos Corais teve, na década de 90, um crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB) relativamente medíocre para esse período. Mesmo no período de 1970/1980, quando Alagoas cresceu a uma taxa anual de 9,1%, os Corais cresceram apenas 6,1%, ou seja, muito menor do que o incremento anual ocorrido no Estado. Apenas três municípios, Barra de Santo Antônio, Passo de Camaragibe e São Luiz do Quintunde, tiveram um aumento expressivo e próximo do de Alagoas, crescendo seu PIB 6,1%, 12,0% e 11,8% ao ano, respectivamente.
Vale ainda observar que, nesse período, ao contrario do que ocorreu em quase todos os municípios de Alagoas, São Miguel dos Milagres teve incremento negativo (-3,3%) do PIB, pois, estando entre os maiores produtores de coco-da-baia do Estado, com mais de 70% de suas terras agricultáveis produzindo coco, a baixa produtividade da cultura e a falta da modernização das praticas agrícolas, bem como o preço baixo inibiram o avanço da produção e produtividade, deprimindo o PIB municipal.
5.3 – Aspectos sociais
Desde 1910 todas sub-regiões aqui analisadas já possuíam a configuração social e politica que têm atualmente. Todavia, em momentos prolongados de crise da agroindústria sucroalcooleira, como registrado no período de 1985 a 1998, os problemas sociais afloram com mais gravidade, em todas as sub-regiões. Aumentando a população em idade ativa e diminuindo o número de pessoas ocupadas, reduzindo a taxa de atividade da população em idade produtiva que, nos Corais, é de apenas 31%, enquanto, em Alagoas, alcança 54,9% e no Nordeste, essa taxa é de 66,1% ou seja, duas vezes mais que a registrada nos Corais.
Na zona do Litoral Norte, houve o aumento da população em idade ativa e a redução do número de pessoas economicamente ativas, reduzindo a taxa de atividade da população em idade produtiva que, no Portal Sul e nas Lagoas, são de apenas 22% e 24,3%, respectivamente.
Na Mata Sul, repetiu-se o fenômeno ocorrido no Litoral Norte, reduzindo-se a taxa de atividade da população em idade produtiva para 28,5%.
Dentre os dez municípios do Litoral Norte, apenas Japaratinga possui taxa de participação da população em idade ativa no mercado de trabalho igual á de Alagoas e pouco menor que a do Nordeste. Isso ocorre também com Coruripe e São Miguel dos Campos.
No período de 1985 a 2000, os problemas sociais do Vale do Mundaú afloram com mais gravidade e se reproduz o cenário do Litoral Norte e da Mata Sul, reduzindo a taxa de atividade da população em idade ativa para 38%, enquanto a de Alagoas alcança 54,9% e a do Nordeste 66,1%, ou seja, quase duas vezes a registrada no Vale. Dentre seus seis municípios, apenas Santana do Mundaú tem uma taxa de participação da população em idade ativa no mercado de trabalho superior á de Alagoas e pouco menor que a do Nordeste.
Percebe-se então que o nível de ocupação registrado em todas as sub-regiões é muito baixo. Mesmo nos municípios onde estão localizadas as usinas de açúcar e álcool, a taxa de atividade é pouco expressiva, obrigando grande parte da população em idade ativa a viver na inatividade, significando dizer que aproximadamente 80% da população em idade de trabalho não têm qualquer ocupação ou renda.
Outra característica forte das sub-regiões é a sua estrutura da propriedade da terra muito concentrada nas grandes propriedades. Considerando que são áreas essencialmente de agropecuária, a forma como a terra foi distribuída definiu, também, a posse dos outros meios de produção, em especial o financeiro.
Nesses municípios estudados, 80% ou mais da população tem renda considerada insuficiente. Em Porto de Pedras e Paripueira, esse percentual eleva-se para 90% e 92%, respectivamente, disso se infere um índice de qualidade de vida, cujos valores são determinados pelas variáveis de Renda, Produto Interno Bruto, Saude, Educação e Habitação, claramente muito baixo em todos os municípios, o que significa dizer que não são oferecidas as condições mínimas básicas, ficando a população submetida a um nível de vida inferior ao do suprimento das necessidades mínimas para se manter o nível fisiológico de vida.
A falta de telefones é grave em todos os municípios, com exceção da Barra de São Miguel, onde existem muitas casas de veraneio. Outro grande problema que marca todas as sub-regiões é o baixo nível de renda do chefe de família, em torno de 1,5 salario mínimo, dai a mortalidade infantil ser também bastante elevada. Com exceção de Boca da Mata e São Miguel dos Campos, os outros municípios têm índice de qualidade de vida muito reduzido.
A região do Vale do Mundaú, ocupa uma área de 2.174 quilômetros quadrados, correspondendo a aproximadamente 8% do território alagoano, com uma densidade demográfica de 93 habitantes por quilômetros quadrado, mais baixa do que a media registrada no Estado, com 110 habitantes por quilômetro quadrado.
O Vale do Mundaú possui um quadrado econômico de estagnação no crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo no período de 1970/1980, quando Alagoas cresceu a uma taxa anual de 9,1%, o vale cresceu apenas 5,5%, ou seja, quase metade do incremento anual ocorrido no Estado. Apenas dois municípios, São José da Lage e Messias tiveram um aumento expressivo e maior que o de Alagoas, crescendo seu PIB 14,6% e 9,1% ao ano, respectivamente.
No período de 1970 a 1996, o Vale cresceu apenas 1,4% ao ano, contra um aumento de 6,2% do Estado, pois, no subperíodo de 1985 a 1996, metade dos seus municípios tiveram taxa negativa de crescimento e outra metade, um crescimento inexpressivo, o que caracteriza uma região em plena estagnação econômica. (Ver tabela 5.4).
As três principais cidades do Vale – São José da Lage, União dos Palmares e Rio Largo – onde ficam localizadas, respectivamente, as usinas Serra Grande, Laginha e Santa Clotilde, tiveram crescimento econômico negativo ou nulo, com a redução dos incentivos federais após 1985 com o fim do Proálcool, demonstrando mais uma vez a estagnação do padrão de desenvolvimento.
A tabela 5.1 apresenta a evolução do PIB no período de 1970 a 1996 e mostra que a sub-região do Litoral Norte cresceu 3,4% ao ano, pois, no subperíodo de 1985 a 1996, metade dos seus municípios registraram valores negativos, e outros municípios como Passe de Camaragibe e Matriz de Camaragibe cresceram á taxa anual superior a 6,0%, o que caracteriza uma região de crescimento heterogêneo.
É importante ressaltar que, no período de 1970 a 1990, o Estado de Alagoas foi aunidade federativa nordestina que mais cresceu economicamente.Suas altas taxas de incremento do PIB estiveram fortemente relacionadas com os investimentos federais no setor sucroalcooleiro, de 1975 a 1990, na vigência do PROÁLCOOL. Isso possibilitou um aumento de 25 vezes na produção de álcool e quase duplicou a produção de açúcar, triplicando a área plantada com cana-de-açúcar.
Já na década de 80, a situação econômica não foi pior, por causa, principalmente, dos grandes investimentos federais relacionados á produção do açúcar e do álcool. Todavia, seu padrão de desenvolvimento, sustentado pela monocultura de cana e pela pecuária, praticadas, basicamente, em propriedade acima de 1000 hectares, não permitiu que seu desenvolvimento econômico alcançasse a metade do registrado em Alagoas. (Ver tabela 5.2).
Esse padrão de crescimento teve uma baixa resposta aos elevados investimentos federais, pois, já em 1930, quase toda área agricultável estava ocupada com cana e pecuária, demonstrando o seu esgotamento econômico, que fica mais evidente durante a década de 90. Nesse período, o setor sucroalcooleiro demonstrando claramente não ser sustentável fora de uma politica agrícola fortemente subsidiada.
As quatros principais cidades da região dos Corais – Maragogi, Porto Calvo, Passo de Camaragibe e São Luiz do Quintude – tiveram crescimento econômico negativo ou nulo. Com a redução dos incentivos federais, após 1985, e com o fim do Proálcool, fica demonstrado mais uma vez, a estagnação do padrão de desenvolvimento.
Quanto ás sub-regiões Portal Sul e das Lagoas, têm certa importância na dinâmica. A partir de 1970, apresentaram uma evolução significativa do PIB, alcançando a década de 90, num período considerado muito difícil. No período de 1970/1980, essas áreas cresceram 10,92%, ou seja, maior incremento do que o anual ocorrido no Estado. No Portal Sul, Penedo, Feliz Deserto, Coruripe e Igreja Nova tiveram um aumento expressivo e maior do que o de Alagoas, 8,14%, 11,17%, 14,81% e 12,2%, ao ano, respectivamente. Vale ainda observar que, nesse período, mesmo Piaçabuçu teve incremento moderado de 4,77% do PIB, pois está entre os maiores produtores de coco-da-baía do Estado (mais de 70% de suas terras agricultáveis produzem coco). Na sub-região das Lagoas, muito influenciada pela economia de Maceió, apenas Satuba teve um PIB pouco expressivo, 4,95%, mas mesmo assim elevado.
A tabela 5.2 apresenta a evolução do PIB no período de 1970 a 1996 e mostra que as sub-regiões do Portal Sul e das Lagoas, juntas cresceram 12,68% ao ano, contra um aumento de 6,2% do Estado, pois, no subperíodo de 1985 a 1996, o crescimento foi moderado com PIA anual de 4,93%. Houve municípios que, nesse mesmo período, cresceram á taxa anual superior a 8,0%, o que caracteriza uma região de crescimento econômico dinâmico.
Portanto, mesmo na crise, de modo geral as sub-regiões apresentaram elevadas respostas aos grandes investimentos federais, pois nem toda a área agricultável já estava ocupada com cana e pecuária. Esse crescimento fica mais evidente durante a década de 90. Nesse período, o setor sucroalcooleiro demonstra claramente ser sustentável, sem essa politica fortemente subsidiada, em áreas de alta produtividade e de grande oferta de mão-de-obra barata.
A maioria dos municípios do Portal Sul teve crescimento econômico importante nesse período. Mesmo com a redução dos incentivos federais, após 1985 e sobretudo com o fim do Proálcool, essa área demonstrou que, em ambiente de condições climáticas, e edafológicas favoráveis, o padrão de crescimento é, do ponto de vista puramente econômico, bastante dinâmico.
A sub-região da Mata Sul apresenta uma importante dinâmica econômica. A partir de 1970, registrou-se uma evolução significativa do PIB. Na década de 90 apresentou crescimento bastante favorável para esse período desfavorável. No período de 1970/1980, São Miguel dos Campos, Campo Alegre, Roteiro e Junqueiro tiveram um aumento expressivo e maior do que o de Alagoas, crescendo seu PIB 11,4%, 13,3%, 38,7% e 24,3% respectivamente, apenas Boca da Mata aumentou seu PIB em 8%, portanto esse período revela-se como sendo época de ouro para a Mata Sul. Ver tabela 5.3.
A sub-região de Mata Sul, seguindo a tendência das outras sub-regiões, deu elevadas respostas aos grandes investimentos federais, pois nem toda área agricultável já estava ocupada com cana e pecuária, demonstrando o seu crescimento, que fica mais evidente durante a década de 90. Portanto, todos os municípios da Mata Sul tiveram crescimento econômico significativo. A taxa de atividade registrada no Vale é muito baixa. Mesmo nos municípios onde estão localizadas as usinas de açúcar e álcool é pouco expressiva, obrigando grande parte da população em idade ativa a viver na inatividade, significando dizer que 62% não qualquer ocupação ou renda.
Outra característica forte da região do Vale, já constatada em outras sub-regiões, é a sua estruturada propriedade da terra muito concentrada nas grandes propriedades. Para se terideia disso, 9,8% de todos os produtores detêm 64,4% das terras da região e, por outro lado, os 90,2% dos outros produtores possuem apenas 35,6% da área total.
A pobreza extrema a que esta submetida a região pode ser vista na tabela 5.4 e gráfico 3, onde se observa que a renda familiar per capita esta abaixo de meio salario mínimo em 6 dos 7 municípios e, somente em Rio Largo, que se localiza na microrregião de Maceió, essa renda é pouco maior que meio salario mínimo, exatamente 0,51% salario mínimo.
No Litoral Norte, os índices repetem-se. Quanto ao grau de concentração da posse da terra, 17% de todos os produtores detêm 90% das terras da região e, por outro lado, 83% dos proprietários possuem a exígua área de apenas 10% da área total.
O Portal Sul ostenta situação similar, onde 2,5% de todos os produtores detêm 65% das terras da região e, por outro lado, 65% dos proprietários possuem a exígua área de apenas 6% da área total. Na sub-região das Lagoas, não é muito diferente, todavia é menos concentrada, pois 15% dos grandes proprietários detêm 60% da área total, e 35% dos pequenos possuem 1,7%.
Na Mata Sul, 7,97% de todos os produtores com mais de 100 hectares detêm 85,62% das terras da região e, por outro lado, 75,59% dos proprietários possuem a exígua área de apenas 3,38% da área total.
Conclui-se que essa concentrada estrutura de posse de terra, nas regiões agropecuárias, tem sido extremamente desfavorável aos pequenos produtores, confinando-os aos interstícios das grandes propriedades de plantação de cana, ou de pecuária de corte e de leite. Além disso, a forma como a terra foi distribuída definiu a propriedade dos outros meios de produção, tornando-se o principal fator de concentração da renda e poder, com fortes reflexos no nível de pobreza do meio urbano e, sobretudo, do rural.
O cenário social precário de todas essas sub-regiões é constatado nos baixos salários pagos aos chefes de família, no índice de mortalidade infantil, na ausência de abastecimento de água, que são graves em todos os municípios. As condições de habitação e educação deixam muito a desejar, bem como o nível geral de instrução bastante baixo. Em Paripueira, esse nível esta entre os mais baixos do Estado. Mesmo se tratando de uma cidade muito próxima a Maceió, o efeito dinâmico da educação da capital não alcança, como era de se esperar, o município. Todavia, a fração da população de 7 a 14 anos de idade tem uma frequência significativa no ensino básico e fundamental, o que, a médio prazo, gera expectativas positivas em relação a melhoria do nível de vida da sub-região.
No Portal Sul, como nas Lagoas, a percentagem de pessoas com renda insuficiente é muito elevada para os padrões nacional, regional e estadual, ou seja, 79,55% e 71,2%, respectivamente.
O Litoral Norte registra apenas três municípios com hospitais e leitos. São eles: Porto Calvo, Passo de Camaragibe e São Luiz do Quintunde, que, com 150 leitos, atendem a sub-região. O atendimento na região não é especializado. Apesar disso há, por outro lado, situação de saúde publico ainda mais critica nos 7 municípios que não possuem hospitais.
No Litoral Sul existem apenas três municípios com hospitais e leitos. São eles: Coruripe, Penedo e Marechal Deodoro, com 502 leitos no Portal Sul e 14 nas Lagoas. Mas a pequena classe media desses municípios procura atendimento medico em Maceió, pois o atendimento na região também não é especializado. Novamente, a situação de saúde publica é mais critica nos 7 municípios que não possuem hospitais. Nesses locais, os agentes de saúde fazem o trabalho de paramédicos.
Na Mata Sul, apenas um município sem hospitais e leitos. Os outros são relativamente bem servidos com um total de 197 leitos, mas mesmo assim, a baixa qualidade dos serviços faz a pequena classe média desses municípios procurar atendimento médico em Maceió. A situação de saúde publica é mais critica em Roteiro que não possui hospitais. Nesse município, os agentes de saude fazem o trabalho assistencial.
Assim, de modo geral, o baixo nível de renda per capita do chefe do domicilio, o elevado percentual de pessoas com renda insuficiente, as precárias condições de saúde e habitação, além do elevado nível de analfabetismo, contribuem, de forma sistêmica, para o elevado grau de exclusão social na região: de sete em cada dez pessoas têm renda insuficiente. Paradoxalmente, o PIBdesses municípios cresceu bastante.
Maragogi, Porto Calvo e São Luiz do Quintunde, por serem cidades pólos, possuem maior dinâmica econômica entre os melhores, porem insuficientes para estimularem o desenvolvimento regional.
O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais é Maragogi, pois, nos últimos 25 anos, 1970/ 1996, essa localidade apresentou um crescimento econômico de 4,4% ao ano. Essa dinâmica econômica não produziu uma esperada dinâmica social, pois sua taxa de atividade de 31% fica muito abaixo da taxa de Alagoas (54,9%).
A renda familiar per capita de Maragogi é muito baixa, 1,6 salario mínimo; igualmente é baixo o índice de qualidade de vida municipal. Mais de 80% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. Com esses indicadores sua dinâmica social é pouco expressiva, contribuindo muito pouco para o desenvolvimento econômico e social da região. Em outras palavras, os problemas que enfrenta a região dos Corais estão presentes em Maragogi, também, de modo significativo.
As cidades das Lagoas, por serem muito próximas de Maceió, possuem maior dinâmica econômica e entre os municípios. Suas condições de vida são relativamente melhores, porém insuficientes para estimular o desenvolvimento local sustentável.
No Litoral Sul, os municípios cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais são Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro. Nos últimos 25 anos, 1970/1996, essas localidades apresentaram um crescimento de 9,33%, 11,24% e 17,32% ao ano. Essa dinâmica econômica não produziu uma esperada mobilidade social, pois suas taxas de atividade e salario médio do chefe das famílias ficaram muito abaixo das taxas de Alagoas.
Penedo apresenta renda familiar muito baixa, 1,9 salario mínimo e um baixo índice de qualidade de vida municipal, pois mais de 72% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. Marechal Deodoro registra renda familiar de 1,7 salario mínimo, e 76% das pessoas têm renda insuficiente.
Na Mata Sul, Boca da Mata e São Miguel dos Campos, pela proximidade com Maceió, possuem maior dinâmica econômica entre os municípios. Suas condições de vida equiparam-se ás encontradas na sub-região das Lagoas.
O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais é São Miguel dos Campos, pois, nos últimos 25 anos, 1970/1996, essa localidade apresentou um crescimento econômico de 9,5% ao ano. Todavia, isso não produziu resultados importantes nos outros municípios. No próprio município de São Miguel dos Campos, não houve a esperada mobilidade social, pois suas taxas de atividade e o salario médio dos chefes de família ficaram muito abaixo das taxas de Alagoas, do Nordeste e do Brasil.
Em São Miguel, a situação é semelhante á de Penedo, com renda de 1,3 salario mínimo e um baixo índice de qualidade de vida municipal. Mais de 72% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. Boca da Mata registra renda familiar de 1,5 salario mínimo e 85% das pessoas têm renda suficiente.
Em Rio Largo, o chefe da família tem, em media 4 anos de estudos. Nos outros municípios, a escolaridade fica em torno de 2 anos. Em Branquinha, é de 1,1 ano. Em União dos Palmares, considerado o município pólo da região, a cobertura do ensino fundamental é a terceira mais baixa da região, só superando Murici e Branquinha, e os chefes de família têm, em média pouco mais de 2 anos de estudo.
Os demais indicadores de União dos Palmares, como educação, abastecimento de água, fornecimento de energia, mortalidade infantil, estão também em sintonia com os dos outros municípios. Registra três municípios sem hospitais e leitos. São eles: Branquinha, Santana do Mundaú e Messias. Rio Largo e União dos Palmares possuem dois hospitais, sendo que este município, por ser mais distante de Maceió do que Rio Largo, possui 132 leitos hospitalares que atendem a toda a região do Vale, notadamente aqueles municípios sem hospitais.
Rio Largo, que está entre as cidades de maior dinâmica econômica do Estado, sobressai-se entre os municípios do Vale. Suas condições de vida são relativamente melhores. Localizado na microrregião de Maceió, possui um acesso á escola, bem como uma mão-de-obra mais qualificada, e oferece melhores condições de vida, gerando uma classe média maior que a dos outros municípios da região.
O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais do Vale é União dos Palmares, porém, nos últimos 25 anos, 1970/1996, essa cidade apresentou um crescimento econômico de apenas 1,0%. Possui uma taxa de atividade de 53,7%, aproximando-se da de Alagoas (54,9%), mas bastante inferior á do Nordeste, que é de 66,1% da população em idade ativa.
Por outro lado, a renda familiar per capita de União dos Palmares é muito baixa, 0,42% do salario mínimo, menos que metade. Possui baixo índice de qualidade de vida, e mais de 80% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. No período de 1997 a 2000, teve uma taxa anual negativa de -3,2% na arrecadação do ICMS, e sua estrutura fundiária é a mais concentrada do Vale. A tabela 5.10 vem confirmar essa afirmativa, quanto ao Vale do Mundaú, pois, no período de 1997 a 2000, a arrecadação de ICMS caiu ou teve elevação anual pequena. A única exceção foi o município de São José da Lage, que registrou um aumento anual de 17,8%.
Com esses indicadores, a dinâmica econômica dos municípios abordados é de pequena expressividade, contribuindo muito pouco para o desenvolvimento econômico e social das regiões. Em outras palavras, os problemas econômicos e sociais apresentados estão presentes em todos os municípios do Estado, com maior ou menor gravidade, mas sempre de modo significativo.
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