sábado, 14 de setembro de 2013

Diario de um soldado da Companhia das Indias Occidentaes (1629-1632)

Documentos manuscritos avulsos da Capitania de Pernambuco: Fontes repatriadas



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SA k o "St,.*-?- **" 



IBarbaríi College liferarg 




THE GIFT OF 

EDWIN VERNON MORGAN 

(Classof 1890) 

American Ambassador to Brazil 



(1629-1632) 



AMBRÓSIO RICHSHOFFER 



1RABUZ1DO DO RARÍSSIMO ORIGINAL AIXKJUAO K ANNOTADO 
POR 

ALFREDO DE CARVALHO 

DO INSTITUTO ARCHROIA>GirO K GEOORAPHICO 
PERNAMBUCANO 






RECIFE 

TVPOGRAPHIA A VAPOR DB LaEMMERT & CoMP. 



DIÁRIO DE UM SOLDADO 



IV 



Embarcado com a sua companhia no navio De Saia- 
mandev, supportou todos os dísconfortos e privações da 
longa viagem de oito mezes que gastou a Frota para 
chegar á costa do Brazil, e durante a qual l. v °/o da 
equipagem pereceu victima do escorbuto, da dysenteria 
e de outras enfermidades. 

Fazendo parte das tropas de desembarque, achou -se 
em todos os combates que asseguraram aos hollandezes 
a posse de Olinda e do Recife, e assistio aos innumeros. 
assaltos levados pelos nossos ás fortificações dos inva- 
sores, nos dous primeiros annos da conquista. 

Como nenhum outro escnptor d'aquella epoeha, Richs- 
hoffer nos descreve a milindrosa situarão a que estive- 
ram reduzidas as forças da Companhia, encurraladas no 
âmbito das fortificações, e nâo podendo aventurasse um 
só passo fora delias sem serem logo acommettidas pelas 
nossas companhias de emboscadas e arrastadas a mor- 
tíferas escaramuças. Com a carência de viveres avolu- 
maram-se as deserções, e appareceram tratadores entre 
os próprios commensaes do general Waerdenburch, O 
processo e execução de um d'elles — o tarabantino Ver- 
dunc — nos são narrados com toda a horrível minu- 
dência de detalhes. 

E' egualmente circumstan ciada a narrativa do ínfruc- 
tifero assedio da fortaleza de Cabcdello, em Dezembro 
de 1631, assim como das depredações effectuadas no 
Rio Grande do Norte, em Rio Formoso e Porto Calvo, 
em princípios do anno seguinte. 

Até 1632 elle esteve no lirazil, e. em começo do mez 
de Abril d'este anno, foi designado, depois de alcançar 
o posto de sargento, para tomar parte na expedição que 
o Conselho Politico enviou ás Antilhas, sob o almirante 



Marten Thyszoon. com u fim de combater os hespa- 
nhdes. Depois de haver visitado a major parte d'aqucllas 
ilhas, Richshoffer regressou á Hot landa em Jins do mes- 
mo anno, e deixou o serviço da Companhia* 

* A narração que elle nos deu depois de suas viagens, 

* diz Tromel» ( l ) está cheia d" esta ingenuidade que ca> 
« raeterisa as relações dos viajantes da Idade -Média, 

* que mesmo por esta simplicidade nos forneceram ma- 

* teriaes excellentes para a historia geographica d h aquelle 

* tempo, a 

Escripto em forma de diário o livro de Riehshofter, 
pelo seu estylo descurado e pela sua caprichosa ortho- 
graphla. revela- nos o seu atithor mais habituado ao 
manejo da espada que ao da pcnna* 

Fastidioso em alguns pontos, nos quaes tem a mono- 
tonia de um livro de bordo, em geral a sua leitura 
deleita e interessa peta abundância de anedoetas, epíso-' 
dios singulares e factos typicos que bem nos patenteiam 
a crueza dos costumes e hábitos militares da epoeha, e 
sobre tudo o espírito de gananciosa rapinarem, e o baixo 
mercantilismo sem escrúpulos que presidia á celebre 
Companhia das Índias Qccidcntacs, cujo domínio ainda 
hoje mal avisados patriotas lamentam não se tenha per- 
petuado entre mis. 

Quanto ao seu valor J o comentário, basta referirmos 
que o Visconde de Porto -Seguro, único dos nossos his- 
toriadores que conheceu o diário do strasburguez, tece- 
lhe encómios, é considera- o de subida utilidade nas 

* varias omissões de Albuquerque, nos dous primeiros 
« annos das Manaria* Difirias^ (~) 



(l) Pnul TrttmeL BiWíntbtaiup Amériraiin». beípjtíg IhíH. ih.is_ r . IOÇ. 

(líj Historia, dAft Lutas 1 coch os HollRutlezes no Untzil. Lisbôfl, 
187:2. pftg. XXLL 



-• 



VI 



Traduzindo -o, esforçamo-nos, tanto quanto nos per- 
mittia a diversidade dos idiomas, por conservar as pe- 
culiaridades do original, limitando -nos a corrigir a or- 
thographia dos nomes próprios c geographieos que n*elle 
se acham todos errados, igualmente pensamos evitar 
trabalho aos estudiosos da nossa historia t convertendo 
para o calendário Gregoriano as datas nas quacs Riahs- 
hoffer servio-sedo Juliano, 

Nas notas procuramos esclarecer as passagens sus- 
ceptíveis de interpretações erróneas, valendo -nos para 
isto de quantos historiadores se tem oceupado daquelle 
período, e especialmente dos nuthores contemporâneos 
dos suecessos como Duarte de Albuquerque, Laet e 
Haers. 

Que os amadores das couzas pátrias não julguem 
ociosa a publicação deste curioso documento de uma 
das mais agitadas phases de nossa historia, e terei por 
bem pago o meu trabalho. 



Recife, 18 de Novembro de IS%. 



O Thaucctor. 



BENÉVOLO LEITOR 



Desde a epocha em que a omnipotência de Deus, pelo 
sábio entendimento e inexcedivcl esforço de possuas 
corajosas e animosas, entre toda a sorte de perigos, re- 
velou e descobri o a todo o universo as regiões desco- 
nhecidas e as maravilhosas creaturas ignoradas, por 
tanto tempo, pelos nossos antepassados, têm sido im- 
pressas e dadas á lux numerosas descripções completas 
de longas viagens ás índias Orientaes e Oc CÍ denta es, 
pouco ou nada restando a acrescentar -se -Lhes. 

Tinha eu, pois, justo motivo para esquivar- me á pu- 
blicação do presente Diário DP Descri peão de Viagem 
que, nem pela elegância do estylo, variedade dos sue- 
cesso 5, amplidão ou descripçáo eircu instanciada das terras 
e ilhas, pode approximar-se das outras t e continuar a 
conservai -a, como já ha longos annos o faço, apenas 
como recordação memorável para mim c os meus. 

vias, as infinitas obras éà milagroso Creador não 

3 em ser jamais assaz louvadas, e talvez neste livri- 



VMl 

nho, produzido, não por frívola vaidade, mas simplesmente 
para louvar ainda que mesquinhamente a grande cle- 
mência de Deu* para yommigo, se encontre um ou outro 
facto digno de reparo. 

Anima -me a segura esperança de que esta minha in- 
tenção por ninguém será mal apreciada, tanto mais que 
ninguém pode vituperar -me por haver eu, em verdes 
annos, decidido- me a emprenender algo de singular apoz 
o louvável e raro exemplo do meu fajlecido avo, Am- 
brósio Trauschen, que loi mercador n'esta Cidade Livre 
do Santo Império de Strasshurgo, Intendente do Arsenal 
e Membro do Excellentisaimo Grande Conselho, e que, 
impellido pelo glorioso desejo de esforçar -se, entrou 
ainda bem joven ao serviço de Veneza, e 3 no anno de 
1571, expóz corajosamente a sua vida na celebcrrima 
batalha naval pelejada vi danosamente pela mencionada 
Republica e os seus Alliados, sob o muito íllustre cominando do Duque João da Áustria , contra o inimigo 
hereditário da Cbristandadc* c na qual recebeu gloriosa 
ferida produzida por duas bailas de mosquete, na parte 
grossa da coxa, e que realizou uma viagem a Tunis, 
na Africa, em cuja fortaleza colheu bria preza de du- 
cados turcos e bellas antiguidades- 

Infelizmente o meu procedimento teve por lamentável 
consequência ser imitado pelo meu fallecido irmão Da- 
niel, que morreu , no Brazil, de morte natural no mesmo 
quartel em que eu estive alojado. 

O benévolo leitor queira, pois, acolher com compla- 
cência esta minha bem intencionada obra e delia tirar 
proveito. 



r 




! ; *i* ífc *i: fe dt íf> 4l s' 1 * 4* •> _- 



Em fins de 1628 resolvi, com alguns bons Anno 
camaradas adiante mencionados, emprehen- lfi29 

der uma viagem á índia Oriental, e achan- 
do-nos ? seis mezes mais tarde, na Feira da 
Paschoa de Francfort partimos para realisal-a. d**Iô de vi*. 

jar, 

Descendo o Rheno chegamos em paz a 
Amsterdam, não sem termos, durante o Ca* chocada i Sou 

landa. 

minho, corrido grande perigo de corpo e 
vida, por cauza das guarnições hespanholas 
que ainda existiam em vários lugares. A 
nossa intenção era seguirmos para a Índia 
Oriental, mas, como não se nos offerecesse 
oecasião para fazei -o 7 e a Companhia das 
índias Occidentaes estivesse recrutando for- 
temente f fiz -me alistar junto com o meu serviço militar* 
camarada Felippe de Haus, por oito florins 
hollandezes mensaes, um shilling de arrhas ^do mensat 
e outro tanto de meio-soldo diário até ser- 
mos passados em revista. 



Anno A 21 reuniram-se todos os soldados alis- 

1629 tados na Casa das Índias Occidentaes, onde 
^íaio 

primeiramente verificamos praça, e depois 

Juramento ao- prestamos o juramento solemne de, em caso 

mne ' de abordagem e de preferencia a render- nos 

ao inimigo, lançarmos fogo ao paiol da 

pólvora, afim de ambos os navios voarem 

pelos ares. 

Em seguida cada um recebeu dous mezes 
de soldo adiantado afim de aprestar- se para 
a viagem, e depois desfilamos pela cidade 
de Amsterdam, com as bandeiras desfral- 
dadas. 

N'esta occasião coube-me a honra de con- 
duzir a bandeira da nossa companhia até 
os transportes ; não que o merecesse, mas, 
porque d'entre todos era o mais vistosa- 
mente trajado, e levava ao lado uma espada 
os trajes mais prateada e no chapéo bellas plumas de cô- 

honrados que a 

pessoa. res de laranja, branca e azul. 

A 25 fomos conduzidos para Vohlwick, 
onde, em presença do muito nobre ? severo 
e esforçado Sr. Coronel Diederik van Waer- 
denburch e vários Srs. Commissarios da 
Companhia das Índias Occidentaes, fizemos 

Revista passa- exercício e fomos passados em revista. Em 

da em frente á • j r i 

cidade. seguida foram entregues as patentes, e cada 



companhia prestou juramento aos seus orB- Anno 
ciaes e ás novas bandeiras, 16-9 

Meus camaradas e eu ficamos na compa- * ai °" 
nhia do Sr. Capitão Marten Petersen Day; o* «oinM-bo* 
eu, porem, tive que conduzir em vez da 
bandeira um mosquete. Demos varias sal- 
vas e fomos novamente conduzidos para os 
transportes, depois de nos havermos regalado 
com pão, queijo, manteiga, arenques frescos 
e cerveja, do que mais tarde sentimos grande 
falta. 

Vieram, porem, a bordo alguns compa- 
triotas nossos, que trouxeram um bom vi* 
nho de Franca e beberam comnôsco á des- romparriota* 

íl<*!-]MHlt*ni-gtj a- 

pedida. Quando se retiraram nos lhes rauveimeme de 

rui*. 

disparamos em honra repetidas vezes os 
nossos mosquetes, até perdêl-os de vista. 

A 30 todos os soldados alistados foram o**atii4doaâo 
conduzidos nos transportes para Texel, e Texei. 
alli embarcados nos grandes navios de guer- 
ra, A nossa companhia, forte de 1H4" ho- 
menSj foi dividida por dous navios, ficando 
100 homens no Fama e H4 no De Saía- 
mander, entre os quaes eu e os meus ca- 
maradas. 

Era este um bello navio inteiramente no- 

t . T " Aruiivicento da 

com trez toldas ou cobertas, na media muu navio. 









Anno e na inferior das quaes estavam postadas 

1629 38 peças de artilharia, inclusive seis meios- 
10 • canhões de bronze. 

Ficamos ancorados alli todo o tempo até 
que o nosso navio ílcasse bem provido de 
viveres e munições, que diariamente nos 
eram enviados de Amsterdarn em transpor- 
tes bem carregados, 

A 23 levantamos, em nome de Deus, a 
Partimos de nossa ancora e sahimos de Texel para o 

Texel em nome i i_ j n t j r r 

de Deus. mar pelo chamado Buraco Hespanhol, com 

a ajuda de Deus e o auxilio dos marinhei- 
ros. Na occasião da partida éramos treze 
navios, incluindo dous da carreira da Guiné 
e um mercante. Tivemos um fortíssimo 
vento S. O., a ponto de um dos nossos 
hyates (chamado Staten Landt) soffrer ava- 
rias, soltando-se n*elie um canhão e sendo 
levado pelo vento outra vez para junto de 
a maioria da Texel. Como o mar estivesse muito agitado 

tripolaeào fica _ , . „. . 

eiyôada. e fizesse o navio jogar muito, a maioria da 

tripolação, tanto marinheiros como solda- 
dos, estiveram durante vários dias enjoados, 
não podendo muitos ingerir nem conservar 
no estômago alimento algum. 

Durante os dias 24 e 25 tivemos ventos 
contrários e calmarias r e pela tarde doeste 



ultimo avistamos Kueckers Thuen; juntaram- Anno 

1AOQ 

se-nos mais quatro navios de guerra hol- T , 
t , n Junho, 

landezes. Quatro navi08 

Na tarde de 26 avistamos 5 velas , que de put,rra ' 
á noite no quarto da prima, approximaram- o quarto da 
se de nós. Chamados á falia responderam 
serem navios mercantes hollandezes, pelo 
que os deixamos passar. 

Na manhã, de 28 velejamos entre a In- 
glaterra e a França, e passamos por dous 
navios de guerra inglezes, aos quaes fizemos Amainar veias 

, i . , . ^ ante os navios 

as honras devidas amainando as velas. Pes- reaes. 

. . Ca valia epual 

camos n este dia muitas cavallas e vimos á truta, ooin- 

, . . , . , nho ra. t0 maior. 

grande quantidade de outros peixes cha- 
mados golfinhos. Bom P eixe - 

A 29, no quarto d'alva, devisamos a so- 
tavento 5 navios que passaram rapidamente 
por diante de nós. Como os nossos mari- 
nheiros suspeitassem que eram de Dunker- 
que, dirigimo-nos sobre elles. Um dos nos- 
sos navios, De Swarte Leeuwe^ porem, que 
lhes fallára communicou-nos serem navios 
tem carregados da Companhia das índias Navios bem car- 

r\ . > , , regados das In- 

Unentaes, trazendo ja nove mezes de via- dias orientaes. 
gem. 

Na manhã de 30 tivemos calmaria e por 

(1) LeSo Negro. 



Anno isto lançamos o ferro ; ao meio-dia soprou 

1629 um b om vento N. O. pelo que içamos a 

un °* ancora e fizemos de vela. Pescamos alem 

boM 8 pê?£e 8 s5 ° dos peixes já mencionados muitas espadas. 

Julho ^ a tarc * e ^ e ^ juntou-se-nos o navio Hol- 

o substituto do landia, no qual embarcara o Sr. Thomas 

Sr. Almirante. _. , . 

Sickes, que provisoriamente occupava entre 
nós o posto de almirante. 

A 3 avistamos a bombordo a costa e a 
Passamos um noite, quando já era bastante escuro, des- 

navio desconhe- 
cido, cobrimos no meio da nossa frota um navio 

desconhecido. Chamado á falia respondeu 

ser bom amigo de Amsterdam ; os nossos, 

porem, suspeitaram -no de ser de Dunker- 

que, mas, não o sabendo ao certo, tivemos 

que deixal-o passar em segurança. 

Ao romper do dia 4 avistamos a bom- 
bordo 3 navios, que nos fugiram desappa- 
recendo em breve no horisonte. A' tarde 
Dartmouth. lobrigamos Dartmouth. 

Durante os dias 5, 6 e 7 bordejamos ao 

longo da costa da Inglaterra, e no ultimo 

um navio ava- encontramos um navio que soffrêra bastante 

avarias, tendo perdido o mastro da ré e a 

verga d 'avante. ; 

o maré fundo A 8 soprou novamente um bom vent 

no Canal. .... 

e ao meio- dia lançamos o prumo acham 



com 70 braças fundo de meia ; á tarde Anno 
avistamos 6 velas, a bombordo ; nos dirigi- 1629 

mos sobre ellas que n porem , não procuraram 0i 

evitar-nos, ficando toda a noite de conserva 
com nos co. 

Na manhã de y) amainamos as vetas da kA mivioa in- 

. d &Lí-i^ da cm-- 

gavea e espetamos os mencionados f» na- mm tio Eitrei- 
vios ; eram mglezes, 3 dos quaes se desti- tuviu». 
navam ao Estreito e 3 á ilha de S. Chris- 
tovão. 

A 10 lançamos de novo o prumo não 
achando fundo a varias centenas de braças, 
e, sendo a agua muito azul, julgamos já 
ter passado o Canal e acharmo-nos no Mar 
de Hespanha, o qual é insondável na ex- oMardeHes- 

,~j ., ... , , . . nanha é inson- 

tensao de muitas milhas, o que, tendo sido lavei, 
mandado examinar pela rainha Izabel da 
Inglaterra, foi verificado. 

Nesta data, começou no nosso navio, a 
distribuição, pelos tripolantes, de viveres e 
bebidas por porções, ou, como costumavam 
chamar — rações — , e da seguinte maneira. 
Cada tripolante recebia por semana 4 1 / 2 li- 
bras de biscoito, l fe libra de manteiga e um 
pouco de vinagre. Oito homens collocavam- 

juntos para comer em volta de um fardo 
meza, das quaes, porem, não havia uma 



Anno só a bordo, e para isto nos servíamos do 

1629 convez, sem termos toalhas e muito menos 
°* guardanapos. Tinhamos por semana dous 
dias de carne e um de toucinho para o 
jantar, junto com um prato redondo de fa- 
vas, 1 / 2 libra para cada um ; isto era aos 
Domingos, Terças e Quintas -feiras. Nos 
demais dias davam -nos um prato de aveia 
mondada, ou cevada ou ervilhas, e algumas 
vezes bacalhau, porem, de tudo tão pouco 
que dous homens com bom appetite teriam 
devorado as rações dos oito. 

Diariamente tinhamos uma medida d*a- 
gua, a maior parte das vezes fétida, e cada 
tripolante recebia trez grandes queijos fla- 
mengos para toda a viagem. O nosso ca- 
marada Felippe de Haus deu a Spies e a 
mim os seus trez queijos, por não poder 
comêl-os, devorou, porem, as nossas 18 li- 
bras de biscoito, emquanto estivemos doen- 
tes (do que se terá noticia ulterior a 15 de 
Julho). 

No dia 11 o Sr. Thomas Sickes, que 

commandava em lugar do Sr. Almirante, 

o que significa fez içar uma bandeira branca para signal 

bandeira bran- . .,« ^ •_■*•■■ 

ca. que todos os capitães fossem a bordo 

sua náo. O que tendo feito, cada um re 



beu ordens escríptas , e em seguida nos Anno 
afastamos d*elle com o nosso navio e trez 1629 

hyates. Julho - 

A 12 pelo meio -dia dispararam um tiro 
a bordo do hyate Amzrsfoort e desferraram 
as velas ; n f esta occasião lobrigamos um 
navio desconhecido que alcançara o referido 
hyate. Soubemos ser um flibusteiro ínglez. Flibusteiro id~ 
A 1 tarde o Sr. Almirante juntou-se-nos no- &*** 
vãmente. 

A 13 nos afastamos de novo dos outros; \ emm muftos 
vimos muitos golfinhos e á tarde terra a ****** âlgç **- 
bombordo. 

A 14 nos reunimos novamente e ao pôr 
do sol avistamos o cabo Rocca. Levamos Ctlbll liUL% , a 
a proa contra elle e durante a noite deixa- 
mos o navio derivar ao longo de terra. 

Na manhã de 15 os nossos navios avi- 
zinharam -se tanto do mencionado cabo, 

que podemos ver o rio e porto de Lisboa, río e p^to d& 
■ t-, * , t - j ■ té&hÒXi&n Por- 

em Portugal, o qual estava cheio de navios, t Bfíft i, 

a ponto dos mastros formarem como uma 
floresta secca. Nos despejamos os canhões 
sobre elles na esperança de provocar alguns 
para fora. Responderam -nos em grande nu- 
mero com as peças grossas, conservando-se, 
porem, seguramente ancorados, pelo que 



10 



Anno nos afastamos da costa e fizerr.o-nos ao 

1629 largo, 
uino. ^ t ar( j e s,. Almirante chamou nova- 

mente a bordo todos os capitães, depois do 
os nossos na- que nos dividimos ao anoitecer. O navio 
em 8 dua] partf- Hollandia e o Fama, junto com trez hyates, 
tomaram rumo das ilhas Canárias, e nós 
com outros trez o das ilhas Flamengas, ( r ) 
afim de cruzarmos em busca de navios ini- 
Fortes dores de migos. N'esta epocha soffremos eu e os 

«abeça entre a , ., . 

nossa tripoia- meus camaradas, assim como muitos outros 
* °' no nosso navio, de fortes dores de cabeça. 

Esta moléstia foi attribuida a estarem as 
madeiras e cordagens ainda novas e forte- 
mente alcatroadas, o que produz um cheiro 
muito insalubre. Porem o bom Deus res- 
tituiu-nos a saúde depois de algumas san- 
grias. 

Durante os dias 16, 17, 18 e 19 nos di- 
rigimos para O., tendo um bello tempo e 
vemos as pri- bom vento. Avistamos então pela primeira 

meiras tartaru- . . , 

g as. vez duas tartarugas bastante grandes. 

A 20, 21 e 22 continuamos com o mes- 
mo rumo, havendo, porem, completa cal- 
maria. Vimos de novo duas tartarugas, pelo 
que um dos nossos marinheiros nadou pa*-=» 

(1) archipelago dos Açores. 



11 



ellas e pegou uma, emquanto que a outra Armo 
afundou -se como se fora um pedaço de 1629 

chumbo. Elias são, porem ? pegadas no u °* 
mar da forma seguinte : algutm nada de como *e r> e - 
manso para ellas e as vira rapidamente; np, 
quando deitadas sobre o casco não podem 
voltar-se e ainda menos mergulhar, 

A 23 avistamos a pequena distancia uma 

r " Ventos uma 

grande baleia, que expellia agua a conside- s™** b,llBlm - 
ravel altura em um jacto bastante grosso, 
De todos os navios lançaram ao mar barricas 
vazias para que com ellas brincasse, e nos 
afastamos. Deparamos, porem f com outros pescam^ 
peixes, chamados dourados ( que sem du- ^amad^raíu- 
vida são caçados pela baleia) junto ao bojo ra úh ' 
do nosso navio t dos quaes, dentro de meia 
hora ? pescamos uns vinte. São compridos 
de três pés e muito saborosos, 

A 24, vendo a bombordo uma vela, içamos 
os nossos cutelos para caçai - a ; porem co- um navio hea- 
meçando a chover e a escurecer perdemol-a SéJ^ nt>B **" 
de vista. Si era hespanhola (como o nosso 
Capitão, que vio-a pelo óculo, a considerou 
sempre) foi-lhe grande felicidade o máu 

a madrugada de 25 avistamos a pri- 
ira das ilhas Flamengas, chamada Santa M*rií. deBllllU 



Anno 

1629 
Julho. 

Muitos milha- 
res de peixes 
vGadores. 



Ilha de 8. Mi- 
guel. 



Navios da nos- 
sa frota trazem 
aviso do Sr. Ge- 
neral. 



Maria, a qual é habitada por gente hes- 
panhola. 

N'esta região vimos peixes que voavam 
aos bandos; erarn do tamanho de arenques, 
tendo na frente junto á cabeça compridas 
barbatanas. Não podem, porem, voar a 
maior distancia que a de um bom tiro de 
mosquete , em quanto as barbatanas estão 
molhadas; logo que estas seccam não po- 
dem ir mais tonge. Assim muitos cahiram 
sobre o nosso navio e alli ficaram . Os 
dourados atraz mencionados são seus ini- 
migos : perseguem -os e devoram -nos. 

A 26 avistamos á nossa direita a outra 
das ilhas Flamengas, chamada S. Miguel, 
Amainamos as nossas velas e, deixando S. Ta 
Maria a estibordo, pairamos durante a noite. 

A 27 desferramos de novo as velas e fize- 
mos proa para terra , na direcção de S < S , O , 

Na manhã de 2H, antes do almoço , avis- 
tamos duas velas, abaixo de S. Miguel, 
que vinham ao nosso encontro- Pertenciam 
á nossa frota e eram De Swarte Leemve e 
Den Ouwevaer* ( l ) 

Os seus capitães vieram a bordo do nosso 
navio e nos participaram que haviam partr 



(1) A Cegonha. 



13 



de Goeree, a 27 do passado t com o nosso Anno 
General Hendrik Corneliszoon Loncq, de 16.9 

quem receberam ordem de se dirigirem para 
as ilhas Flamengas, e alH cruzarem a pro- 
cura de navios inimigos. Em cumprimento 
do que deram caça a dous hamburguezes 
e a um navio hespanhol até debaixo dos 
fortes da cidade de S. Miguel. 

Na madrugada de 29 encontramos uma Caça ^ ttrajl 
barca hespanhola ? abaixo da referida ilha, ^"a* Mp *" 
que navegava próxima á terra. Nós a per- 
seguimos tanto quanto nos permittia o calado 
dos nossos grandes navios, e atiramos va- 
lentemente sobre ella com os canhões, sem 
conseguirmos que amainasse as v^as. 

Os do forte e dos trez navios acima men- 
cionados faziam fogo forte sobre nós no in- 
tuito de afastarem -nos da mesma barca. Não a M&rw n eí - 

^, t . } » ii 6*»fc* encalha 

obstante tanto nos approximamos d ella 
que finalmente correu sobre um escolho e 
encalhou. 

Percebendo isto os hespanhóes do forte 

e da cidade sahiram aos bando^ a pé e a 

cavallo, e salvaram a maioria dos tripolan- a tripa l^so í 

*"" muitos dos quaes vimos depois na praia 

amiza. Pouco depois mostrou -se no 

* j. Um ontm na- 

um outro navio j pelo que nos afasta- tío no* ^np*- 



14 



Anno mos de terra e caçamol-o até perdei -o de 

1629 vista ao anoitecer. 

Julho. A 30 e 31 bordejamos em frente a S. Mi- 

guel, e avistamos de novo uma vela á qual 
demos caça durante todo o dia e a noite. 
Na manhã seguinte dous dos nossos hya- 
tes — Den Ouwevaer e De Brack — navega- 

um flibusteiro ram sobre ella e verificaram ser um flibus- 

ingles. ... ~ .... 

teiro inglez e nao um navio inimigo. 

Comtudo trouxeram-nos a bordo o Capitão, 

o qual sendo perguntado porque fugia assim 

de nós, respondeu que tendo, com outros 

navios inglezes , avistado abaixo da ilha 

carraças hes- Terceira uma carraca hespanhola (que são 

pannolas afio os 

maiores navios, os maiores navios que ha, nos quaes po- 
dem embarcar mais de mil homens) alli 
ancorada, julgou que fossemos navios de 
guerra hespanhóes encarregados de com- 
boial-a. Disse- nos também que o Capitão 
Kleudter, de Amsterdam, com muito pouca 
gente, saqueiára e queimara uma cidade 
ao rei de Hespanha. Presenteou o nosso Ca- 
pitão com um cabrito selvagem e partio. 

Agosto. A 2 e 3 seguimos com rumo para a ilha 

PicoFiamen- Terceira, e vimos á tarde o Pico Flamen- 

^ go (*) e a ilha de S. Felippe. 



(1) Pico dos Açores. 



Ifl 



A 4 e 5 foi tal a calmaria que tivemos Anno 
que deixar o nosso navio pairar abaixo do 1&-9 

Fico Flamengo. Agosto. 

A 6 resolveram os capitães seguir para 
as ilhas Cariarias, por se acharem nos na- oe#oortratoé 
vios muitos tripolantes doentes e atacados maiigni." 
de escorbuto t que é uma moléstia maligna 
da qual morreram muitos, que serão men- 
cionados. 

A 7 chegou-se a nós o flibusteiro acima doub flibuitei- 
referido e á noite ainda um outro. Tm Bgef@i * 

A 8 juntou -se- nos um navio mercante 
hollandez que fora ás referidas ilhas carre- 
gar vinho das Canárias. Nosso Capitão e um navio 
o mercador foram a bordo d'elle, e o patrão íandeznos prV 
do navio presenteou - os com um pequeno 
barril do mesmo vinho, do qual foi destri- 
buido um pouco pelos doentes, alem de 
muitas laranjas e romães (que são do ta- 
manho de um punho , têm a casca com- 
pletamente cor de purpura, e são muito 
agradáveis ao paladar). 

Os marinheiros, porem, que estiveram a o vinho das 
bordo do navio mercante embriagaram -se gíadavS e for " 

te 

~~r tal forma que foi preciso içal-os a bordo 
n cordas, e o vinho forte quasi lhes pa- 
isou o coração. 



\(y 



Anno Na madrugada de 9 morreu no nosso na- 

1629 vio um soldado, de nome Hans Linckhosz, 

£ os 0# o qual tinha gritado toda a noite: * Hans 

Morre o pri- Linckhosz não está aqui!»— * Hans Linck- 

meiro no nosso -*,'»•** 

navio. hosz nao esta aqui ! » roi"em a morte nao 

se deixou despedir, e assim teve elle que 
ser o primeiro, em nosso navio, cujo enterro 
se fez, segundo o costume maritimo, do 

cerimonias modo seguinte: A' tarde foi elle cozido em 

fúnebres a bor- . , . , . 

do. uma vela, trazido para a coberta superior e 

encostado ao mastro grande emquanto fa- 
zia-se a oração ordinária. Depois varias 
pessoas pegaram-no pela cabeça e pelos pés, 
contaram — um, dous, trez — e o lançaram 
por cima da amurada ao mar, onde sem 
duvida será devorado pelos peixes e não 
o mar é um pelas cobras e vermes. O sepulchro era tão 

grande sepul- . , . , . , 

caro. grande, amplo e fundo que, ainda mesmo 

do nosso mais alto cesto de mastro, não o 
poderiamos abarcar com a vista. Deus Omni- 
potente concêda-lhe uma alegre ressurreição. 
A 10 tivemos calmaria, e os carpinteiros 
occuparam-se em limpar o navio exterior- 
mente. 

Nos dias 11, 12, 13, 14, e 15 navega- 
mos com rumo O. S. O., e neste ultii 
avistamos finalmente das ilhas Canárias 



17 



chamada Palmas. Deixamol-a a estibordo Armo 

« velejamos adiante. 1629 

Agosto, 
Na manhã de 16 avistamos a ilha Pe- 
quena Canária, com o pico das Canárias, im* Pequen* 
que e um monte muito alto cujo cimo, em Pico âl3 
tempo claro, pôde ser visto do mar a 60 SE^ 1 " é "^ 
milhas de distancia, principalmente em Ju- 
lho e Agosto. 

Ao anoitecer os hespanhóes ascenderam 
fogueiras, em vários pontos em terra, afim Fogueiras dos 
de darem a perceber aos habitantes da ilha ebpa 
a existência de navios inimigos nas vizi- 
nhanças; nós, porem, viramos de bordo e 
levamos a proa para o largo. 

A 17 e 18 bordejamos afim de dobrar a Lobrigamos 
Pequena Canária. A' tarde lobrigamos diver- ní que coK>- 

. _ ramos hespa- 

sos naviqs de guerra, que suppozemos fizes- nnóes. 
sem parte do comboio da carraca hespanhola 
de que nos dera noticia o flibusteiro inglez, 
a 1 do corrente. Em consequência apresta- 
mo-nos para combater; desembaraçamos as 
peças de tudo, e foram escalados para ellas 
os artilheiros e serventes. 

Os soldados, com os seus mosquetes, fo- 
i postados na coberta superior. 

-vrriaram-se as bandeiras ordinárias sendo combater? pM * 



18 



Anno içadas bandeiras de sangue, ( l ) e cobertas 

1629 as amuradas e os cestos dos mastros com 

Agosto. p annos vermelhos. Comquanto apenas con- 
tássemos 6 navios, havíamos resolvido ir ao 
encontro dos hespanhóes, pelo que os con- 
siderávamos á distancia, em virtude das 
bandeiras vermelhas que traziam. Quando , 
porem, chegamos mais próximos d/elíes re- 
conhecemos serem 8 navios nossos, que, 
com o nosso Sr. General, durante a noite 
se tinham reunido á frota, e os prepara- 
tivios para lucta transformaram-se em tiros 
chega á frota de alegria e salvas de regosijo. Em segui- 

neraL da o Sr. General fez vir a bordo da sua 

náu todos os capitães e informou-se si ha- 
víamos encontrado o Sr. Almirante, que pas- 
sára-se do seu navio para o hyate Anurs- 
foort e, junto com o Swol, afastára-se d*elle 
o sr. Aimi- para procurar-nos. Tinha ordem de voltar 

rante perdido. ' , , 

dentro de trez dias, e como ja fossem de- 
corridos oito temia-se que lhe tivesse acon- 
tecido alguma desgraça. 

A 19 o Sr. General reunio novamente a 
8r P AiSante d0 bordo da sua náu, todos os capitães, e em 



(1) Os hollandezes costumavam provocar o inimigo k cumtjate 
desfraldando uma bandeira vermelha, «tu cujo centro estava pin- 
tado um braço nú sustentando uni alfange, Morean. Hittoirt de» 
dernier8 troubles des Hollandais au firtuiL Paris, 16'jI, pag. 73 t 



19 



seguida nos dividimos em duas partidas Anno 
afim de procurarmos o Sr, Almirante, . w2? 

Chegamos á vista da ilha Grande Caná- 
ria que é a mais fértil das ilhas Canárias, uh* arwiao 
e d*onde Sua Magestade El- Rei de Hespa- 
nha recebe o melhor vinho, 

A 20 e 21 continuamos a procura do 
Sr, Almirante com mais dous hyates. En- 
contram ol -o finalmente a 22 abaixo da re- 
ferida ilha. Como tivéssemos derivado muito Achamos o sr. 

AhiintiiU-. 

entre as duas ilhas a ponto de nao poder- 
mos bordejar para voltar a reunirmo-nos ao 
Sr. General, o Sr, Almirante resolveu fazer 
de proa para a de S. Vicente, por nos ser o 
vento propicio. Ficamos, porem, ainda o 
outro dia em frente á terra. 

A 24 nos afastamos novamente de terra 
e tivemos um vento forte. Quando come- 
çou a clarear bem o dia vimos que uma 
barca bespanhola navegava justamente entre 
nós, O Sr. Almirante, que estava mais perto o sr. Aim^ 
d ¥ ella, fez- lhe logo vários tiros de canhão; 
a barca longe de amainar as velas correu 
d n elle diante do vento. Nós estávamos com 
o nosso navio a sotavento. Como o Sr. 
mirante percebesse que a barca era muito 
leira e cobiçasse a honra de conquistar 



20 



Anno a primeira preza, fez também largar todas 

1629 as velas. Refrescando o vento atirou ao mar 

Agosto. Q mas tro grande junto com as vergas e os 

marinheiros que estavam no cesto. Em 

vista d'este accidente o capitão hespanhol re- 

Fasemosfôgo cobrou a esperança de escapar aos demais 

constante cora* . ■ -. ■ * 

canhões e mos- navios, e, como depois nos disse, princi- 
quetes. palmente ao nosso que era o maior. Avi- 

zinhamo-nos, porem, tanto d'elle que com 
palanquetas fizemos- lhe em pedaços a vela 
da mezena e as cordagens, não obstante o 
que içaram nova vela e amarraram como 
poderam os cabos. Nós proseguimos des- 
pedaçando- lhe as cordagens com palanque- 
tas e balas de mosquete, até que finalmene 
o nosso artilheiro acertou-lhe no mastro da 
a barca ó mezena e metteu - lhe uma bala abaixo da 

vencida pelos,., ,, t^í.~ h 

tiros. linha d agua. Então elles amainaram as ve- 

las e gritaram : Bueno quartel/ — o que quer 
dizer: — bom quartel. Como agitassem os 
chapéos fazendo signaes de que iam ao 
fundo, o nosso Capitão mandou arriar o 
bote e dirigio-se, com o nosso mercador, 
oshespannóes soldados e marinheiros, para a barca. Re- 
compuseres ^ pararam primeiro as avarias, e trouxeram 
fim ° 8, para o nosso navio o patrão (que era l 

valente homem, de boa apparencia, e tin 






21 



só um braço, lhe havendo sido o outro arre- An no 
batado por um tiro disparado de um navio ^ 16-9 
bollandez ao qual conseguira escapar) junto A £ osto - 
com os principaes senhores, cinco mulheres 
e duas creanças. Referiram elles que ha- 
viam partido de Hespanha com D, Frede- Fr(fU hm ^ 
rico {^ e muitos outros navios ; o vento 1,holAr 
fresco os afastara da sua frota e durante a 
noite encontraram -se entre a nossa. Conta- 
ram também que o nosso Sr. General, com o sr. amarai 
os seus oito navios, achára~se entre a referi- ^mT * trtvoi 
da forte armada hespanhola, mas que conse- 
guira atravessai - a com pequenas perdas* 
Na barca aprisionada achou - se , não só 
grande quantidade de vinho de Hespanha 
e azeite, como também meias de seda, toda 
a sorte de objectos preciosos, prata e di- vaioraauar- 
nheiro, o que tudo foí calculado em tone- 
lada e meia de ouro. Fizemos caminho 
para a ilha de S. Vicente, com rumo de 
S. O. e O, S. O. 

Durante os dias 25 , 26 , 27 e 28 guar- 
damos o mesmo rumo, e ao meto-dia d T este 
ultimo avistamos uma das ilhas do Sal, 
chamada Santo António, que deixamos a nha do santo 

Autemio. 
fl) D. Fabrique de Toledo Gsorfo. 



Anno estibordo. Estivemos toda a noite em calma 

1629 deixando o navio derivar. 
Agosto. 

A 29 trouxemos da barca para nosso na- 

osbepanhóes vio mais hespanhóes que foram postos a 

tramam uma 

perfídia. ferros. Motivou este nosso procedimento o 

sabermos que elles estavam dispostos a in- 
cendiar a barca e salvarem -se para a terra 
no bote pequeno. Teriam executado facil- 
mente este plano, pois, os nossos marinhei- 
ros e soldados, que os guardavam, amavam 
demasiadamente o vinho de Hepanha, e uma 
vez que os embriagassem poderiam cortar- 
lhes os pescoços. Temendo, porem, que o 
seu patrão e os outros tivessem que pagar 
o crime, amedrontaram -se e assim foi des- 
coberta a machinação. 

A 30 e 31 bordejamos em frente á ilha 
de S. Vicente, não podendo entrar no porto 
por cauza do vento contrario. Collocamos 
na barca uma verga nova para que podésse 
seguir-nos melhor. 

Setembro. A 1 continuamos bordejando ainda, e ti- 
Meio quartilho vemos que rebocar a barca. Recebemos 
canada. itav ° de meio quartilho de vinho. 

5 navios no A 2 avistamos no porto de S. Vicente 5 
cente. deS ' Vl navios com bandeiras hollandezas, sendo 



23 



quatro da Zelândia e De Swarit Ruyter (*) An no 
de Amsterdam. Vários capitães e marinhei- l ^-9 

ros tTelles vieram a bordo e referiram que ^ etembr0 - 
já havia cinco semanas que alli nos espe- 
ravam. Não podendo entrar para onde elles 
estavam por cauza do vento contrario, na- 
vegamos para um outro sitio onde lançamos 
ferro. 

A 3 vários dos nossos soldados e mari- 
nheiros foram escalados para irem á terra 
pegar alguns cabritos. Sendo estes animaes 
muito bravios não conseguiram pegar um 
só, e dirigiram-se para os navios acima re- 
feridos com o fim de saberem de alguma 
novidade. N'elles lhes contaram que o ca- 
pitão do hyate Overijssel e vários soldados 
tinham sido mortos quando, com o Sr. Gene- 
ral, bateram-se atravez da frota hespanhola. 

A 4 e 5 pescamos tantos peixes chamados 
raias , quantos a tripolação quiz comer. 
Foram também enviados a terra soldados Tartarugas 
e marinheiros afim de pegarem tartarugas, t\LK' 
das quaes trouxeram para bordo um bote 
cheio. 

Entre ellas havia uma tão grande e velha uma tartaruga 
ue, com trez de nós em cima, ainda se ar- Snte^aíde*" 

(1) Cavalleiro Negro. 



24 



Anno rastava. A' tarde veio o Sr. Almirante ter 

1629 comnosco em uma pinaça e àvisou-nos que 

Setembro. Q Sr General com 10 navios tinha entrado 
na outra bahia ; em vista d" isto içamos a 
ancora e fizemos de vela, bordejando toda 
a noite com claro luar. 

A 6 alcançamos com grande esforço e tra- 
balho os navios acima referidos. A" tarde 
chegam s na- chegaram os navios Dê Trouw, ( l ) e Groen- 

vios hollande- . 

zes com um tnghen, e o hyate Staten Landt , trazendo 

francez. 

um navio francez, no qual havia quatro pe- 
quenas peças e estava carregado de cal e 
pedras. A gente que o tripolava fugio em 
um bote para a ilha de Porto Santo, 

chega o Br. A 7 entraram também no porto o nosso 

Vice- Almirante. , r . t . , • t- / 

Vice- almirante e o navio Enchuysen , com 
os quaes prefizemos o numero de 28 velas. 

A' 8 e 9 ficamos ainda a bordo dos na- 
vios e no dia 10 foram postos em terra os 
Srs. Officiaes e soldados, para alli, no lu- 
gar da nossa reunião, fazerem um acampa- 
mento e procederem a exercidos, até que se 
reunisse toda a armada. Os carpinteiros 
dos navios começaram também a construcção 
de varias pinaças. 



(1) Â Lealdade. 



No dia 1 1 foi encontrado na praia do Anno 
porto o cadáver de um homem que, estando l f >-' u 

pescando, se afogara. SSSSÍIS 

Durante os dias 12, 13, 14, 15, 16 e 17 ^gfe^^ 
cada companhia construí o as suas barracas, SS»*b!SÍo 
todas bem alinhadas formando ruas, e fei- SieíS». ,lc * mp *" 
tas com ramos verdes e cobertas com taboas 
e gramma, tudo o que tínhamos que ir 
buscar, em uma grande floresta, á distancia 
de mais ou menos uma hora do acampa- 
mento. 

A 18 o Sr. General enviou dous hyates 
á ilha de Sant ' António afim de trocarem Bandidos na 
fructas para refresco com os bandidos que Anfonfo. 8ant ° 
alli moram. 

Voltaram á tarde referindo que ainda era 
demasiado cedo para colhel-as, porem, que, 
um mez mais tarde, nos proveriam d'ellas ; 
contaram também que um navio da carrei- 
ra das índias Orientaes se perdera junto 
áquella ilha. 

A 19 fez-se entre a nossa tripolação a 
partilha do saque da barca hespanhola, Ruim preza, 
mas, como andassem n'ella muito irregu- 
larmente, coube -me apenas, pelo meu tra- 
lho, panno de linho para um par de cal- 
' e umas meias. A' tarde o Sr. General 



26 



Anno mandou de novo 2 hyates á ilha já meneio- 

1629 nad a. 
Setembro. 

A 20 voltaram os referidos dous hyates 

sem nada haverem conseguido, e á noite 
Mon-e i quar- morreu no navio um dos nossos quartel-mes- 

tel- mestre do , . ,, . . - . 

navio. tres, sendo sepultado em terra ; foi o se- 

gundo no nosso navio. 

A 21 e 22 estivemos parados; a 23, po- 
rem, como fosse o dia da feira de Amsterdam 
o nosso capi- o nosso Capitão Peter Franz, d'aquella cida- 

tao festeja o , , . , , 

^ia da feira, de, mandou matar um grande e gordo porco, 
que tinhamos trazido da Hollanda, e ban- 
queteou -se com vários convidados, destri- 
buindo o resto aos marinheiros. Aos solda- 
dos, porem, não deu um só bocado, pois, era 
inimigo declarado dos mesmos, chamando- 
os constantemente de cães. 

a barca hes- Nos dias 24 e 25 o Sr. General mandou 

panhola é es- 
vaziada, retirar da barca hespanhola e conduzir para 

o seu navio as mercadorias e o mais n'ella 
existente. Ao esvaziar-se a barca achou-se, 
entre os madeiramentos e taboas, ouro e 
jóias no valor de cinco mil ducados, que os 
hespanhóes haviam oceultado na esperança 
de que mais tarde lhes restituiríamos o na- 
vio. O que foi encontrado em fazendas de 



linho, lã e seda foi vendido em terra por An no 

baixo preço. 16- Q 

A 26, 27, 28 e 29 continuamos a expio- Setemb r°< 
rar a ilha, e encontramos, a algumas horas 

de distancia do nosso acampamento, varias raaínuw d.. 

* , . 3 , ■ bandidos. 

casinhas, junto as quaes havia um poço 
d'agua e jaziam muitos ossos de cabritos 
selvagens, do que concluimos facilmente que 
alli residiam bandidos mais hábeis do que 
nós na monteria. 

A 30 e a 1 mandou de novo o Sr. Ge- Outubro, 
neral dous hyates, chamados De Leeuw e 
De Havik, (*) á ilha a miúdo mencionada, Refrescos p> 

, - . ~ , os doentes. 

que trouxeram alguns limões e laranjas. 

Nos dias 2,3, 4 e 5 foram mandados á 
floresta soldados e marinheiros para cortar 
a lenha de que necessitávamos. 

A 6, 7, 8, 9 e 10 continuamos diaria- 
mente, nos intervallos dos exercicios d'armas 
e outras occupações do officio, com a pes- p esc a de to- 
caria, retirando do mar toda casta de espe- fi c ê st curiosas 

espécies de pei~ 

cies curiosas. xes. 

Entre outros citarei o peixe papagaio, de 

tão bellas e variadas cores que parece pin- 
lo ; outros eram completamente chatos, com 
bocca torcida , e ainda outros de tão ex- 

1) Açor. 



Anno quisitas formas, que se nà<« pedem bem &S£r 

16- H > crever todas. 
Outubro. D urant e os di$S li, 12 e KS esperamos 
mais navios da Hollrtnda» e a 14 ap pareceu 
uma vela a grande distancia de terra, que 
logo ganhou o alto mar. Jmnied latamente 
sahiram-lhe ao encalço hyate Sivol e d iras 
pinaças. Como, porem, tivesse, um grande 
Um espião avanço não poderam alcançal-a, Suppozeram 

hespanhol. * 

que fosse um espião hespanhol , que vinha 
saber com quantos navios estávamos no 
porto. 

A K") foi enviado á ilha de SanfAntonio 
pe<Javos do o hvate De Meermuic ('), para recolher os 

navio nau ira- * . ,,, t , 4 

gado. • restos do navio que ai h naufragara. I rouxe 
no dia seguinte vários objectos ainda mu. to 
approveitaveis. 

A 17 e IS voltou u mesmo hyate a refe- 
rida ilha e trouxe grande quantidade de li- 
mões e laranjas, que a 19 foram destribui- 
dos pela tripolação, cabendo cinco a cada 
um. Mas os limões nao eram maiores que 
um ovo pequenu, tinham uma casca muito 
nha de santa delgada e estavam cheios de sueco, 
"(Tanritos e A 20 e 22 foram enviados dous hyat~~ 

cabras selva- . , n r- y /*\ 

gens. o acima mencionado e De àfíWHVé \f) 



(1) A Ser tia. i'2) 1 AmltrH 



ilha de Santa Luzia, situada atrux da de Aí.hm 
S. Vil: ente, c^m o fim de alli pegarem ai* ! ' '■-"' 

gims eahrit< *8 ou cabras selvagens, l uturro. 

Regressaram a J4 e referiram terem visto 
muitos d + elles, mas, estando o mar niuito 
agitado junto aos rochedos, niui poderam 
desembarcar para matal-os a tiro, fcemlíi a>* 
sim que dar-lhes quartel, 

A 25, U<> e 1*7 o Sr. General mandou bus- 
car refrescos na ilha acima referida, e a 2H s^* n**trl^ 
fez destribuir a cada um tress limões e unia tmwn 
laranja. 

Na tarde de l iL * checou (• hy&lti Zte /;>//- 
dracht {' j de Ver, cujos soldados furam, a 1 t Xov>ro. 
transportad< â para terra; entre eiJes acha- 
va- se u nosso compatriota o Sr, Sargento 
Heeliniier. Participaram -nus que Boís-le-Duc n» bynteijn 

e \\ esel tinham sido tomadas pelos hulSaiv wJn> feto*, 

dezes, em regosijo do quedem* s muitas sal- 
vas de alegria. t 

A - afogòti^e, quando pesotvti, um <ai- r™ m%*úi 
tffí vnldadii,, sendo o C01'p) encontrado na 
praia. Morreu também o dispensdro do Murre o u*- 
nosso navio , de nome < ornehus Jansen ; , l& vin T 
terceiro. 
f \ at> 10 encontramos, nas nossas ex- 

1 i íí^ííi. 



Nov'bro. 



30 



Anno plorações pela ilha, aqui e alli, nos mon- 

»u ^ tes e nos va ^ es > muitas figueiras bravas, 
cujas fructas, do tamanho de pêras, eram 
doces como mel, mais estavam quasi todas 
bichadas. 

Nos dias 11, 12 e 13 correu, no nosso 
acampamento, o boato de que os francezes 
tencionavam envenenar a agua dos poços, 
da qual bebiamos diariamente e tirávamos 
para cosinhar. 

Em consequência foram presos vários d'el- 
les , não se lhes achando , porém , culpa. 
Apenas, por occasião de tirarem agua, dis- 
seram que por aquelle meio se poderia ex- 
terminar todo o exercito, o que ouvindo um 
hollandez , que não comprehendia bem a 
Francezes sua lingua, propalou como si elles real- 

pettoí no exer- mente pretendessem executai- o. Por este 
cito. 

motivo a gente d essa nação tornou-se assaz 

suspeita entre nós e bastante odiada por 
Morre o 4.o todos. Também afogou-se, quando pescava, 
k^noMa po- um soldado da nossa companhia, de nome 
Carol Winckelhoff , ]de Stralsund , o qual 
era um homem muito pacifico e temente a 
Deus; foi o quarto da nossa tripolação que 

Nomo navio é perdem OS. 

Nos dias 14, 15 e 16 fizeram -se prepa 



:vi 



rativos para descarregar o nosso navio ; ao Anno 
que deu-se começo a 17. Não só toda a t 1629 
grossa artilharia e munições, como também * ov ° 4 
os viveres foram transportados para terra, 
aíim de podêr-se deitar o navio sobre o llanco 
e calafetaUo, pois, desde que sari imos de Te- 
xel , fazia tanta agua que, durante todo o 
tempo, tivemos que dar ás bombas sem 
cessar. 

A 20 entraram dous hyates — Den Een- chegam dou 
hoarn (i) e VogM Phcenix ( 2 ) — que tinham £3? da Ho1 " 
partido a 11 de Outubro, de Texel, onde 
achava-se Dirk Simonszoon com vários na- 
vios promptos para seguil-os brevemente. 

A 24 , estando completamente vazio , o 
nosso navio foi deitado sobre um flanco, e 
achou-se que, quando o reconstruiram, es- nosso navio é 

, ,. , concertado. 

queceram de metter um grande prego em- 
baixo junto á quilha. Feito o concerto não 
tivemos mais que dar á bomba de dia e de 
noite. 

A 25 entrou no porto o hyate De Otter ( 8 ), o nyato d% 
que referio têr-se afastado dos outros na- 
vios, no Mar do Norte, em consequência 
de uma tempestade, que fez-lhe em pedaços 

» amuradas. 



(1) Unicórnio. (2) Pássaro Phwnix. (3) A Vibora. 



/ 



/ 



,v: 



Anno A 2h começou - se a transportar para o 

J^-- () nosso navio as peças e collocar tudo em 
10, seus antigos lufares, o que (Mercê de Deus) 
fez-se sem prejuízos, 

Rstraga-se o O nosso biscoito, porém, com o ar que 

nosso melhor , . i 

mantimento. apanhou, encheu-se ue pequenos vermes e 
bezouros vermelhos, com quanto antes fosse 
tão duro como vidro e bastante saboroso. 

A '21 entrou no porto o navio chamado 
o navio stioi. Swol, no qual veio \Y\v\\ Simonszoon. acima 

referido, que com o hvate De Otter foi afãs- 

tado dos outros navios por uma tempestade; 

trazia desfraldada no alto do mastro uma 

grande bandeira, 
um navio ia- a 12 K entrou no porto um grande e bello 

glez com .ses- 
senta mulheres navio, trazendo bandeira ingleza, N*e11e 

achava- se um Governador, em viagem para 
a Virgínia, o qual veio a terra com muita 
gente e sessenta mulheres. Prestam os- Ih es 
muitas honras com salvas e de outras for- 
mas, e foram também esplendidamente tra- 
tados a bordo dos navios. Chegou um dos 

HêtWapen rnn nOSSOS na\ r ÍOS V l\*ap£H V£LIl A~a$5(.m ( J ) — 

Katiatt. ... , * . 

que na altura das Ilhas apartara-se dos ou- 
tros. 

(1) As Anua* de Xassau. 



x\ 



A 29 checou o nosso Sr\ Coronel É com Armo 
quatro navios: De Geeíe Somte ( l >, em que 
vi n h a e m barcad o , De í T er guíde J *akk . r \ ' J l J ! * , 
De Fortuyn \*\ e #* I&&V ááfc/a íV nu J^** 1 ^ 
qual veio também o filho do Sr. Magistrado (DjBp.cnpifià 
de Rerstedt, Hugo Uuich, Um experimen- 
tado cavalheiro e capitão. 

A -)0 foram desembarcados os soldados 
reeemchegados. e nesta occasifm recebemos 
devidamente o >>v. Coronel , nuo só com uwttobfeftw 

. .. gatei». 

varias salvas de mosquetes^ coiim com dis- 
paros da artilharia dos navios. 

A J chegou também felizmente o navio Dexhvo, 
c h am ad o Teríhole n . 7Vr**ui«* . 

A 3 entrou no porto o navio Omlamíia. &*>*«** 
no qual veio um nosso compatriota. 

A 4 chegou também o hyate de Roterdam, 
chamado De Oragniett Boom ( & ) : em quanto urwmfn iioum. 
que o navio inglês levantou o ferro, despe* 
dindo-se amavelmente de nós com varias 
salvas; seguio para a Virgínia. Deus lhe o in-ies a**- 
e fel*z viagem. 

A õ entraram mais oous navios — Campai, tjm$m 
de A ms ter dam. De Leeuw (*), da Zelândia. i>? fare. 



ÍU tf s«l Aimtrrlfa, f& it ÍWcvjj Onerada. fJT) A Fm t nua, \^ A 
Êftiti ltt't. s~t) íuTitnitrivn. \i!t t *i {.*■••- 



34 



Anno A 7 chegou o hyate — Muyden — de Am- 

1629 sterdam. 
Dez'bro. 
chegam s na- A 8, 9 e 10 chegaram mais três navios: 

vi08, /?* Neptunus, de Delft; 7 Post-Paerdt ( l ), da 

Zelândia e '* Gal/iomk, ( 2 ) de Amsterdam. 
A 11 chegaram novamente três navios: 
o galeão hespanhol da Zelândia, chamado 
Mittelburg, De Eendracftt , e o hyate Den 
David , ambos de Dortrecht. 

A 12 e 13 entraram no porto dous hya- 
tes: De Jonge Mauritius ( 8 ), de Memm- 
Entram dou* lick, e De Salm ( 4 ), de Dortrecht. 

hyates. 

A 14 e 15, depois de nos havermos bem 

exercitado, os Srs. Officiaes offereceram va- 

Atiramos ao rios prémios para o tiro ao alvo. Cada 

alvo. 

soldado tinha que disparar no alvo três tiros, 
em rápida successão, devendo carregar o 
mosquete andando. Muito poucos conse- 
guiram acertar duas vezes, 
os soldados A 16 e 17 foram retirados todos os sol- 
mÍdmwXs?* 6 dados da ilha de S. Vicente, e cada com- 
panhia foi transportada para os seus navios, 
afim de podermos partir. Da nossa tripo- 
lação tivemos que ceder cinco homens para 
De Halve Maen. 



(1) Cavallo da Posta. (2) Pequeno Galleâo. (3) Joven Mau- 
rício. (4) Salmão. 



A 18 chegou — Het Wapen van Hvorn d); Anno 

morreu também um marinheiro do nosso i *«29 

navio, chamado Hans Simonsen; foi o 5.° C neg* * w*- 

A 19 consagramos o dia a orações pu- Morre o $.* 

blicas a bordo de toda a frota. i d^í^iço!» 

rt ■ t publica*. 

A 20 morreu mais um marinheiro do Morte o e.° 
nosso navio, de nome Adrian Carels , de 
Haarlem; foi o sexto. 

A 21 foram embarcados 10 homens e um 
grumete do nosso navio na pinaça, cons- 
truída pelos carpinteiros de bordo na ilha 
de S, Vicente. Chegou também mais um 
navio; *i Groe?i Wijf ( l ) — de Enchuysen, 'j^om w$7. 

A 22 morreu o nosso Tenente, chamado 
Hermann Koch, de Hattnen, para o qual Morre o nono 

, - r w r ■ ii. j Trento. Foi o 

fez- se um caixão fúnebre, e foi sepultado Be ptin>o. 
na mencionada ilha, fazendo-ihe a compa- 
nhia as honras devidas; foi o septimo. 

Durante os dias 23, 24 e 25 nos con- 
servamos ainda parados esperando mais na- 
vios, porem, como não chegassem, levanta- 
mos, a 26, as nossas ancoras, em nome de 
Deus, e fizemos de vela com os navios 
adiante mencionados e as 13 pinaças aqui 
construídas. O hyate De Saím foi deixado 



(\) At Armat d£ Hovrn* (íí) A Muthrr Vtrdf. 



Armo no por^o ahm de esperar o resto dos na- 

Í«Í9 vios. 
Dcz"hro. 
a mAjuriíi No entretanto pozemos em terra os nes- 

é ptreí* I, *?ii" li" panhóes que tinham vindo na barca, a miúdo 

herdade. j i ■ 

mencionada, com excepção de um homem, 
duas mulheres e três creanças que ficaram 
no nosso navio. Seguimos para S. O. com 
vento K. 
itaràrfjwiirda Sobre a ilha de S. Vicente, tantas vezes 

Elha de Silo v i» 

pm*& mencionada, ha ainda alguma cousa que 

referir. A mesma é uma ruim terra are- 
nosa, na qual só crescem bem hervas dam- 
CúioriofnHdit-. ninhas, entre outras a coloquintida amarga. 
Ha muitas cobras e bichana e também uma 
quantidade extraordinariamente considerável 
AstHiMniír^ de tartarugas, que á noite sahem do mar 

«* para a terra, onde fazem grandes buracos na 

areia. Enterram dçpois seus ovos (que for- 
mam como que bolas redondas e coriaceas, 
são cobertas de uma pelle resistente como 
o pergaminho, e jazem juntos aos duzentos) 
nos mencionados buracos, onde são incu- 
bados pelo grande calor do sol. A carne 
das velhas é tão gorda que d'ella se pode 
derreter azeite de peixe, o que não obstou 
que comêssemos muito d'ella e bebêssemos 
a agua salobre. Isto, junto com os fig 



57 



doces e outras com idas pouco saudáveis, An no 
tnotíVOU que à desynteria grassasse com vio ^''-^ 

lencia no exercito. D'ella morreu muita ez ^ FOi 
gente, e muitos filhos queridos das suas mães 
tiveram que despedir-se da vida durante os 
'A mezes que nos demoramos n"aquella ilha. 
Alem disto, como já referimos atraz, exis- 
tem em S> Vicente extranhas espécies de sutuxi.* e 
peixes, e também vanos grandes caranguei- LM1 . 
jos ? que pescamos com o anzol; sâo cabel- 
tudos no ventre e nos pés, muito setíno- 
sos , e de cores vermelha e de camurça: 
têm grandes tenazes, uma das quaes é ca- 
paz de abarcar um quartilho. 

Existem ainda alli muitas outras eream- 
ras maravilhosas, que se não podem des* 
crever todas, nas quaes, porem, observa -se 
e reconhece-se com gratidão a sabedoria e 
omnipotência de Deus. 

Nomes dos navios; de que lugares foram 
enviados; e quantas peças havia em cada 
um. 

Amsierdam, navio do Sr. General. , ~*4 
Deu HúUcmdschm Thuyn (M, do Sr. Al- 
mirante, 3tt 

li íí Jardim tt*,ittiHii*i. 



1629 
Dez'bro. 



38 

PEÇAS 

Anno De Salamander y um navio completa- 
mente novo 38 

De Fame, um bello e grande navio . 38 

Hollandia, um velho navio grande . 34 
De Provintie van Uytrecht , um bello 

e bom navio 30 

Amersfoort, um bom navio .... 28 

De Vergulde Valck 26 

OverijsseL 26 

De Swarte Leeuwe 24 

De Geele Sonne 24 

Swol 24 

22 navios bem CãMpen 20 

equipados de 

Amsterdam. »/ Gãlliontk 20 

De Swarten Ruyter, um hyate. . . 14 

Muyden 14 

De Brack 14 

De Halve Maen 14 

De Voghel Phcenix 12 

De Fortuyn 10 

Den Eenhoorn 10 

e o hyate De OtUr 10 

522 



39 

De Princessc Amélia, navio do Sr. An no 

Vice-Almirante 38 w , 1 l62g 

Dez bro. 
Terthohu, um belio navio .... -H 10 navio» bom 

equípafload* 
Âjomourg . JJ Zelândia. 

Zte Gulde Sonne ( l ) , . 20 

De Gulde Lcmzve {*) 20 

De Leeuwiu ( s ) Is 

De Etndrachti de Ver 14 

V Post-Paerdt 14 

Mittdburg L2 

De Meerminne H 

184 

Groeninghen 32 

Omlandia 28 

B navios bem 

Graef Er,mt 26 3ía#K. to 

Hei Wapen vau Nassau 26 

De Vos {*) 14 

Siaadm-Landt 12 

De fíâvik . . t 10 

De Swaluwe . . . 10 

158 

(1) O $ot de Ouro. {2} Uão de Ourv. (3) A Li$a. (4) A Rapôta* 



40 

Anno S. I\ ter VA) 

15')g 

t. „ ~ Eitchuyseu . 1ÍN 

Dez bro. J 

3 bons navios '' drOiU-Wijf . Ih 

de Knchuysen. 

74 

De Ncptmius 'S\ 

De Lceuwe . 

8 navios de De Síeaeu ( { ) . . . , - , . , L'4 

Delft. 

s navios de De lietuiracht , de Dortreci.L ... 110 

Dortrecht. 

De Salm 

Deu David 14 

Uyirecht , navio do Sr. Piloto, que k 
2 navios de noite navega na frente da Trota, con- 

Roterdara. , , , , t ^ ,. 1u * 

duzindo três luzes, nas escotilhas da 

pppa : 'f> 

De Oragnien-boom . .,..., 

.Vi 

2 navios de II et IVafe/t vau Hocru 

orn. 

Den Ouiievaer VX 

% Jto 

(1) Cysne. 



-- 



De jfehje Mauritius , de Memmlick 
A barca ou fragata hespanhola. 
Em fim, a presa francesa , . . . 



U\ 


Afiiiõ 


10 


Jjtexbrò, 


4 


i uJrirfó de 



Km somma, a frota ou armada, compu- 
nha-se dos 56 (*) navios acima enumerados 
e de Kí pínacas, constando a equipagem de 
sete mil duzentos e oitenta homens, entre *,„mim <iu* 
os quaes 3r>0t) soldados. De artilheria grossa quitm^tM. «nt 
havia 1 ]n(> peças, entre canhões e meios- v íw * viv* ™_ 
canhões; a maioria dos menores era de ferro. 
Havia ainda grande quantidade de pólvora, 
balas e tudo o mais necessário á execução 
da nossa em preza, e próprio para o sustento 
das tripulações* 



A 'J i falleceu o nosso tambor, chamado litu^soi 

hor nmiTe 



Gerhard Jons, o qual pouco antes de mor- ( m>-*int>nfoi 



rer estava coberto de piolhos, que quasi o 
devoravam. Apesar de o metterem , intei- 
ramente nú, dentro de uma tina d T agua 
do mar, esfregarem -lhe fora a bicharia com 
uma vassoura, e vestirem -lhe uma camisa 
limpa, logo encheu-se outra vez d^lles, e 
não só inchou extraordinariamente como fv 



«u ffirêní/. Httjffr. IfàR. pHg-« 4^ 



42 



Anno cou cego. N'isto percebemos claramente o 

f 1629 castigo Divino , porque o mesmo tambor, 
fatigo DiV.o desde a sua mocidade, levou sempre vida 
desregrada, maltratou os seus pães, e, se- 
gundo affirmaram alguns, até os espancou. 
Foi este o oitavo que morreu no nosso navio. 

Morre o nono. A 28 morreu no nosso navio um arca- 
buzeiro, de nome Steffan van Boos; conti- 
nuamos com o mesmo tempo e vento. N'este 
dia nos deram apenas um terço da ração 
de vinagre. 

Nos dias 29 e 30 fizemos caminho do 
S. L.; a 31, porem, tivemos calmaria. Es- 
gotou-se também a nossa provisão de man- 
teiga, pelo que começamos a receber em 
vez d'ella azeite hespanhol para a comida. 
No mesmo falleceu um soldado da nossa 
Morreodeci- companhia, chamado Jost Sandersen; foi o 

mo. 

decimo. 

A 31 o Sr. General fez içar o signal cha- 
mando a bordo do seu navio todos os Ca- 
pitães. Foi então dada a ordem de destri- 
buir-se, pela manhã e á noite, um pouco de 
Aguarda p.» aguardente pelas equipagens, e também de 
da saMeT*^ cada Capitão fornecer uma lista dos seus 
doentes Estes eram em tal numero que até 



43 



nós soldados fomos escalados para gover- Anno 

nar o leme. 1630 

Janeiro 
A 1 continuamos como d'antes, porem, vemos deno- 

com tempo chuvoso. De Leeuwe, da Ze- ^S* grande 
landia, teve a verga grande partida em pe- 
daços, em consequência de arfar fortemen- 
te com o mar. Ao anoitecer avistamos uma 
grande baleia. 

Durante os dias 2, 3 e 4 tivemos calma- 
rias e aguaceiros; também trovejou e re- Trovões ere- 
lampeou fortemente. ampagos. 

A 5 morreu mais um arcabuzeiro, de 
nome Hans Fromb, de Hamburgo; este foi Morre o de- 

. . . cimo primeiro. 

o decimo primeiro. 

A 6 e 7 estivemos completamente para- 
dos, de forma que, de todos os navios, mui- 
tos tripolantes lançaram -se ao mar, sem 
comtudo se afastarem muito dos navios. O 
meu camarada Spiessen e eu os imitamos, Nadadores de 

ca j r\ todos os navios 

€ assim, no mais profundo mar dos Ocea- no grande oce- 



nos, nadamos e brincamos uns com os ou- 
tros. Pairávamos sob a Linha Equinocial 
onde, não só experimentamos grande calor 
e outros incommodos, como também sof- 
fremos de uma sede intolerável, o que nem 
ido se pode descrever. Veio também a 
ardo o nosso Capitão com o alferes bus- 



ano. 



44 



Anno car o Sargento, e juntos dirigiram-se para 

1630 
Janeiro. 

Promoção de 



o navio De Fame, do Sr. Coronel, onde o 
Alferes foi promovido a Tenente e o Sar- 



2offldae 8 . gent0 a Alferes. 

Tempo varia- Nos dias 8, 9 e 10 o tempo conservou-se 
vel 

ainda variável; na tarde d'este ultimo, po- 
rem, soprando um vento fresco de S. E. fi- 
zemos caminho de S. O. 

A 11, 12 e 13 continuou o vento con- 
trario e o tempo chuvoso; vimos muitos 
tubarões e golfinhos. Pescamos um tu- 
Tubarõe»; barão maior do que um homem. E' um 

grandes e ter- t . . 

riveis peixes de terrível peixe de rapina, que causa grandes 
** a " estragos; porem não pode alcançar cousa 

alguma acima d'elle, sendo preciso para con- 
seguil-o deitar-se de costas, porque a parte 
superior da cabeça é muito longa e a bocca 
está muito em baixo; tem dentes tão gran- 
des e afiados que pode decepar o braço ou a 
perna a um homem. Por este motivo é 
preciso pegal-o com correntes de ferro e 
grandes anzóes, nos quaes se collocam pe- 
daços de carne. Içamol-o com grande tra- 
8*11111 peixe balho para bordo e matamol-o a machada- 

m.*° grosseiro e 

indigesto. das, servindo depois de alimento á tripola- 
ção. E', porem, um peixe muito grosseiro. 
Morreu também um nosso servente d 



45 



artilheiro > chamado Cornelius Hubert , de Anno 
Haarlem ; foi o decimo segundo no nosso '630 

A 14, 15 e ló tivemos vento fresco e na- 
vegamos com rumo E.N.E. e E. Duran- Rxtraviam-se 
te a noute extraviaram-se da frota trez na- 
vios, isto é: Uytrecht, Hollandia e De Valck. 

No dia 17 morreu um nosso marinheiro, 
de escorbuto, comquanto no mais estivesse 
completamente são. Chamava-se Peter Pe- Morreodect- 

_ . mo terceiro. 

tersen, era de Haarlem, e foi o decimo ter- 
ceiro. 

Esta ruim moléstia grassou, principal- 
mente no nosso navio, com tal intensidade 
que a poucos poupou. Foi causa d'isto a causa «resta 

... . moléstia. 

estarem os nossos viveres todos corrompi- 
dos, principalmente o biscoito, (ou pão co- 
zido duas vezes) que tendo estado exposto 
ao ar, quando descarregamos o navio em 
S. Vicente, encheu -se de vermes, pequenos 
bezouros, e perdeu não só o sabor como a 
força nutritiva. 

A 18, 19 e 20 fizemos caminho de S. O. 
com vento fresco de N. E. Avistamos no- 
vamente uma grande baleia e muitos gol- Avistamos ou- 
finhos. Um dos nossos artilheiros fisgou grande SaieS. 
m dos maiores d'elles, chegando o arpão 



r^ 



46 



Anno a curvar-se, mas, não conseguio retiral-o 

1630 d'agua, e o peixe nadou embora apezar do 
Janeiro. 

)8 ffOlf 

i difflce 



os goiflniios san S ue ^e jorrar das costas em um jacto 
pegar! 8 de ^ a g rossura de um braço. Vimos muitas 



vezes d'estes peixes; tem de 8 a 9 pés de 
comprido e nas costas duas barbatanas que 
parecem cornos. Saltam a miúdo fora d'a- 
gua como cabritos, e doestes saltos os na- 
vegantes experimentados tiram os seus agou- 
ros. Quando são vistos juntos com uma 
grande baleia é signal de tempestade e vento 
fresco. 

A 21 levamos a proa contra S. S. O. com 
vemos muitos um forte vento N. E. Vimos muitos passa- 

passaros. \ 

ros a que chamam gaivotas. 

A 22 fizemos caminho de S. O. e S. S. 
O., havendo calmarias e aguaceiros. 

A 23 navegamos com rumo de S. S. O. 

com o mesmo tempo. Ao meio-dia morreu 

Morrem o de- um soldado, de nome Ffiderich Fries, que 

cJmo quarto e r . , , , , , 

quinto; foi o decimo quarto, e a tarde um anspe- 

çada chamado Christian Múnchhaussen, que 
foi o decimo quinto. Apanhamos um forte 
temporal de E. e fizemos caminho de S.E. 
A 24 navegamos com rumo de S.S. E. 
e S.E. tendo bom vento N.E. com o qual 

Passamos a .,. , ^ - T . 

unha. e com o auxilio de Deus passamos a Li- 



47 



nha Equinocial. Vimos também muitos ca- 
chalótes — em bom allemão: Tilckkõpfe Q) — 
que são uns grandes peixes monstruosos, 
cujo nome indica bem o seu formato, pois, 
são muito grossos e redondos, e têm as 
cabeças muito volumosas, e em cima del- 
ias dous orifícios por onde expellem agua 
a grande altura; quando o sol dá de cheio 
n'elles, parecem repuxos artificiaes. 

A 25 tivemos calmaria, á noite, no pri- 
meiro quarto, apanhamos um temporal de 
E. com aguaceiros; proseguimos com o mes- 
mo rumo. 

A 26 morreu um dos nossos quartel-mes- 
tres, chamado Peter Jacobs, o qual foi o 
decimo septimo. 

A 27 fizemos caminho de S.S.O. com 
bom vento S.E. e bello tempo; á noute, 
porem, no primeiro quarto, morreu o de- 
cimo oitavo, que foi um soldado de nome 
Jacob Claussen. 

A 28 conservamos o mesmo rumo ; vi- 
mos muitos peixes voadores e pescamos al- 
guns dourados. 

A 29, com bom vento e bello tempo, fi- 
zemos caminho de S. O. 



Anno 

1630 
Fevereiro. 

Cachalótes 
sfto grandes 
peixes mons- 
truosos. 



Oie.oe o 17.o 
pagam a sua 
divida á natu- 
reza. 



Fallece o 18.° 



Vemos nova- 
mente peixes 
voadores. 



(1) Antes — Dickhõpfe — isto ó: cabeças - grossas. 



48 



Anno A 30 voltaram as calmarias e aguaceiros. 

1630 
Janeiro. 



O Sr. General fez içar a bandeira cha- 
mando a bordo todos os Capitães, e então 
cada um entregou-lhe uma relação tanto 
Beiaçfto dos dos fallecidos como dos doentes de seu 

mortos e doen- . ._ , , 

tes. navio, pelas quaes venficou-se que, desde 

que a frota deixou a ilha de São Vicente, 
tinham morrido mais de duzentos, e mais 
de mil e duzentos jazem enfermos. A' tarde 
soprou um forte vento S. E. e durante a 
Furacão. noute apanhamos um furacão que obrigou- 
nos a colher as velas ; fazíamos caminho 
de S. O. 

A 31 continuou o vento forte, e á noute, 

no primeiro quarto, morreu um soldado de 

Morre o i9.o nome Jann van Essels. 

Fevereiro. A 1 voltou o bom vento e o bello tempo ; 

navegamos com rumo de S. O. Chegamos á 

altura de 7 o 17' alem da Linha Equinocial. 

A 2 corremos diante do vento levando a 

proa contra O. Fazia bello tempo. Vimos 

muitos peixes, fisgando com arpões doze 

dourados. Pouco mais ou menos ás 3 ho- 

^pisgamoB pei- ras ^a tarde avistamos a terra firme do Bra- 

Avistamos a zil, na altura de Pernambuco. Levamos, 

terra do Brazil. * 

porem, a proa para o mar e seguimos com 
rumo de E. S. E. perdendo de vista a terra. 



49 



A 3 aproamos novamente para terra, e Anno^ 



em seguida o Sr. General fez içar a ban- 
deira e disparar um tiro afim de reunir o 



1630 
Fevereiro. 



Conselho de Guerra, No primeiro quarto conueibo da 

Guerra. 

da noite avistamos em terra tantas foguei- ppçneJrai 4o 
ras que era impossível contal-as, 

A 4 viramos no bordo do S. e fizemos cami- 
nho do S. E. O Sr. General reunio novo Con- 
selho de Guerra, e bordejamos todo o dia Boraçiamot 
ao longo da costa. Avistamos trez velas a ^ta. 00 
estiboido que se approximaram rapidamente 
de*nós e eram o hyate Muydm, o navío do 
Piloto e De Vcrguláe Valck^ que a 16 de 
Janeiro se tinha extraviado da frota, 

A 5 seguimos com rumo de E, N. E. 7 e, 
deixando o território de Pernambuco a bom- 
bordo, aproamos para a ilha de Fernando, ima de Fer- 

A 6 fizemos caminho de E. S. E. com 
bom vento e bello tempo. 

A 7 navegamos com rumo de N. E. Pela 
manhã, depois do almoço, avistamos terra 
e para ella nos dirigimos. Ao pôr do sol, 
porem, levantando-se um temporal, fizemo- Temporal, 
.nos ao largo. A' noite morreu um solda- 
do nosso, de nome Peter Menck; foi o vi- Morre o vi- 

gessimo. 

gessimo. 

A 8 nos apartamos novamente de terra, 



50 



Anno seguindo para oS. A' tarde falleceu o nosso 

1630 carpinteiro, Claus Durckesen, que foi o vi- 

veieiro. gessimo primeiro, e pela meia -noite um 

Morrem o 21.0 arcabuzeiro , de nome Dirck Martens, que 

e o 22.° 

foi o vigessimo segundo. 

A 9 o Sr. General fez ainda uma vez 
içar a bandeira e disparar um tiro para reu- 
nir novo Conselho de Guerra. Ao pôr do 
sol morreu mais um dos nossos soldados > 
Morre o 23.0 chamado Jacob Heydenreich, que foi o vi- 
gessimo terceiro e ultimo. De sorte que 
antes do começo da empreza já havíamos 
perdido cerca de uma oitava parte da tri- 
polação. Deus os tenha em sua gloria. 

A 10 fizimos o mesmo caminho com bom 
vento e bello tempo. 

No dia lio Sr. General, depois de, pela 
são abertas ultima vez, reunir Conselho de Guerra, en- 

as cartas de , . t _ 

prego. tregou a cada patrão de navio uma carta, 

na qual estava escripto o objecto da nossa 
empreza ao Brazil. 

Abertas estas, fez-se a relação dos que es- 
tavão sãos e capazes de combater, sendo, 
no dia seguinte levada ao Sr. General. Este 
expedio ordem para que os soldados pre- 
parassem suas armas, enchendo bem as bol- 
sas com pólvora, balas e morrões. Todos 



51 



os artilheiros e arcabuzeiros tiveram que dis- Armo 



1630 
Fevereiro. 



parar as peças, limpai -as e carregal-as de 

novo, pondo de promptidão as palanquetas, 

carcazes, cruzetas, balas ardentes, granadas, preparativo* 

• cercos alcatroados e todos os demais acces- SS^teSTe^a 



mar. 



sorios de combate. Egualmente aprestamos 
os navios para a lucta, cobrindo as amura- 
das com pannos vermelhos, içando no alto 
dos mastros longos galhardetes, e na haste 
da bandeira de cada navio as flammulas de 
sangue ou de combate (nas quaes se vê 
um braço com uma espada). Os enfermos 
que, como já disse, eram em grande nu- 
mero, ficaram com estes preparativos muito 
mal providos e acommodados. Ao pôr do 
sol o hyate De Otter trouxe uma presa car- 
regada com 150 pipas de vinho de Hespanha. e* trazido um 

A 13 o mesmo hyate apresou outra fra- nno de Hespa- 
gata hespanhola, carregada com farinha, na 
qual achavam-se duzentos mouros (*) trazi- uma fragata 
dos da Angola para serem vendidos como farinhíemoS 
escravos. ros " 

A 14 avistamos de novo o Brazil e o 
território dé Pernambuco, e o Sr. General 
mandou içar a bandeira de sangue, para si- 
gnal de que os navios se preparassem para 

(1) author assim denomina os negros. 



52 



Anno combater. A' tarde consagrou-se uma hora 

1630 á oração geral e em seguida todos os 

vereno. soldados foram transportados para 16 na- 

Oraçfto geral. VÍOS. 

Avistamos A 15 chegamos tão próximo á costa que, 
Snda^IfOTtw" n &° só distinguimos perfeitamente a cidade 
de Olinda, de Pernambuco, como vimos os 
dous fortes junto á aldeia Povo, (*) um dos 
quaes, situado na praia é chamado S. Jor- 
ge (2), emquanto que outro que está sobre 
o rochedo ou recife tem o nome de Forte 
o sr. General do Mar ( 8 ). Ao pôr do sol o Sr. General 
fo°iS ardeia ° dispoz 30 navios em meia lua ou circulo 
em volta do mencionado forte, e começou 
a batel-o com a artilharia grossa, não tar- 
dando a resposta do inimigo, como adiante 
o sr. coto- referirei. No entretanto o Sr. Coronel bor- 
com e 28oo ba no* dejava, com os 16 navios em que estavam 
os soldados, acima da cidade. A' tarde, 
porem, foram desembarcados d'elles 2101 
soldados e 699 marinheiros, junto com duas 
pequenas peças que atiravam balas de 3 li- 
bras. Acampamos durante a noite junto á 
praia, havendo diversos alarmes, não só por 

(1) O actual bairro do Recife. 

(2) Segundo o Visconde de Porto-Seguro, achava -se com por 
differença no local ein que está hoje a igreja do Pilar. 

(3) Também chamado da Lage e de 8. Francisco da Barr" 
depois do Picão, estando hoje transformado em posto aduaneir 



53 



causa do inimigo, como de uns mosquitos 
que havia nos mattos e que brilhavam como 
mechas accesas. 

Estando de sentinella esta noute, de 9 a 
10 horas, completei o meu 18.° anni versa- 
rio natalício, de sorte que ainda bem joven 
já me achava mettido na fileira. Em se* 
guida dou uma breve narração do n eu nas- 
cimento e do cureo da minha vida, tanto 
quanto julgue 1 próprio fazei -o aqui. 

No anno de 1612, a 15 de Fevereiro, en- 
tre as 9 e 10 horas da noute, nasci eu r Am* 
brosio Richsshoffer, em Strassburgo, Cidade 
Livre do Santo Império, de pães religiosos 
e respeitáveis, chamados Daniel Richsshoffer, 
burguez e negociante notável e D. Catha- 
rina Richsshoffer, nascida Trausch, os 
quaes, logo apoz o meu nascimento, e para 
minha eterna salvação e bem estar, me con- 
duziram ao Santo Baptismo, pelo que fui 
incluido na Igreja Christã e recebido no 
seio da Misericórdia Divina. 

Meu avô, do lado do meu querido pae, 
foi o respeitável e sábio Sr, Jacobus Richss- 
hoffer, burguez e provedor das barreiras, do 
que possuía contracto, que, por sua morte, 
passou a seus filhos, Johann RichsshofTer, 



Anno 

1630 
Fevereiro, 



Meu níiáehti, tQ 



8&ato BnptU- 

mu. 



Àvd do lato 
paterno. 



Contracto das 
barreiras* 



n 



54 



Anno 

1630 
Fevereiro. 



Avô do lado 
materno. 



homem é 
pó e cinzas. 



Educação. 



Viagens. 



o picador, e meu querido pae. Do lado da 
minha querida mãe foi o Sr. Ambrósia 
Trausch, já fallecido, o meu muito respei- 
tado e querido avô. O leitor affectuoso e 
benévolo desejaria talvez saber também até 
aonde se estendem as antiquíssimas proles 
dos Richsshoffer e dos Trausch, e quem fo- 
ram todos elles. A esta pergunta respon- 
derei cabalmente em duas palavras: — Elles 
foram e ainda são — pó e cinzas, como bem 
nos ensina o santo patriarcha Abrahão, no 
primeiro livro de Moysés, capitulo 18, do 
versículo 23 até o fim. Cedo os meus bons 
pães desvelaram-se por ensinar-me o cathe- 
cismo, a religião e as lettras, mantendo-me 
um preceptor domestico e um mestre da 
lingua franceza. 

No anno de 1627, pela Feira de S. João, 
segui a cavallo, atravez da Lorena, para Se- 
dan, em companhia de Mons. r Moíse Gran- 
didier, em cuja casa devia hospedar-me du- 
rante um anno afim de aprender a lingua. 

No anno de 1628 parti, em Maio, para 
Paris, onde demorei-me apenas quinze dias, 
por haver pouco o que ver em consequên- 
cia do rei achar-se no assedio de Rochella. 

Em Junho do mesmo anno regressei d< 



55 



Sedan para casa por ordem de meu que- Anno 
rido pae. _ 1^30 

Em Janeiro de 1629 entrei ao serviço do 



Fevereiro, 



Sr. Nicolas Schotten, negociante em Nurem- viagem & 

, . „ , 1 . * Núrerubere. 

berg, mas, por vários motivos, despedi -me 
d*elie na Feira da Paschôa de Frankfurt. 

Depois segui viagem por Mayença e Co- continuarão 
lonia, descendo o Rheno até Amsterdam, ^hb. 
d'onde parti para o Brazil e índias Occi- 
dentaes. 

No anno de 1633, por occasiao de serem 
levantadas 8 companhias de tropas novas, 
o rei Luiz XIII, fez- me seu sargento. 

No anno de 1637 fui apresentado á com- Patente ae 
panhía como Tenente de Arcabuzeiros, pelo 
Sr. Capitão commandante da praça, o fal- 
lecido Sr. Leffer, de muito honrada me- 
moria. 

Em 1651 fui eleito Capitão pela Muito 
Honrada Corporação dos Fabricantes de Es- 
pelhos, mas, em 1665, por certos motivos 
resignei este c? rgo. Volto agora ao ass-umpto 
anterior. 

Na manhã de 16 de Fevereiro de 1630 e- cortado o 
o Sr. Coronel mandou afastar da costa e » ftig». 
Jtar para os navios todos os botes e lan- 
as que nos haviam conduzido para terra, 



56 



Anno afim de que ninguém fosse tentado a fugir. 

1630 Depois que cada um se encommendou a 

Fevereiro. j) eus na sua p rece da manhã, as forças fo- 

vanguarda. ram divididas em trez corpos. A vanguarda, 
na qual se achava o muito nobre e severo 

Batalha. Sr. Diederik van Waerdenburch, e que como 
Coronel alli esteve constantemente, era con- 
duzida e commandada pelo Sr. Tenente- 
Coronel Adolph van der Elst; o corpo de 
batalha seguia sob as ordens do Sr. Te- 
nente-Coronel Hartman Godfrid van Steyn- 

Rectaguarda. C alie n fel s, e a rectaguarda tinha como com- 
mandante o Sr. Major Honcx Fouques. (1) 

a marcha N'esta ordem marchamos, ao longo da praia 

mp e ou margem do mar, contra a cidade d'01inda, 

que distinguíamos perfeitamente, situada em 
cima do monte; tínhamos, porem, até lá 
duas horas de caminho desde o lugar, ao 

Pequena* es- Norte, onde havíamos desembarcado. Du- 
rante o trajecto houve varias pequenas es- 
caramuças, apresentando - se o inimigo a 
pé e a cavallo , não obstando , porem , que 
nos approximassemos cada vez mais, até 
que chegamos ao Rio Doce, um pequeno 



caramnças. 



(1) Este nome encontra-se eseripto com muito variada orthogra- 
phia. Nas Memoriai Diárias lê-se Honcx Foucques. Baers escreve : 
Baron de Fonlcke Hounckes, — Olinda, glieltijen inf Landt van Bratil. — 
Amsterdani, 1G80, pag. 16. 



57 



ribeiro, atravez do qual tínhamos que pas- Anno 

1630 
Fevereiro. 



sar. 

Neste passo encontramos a primeira e mais 



forte resistência, pois alli achavam -se para oi.opuioe 
mais de 1800 homens, a cavallo e a pé, 
atraz de um parapeito. Em consequência 
travou -se uma violenta peleja, ficando de violenta pe- 
ambos os lados muitos no terreno e não me- 
nos feridos. Apoz longo batalhar consegui- Expulsamos 

... , . . o inimigo da 

mos expulsar os inimigos da sua vantajosa sua vantajosa 
posição. Na retirada reuniram -se-lhes tro- 
pas frescas, mas nós avançamos sobre elles 
com tal resolução, e os acoçamos por tal 
forma com o constante escaramuçar que dei- 
taram a fugir. Parte d'elles ganhou os mat- 
tos, e parte foi postar-se, próximo á cidade, 
nos flancos e atraz de uma trincheira em 
uma apertada passagem. De novo os aco- 
mettemos com tamanho ímpeto que de am- 
bos os lados foi grande a mortandade. 

Do mesmo modo assaltamos á viva força 
o Convento dos Jesuitas (*), levando a ferro o convento 

v n dos Jesuítas. 

e fogo quantos ouzaram resistir-nos . Em 
seguida fizemos fluctuar da torre e das ja- 
nellas a fora as nossas bandeiras. Vendo 



(1) Era defendido pelo Capitão Salvador Azevedo, apenas com 22 
soldados. 



58 



Armo isto os do outro lado da cidade, nos dous 

1630 fortes dç pedra e na trincheira situados na 

vereiro. praia, e percebendo que, não só a nossa 

rectaguarda marchava resolutamente sobre 

elles, como também do lado do Sul desem- 

o nosso soe- barcavam novas tropas que o Sr. General 

corro. , . 

mandava como soccorro, nao se demoraram 
o inimigo em resistir-nos, e, depois de dispararem 

«eus fortes e algumas peças, fugiram abandonando tudo. 

dade. O mesmo fizeram os burguezes da cidade, 

que dias antes haviam occultado na flo- 
resta as melhores alfaias, comquanto isto 
lhes tivesse sido prohibido, sob pena de 
morte, pelo Governador hespanhol, afim 
ordem prejn- de que, procurando guardar os seus bens, 

vemador nes- o auxiliassem mais fielmente na defeza da 
cidade. Como, porem, lhe desobedecessem, 
temendo mais aos hollandezes que a elle, 
fez incendiar os seus armazéns na aldeia 
Povo, onde foram destruídas pelas cham- 
mas quinze Q) mil caixas de assucar, afora 
considerável qyantidade de tabaco brazi- 
leiro e de vinho de Hespanha, para enor- 



(1) José de Vasconcellos , base&ndo-se nfto sabemos em que tes- 
temunho, diz qne foram apenas 2000. «Datas Celebres do Brazil.» 
Pernambuco, 1872, pag. 100. Entretanto Baers dá também 15000.— 
Op. cit pag. 24. Nas « Memoria» Diárias, pag. IS, o prejuizo é cal- 
culado em 4000000 de cruzados, e Laet avaliou-o em 2000000 de 
ducados. — - Jaerfjck Vtrhcul. Leyde, 1686, pag. 188. 



Ti9 



me damno da Companhia das índias Occi- Anno 
dentaes. Em seguida o Governador eva- 1630 

cu ou a praça, entregando aos seus ofticiaes 



Fevereiro. 



o com mando dos fortes, D'esta forma con- conquista n- 

nal da cidade 

quistamos } com o auxilio de Deus, feliz- de ounda. 
mente a cidade, sem perdermos mais de 
sessenta homens ? ainda que muitos centos 
ficassem feridos; o inimigo, porem, perdeu 
seguramente trez ou quatro tantos. Nós Aiojamo-nos 

, no Convento 

ficamos, na maior parte, durante a noute, dos jesuítas, 
no Convento dos Jesuítas, mantendo bua 
guarda. Muitos, porem, que se encheram 
de vinho de Hespanha, ficaram deitados nas Embriaguez, 
ruas e casas como brutos irracionaes, dando 
motivo a contínuos rebates falsos, de modo Rebates fai- 
que até o romper do dia pouco podemos 
descançar. Não obstante estivéssemos to- 
dos muito fatigados do constante pelejar e 
do intolerável calor, de prompto nos restau- 
ramos com o delicioso vinho de Hespanha e 
refrescamos com limões, laranjas e assucar, 
A 1 7 destríbuiram-se, para todas as com- 
panhias, aquartelamentos na cidade, cabendo 
a alguns de nós um bom alojamento, onde 
encontramos um barril de vinho de Hespa- 
Jia e toda a sorte de viveres. J^«^ m £mí! 

mouros como 
escravos para 

Tomamos ao nosso serviço dous mou- nos servir. 

5 



60 



Anno ros, os quaes colhiam muitas boas e boni- 

1630 tas fructas (principalmente cocos) tirando - 

Fevereiro. ag a } n( j a ^ as ma j s a j tas arv ores e trazendo- 

as para o nosso quartel, com o que de 
Eiies trazem novo nos regalam os ficando mais refresca- 

muitaa fructas 

para o quartel, d OS. 

Durante os dias 18 e 19 o Sr. General 
continuou bombardeando os fortes; fez se- 
Ataque por guir dous navios para a entrada do porto 
para reconhecerem si era possivel penetrar 
n'elle com hyates ou outras embarcações. 
Em seguida ordenou que 6 navios, que de- 
viam bater continuamente o grande forte 
de S. Jorge, seguidos de 12 hyates, borde- 
jassem com as velas pequenas até poderem, 
em tempo e occasião própria, entrar no porto 
e alli fundear. 

Para este fim foram embarcadas nos men- 
cionados hyates duas companhias com 223 
homens e 350 marinheiros. O inimigo, po- 
rem, percebendo a nossa intenção, metteu 
a pique na entrada 'do porto vários navios 
carregados com assucar e fumo, os quaes, 
quando o assucar se dissolveu, fluctuaram 
até ficarem em secco. Por este motivo os 
Navios e ho- nossos foram obrigados a retirarem-se, tendo 

mens são dam- ^ . , 

aificados. soffndo avarias. 



61 



O Sr. General, com os demais navios gran- Anno 



1630 
Fevereiro. 



des, teve que fazer- se ao largo durante a 
noute e collocar-se fora do alcance dos tiros 
dòs fortes; estando muitos dos navios tão 
varados de balas que se podia vêr atravez 
dos dous costados, e perdendo muitos tri- 
polantes cabeças, braços e pernas: tão nu- 
trido foi o canhoneio. Devido ao movi- 
mento das vagas, em constante agitação 
nas visinhanças dos fortes, os artilheiros de 
bordo não poderam fazer tiros certeiros ; 
cauzaram com tu do considerável dam no ao 
inimigo. 

A 20 reunio-se o Conselho de Guerra, e 
ao pôr do sol foram escalados de cada com- 
panhia de 20 a 30 homens (entre os quaes 
os meus camaradas e eu) que seguindo, á 
noute, sob o commando do Sr. Tenente- 
Coronel Steyn-Callenfels, approximaram-se 
do forte de S. Jorge e o acometteram com 
máscula bravura,na mais completa escuridão. Assaltamos o 

•^ . , ,, ' forte com per- 

Durou duas horas o assalto; como, porem, da de gente. 
as escadas que levávamos fossem demasiado 
curtas e não alcançassem os parapeitos, ti- 
vemos que retirar- nos com perda de vinte 
e tantos mortos e egual numero de feridos. 
Entre estes achava-se o sargento Seelinger, 



62 



Ànnò -"ifisa ;p&iricio^ que teve o artelho atravessado 



163Ò 
Fevereiro. 



'por irm pedaço de prego de ferro, 

A 21 e nos quatro dias seguintes levan- 
tamos, em vários pontos da cidade e nas 
entradas das ruas, parapeitos T e fizemos 
muitos cestões e fachinas. N'esta occasião 
o Sr. Major de Berstedt perguntou ao Sr. 
Coronel quem elle julgava que fosse eu, 
que alli via carregando fachina, ao que este 
respondeu que não me conhecia. Dizendo- 
lhe o Sr. Major que eu era o joven Richs- 
hoffer, um seu patrício, perguntou o Sr. 
Coronel si eu era filho do picador. E, sen- 
do-lhe respondido que o era de seu irmão 
o negociante, deu logo ordem para que eu 
fosse incluido na nobreza da companhia e 
partilhasse da meza do Sr. Tenente, 
o forte ó ata- A 26 foram novamente enviados contra 

cado de melhor . , r , ^^ . , 

modo. o mencionado forte oOO homens sob as or- 

dens do Sr. Tenente -Coronel van der Elst, 
que chegaram até bem perto da fortificação 
inimiga, e, durante a noute, fizeram approxes 
completos á distancia de apenas um bom 
tiro de mosquete. 

Começou-se também a construcção de uma 
bateria que, no outro dia, em presença do 
Sr. Coronel, e na seguinte noute, com o au- 



63 



xilio do Sr. Major Honcx f ficou inteira- 
mente concluída. 

A 2H o Sr, General fez transportar para 
terra três meios -canhões, que foram logo 
postos na bateria e bateram violentamente 
o forte tanto durante este dia como o se- 
guinte, abrindo-lhe uma grande brecha, que 
os seus defensores procuraram reparar com 
um sacco de lã. 

A 1 e 2 continuamos batendo vivamente 
os dous fortes com as mencionadas três 
peças, conseguindo incendiar o sacco de la 
com balas ardentes. Os inimigos esforça- 
ram-se por alcançar-nos ? mas, como extí- 
véssemos bem cobertos e resguardados por 
cestõeSj pouco damno nos cauzaram. 

Mais ou menos ás 9 horas arriaram no 
forte de S. Jorge a bandeira vermelha e iça- 
ram uma branca, vindo o Capitão ( l ) ter com 
o nosso Sr. Coronel afim de concluírem sobre 
as bases da capitulação. 

Logo depois foi o outro forte ou Forte 
do Mar intimado a rendesse, por um tam- 
bor, em nome dos Srs. General e Coronel. 
Pedio ainda três dias de prazo, porem, teve 



Anno 

1630 

Fevereiro, 



B a t b m O ■ o 
forte dfl Ê&o 
«force. 



Março, 



Corneetanoa a 
parlamentar. 



forte do 
'- ■!.■■■ ■ ■ i . , - ■ : i : : ■ .- . 



(1) Gil Correia ria C&stello Braiií-o junto para o tulerprete An- 
tónio Gonçalves de Oliveira, té-se uas Jfrninrim JMnriaa ; «ntretanto 
icbshoJTer parece indicar António de Lima. 



64 



Anno que render-se juntamente com o de S. Jorge, 

1630 enviando então o seu Tenente, que com o 
jvaiço. mencionado Capitão, ajudou a concluir o 
accordo abaixo transcripto. 

introdução Somma dos Artigos do Accordo entre o 
doAccôrdo. Sn General Hendrik Corneliszoon Loncq, 

Sr. Diedrik van Waerdenburch, Coronel, e os 
demais Srs. do Conselho Secreto da Armada, 
actualmente no Brazil, na cidade de Olinda 
e território de Pernambuco, ao serviço dos 
Srs. Estados Geraes Privilegiados ou Pro- 
vindas Unidas, e do Príncipe de Orange, 
seu Governador, e sob as ordens da Com- 
panhia das índias Occidentaes, de um lado, 
e Manuel Pacheco de Aguiar, Major do 
Forte do Mar , junto com ò seu Tenente 
Pedro Barboza, e também António de Lima, 
Capitão do Forte de S. Jorge, ao serviço 
Real da Hespanha, de outro lado. 

o pnm.o ar- Primeiro: deverão os officiaes hespanhóes 
acima mencionados render e entregar, aos 
Srs. General e Coronel, os dous fortes, com 
toda a artilharia existente e demais petre- 
chos bellicos, como alli se acham actual- 
mente. 

o segundo. Segundo : deverão , após á capitulação, 
sahir com todos os soldados que lhes sãc 



tigo. 



63 



subordinados, com as armas ordinárias, sem Armo 
bandeiras nem morrões accesos, sendo con- 1630 

duzidos em barcas para o outro lado do J ]an ?°- 
rio , onde serão postos em terra firme ; 
podendo dirigir-se para onde bem lhes con- 
vier. 

Terceiro: deve ficar como refém, no nosso o terc *** 
acampamento, o Capitão António de Lima, * ' 
até voltarem as barcas que forem conduzir 
as tropas hespanholas ; devendo este tam- 
bém prestar juramento de que a chalupa, 
que o transportai- para junto dos seus, e os 
marinheiros que a tripolarem regressarão sem 
serem molestados, 

Quarto e ultimo: jurarão os officiaes e Çoàrto * é- 
saldados hespanhóes, por occasião da reti- 
rada, que, dentro do prazo de 6 mezes, 
não pegarão em armas contra os Estados 
Geraes, Príncipe de Orange e Companhia 
das índias Occidentaes. 

Dada no acampamento hollandez em frente 
ao Forte de S. Jorge, aos 2 de Março do 
Anno de Nosso Senhor Jesus Christo de 
1630. 

Assignada por : 

Hendrik Corneliszoon Loncq, General. conclusão. 

Diedrik van Waerdenbarch, Coronel. 



66 



Anno ( Manuel Pacheco de Aguiar, Major. 

looO António de Lima, Capitão. 
Março. _ T n , ™ 

Asassigna- Pedro Barboza, Tenente. 

turas. 



Lista das munições encontradas na cidade 
de olinda de pernambuco, nos dous for- 
tes de pedra da praia. 



Peças. 



Polvcra. 



Morrões. 



Balas. 



Piques. 



8 peças de ferro, que lançavam balas de 
4 libras. 

600 libras de pólvora, nos mencionados 
fortes. 

3000 libras de dita, no Convento dos Je- 
suítas. 

1000 libras de dita, na Alfandega, tudo 
em barris. 

2000 libras de morrões, em parte avaria- 
dos. 

Uma partida de bailas de ferro , de 2Q 
n'uma libra. 

Vários barris com balas de mosquete, de 
12 n'uma libra. 

Uma grande quantidade de piques hes- 
panhóes. 



67 



Dous barris de enxofre, e uma partida de Anno 

pás não calçadas. 1630 

Março. 
Muito poucas mercadorias foram encon- Enxofre. 

tradas na cidade, constando apenas de pouco 

mais ou menos cem caixas de assucar, um Pás nso cal- 
çadas, 
numero considerável de pipas, que são ton- 

neís, com vinho de Hespanha. alguns mo- Assacar & 
J r. ...» o vinh0 de He8 . 

veis e outros objectos de menor valia. pana». 

Os primeiros que entraram no Convento a melhor pre- 

-, , * i sa no Convento 

dos Jesuítas fizeram boa presa, cabendo-lhes, dos jesuítas, 
entre outras cousas, muitas peças hespanho- 
las de oito reaes, começando logo alegremente 
o jogo de dados. 

Entre canhões e outros objectos foi en- 
contrado o seguinte no forte de S. Jorge: 

24 peças de ferro, que lançavam balas de peçasdefer- 
5 e 10 libras, e uma partida de balas para 
as mesmas, 

4000 libras de pólvora, grossa e fina. poivora. 

30 libras de balas de mosquete, de 10 
n'uma libra. 

Um canhão de bronze, que lançava balas Peça de- 

bronze. 

de 8 libras. 

Uma partida de granadas de mão e balas Granadas, 
rdentes , 



68 



Anno Duas pipas de vinho de Hespanha ou um 

1630 tonnel. 
Março. 

vinho de Hes- Uma caixa de assucar, e muitos potes 

punha. grandes, que, são jarros de barro, contendo 

mais ou menos um quarto de pipa, cheios 

Assucar e a- d'agua dÔCC 
gua doce. 

No Forte do Mar foi achado o seguinte: 

15 peças de bronze, com as armas de 

Beiíasegran- Felippe II e III, reis de Hespanha, e ai- 

dês d e c a s de • 

bronze. gumas com armas de Portugal; lançavam 

balas de 10, 15 e 20 libras, 
umacoiubri- Uma colubrina de bronze, de 10 libras, 

na damnific.» . 

damnificada.. 
Baias razas. Numero considerável de balas razas. 
Metralha e Uma grande partida de metralhas cheias 

morrões. /:/\ i-i_ j 

para as peças. 60 libras de morrões. 
Provisões. Muitos potes de pedra, pequenos e gran- 

des, cheios de vinho de Hespanha, vinagre 
e agua. 

Sete saccos e 4 caixas com farinha, assim 
como um pouco de carne e peixe salgado* 
A 3 o Sr. Coronel enviou o Sr. Tenente 
Coronel Steyn-Callenfels, com varias com- 
panhias de tropa, á ilha de António Vaz 
occupamos a situada em frente ao Recife ou aldeia Povo, 
ima de António ^ Q outro ^o do rio chamado Beberib" 



69 



Foi encontrada completamente vazia, pois Anno 

os habitantes a tinham abandonado refu- . 1630 

giando-se, com os seus haveres, para junto ai Ç°« 

dos outros na floresta. Em vista d'isto o 

mencionado Sr. Tenente Coronel deixou oc- 

cupado o Convento ( r ) alli existente e re- o convento é 

occupado por 

gressou com resto da tropa. No mesmo tropas, 
dia foi desembaraçada a entrada do porto 
entre os dous fortes, sendo alli collocadas 
duas bóias, entrando em seguida todos os 
navios , hyates e pinaças. Era um sitio 
muito com modo, não só para os navios an- 
corarem e alli se conservarem , como tam- 
bém para carregal-os e reparal-os. 

Assim, graças á protecção Divina, no es- 
paço de quinze dias, tomamos e conquis- 
tamos todas as praças fortes e levamos a 

termo esta victoria pelo que devemos ren- soiiDeo Glo- 
ria, 
der graças e louvores ao Altíssimo. 

A 4 e 5 postaram -se sentinellas e pinta- o vinho de 

Hespanha e 

ram-se forcas nas casas e adegas, em que aqui perigoso 

de procurar. 

ainda havia vinho de Hespanha. Apezar . 
d 'isto trez soldados ouzaram penetrar em 
uma adega, d' onde retiraram alguns potes 
com vinho; a sentinella calou-se e bebeu 
com elles. Sendo descobertos foram sub- 



(I) Kr a o B. Francisco ediricado em I&fG, 



70 



Anno mettidos a Conselho de Guerra, e, no dia 

1630 seguinte, todos os quatro, dentro de um cir- 

B^meSôrjo- cul ° de soldados, tiveram que jogar á sorte 

quejogwTfoí sobre um tambor, afim de vêr-se qual seria 

£X bre um enforcado. 

Como a sorte cahisse sobre o que estivera 
de sentinella, não obstante ser elle um bello- 
mancebo, cujo nome eu naturalmente deixo- 
de mencionar, por ser filho de pães respei- 
táveis e abastados em Leipzig (Deus tenha 
piedade de suas almas), e que todo o regi- 
mento intercedesse em seu favor, nada lhe 
aproveitou. 

Foi então condemnado á morte, e, para 
escarmento de outros demasiadamente aman- 
tes do vinho de Hespanha, enforcado; os 
outros três foram violentamente açoitados 
sobre um alto poste de pedra. 

Durante os dias 7, 8 e 9 esperamos an- 

ciosamente mais navios com noticias da Hol- 

chegam9na- landa, chegando, a 10, nove d'elles em que 

vios, com tropas . .,. ~ 

frescas, da Hoi- vieram três commissanos (*) da Companhia 

landa. ^ 

das índias Occidentaes, junto com muitos 
soldados, ( 2 ) que foram recebidos com sal- 
vas de canhões e mosquetes e grande jubilo 



(1) Eram : Johann de Bruyne , Philips Serooskerken e Horatio 
Calendrini. 

(2) 665 ás ordens do Tenente-Coronel Alexander Seton. 



71 



por p£rte das tropas. Na mesma data fez Anno 

de vela o hyate De Brack^ afiíii de levar á 1630 

.Hollanda a boa nova da conquista das pra- al Ç°- 
ças, e da feliz chegada destes navios. 

Nos dias 11, 12 e 13 o inimigo matou- o inimigo 

. ,. mata -nos va- 

nos alguns homens que se haviam adian- rios homens, 
tado de mais pelo matto a dentro, em con- 
sequência do que o Sr. General ordenou 
que varias companhias ( entre as quaes a 
nossa) se dirigissem para alli. Depois de 
termos marchado um pedaço de caminho, 
fizemos alto em um prado {') afim de des- 
cançar, quando fomos completamente cer- 
cados pelo inimigo c accomettidos com tal 
violência que as balas e flexas choviam de Mnita gente 
todos os lados. N'es£a emergência foram ía" da por ba ~ 
de grande valor para os Srs. OfHeiaes as 
bolsas dos cintos, pois, não só no Sr. Ma- 
jor de Berstedt, como no nosso Capitão e 
em vários outros, muitas flexas n T cllas res- 
valaram, Tendo feito prisioneiros um bra- 
ziliense (*} e um português., retrc cedemos Fazemos 2 
procurando alcançar o caminho da cidade. 

A 21 os dous prisioneiros foram enfor- 



{lj ííari vizinhanças, de Apua-l-'ría. 

i2) lirtutilianrr '< &*á\tú (k-Hutumavam Lts hiA\mnluxoi nos índios, 
{jEpecIftltDtfUk' aos I*etf}tt*arcM. 



rz 



Anno 

1630 
Março. 

Os 2 prisio- 
neiros s&o en- 
forcados em 
uma arvore. 



Os mortos não 
precisam de 
vestidos. 



Ruim presa. 



cados em uma arvore, em cima do monte 
junto ao convento, em frente á cidade, em 
cujo sitio o inimigo se mostrava e demo- 
rava-se constantemente. Motivou esta pu- 
nição o modo deshumano porque os bra- 
zilienses ou selvagens tratam os nossos, 
assassinando-os e mutilando-lhes atrozmente 
os cadáveres, e também o facto de não da- 
rem os portuguezes e hespanhóes facilmente 
quartel. 

Na referida peleja de 14 arranquei, a um 
hespanhol morto, que parecia não ter sido 
nenhum soldado ordinário ou mosqueteiro, 
um bonito par de calças de linho, que des- 
ciam-lhe até os artelhos. Estavam bastante 
manchadas de sangue, o que não horrori- 
sou-me, pois tirei-lh'as fora. Eram orna- 
das de rendas na abertura e nas boccas, e 
todas cozidas duas vtzes e pospontadas com 
seda branca, e tão compridas que iam-me 
até os sapatos, poupando-me assim uzar um 
par de meias de linho. 

Si foi eu ou algum dos meus camaradas 
quem o matou n'aquella escaramuça, não 
sei. Deus o saberá, e conceder -lhe -ha, 
como a todos os soldados mortos valente- 
mente ás mãos do inimigo, um fim bema- 



\ 



73 



venturado e uma feliz resurreição : Amen, Anno 
Amen, 163í > 

A 23 o Si\ Coronel ordenou que 8 dos ^^m"; ita 
nossos navios ( J ) fossem á ilha de S. Helena JgJJSJE '* ttm * 
espreitar a passagem de duas naus hespa- 
nholas. 

O navio [De Salamander devia ser a almi- 
ranta desta frota. 

A 25 o |Sr, "General seguindo a eavallo 
da aldeia \Pcvo para a cidade, foi atacado 
pelo inimigo } ( 2 ) sendo exterminado o piquete 
que o acompanhava, que aliás era dema- 
siado fraco. O Sr, General, porem, reti- 
rou -se com o ca vali o ferido por duas flexas, 
e, sendo logo soccorrido, pôz-se a salvo. 

De 26 até o ultimo do mez trabalhamos 
para melhorar as condições de defeza da ci- 
dade j [e procuramos arregimentar e armar 
os mouros. Não conseguindo habitual -os 
ao manejo das nossas armas, deixamol-os 
com os seus arcos, flexas e porretes, com 
os quaes são de uma agilidade impossível 
de d escrever- se. Lançam -se ao chão logo 
que se faz fogo sobre elles e, no próximo 
instante, levantam -se e disparam as suas 

(1) Hob o étt&ttfljgid àty Ylct:- Almirante -Toos vau Trnpperu eba» 
mado Bam-k^rs- 

(2) Os índios de António Fellppe Cnmurflo, 



74 



Anno flexas, que as vezes produzem ferimentos 

1630 tão perigosos como as balas de mosquete. 

No dia 11 tendo os inimigos aprisionado 

uma acção um dos nossos', o conduziram vendado para 

yraamc . as suas trincheiras, onde, mostrando-lheuma 

mina, disseram-lhe que si alli fôssemos nos 

fariam voar pelos ares. 

Em seguida deceparam -lhe ambas as mãos, 
e o conduziram, outra vez vendado, até a al- 
guma distancia da trincheira, d'onde conse- 
guio, no dia seguinte, chegar á cidade fraco 
e exangue. 
Pequena es- A 13 escaramuçamos com os contrários, 

«caramuça. t . . . , 

em baixo junto ao monte, mas, como nao 
mostrassem firmeza, foram poucos os feridos 
de ambos os lados. 

Nos dias 15 e 16 chegaram da Hollanda 

mais 5 navios com soldados e provisões, 

N'elles vieram também três Commissarios 

chegam 5 da Companhia das índias Occidentaes, com 

pessoas de dis- mulheres e filhos, sendo segundo o costume 

esplendidamente acolhidos e bem vindos. 

Na noute de 20 foram presos outra vez 

Três trance- trez francezes que se tinham passado para 

zes são metti- ... , , .... . » 

dos na prisão, o ínrrigo, sendo logo mettidos na pnsao 
com ferros nos pés e nas mãos. 

A 22 foram submettidos a Conselho de 



75 



'Ojierra, sendo o cabeça condemnado á forca. Anno 

Primeiro cortaram-lhe dous dedos e prega- 1630 

A b ri 1 
ram-lhe ás costas uma bandeirinha branca, 

e foi então enforcado. Com as suas quatro um creiíes ó 

enforcado com 

trancinhas pretas, que trazia dos dous lados sinalares ce- 

remonias. 

da cabeça, trançadas com fitas de seda de 
cor, apresentava um aspecto ridiculo ainda 
-que lastimoso. 

A 24 partiram d'aqui para a Hollanda 4 seguem para 

, a Hollanda* 

navios nossos carregados com assucar. navios. 

•A 26 estivemos em armas e alerta toda 
-a noute, por correr o boato de que o ini- Boato falso, 
migo recebera reforços e estava resolvido a 
atacar a cidade com todas as forças. 

A 29 ( ! ) o inimigo matou-nos, na ilha 
-de António Vaz, 1.10 homens, que estavam oimm.<>ma- 
trabalhando no matto a cortar lenha. meus. 

A 30 chegaram três navios com viveres chegam três 

. ~ . navios. 

-e munições, nos quaes veio uma compa- 
nhia de soldados, forte de cento e cincoenta 
homens. 

A 4 chegou mais um navio com egual Maio. 
carregamento, trazendo a noticia de que D. 



(1) Esta data combina com a das Memorias Diárias. A acção 
deu-se junto ás cacimbas de Ambrósio Machado ; commandava a 
nossa gente o Capitão Francisco Gomes de Mello. numero de 
mortos parece exagerado, pois Duarte de Albuquerque menciona 
Apenas 62. 

6 



76 



Anno Frederico, o general hespanhol, tomara a 

1630 ilha de S. Christovão e matara todos os 
Maio. francezes que alli estavam, dando, porem,, 

Movas noti- quartel aos inglezes. 

cias 

A 5 foram enviados ás índias Occidentaes 
oito dos nossos navios (i). 

o nosso 8r. A 6 o Sr. General despedio-se amigavel- 
mente do Sr. Coronel e demais officiaes, 
que banqueteou esplendidamente, e, no dia 

Em sua hon- seguinte partio para a aldeia Povo, acom- 

ra s ao dispa- , , , , ^ . 

rados canhões panhado dos mencionados omciaes supeno- 

e mosque es. ^ ^ ^ uma ^^ eSCOlta. TodOS OS SOl- 

dados tiveram que pegar em armas, e ? de- 
pois de dispararem -se os canhões, deu -se 
em todos os lugares três salvas, 
chegam três Na noute de 8 chegaram mais dous na- 

navios. 

VIOS. 

A 9 chegou um navio trazendo os sol- 

soldados hoi- dados que tinham embarcado no navio De 

tratados de Roode Leeuw ( 2 ) o qual durante uma tem- 

peio Rei de pestade naufragara na costa da Hespanha. 

Hespanha. . 

A maioria da tnpolação foi salva e levada 
á presença de Sua Magestade El -Rei da 
Hespanha. 

Referiram os soldados que lhes foi dado a 



(1) Sob o coram ando de Dirk Ruyter. 
12) Leão Vermelho. 



\ 



77 



cada um 1 sacco de pão e meio escudo, para Anno 
que tomassem o caminho de Rochella, d'onde # 1630 
se dirigiram para a Hollanda. Maio. 

A 10 o nosso Sr. General fez de vela 
com 10 navios, e, em sua honra se dispa- 
raram novamente todos os canhões dos for- 
tes e dos navios fundeados no porto, dando 
também os mosqueteiros três salvas. 

No dia 11 mais um francez tentou pas- u m francez 

... , , , . é enforcado. 

sar-se para o inimigo; sendo apanhado pela 
nossa gente fez-se-lhe, na cidade, logo pro- 
cesso como aos outros atraz mencionados. 

A 14 (,)• foram mortos três homens da 3 doa nossos 

,. .. , ., ,, sfto mortos pelo 

nossa companhia que tinham ido ao matto inimigo. 
buscar fructas. Os inimigos apresentaram -se 
egualmente em algumas das ruas abertas e 
deshabitadas da cidade, onde encontrando 
um dos nossos mouros, cortaram-lhe a lin- um mouro 

, 1t _ , « , t muito mal tra- 

gua, quebraram-lhe um braço e nzeram-lhe tado. 
diversos ferimentos na cabeça. 

A 15 quiz o nosso Sr. Almirante (2) diri- 
gir-se da cidade para a aldeia Povo, pelo a nossa es- 
que deu-lhe o Sr. Coronel uma escolta bas- peio inimigo. a 



(l) Nas Memorias Diárias este facto tem a data de 11, que o 
Barão do Rio Branco corrigio para 14. Kphemerides Brasileiras. 
Rio de Janeiro, 1892, pag. 73. 

(1) Pie f er Andrianszoon Ita e nfto o Almirante Loncq, como se 
lê na Historia das Lutas, pag. 66, nota 2. 



r 



7.s 



Anno 



1630 



Maio. 



tante forte ( 1 ). Chegando, porem, ao meio 
do caminho foram surprehendidos por uma 
forte chuva, que molhando aos mosquetei- 
ros as armas e morrões impossibilitou-os de 
usal-as. O inimigo ( 2 ), que estava embos- 
cado no matto e na maioria armado de ar- 
cos e flexas, percebendo isto deu sobre elles 
com cruel fúria. Como os lanceiros não 
sustentassem o choque, os demais tiveram 
que acompanhal-os na fuga. 



Sâo soccorri- 
dos, porem já 
tarde. 



SO homens 
sfto assassina- 
dos pelos sel- 
vagens. 



Sr. Almi- 
rante é salvo. 



Da cidade sahimos logo a soccorrel-os e 
repellimos o inimigo para o outro lado do 
rio, porem, o maior damno já tinha acon- 
tecido. Quando chegamos ao sitio da pe- 
leja encontramos trinta mortos deitados em 
uma fileira, uns junto aos outros, perto da 
praia. Muitos d'entre elles tinham as ca- 
beças cortadas; outros os membros cortados 
e mettidos nas boccas, e ainda outros tinham 
debaixo das cabeças grandes porretes de ma- 
deira, constituindo o todo um espectáculo 
lastimável. O Sr. Almirante voltou para a 
cidade com os restantes, dos quaes muitos 
estavam feridos por flexadas. N'esta occa- 



(1) Constava de 90 homens. 

(2) Commandado pelo Capitão João Mendes Flores. 




sião teve elle que passar pelo mesmo transe Anno 
que pouco antes o Sr. General. m 1630 

A 17 formou-se uma companhia de mou- * Forma -se 

r ~ uma corap.» de 

ros, aos quaes forneceu -se arcos e fiexas, mouros, 
escudos, espadas e grandes porretes de ma- 
deira rija, semelhantes na forma aos esga- 
ravatadores de ouvidos da Bohemia, e ou- 
tras armas análogas. Elles devem servir-nos, 
não só em occasiões como a acima referida, 
como para irem diariamente buscar fructas 
na floresta para refresco dos feridos. 

A 23 a nossa companhia foi mudada da Mudamos de 
cidade para a aldeia Povo, onde nos deram quar 
péssimos alojamentos. Justamente n'esta 
occasião eu achava-me doente de febre, pelo 
que não pude marchar, sendo transportado 
com outros doentes e feridos em uma cha- Doente erou- 
lupa. No entretanto a minha caixa, que ? a a £°ão POr um 
havia ficado no nosso antigo quartel, foi 
arrombada por um ladrão, que roubou -me 
um bello fato, com alamares de prata da lar- 
gura de um dedo, e muitos outros objectos, 
assim como toda a minha roupa branca, 
que eu tinha tão boa e bonita, como nenhum 
em toda a companhia, e mesmo, posso di- 
zei -o sem orgulho, em todo o regimento. 
Quando trouxeram a bagagem, recebi a mi- 






Maio. 



80 



Anno nha caixa vazia, restando-me apenas o que 

1630 trouxera na chalupa, podendo-se então dizer 
de mim: Pobre soldado! 

Na madrugada de 24 (*) os inimigos ata- 
caram a ilha de António Vaz com tão fu- 
riosa resolução que, não só transpozeram a 
trincheira, e retiraram do reparo uma pe- 
o inimigo as- quena peça de ferro, como também entra - 

salta a ilha de ,. 

António vaz. ram nas casas e mataram a diversos nas 

suas camas, fugindo a maior parte para o 

lado do rio. Com tudo, graças aos actos de 

Muitos mor- valor do Sr. Major Schuep, que desceu do 

tos no somno. , . . . - 

seu alojamento, e reunio e animou os sol- 
AcçSo varonil dados apavorados, os assaltantes foram repel- 
ecbnep. a ° r lidos com grandes perdas, como verificamos, 
ao romper do dia, pelos muitos mortos en- 
contrados d'entro e fora das trincheiras. En- 
um cruel sei- tre elles achou-se um selvagem que fora de 

vagem e antro- . . . , . - , 

popnago. extraordinária corpulência e força, tendo uma 

fortíssima dentadura com duas ordens de 
dentes em cima e em baixo. D'elle corta- 
ram diversas tiras de pelle e o carmsco der- 
reteu bastante sebo. 



(1) Esta data acha-se egualmente no offlcio de Waerdenburch de 
27 de Julho. Nas Memorias Diárias se diz que tivera lugar a 24 
de Março. Si assim fora o mesmo Waerdenburch houvera tido oc- 
casifio de dar conta d'este ataque no offlcio de 8 de Abril ou de 14 
de Maio. Que elle foi em Maio se deduz também de uma relação 
dada por Silvestre Manso em 14 de Agosto de 1630. — Historia das 
Lutas, pag. 67, nota. 



V 



81 



De 25 até o ultimo do tnez guarnece- An no 
xam-se melhor os parapeitos com pallissa- \63Q 

<ias, collocando-se em vários pontos muitas ^K^L,,*. 

7 r u u a r ia m o s 

estrellas com pontas de ferro, e de noite me|i™°s<n»r- 

estrepes dentro e em frente aos approxes ou 

íóssos. 

Nos dias i, 2 e 3 passaram-se novamente Junho, 
■diversos para o inimigo. Desar*™. 

A 14 ( l ) os inimigos assaltaram o forte o inimigo a- 
de pedra, ( 2 ) chegando alguns a entrar pelas fv* T £ mrtaae 
canhonheiras. Foram ? porem repellidos com 
perdas de vários homens, que arrastaram 
para o matto, achando-se os rastos de sangue. 
Em compensação feriram com as suas ruins 
flexas a 16 dos da guarnição. 

A 15 elles ouzaram atacar a cidade, mas, Atacam a & 
tiveram que retirar-se vergonhosamente com 
glandes perdas. 

Nos dias 16 e seguinte começou-se a cons- 
trucção de uma trincheira em frente ao forte, 
ria qual trabalhou-se activamente, 

A 23 chegou aqui um navio da Hollanda um navio traz 
trazendo anoticiadeque o hyate De Brack y de Amsterdão 
partido d n aquí no dia 10 de Março, che- 

(I) Naa Memorias Diárias este ataque traz a data de 15, 
(2} Era o forte adiante do de S, Jorge que já estava em construç- 
ão nelos nossos, cora o nome de Diogo Paes, e que o Imuiiço, refor- 
uKiiiil^i.', veio a chamar da Bruyn. 



J 



82 



Anno gára felizmente a Amsterdam em 26 de Abríl T 

1630 dando a boa nova da conquista d'estes lu- 
un °" gares, pelo que houve alli e em outras par- 
tes muitos fogos de alegria e formidáveis 
salvas. 

A 30 aconteceu uma grande desgraça; na 

meio do rio, chamado Beberibe, entre o 

só pessoas Recife e António Vaz, estando a maré cheia> 

morrem afoga- . , orv - 

das de uma só virou um bote com 30 pessoas que todas 

vez. -. 

se afogaram. O outro no, entre o convento 

e a terra firme, chama -se Capibaribe em 

lingua hespanhola. 

Julho. De 5 a 10 passaram -se muitos dos nos- 

Desertores. sos para o inimigo . Estas deserções são 

causa das de- motivadas pela falta de viveres de que sof- 

serções. 

fremos. As mais das vezes as rações de 
pão ou provisões distribuídas para oito dias 
mal chegam para dous, sendo até devora- 
dos cães, gatos e ratos. Assim acham o-nos 
a fome é um na. alternativa de ou expulsarmos o inimigo 

má o hoteleiro . _ 

© péssimo cozi- da sua vantajosa posição ou morrermos de 
fome. 

Nos dias lie seguintes proseguimos tra- 
balhando activamente na nova trincheira; 
um ataque á na noute de 18 o inimigo deu-nos um vio- 
lento assalto, não conseguindo, Deus seja 
louvado, mais do que ferir a alguns doa 



83 



nossos, com flexas, em quanto que muitos Anno 
.dos seus foram mortos e feridos. 1630 

A 20 foram lidos publicamente, na para- 



Julho. 



da, os nomes de todos os que se teem pa,s- os nomes dos, 

desertores são 

sado para o inimigo, sendo os ditos nomes pregados na 

r 1 to ' forca. 

pregados na forca. Os desertores são na 
maioria francezes, de sorte que os d'esta 
nacionalidade estão sendo muito suspeitos e 
odiados entre nós. 

Ne 21 a 28 esperamos com anciedade 
mais navios da Hollanda, e como muitos ossoid.osjn~ 

validos são en- 

dos nossos soldados estivessem inválidos a viados para a 

pátria. 

ponto de não poderem mais prestar serviços, 
a 29 fez de vela um hyate no qual foram 
enviados para a pátria. 

A 31 chegaram, graças a Deus, nova- 
mente dous navios, de nomes Gellerlandt e chegam dou& 
Bruin Visch, os quaes, ainda que bem carre- 
gados de viveres, trouxeram apenas 55 sol- 
dados. 

A 2 veio á cidade um braziliense que re- Agosto. 
ferio estar o seu Capitão, com trezentos um brazmen- 

, , . , , . , . se vem á cida- 

homens, inclinado a devotar- se aos hollan- de. 
dezes. Foi muito bem tratado, sendo-lhe offe- 
recido tudo o que havia de bom. Partio 
10 dia seguinte promettendo voltar dentro 
de quatro dias e trazer outros comsigo. 



/., 



84 



Anno A 8 vieram novamente á cidade dous bra- 

1630 zilienses fazendo igual offerecimento ; foram 
Agos o. acolhidos da mesma forma e deixados par- 
tir outravez. Mostram boa vontade em pas- 
sarem-se para o nosso lado, mas, certa- 
mente receiam confiar- se- nos porque os 
hollandezes, na entrega da cidade de São 
Salvador na Bahia de Todos os Santos, 
esqueceram de incluil-os no accordo, resul- 
tando serem cruelmente tyrannisados pelos 
hespanhóes. 
2navio8ei A 13 e 17 chegaram aqui dous navios 
yae ' e um hyate da Hollanda, que vieram bem 

carregados de viveres e munições, mas, trou- 
xeram poucos soldados, 
e navios que A 19 voltaram os 6 navios que haviam 
vao áavêntura! partido para a Bahia á aventura, sem que 
tivessem conseguido cousa alguma ; lasti- 
mam os seus capitães não terem encontrado 
um só navio do inimigo. 
A 20 o Sr. Almirante mandou para a ilha 
E' enviado i de Fernando o hyate Bruin Visch , no qual 

hyate para a „ , , . 

iiha de Per- foram embarcados vanos mouros que de- 

nando. 

vem ajudar as tropas hollandezas, que alli 
se acham com dous canhões, a construir o 
acampamento. 

Durante o resto do mez nada occorre 



V 



85 



continuamos fortificando todos Anno 

Quasi diariamente tínhamos pe- 1630 

Setembro. 



de notável 

os pontos. 

quenas escaramuças com o inimigo nas pro 

ximidades da cidade. 



No dia 11 chegou aqui um hyate da Ze- 
lândia bem carregado. N n esta noute tam- 
bém o inimigo incendiou duas chalupas, 
preparadas com pêz, enxofre e outras ma- 
térias , que fez derivar com a corrente do 
no para cima dos nossos navios fundeados 
no porto. Como, porem r em tempo as per- 
cebêssemos sobre o rio, as impeli imos para 
outro caminho, de sorte que nenhum damno 
nos causaram, 

A 20 chegaram mais dous navios da Hol- 
landa e da Zelândia, trazendo viveres, mu- 
nições e 64 soldados. 

A 23 seguimos bastante fortes para o 
matto em frente á trincheira nova, para cor- 
tar fachinas. Marchando para diante en- 
contramos uma casa (*) que incendiamos; 
no regresso fomos perseguidos pelo inimigo, 
resultando ficarem de ambos os lados mui- 
tos mortos e feridos. 



Um infructi- 
fero estratage- 
ma do inimigo. 



Uma pequena 
escaramuça. 



{I) Pertencia a Francisco do Rego e estava situada junto ás Sa- 
linas ( S ar t Amuro hoje) em frente á íortali^a do Bruni, servindo de 
atalaia aos nossos para observarem os movimentos do inimigo. 



fc6 



no A 30 chegou aqui uma charrua, proce- 

1630 dente da Hollanda, trazendo entre outros 
quarenta soldados, que foram entregues ao 



tem br o. 



sega uma Sr. Capitão Ruessen para reforço da sua 

iena eh ar- . 

companhia. 
tubro. Em compensação a 2 fez de vela o hyate 
m hyate Overijssel carregado com pau-brazil e sinos, 
paraapa- e conduzindo 120 soldados que não podiam 
mais prestar serviços, especialmente os que 
de noite ficavam cegos. Suspeitou -se, po- 
rem, que em muitos este achaque fosse 
simulado, mas, verificou -se que pondo-se- 
:os du- lhes uma vela accesa diante dos olhos abêr- 

a noite. 

tos estes não se moviam, ainda mesmo 
quando a chamma lhes tostava as sobran- 
celhas; para o que não havia, pois, remédio, 
a-se a A 7 traçou-se a planta de uma fortifica- 

ie uma 

inch.» ção na ilha de António Vaz, que foi deno- 
minada : Trots den duivel ( 1 ). 

A 8 foi despachado para a Hollanda mais 
jpach.o um hyate, chamado De Leeuwin, carregado 
com toda a casta de objectos. Deus dê-lhe 
felicidade e bom vento. 

A 23 o Sr. Commissario Bruyne e o Sr. 
•rmo- Pensionario fizeram as suas despedidas aqui 

tria. 

(1) Desafio ao Diabo; foi o primeiro nome dado á fortaleza das 
Cinco Pontas. 



.J 



87 



-e embarcaram -se. Em hoYira «Telles foram Anno 



1630 
Outubro. 



disparados três vezes os canhões e mos- 
quetes. Ao pôr do sol partiram egualmente 
1 1 navios que vão cruzar no mar, em frente 
á Bahia, em busca de embarcações hespa- 
nholas. 

A 24 sahimos de novo em frente á trin- 
cheira para cortar fachinas. Quando, po- causa, 
rem, chegamos do outro lado do rio o ini- 
migo, que achava-se atraz de um parapeito, 
recebeu-nos com tão certeira descarga que Batemo-nos 

. diariamente 

logo cahiram vanos mortos e muitos fica- com o inimigo, 
ram feridos. Apezar d'isto galgamos o pa- 
rapeito e puzemol-o em fuga, aprisionando 
um que estava ferido nas costas. N'esta 
mesma acção o meu camarada Spiessen foi 
ferido, na retirada, por um tiro nas costas, 
não o varando a bala por ter batido em um 
estojo de prata em que trazia o seu ta- 
lisman. 

A 25 principiou-se a construcção da trin- preparativos 
cheira — Trots den duivel — onde levantou-se cheira, 
um reducto de madeira e duas baterias, em 
que foram collocadas quatro peças de cam- 
panha. O corpo da guarda foi cercado por 
uma estacada pregada em forma de cruz, 
com pregos de ferro e revestida com pran- 



z*S 



8R 



Anno chões de alto a baixo. Durante a noite fi- 

n t h cava ne ^ e ^ e g uarc *a uma companhia, e de 
dia trabalhavam na trincheira 20 homens 
de cada companhia. 

A 27 partiram d'aqui mais dous navios, 
uma embai- £) e Swarte Ruyter e Arca Noè\ com os quaes 

xada p.» a Hol- "^ 7 ^ 

landa. seguio o Sr. Capitão Rembach, enviado á 

Hollanda pelos generaes, como embaixador 
junto ao Príncipe de Orange. Deve regres- 
sar dentro de seis mezes. Deus conceda- 
lhe felicidade e bom tempo, útil. realisação 
do negocio e um alegre regresso, 
o inimigo a- Na noite de 29 o inimigo tentou um 

panh.o de sur- 

preza é posto golpe de mão sobre a mencionada trincheira. 

em fuga para . . 

a floresta. Sahindo os nossos escopeteiros a reconhe- 
cimento deram de surpreza sobre elle, fazen- 
do-lhe valentemente fogo e tocando alegre- 
mente as trombetas, e nós nas baterias fize- 
mos rufar os tambores. Isto causou ao ini- 
migo (que entretanto era bastante forte) um 
tal pânico que retirou -se rapidamente para 
a floresta, abandonando muitos mortos, 15 
mosquetes, boldriés e morrões que, ao ama- 
nhecer encontramos junto da trincheira, 
chegam três A 31 entraram no porto dous h vates. 

navjios bem ' 

carregados. chamados Pernambuco e turae, junto com 
um navio mercante, trazendo, além de 8< 






89 



soldados e viveres, também carrinhos de Anno 
mão, pallissadas, pranchões e toda a sorte 1630 

de materiaes próprios para entrincheiramen- uutuDr0 ' 
tos e edificações. 

A 17 chegou aqui uma charrua, chamada Nov'bro. 
Enchuysen, trazendo ampla provisão de vi- charrua* uma 
veres e 50 soldados. 

Na noute de 19, entre 8 e 9 horas, assis- 
timos a um eclipse lunar. 

A 28, quando pretendíamos ir cortar fa- Pequena es- 

,. ,. , .... caramuça. 

chinas, fomos presentidos pelo inimigo, que 
nos atacou fortemente, ferindo-nos dous ho- 
mens; em compensação matamos-lhe diver- 
sos, que na retirada arrastaram comsigo Q). 

A 30 regressou a charrua que partira á a charrua 

traz tuna ruim 

aventura, trazendo uma preza hespanhola, presa. 
na qual havia apenas 15 pessoas, estando 
no mais bem provida de sal, cebolas e alho. 

A 4 chegou aqui, vindo de Groeningen, Dez'bro. 
um navio carregado, trazendo 40 soldados. 

A 5 regressou o Sr. Almirante Walbeck, o Br. Aimi- 

° rante faz presa 

que tinha ido cruzar em frente á Bahia, de 5 caravelas 

x hespanholas. 

com 6 navios em busca do inimigo. Nas 
vizinhanças do cabo de SanfÁgostinho apre- 
sou 5 caravelas hespanholas, quatro das 



(1) Esta escaramuça teve lugar no campo das Salinas. 



90 



no quaes descarregou e incendiou, e trouxe para 

f 1630 a q U i a quinta carregada com assucar e fumo. 
zbio. q s hespanhóes que se achavam n'estas em- 
barcações escaparam para terra procurando 
salvação na fuga. 
inimigo as- A 9 o inimigo deu novamente um impe- 
le. * tuôso assalto á cidade, o qual durou cerca 
de três horas. Ferio a três dos nossos, 
mas, em paga soffreu bastante, como veri- 
ficamos ao amanhecer pelas armas achadas 
e o muito sangue que havia por toda a 
parte, 
ga uma A 14 aportou aqui uma pequena barca, 
de nome Zuikerbrood, (*) vindo da Hollanda, 
com carregamento de farinha e biscoito. 
A 15 chegaram 3 navios com provisões, 
)o car- nos quaes vieram 80 soldados. Por elles 
strass- rece kj ^as cartas de meus queridos pães e 
irmão, em Strassburgo, com data de 15 de 
Agosto, 
randes A 18 chegaram novamente dous navios: 
rapai 1 a vice-almiranta do Sr. General Pater, um 
bello e grande navio armado de 42 peças 
grossas e conduzindo 150 soldados, e De 
Olifant ( 2 ) com 130 soldados-. 



(1) Pão de Assucar. 

(2) Elephanie. 



V 



91 



A 20 foi enforcado um soldado que tinha Anno 
■penetrado em um armazém onde apenas en- ^ 1630 
•controu uns bacalhaus velhos e roidos. z * 

A 21 embarcou o Sr. Tenente Coronel um soldado, 
^an der Elst, e em sua honra os soldados Bmbarcao 

, Sr. Tenente-Co- 

^stiveram em armas, e em todos os lugares ronei van der 
vieram -se salvas de mosquetes e artilharia 
^grossa. 

A 23 partiram d'aqui ao mesmo tempo 
-dous navios, que tinham carregado assucar 
-e fumo. 

A 26 passou-se para nosso lado um mou- um mouro 

.... ,. . . descobre-nos 

ro do inimigo, que refeno haver entre a tracção, 
nossa gente um trahidor, que diariamente 
vae ter com os nossos adversários na flo- 
resta, e lhes dá noticia da força que guar- 
nece todos os postos, dos navios que che- 
gam da pátria, e quantos soldados, viveres 
^ munições trazem. 1631 

A 1 chegou da Hollanda um navio tra- Janeiro, 
zendo, alem de toda sorte de objectos, 50 um navio 

, , . com 50 sold.o» 

soldados. 

A 2 , quando COrtavamOS fachinaS para Pequena es- 
caramuça. 

as trincheiras, os nossos escopeteiros esca- 
ramuçaram com o inimigo, matando-lhe dous 
..omens e ferindo diversos. A' tarde chegou 
jm navio trazendo o Sr. Capitão Carmillon naviof* 



/'-> 

:=*>> 



Anno e 40 soldados. De noute, pelas 1 1 horas* 

. foram escaladas duas companhias com os 

Janeiro. . 

escopeteiros e J00 mosqueteiros, que ? antes 

do amanhecer, se foram postar siknciosa- 

Feiiz ardii de mente de ambos os lados do váu (por onde 

guerra. ... 

o inimigo costumava atravessar o no para 
nos atacar) um pouco pelo matto a dentro. 
Ao romper do dia sahiram os trabalhadores 
seguidos de uma fraca escolta, marchando 
todos \agarosamente e apparentando segu- 
rança. Logo que o inimigo os percebeu 
não demorou -se em passar o rio aos ma- 
gotes e com grande alarido cahio sobre eles. 

Nós da escolta, porem, nos retiramos e os 

trabalhadores deitaram a fugir até têl-os 

attrahido bem para fora d'agua e feito es^o- 

cortamos a tar as munições. Então as nossas tropas. 

retirada ao ini- . ' . 

migo. anteriormente mencionadas, os acommetUram 

por todos os lados, cortaram- lhes a retirada 

e mataram quantos encontraram. Tratamos 

especialmente os brazilienses como elles cos- 

uzamos de tumam fazer com os nossos. De modo que, 

jusTallionis . . t 

p.» com eiies. junto com grande numero de armas, arcos 

e flexas, diversos levaram para o quartel 

umbeiiopre- muitos narizes e orelhas espetadas nas es- 

sente de vmri- . . . x , . __ 

■ea e orelhas padas. Assim o meu Sr. Major de Ber- 
stedt, como heróico cavalheiro que era, offe- 






93' 



taeu ao Sr. Coronel a sua espada cheia, Anno 

I metade da lamina, de narizts e orelhas, \0>3\ 

Janeiro. 



tce 



x. linda outros fizeram -lhe egual presente. 
Em visía d'Ísto o governador hespanhol, Sr. 
d ? Albuquerque, enviou-nos um tambor com 
o pedido de ? de ambos os lados, serem os 
mortes enterrados segundo o costume de 
guerra, sem soffrerem mutilações. Foi de- 
ferida a sua petição com a condição, porem, 
de que os brazilíenses tambtm fossem por 
elle obrigados a isto. 

A 4 k\ despachada para as índias Occi- 
dentats a pequena barca, chamada Zuiker- 
breod) alim de carregar na ilha de S. Mar- 
tinho, sendo, no dia immediato, seguida 
pelos três navios de provisões. 

A 6 sahio uma foríe escola da nossa 
gente, em procura de refrescos para os doen- 
tes. Tendo chegado a alguma distancia 
por dentro do matto, foi acommettida de sur- 
preza (*) pdo inimigo, que alli estava em- 
boscado com três tropas e póz muitos em 
fuga. A maioria, porem, pelejou com tal 
denodo e por tanto tempo que, chegando 



\\) Esta Borpresfli teve lugar no sitio denomiiwlo das Olarias, 
hoje OOUbfeehlú vini] d flama dè Kauta. distante de Olinda uma le«£ua, 
e muito ftktmdftritfl em eiíu©!ros. A nos.-a gmw e:v. commandada 
pelo Capilíío Pedto Teixeira Franco. 



O ijue é justo 
para um deve 
o ser tampem 
jiara o outro. 

\ 



Partem qua- 
tro navios p.» 
as hitiias Occi- 
dentaes. 



No matto áo- 
ve-se reconhe- 
ci', r Item. 




V 



94 



Anno soccorro da cidade, conseguio repellir os 

1631 inimigos. N'este encontro elles desforram - 

Janeiro. se de nós, comtudo, não soffreram pouco, 

pois, percebeu -se que arrastavam muitos 

mortos (*) e que não eram poucos os feridos. 

Perdemos va- Do nosso lado egualmente foram muitos 

lentes offlciaes r . , , Ar > /9x , 

e bons solda- os feridos, e para mais de 40 (f) mortos 
ficaram no campo da peleja. Entre estes 
achavam-se o Sr. Capitão Ruess, vários al- 
feres e sargentos, que todos foram trazidos 
para a cidade e sepultados com as devidas 
honras militares, 
o gato traz A 7 chegou da Hòllanda o navio cha- 

comida para o 

rato faminto, mado De Kat , bem carregado com viveres. 

A 11 regressou um navio que estivera 

uma mim cruzando, trazendo uma pequena caravela 

presa. 

hespanhola, na qual havia apenas 84 caixas 
de assucar. 
chega o na- A 14 chegou aqui õ navio Amersfoort, 

menoor. trazen( j ^ Q( j a a sor ^ e ^e v } veres e 5Q sol- 

dados. 

A 15 e 16 passaram-se do inimigo para 
o nosso lado dous brazilienses. 



(1) Nas Memorias Diárias lê-se que esta acçSo custou-nos somente 
«o ser ferido o alferes Domingos de Farias >por uma hallabardada 
«que um sargento lhe descarregou». 

(2) Na mesma obra diz-se que foram degollados sem resisten 
160 dos contrários, entre os quaes um capitão inglez, e aprisioi 
dos dous. 



95 



A 17 voltou mais um cruzeiro, trazendo Anno 
uma barca hespanhola, carregada com mui- y 1631 
tas armas e provisões, destinadas ao inimigo. 



Janeiro. 



Cerca de 100 soldados hespanhóes que es- E' tomada 

, . - , uma barca bes- 

tavam a bordo lançaram-se ao mar e alcan- pannoia. 

çaram a nado a terra que ficava próxima. 

A 22 o brabantino Verdunc foi mettido 
na prisão com ferros nas mãos e nos pés. 
Elle residia aqui em Olinda, entre os por- 
tuguezes, porem, quando tomamos a cidade 
ficou comnôsco, apparentando amizade e offe- 
recendo-se para tudo. Tornou -se querido otraidorver- 
de todos, especialmente do Sr. Coronel, em posto a ferros, 
cuja companhia sahia constantemente e de 
cuja mesa partilhava. A sua prisco foi mo- 
tivada por ter o braziliense, que passou-se 
para nós no dia 15, reconhecido o seu 
mouro, e referido que elle o enviava de três 
em três dias com cartas ao Sr. de Albu- 
querque, communicando-lhe todos os nos- 
sos planos, e revelando -lhe tudo o que se 
passava ou lhe era confiado. 

A 24 chegaram novamente dous navios chegam dous 
com provisões, nos quaes vieram 90 solda- 
dos, que, porem, nada sabiam da nova 

jta. 

A 27 entraram dous navios da Hollanda, 



navios. 



X. 



<f 



96 



Janeiro. 

Cheirara dous 



Anno trazendo 100 soldados com os respectivos 

1631 officiaes; referiram que a frota sahira antes 
d'elles, mas não podiam saber o numero de 
zem bôa U novt ve ^ as porque partiram de vários lugares. 

Nos dias 2S, 29 e v30 o inimigo fero 
vários dos nossos, quando trabalhavam na 
meia-lua, que se está levantando em frente 
á trincheira. Estava emboscado dentro do 
natto, do outro lado do rio, em quanto que 
Fevereiro, os nossos ficavam descobertos na praia. 
Preparativos A 1 nos transportamos em forte numero, 

para a terceira . 

trincheira. com vigas, pranchoes e pahssadas para a 
pequena ilha ( x ) , em frente á de António 
Vaz. Alli levantou-se um redueto de ma- 
deira, com três baterias, bem guarnecido 
o inimigo em redor com palissadas duplas. A 1 hora 

ataca violenta- .... . , 

mente o reduc- da tarde o inimigo o atacou violentamente, 

to de madeira. . 

atirando tantas balas e fiexas que nos feno 
10 homens e matou um. Pretendiam ex- 
pulsar -nos d'allij, mas foram obrigados a 
retirarem-se com perda de muita gente e 
sem nada haverem conseguido. Foram -se 
silenciosamente sem rufos de tambores nem 
exclamações de jubilo. 



(1) Era na ponta de terra chamada d'Asséca. Deram ao forte 
que depois ahi construíram o nome de Waerdenburch. D'elle n<V> 
existem nem vestígios. Segundo o Visconde de Porto-Seguro o seu. 
local deve estar coberto d'agua em frente á fundiçfto do Star. — His- 
toria das Lutas, pag. 6ÍJ. 



97 



Durante os dias 2, 3 e 4 os contrários Anno 
«continuaram tiroteando de dentro do matto 1631 

sobre a nossa gente que ia ou vinha. reveieuo. 

A 5 fincaram -se as estacas para a nova Fincam-sea* 
fortificação, na pequena ilha, junto ao redu- e6tacas - 
<:to de madeira, que com o auxilio de Deus 
ficará uma bella trincheira, com três bas- 
tiões. (*) 

Na noute de 11 os nossos escopcteiros 
foram até debaixo das obras do inimigo, 
regressando, porem, sem nada terem con- 
seguido. 

A 12 encetamos, em nome de Deus, o tra 



Oomeça-se a 
instrucv&o 
trincheira. 



balho na nova trincheira, da qual coube á construção da 
•companhia do Sr. Major de Berstedt (em 
que sirvo) a construcção de 16 braças. Du- 
rante a noute chegou o navio chamado De 

° Che^a o na- 

jfae^cr,^) trazendo 80 soldados. Esperava ™btja»jer. 
já encontrar a frota aqui fundeada pois par- 
tira antes d'elles. 

A 13 celebrou-se o casamento da filha 

O 1.° casa- 

do Sr. Strausskircher com um Commissario mento, 
da Companhia das índias Occidentaes. 

A 14 chegou mais um navio carregado 
com viveres. 



(1)0 forte de Waerdenburch ou das Trez Pontas. 
(2) Caçador. 



y 



98 



Anno Na manhã de 15 regressou um dos nos- 

1631 sos navios que sahira á aventura, trazendo 

fofflciai 1 ^'- Prisioneiro um pirata francez. 

^p^-atífr^ A 16 entraram no porto dous navios sendo 

cez * um inglez. Trazem noticia de que D. Fre- 

navio in- daico partira da Hespanha, com 64 velas y 

glez traz noti- _ , •, • \. j - • ^ r 

cias frescas. nao se sabendo si pretende vir aqui. Refe- 
riram também que sua Magestade o Rei da 
Inglaterra mandara equipar 100 navios, e 
que em Bleney estavam 11 promptos para. 
seguirem a mencionada frota hespanhola. 

Festejamos A's 9 horas da noute de 17 festejamos aqui 

victoria com . , r .. , 

fogueiras e ti- victoria, com fogueiras e tiros, por ter decor- 
^ rido 1 anno que, com o auxilio de Deus, con- 

quistamos estes sitios e os temos conservado ... 

1 taaziíiense A 19 passou-se para o nosso lado um 

e um mouro , .,. .... 

passam-se para braziliense do inimigo. 

o nosso lado e . rt _ , 

trazem bôa no- A 20 veio igualmente um mouro, que re- 
ferio terem sido mortos e feridos 25 dos- 
inimigos, no ataque que deram a 1 do cor- 
rente, ao reducto de madeira. Entre os. 
mortos achou-se o irmão do governador^), 
que durante a escaramuça 2 mouros trans- 
portaram em uma rede, pelo que se retira- 
ram tão tristes e silenciosos. 

Na madrugada de 23, sahindo a nossa 

m (1) Foi o Capitão António Vianna e nâo um irmão do Governador.. 



99 



gente para cortar juncos, os escopeteiros pene- Anno 
traram em umas das obras do inimigo, não 1631 

encontrando senão uma caixa com pólvora R^^re?» 
e balas, algumas redes e potes cheios de J^ ™ trata - 
deliciosas bebidas. 

A 28 passaram-se para o nosso lado dous vêm 2 mou- 

_ _ ros. 

mouros com arcos e ílexas. Em compen- vf arco 
sacão a 8 desertou um dos nossos. Desertor. 

Ao amanhecer de 9 os portuguezes gri- 
taram-nos, das suas fortificações para a meia- 
lua, que fossemos para onde estavam afim 
de vermos o nosso desertor enforcado em 
uma arvore. 

A 13 passou -se para o nosso lado um 
braziliense. De noute sahio uma partida 
de escopeteiros, que receberam pão e queijo 
para vários dias. Guarda -se segredo sobre 
o que vão executar. 

A 16 procedeu-se aqui á revista geral. 

A 19 passou-se novamente um mouro do a nossa par- 
tida traz dona 

inimigo para o nosso lado. prisioneiros. 

A's 4 horas da madrugada de 20 regres- 
sou a partida de escopeteiros que sahira; 
conseguio apenas aprisionar dous portugue- 
ses, que estavam de sentinella junto á casa 
incendiada, em frente á trincheira. 



100 



Anno A 22 veio ter comnôsco, junto á trin- 

](S31 cheira Trots den duivel ou Vijfhuck ( l ), um 

1 (A ^°i à* F ortu íí uez q ue desertou estando de senti- 
tvttot iiotiu- nclla, 

nniíiíiiiíiâ m- A 24 foi enviado para a pátria o hyate 

vijidttó pura & Z?iv/ Eenhoom conduzindo soldados invali- 

iwtrlft, . 

co> que nao podem mais prestar serviços. 
A 26 foram embarcados duas companhias 
de escopeteiros em um navio e duas cha- 
lupas, que tomaram miro do cabo de Santo 
Agostinho. 
Níwma cavo- Regressaram a 28 referindo haverem estado 

peteíme sutura . 

íum uma hjv um pouco abaixo do cabo, e penetrado em 
jíuem.TJCiríím. varias casas nas quaes pouco encontraram , 

muito powu, 

porque os portuguezes, logo que os viram 
approximar-se, fugiram para a floresta, le- 
vando todos os seus haveres. Em vista 
cTi^to puzeram fogo ás casas e trouxeram 
prisioneiro para aqui a um velho monje. 
rbBgnni 4 na- A 30 entraram ao porto 4 navios, sendo 
zvml más nn«- trts cruzeiros, um dos quaes sem bandeira, 

çlaiíj porem o . i i i j i 

nu^rta imas, por haver uma bala levado a cabeça ao seu 

capitão, em um combate que tiveram com 

vários navios hespanhóes em frente á Bahia, 

O outro era uma charrua vinda da Hol- 

landa, com carregamento de pranchões r 

(1) Cúico-Pontas. 



_ 



101 



•outros materiaes, e trazendo a noticia de Anno 
que o nobre Sr. General Pater fizera de 1631 

vela com 5 navios, quatro semanas antes x ai Ç°* 
d'ella, sendo seguido por 7 navios com pro- 
visões. Referiram mais os da charrua te- 
rem encontrado, próximo a estas costas, um 
hyate do Sr. General, com cujo Capitão fal- 
laram; disse-lhes este que o mesmo deveria 
-chegar aqui dentro de poucos dias. 

A 31 veio ter comnôsco mais um mouro um mouro- 

deserta do ini- 

<io inimigo, e na occasiao em que se pos- migo. 

tavam sentinellas dobradas appareceu, em 

frente ao Vijfhuck. um joven braziliense que Transvia-se í 

joven brazi- 

foi trazido para a trincheira por 4 mosque- uense. 
teiros. Perguntado como fora parar alli, 
referio que o seu senhor passara com cinco 
portuguezes, por junto da nossa fortificação, 
e lhe ordenara que regressasse para o seu 
quartel, mas, que se transviara e viera ter 
«m frente á nossa trincheira. 

Alo nosso Sr. Governador e Coronel 
pôz em liberdade ò velho portuguez (depois 
de haver -lhe mostrado as nossas fortifica- 
ções, artilharia e provisões) e mandou-o com o v.o monje 

é posto em li- 

diversas cartas para a sua gente. Com elle herdade sem 



conversei muitas vezes, graças aó pouco de 
latim que aprendi, na cella do convento 



resgate. 



j 



r 



Abril. 



102 



Anno que me servia de bom alojamento. Contei- 

1631 lhe da minha pátria, e especialmente da 
cidade Argentina Q) e do seu bello tem pia 
famoso em todo mundo, admirando-se elle 
muito — como um velho religioso quasi in- 
fantil que era — de que eu tão joven, me 
houvesse aventurado até estas terras. 

um navio traz A 2 entrou no porto um navio vindo da 

noticia do Sr. 

General Pater. Hollanda trazendo 45 soldados . Estes re- 
feriram terem sabido na Inglaterra, que o 
Sr. General Pater, partira d 'alli oito dias: 
antes d'elles. 
o tranidor A 3 foi posto a tratos o brabantino, que 

Verdnnc ó pos- -a , T . u . . , 

to a tratos. fora encarcerado em Janeiro ultimo, em vista 
do testemunho do mencionado velho monje, 
que sabendo do seu procedimento o revelou 
ao Sr. Governador. O que o tráhidor con- 
fessou será narrado adiante. 
Neça no dia A 4 o tráhidor foi novamente torturada 

seguinte outra , , ' , e 

vez tudo. porque negou tudo o que na véspera confes- 
sara e referira no potro. 

A 5 vieram ter conmnôsco dous jovens bra- 
zilienses, que atravessaram o rio em uma 
embarcação, feita de vários pedaços de ma- 
deira como uma balsa. 



(1) Strasburgo. 



103 



Na madrugada de 6, o trahidor Verdunc Anno 

•atirou-se por um pequeno buraco (causando m 1631 

Abril 
^a muitos admiração, como um homem tão - rwiil - 

grande e gordo pôde passar por elle) sobre o trahidor 

- ,..,,._ Verdunc tenta 

umas lages que havia junto a pnsao, com quebrar o pes- 
o propósito de quebrar o pescoço. Soffreu coç °' 
apenas um pequeno buraco na cabeça, sen- 
<io em seguida ainda mais severamente tor- 
turado e melhor guardado. Ao pôr do sol 
chegaram três navios da Hollanda, bem chegam três 
carregados com provisões, trazendo 50 sol- landa, 
•dados. 

A 10 morreu o referido trahidor na pro- o trahidor 

, morre na pri- 

pna hora, em que devia sahir para o sup- sao. 
plicio. Pelo que foi transportado por qua- 
tro mouros para a frente do alojamento do 
Sr. Fiscal, onde fQi lida a sua sentença. 
Dizia esta que, por occasião da tomada da sua pérfida 

, Intenção e in- 

cidade, elle passara -se para o nosso lado dignas commu- 

. nicações. 

com apparencias de amizade, tendo, porem, 
antes promettido ao governador hespanhol 
e ao religioso, de quem recebera o Santís- 
simo Sacramento, avisai -os de tudo: — da 
força das nossas tropas, como estavam pos- 
tadas as nossas guardas em todos os luga- 
res, onde melhor se poderia tentar um as- 
salto, da quantidade da artilharia, munições 



104 



Anno e viveres, não só existentes, como os que 

1631 nos traziam os navios da Hollanda; da força. 
n * com que sahiam as nossas escoltas e par- 

tida. Mantinha para este fim um mouro 
pelo qual enviava cartas ao Sr. de Albu- 
querque. Pretendia também envenenar o Sr. 
intençííon- Governador na bebida e pôr fogo á pólvora* 

liai do trabidor. .-, . . 

Lm hm a sua hedionda intenção tia extar- 
minar-nos a todos, no que, graças a Deus, 
falhou. Terminada a leitura da sentença, 
foi por ordem do Sr. Governador, arrastado 
por duas cordas, pelos quatro mouros, paia 
a sentença é o lugar da execução. Alli , em virtude da 

execut.»no ca- ' . , , 

daver. condemnaçao, foi estrangulaao, s.ndo-lhe 

cortados dous dedos e a cabeça. Em íe- 
guida foi esquartejado; collocaram a cabeça 
em um alto poste no hornaveque do forte 
de Bruyn, e um quarto junto ao Yijfhuck 
ou Trots deu duivel ; o outro foi pendurado 
em uma forca diante da trincheira nova 
«Kyk. inde pot» (isto é: Olha para o poito) í 1 ). 
Os outros dous foram mandados para Olinda, 
devendo um ser pendurado da mesma for* 
ma no monte e o ultimo no lugar em qtu 



(1) Era o reducto de madeira levantado na ponta Qfàxa&ek. findo 
depois construíram os hollandezes o forte Waerdenhunh nu das Trt?s 
Pontas. Mais tarde levantaram em Afogados outro rediuio df* égua 
nome. A tradncçao de Richshoffor é errónea, pois, esta ultraje aíg 
nifica litteralmente : "olha para dentro do pote.* 



m 



a nossa gente foi batida a 3 de Janeiro Anno 
ultimo. 1631 



A's 9 horas da noute de 12, quando ia 



Abril. 



deitar-me no alojamento do meu Sr. Major, umaccidente 

proí* ~ " 
no i 
tel. 



. . r produz alarma 

ao apagar a lâmpada cahio, por grande mie- no nosso quar- 



licidade, o pavio accosso dentro da cartu- 
cheira do meu boldrié, que estava pendu- 
rado junto ao meu colchão, não só incen- 
diando os cartuchos como disparando o meu 
mosquete. Em consequência do ruido to- 
cou-se logo rebate no nosso quartel, porem, 
o meu Si\ Major oceultou tudo, de sorte 
que escapei sem ser castigado, mas nf:0 
sem muitas queimaduras nos pés, camisa 
e tronco. 

A 14 entrou no porto o nobre Sr. Gene- 
ral Pater com 5 navios, chamados: Prins 
WiIIem } em que vinha embarcado; UytrecJit ; 
De Windlwnd, De Raaf 7 {') e unia charrua chega o sr. 
trazendo bastantes provisões e soldados. comTnavios? 1 * 

Em sua recepção todos os navios no porto 
e os fortes dispararam três tiros de canhão, 
sendo respondidos de egual forma, pelos 
navios chegados» 

A 1T> o Sr. General transportou -se para o Sr. General 
terra sendo muito amavelmente recebido pelo nígo dolTsot 

dados. 

(1) tialyo. (2) Corvo. 



Anno 



1631 



Abril. 



Um portu- 
3çuez vem á ci- 
dade. 



Doze compa- 
nhias são em- 
barcadas para 
tomarem um 
porto e forte. 



106 

Si\ Governador e muitos offlciaes superio- 
res. Depois foi acompanhado ao forte de 
S. Jorge e á trincheira de Bruyn, dando- 
se-lhe em honra por toda a parte três sal- 
vas com os canhões e mosquetes, com gran- 
de jubilo dos soldados que elle sempre pre- 
ferio aos marinheiros. 

A 16 o Sr. General dirigio-se d'aqui para 
a ilha de António Vaz, onde jantou com o 
Sr. Governador, indo em seguida passeiar 
no VijfJiuck, e visitando também o horna- 
veque e o convento. Novamente dispara- 
ram -se os canhões das fortificações e os 
mosqueteiros deram três salvas. 

Na tarde de 19 veio á cidade um portu- 
guez do inimigo, que foi immediatamente 
mandado em uma chalupa ao Sr. Governa- 
dor. O que elle referio se saberá mais 
tarde. 

A 22 ( l ) foram embarcadas doze compa- 
nhias, sob o commando do Sr. Tenente- 
Coronel Steyn-Callenfels, afim de patrulha- 
rem o forte e porto de Itamaracá, obstando 
que alli entrem navios hespanhóes condu- 
zindo soccorros para o inimigo. E' uma 



(1) De Abril e não de Maio como se lê á pag. 72 da Historia 
das Lutas. 



107 



-paragem muito aprazível situada a pequena Anno 

-distancia ao Norte de Olinda. 1631 

A 24 entraram aqui mais dous navios — n * 

•De Otter e De Voe/iel Phcenix, trazendo não 2 navios d» 

7 Hollanda. 

-só soldados como boa provisão de viveres. 

A 30, antes do meio -dia, regressou com 
uma chalupa, o Sr. Capitão Schkoppe, e re- Noticu&de 
ferio que as nossas tropas haviam desem- 
barcado e occupado o porto de Itamaracá e 
se tinham entrincheirado em frente ao forte. 
A y tarde, depois de ter recebido ordens do 
Sr. General e Governador, foi de novo des- 
pachado para Itamaracá. 

A 2, chegou de Itamaracá o próprio Sr. Maio. 
Tenente -Coronel Steyn-Callenfels, partici- ulterior no- 

. ti cia sobre o 

pando ao Sr. Governador que o meneio- forte. 
nado forte não podia guardar o porto, tor- 
nando-se para isto necessária a construcção 
de trincheiras dos lados e de um hornave- 
que, afim de poder-se enfial-o em todas as 
direcções. 

A 5, vieram ter comnosco, junto ao Vijf- 
Jiuck y dous jovens mouros do inimigo. 

Pela meia-noute de 7, quando a maré os braziUen- 

7 ^ ses acommet- 

-estava mais alta e não se receiava perigo tem uma sen- 

r ° tinell» perdida. 

-algum , três brazilienses approximaram - se 
tanto de uma das nossas sentinellas per- 



Maio. 



108 



Anno didas, que bem poderiam têl-a assassinado.. 

1631 Como, porem, preferissem aprisional-a ella. 
defendeu -se tão bem com a sua espada e. 
gritou tanto, que da trincheira sahiram vá- 
rios mosqueteiros a soccorrêl-a, vendo-se os 
brazilienses obrigados a deixal-a e fugirem. 
áb sentineiiaa Justamente n'este lugar deixou o cabo de. 

perdidas cor- 
rem grande pe- mandar render- me por mais de uma hora;. 

si eu me queixasse elle teria certamente per- 
dido o seu posto. D'ahi em diante, porem,, 
deixou-me folgar e poupou-me muitas vezes* 
um sargento A 8 um dos nossos sargentos, sahindo- 
peio inimigo, da trincheira Vijfhuck a passarinhar, adian- 
tou -se demasiado rio acima, pelo que di- 
versos portuguezes cortaram - lhe a retirada 
e o levaram prisioneiro. 

chega i na- Ali chegou aqui um navio chamada 
Griffioen, de Hoorn, trazendo provisões e 
50 soldados, 
o navio Am- A 13 entrou no porto o navio Amster- 
ptíasTgVndâ dam, bem carregado com toda a sorte de: 
gado b T c £oa?- objectos necessários, e no qual veio uma. 
forte companhia de soldados, sob o com- 
inando do Sr. Capitão Larivière, que, entre 
todos os demais offlciaes e soldados, teve 
a honra de trazer para esta terra o rheu- 
matismo. No dia seguinte os soldados fo- 



TÍ0. 



neddo. 



109 



ram desembarcados; eram todos bonitos ra- Anno 
pazes e, queira Deus, supportem melhor o 1631 

clima que as outras tropas novas que até ^^p a ' Bno . 
agora têm chegado. Muitos morrem por acostSSa^e™ 
não poderem se habituar a esta terra quente est * 8 terrM - 
e a péssima agua meia salgada. 

A 16 fugio para Olinda um joven portu- umrApude- 
guez, que foi logo enviado em uma chalupa |o rt * ° 
para o Sr. Governador, aqui, sendo rigoro- 
samente interrogado sobre o motivo que o 
levou a assim proceder. 

A 18 chegou outra vez aqui o navio Hol- o navio mi- 
landia, carregado com viveres. N elle veio também. 
o Sr. Capitão Golster com 100 homens. No 
dia seguinte a companhia foi posta em terra 
e aquartelada. 

A 21 voltou da pátria o navio De Halve DeHáiveMaen 
Maen bem carregado com victualhas. mente. 

Na madrugada de 22 o sargento Hack- nossos esco- 

_._ . peteiros expnl- 

mann atravessou o no com 25 escopeteiros. sam o inimigo 

... , r ..„ ~ da sua fortifl- 

e expulsou o inimigo da sua fortificação, caçso. 
junto á casa branca, defronte da trincheira 
de Bruyn, fazendo-lhe também um prisio- 
neiro (!) que lhe fugio outra vez. No entre- 
tanto os contrários reuniram -se e reforça- 



(1) Foi o Capitão Domingos Corrêa. 



/ 



110 



Armo ram-seportal forma que cortaram aos nossos 

1631 
Maio. 



escopeteiros o passo para as Três Pontas 
ou trincheira K%fc in de $ot y obrigando-os 
a abrirem caminho pelejando e procurarem 
atravessar o rio em direcção á trincheira de 
uma peque- Bruyn. Comquanto d'ella sahisse gente a 

na mas forte a 

escaramuça. soccorrel-os ficaram no terreno da acção o 
sargento (que como valente soldado já ma- 
tara a diversos) e mais três, sendo feridos 
quatro. Os restantes referiram que em com- 
pensação fizeram ao inimigo dez mortos que 
ficaram estendidos em frente á sua fortifi- 
cação, sem contar os que foram feridos. 

chegam dous A 25 chegaram mais dous navios, sendo 

navios. ' 

um mercante e o outro uma charrua; trou- 
xeram algumas provisões e 30 soldados. 

como senti- Na noute de 26 o inimigo atacou nova- 

nella perdida 

aprende-se a mente uma nossa sentinella perdida, a qual 

ser valente. 

tendo uma pistola disparou - a sobre os 
agressores e retirou -se para a trincheira; 
sahimos, porem não encontramos mais nin- 
guém. 

A 29 entraram no porto duas charruas 

com viveres, nas quaes vieram um tenente, 

chegam duas um sargento e 51 soldados. No dia se- 

charruas e um . L , 

navio. guinte chegou outro navio que, comquanto 



111 



bem carregado com viveres e munições, só Anno 

trouxe pouca tropa. 1631 

a ~, ^ Maio. 

A 31 entrou no porto o navio Dortrecht o navio Dort- 

no qual veio o capitão da companhia a que ^ navâs. tro * 
pertencem os 51 soldados acima menciona- 
dos. Trouxe mais 104, tendo assim uma 
bella companhia de 155 homens; a quan- 
tos ficará em breve reduzido só o Altissimo 
o sabe! No dia seguinte desertou para o í portn&uea 

« . , „ deserta para o 

nosso lado um portuguez, que antes fizera nosso íado. 
com outro fogo sobre nós, mas, depois lan- 
çara fora a sua arma e atravessara o rio. 
Assegurou que o inimigo, com os mouros 
e brazilienses que o acompanham, ainda 
está forte de 6000 homens, e tem viveres 
e munições em abundância. 

A 4 voltou de novo o navio Prins Mau- Junho. 
ritius, que em caminho, junto ao cabo de 
Sant' Agostinho apresou um navio hespa- 
nhol, trazendo-o para aqui. A seu bordo 
encontrou-se 150 caixas com assucar e ou- 
tros tantos rolos de tabaco brazileiro. 

A 5 chegaram aqui dous navios mercan- 
tes de Amsterdam, carregados com provisões. 
Entrou também o hyate Amersfoort^ o qual í navio nea- 
encontrando perto da Bahia um navio hes- Seio a pique. 
panhol, que tentou defender-se, o metteu a 



Junho. 



112 



Anno pique; trazia 10 peças de artilharia e 300 

1631 pipas ou 150 tonneis de vinho de Hespa- 
nha. O capitão e todos os tripolantes fo- 
ram salvos e trazidos prisioneiros para aqui; 
assim como muitas cartas achadas com elles 
foram entregues junto com o capitão hes- 
panhol ao Sr. Governador, 
um desertor. A 6 passou -se mais um braziliense do 
inimigo para o nosso lado. 

A 7 aportou-se a Arca Noê, na qual o Sr. 

Capitão Rembach partira para a Hollanda, 

osr.capitso em 27 de Outubro do anno passado. Elle 

Rembach é du- 
plamente feliz, não so executou perfeitamente tudo de que 

fora encarregado , como também trouxe uma 

presa hespanhola que seguia para a Angola 

a negociar escravos; estava bem carregada 

de vinho de Hespanha e mercadorias. 

A 10 entrou um navio da Hollanda cha- 

o Donderkioot mado De Donderkloot, (}) que tem este nome 

traz uma fcôa , t , , „ . , 

presa. porque durante uma tempestade foi atraves- 

sado de cima até a quilha por um raio-. 
Trouxe 90 soldados e um pequeno navio 
hespanhol carregado com 150 pipas de de- 
licioso vinho. 
Portuguezes A 14 vieram á praia dous portuguezes 

depositam car- 

tas em frente que mostraram aos da trincheira de Bruyn 

á trincheira. 

(1) Corisco. 



113 



uma carta, e, depositando -a na areia, dis- Anno 

^seram-lhes adeus e atravessaram de novo o 1631 

rio; á tarde fizeram o mesmo. Em vista Juní10 ' 
d'isto o Sr. Capitão Day sahio com alguns 
mosqueteiros a buscar as cartas e entregou- 

-as ao Sr. Governador. O tempo revelará o 

«eu conteúdo. 

A 16 três companhias foram se emboscar 
no matto, não conseguindo mais do que 
^aprisionar um portuguez e um braziliense um par de»» 

, A . , egual é trazido 

completamente nu , que trouxeram para o ao quartel, 
nosso quartel, onde cada um poude-lhe ver 
-de graça o bragueiro. 

A 2 1 o navio De Voghel Struis (i) , ao i navio nau- 
-sahir do porto bateu em um rochedo junto 
^ao Forte do Mar, e naufragou, salvando-se 
^apenas a tripolação. 

Na noute de 22 o Sr. Capitão Pierre le o inimigo 

pretende 

na ar os t 
despojos. 



<}rand foi enviado á cidade com a sua com- nnar os seu* 



panhia, e postou-se de emboscada dentro 
<io matto perto dos pequenos fortes de pedra. 
Ao romper do dia veio o inimigo pela praia 
-afim de retirar do mar algumas das mer- 
cadorias naufragadas. Então o menciona- 
do Sr. Capitão cahio sobre elle matando- 



(2) Avestruz. 



r 



114 



Anno lhe dous homens e aprisionando um por- 

1631 tuguez e um braziliense. Os restantes sal- 

l^» pirem varam * s ^ na maior parte pelo rio, excepto 

apanhado* e é dous <l ue lançaram-se ao mar e se afogaram^ 

Douaseafo- Perderam, pois, seis homens e muitos fo- 

Ram * ram feridos na fuga, emquanto que do nosso* 

lado nem um só foi, ainda que de leve,, 

offendido. 

Gente esca- Na noute de 27 foram escalados 15 ho- 

la d a de todas 

as companhias, mens de cada companhia, para o que esco- 
lheu-me também o meu Sr. Major, conso- 
lando-me com dizer que haveria ou boa presa 
a ganhar ou pancadaria grossa a dar. Re- 
firo sem vaidade que não me senti atemo- 
risado, muito pelo contrario pareceu-me que 
ia dançar em algum casamento. Quando 
se reuniram todos os soldados, cada um 
com a sua arma e bem provido de pólvora 
e balas, pensamos ir combater o inimiga 
n^doBre* na fl° resta - Fomos, porem, embarcados em 
ShÍIto^."" chalupas e transportados para o porto onde 
nos distribuíram por 6 navios, indo os da 
minha companhia junto com vários outros: 
para o navio do nobre Sr. General Pater. 

Na manhã seguinte, bem cedo, feitas as 
preces, fizemos de vela: logo que ganha- 
mos o mar largo o Sr. General fez içar a 



115 



bandeira, e, vindo a bordo todos os capi- 
tães, revelou-lhes o plano da empresa. 

Na tarde anterior chegara um hyate, cujo 
patrão referio ter visto duas carraças hespa- 
nholas, bem carregadas e guarnecidas com 
bastante gente, as quas devemos perseguir 
e atacar do modo seguinte : 

O Sr. General pretende collocar-se com 
o seu navio a estibordo do mais forte dos 
do inimigo, um outro dos nossos deve pos- 
tar- se- lhe a bombordo e um terceiro junto 
á popa, de modo a ficarmos debaixo dos 
seus canhões e ao mesmo tempo usarmos 
os nossos com melhor vantagem. Os nos- 
sos três outros navios devem acommetter 
de egual modo a outra carraca, e todos 
disparar valentemente a artilharia grossa, 
assim como os mosquetes dos cestos e cas- 
tellos e fazer tudo o que for necessário (o 
que quer dizer abordar e saltar no navio 
contrario) até conseguir conquistal-o. Com 
esta perspectiva todos alegraram-se muito 
na esperança de, obtida boa presa, pode- 
rem mais depressa voltar para a pátria. Logo 
ordenou o Sr. General uma boa medida, 
mandando que nos 6 navios se postassem 
vigias, não só nos mais altos cestos dos 



Anno 

1631 
Junho. 

É revelado* 
um novo plano. 



Como se dev& 
atacar as gran- 
des carraças 
hespanholas. 



NSo ha falta 
de animosa re- 
solução. 



Esperança de» 
bôa presa. 



Boas perspe- 
ctivas. 



r 



Junho 

100 reaes 



116 



Anno mastros, mas ainda acima, junto ás fiam- 

1631 mulas, com a promessa de que o primeiro 

que avistasse e desse signal das carraças 
SSdura!* mo ~ hespanholas receberia cem reaes em peças 

de oito. Seguimos assim á aventura sem, 

porem, encontrarmos durante este mez nem 

amigos nem inimigos. 

Julho. No mez seguinte avistamos, pela segunda 

ma de Per- vez, a ilha de Fernando e approximamo-nos 
Gutió e ser- da costa da Guiné e da Serra Leoa , sem 

ra Leda. 

que durante todo este tempo encontrásse- 
mos quer um quer outro navio. Muitas 
Nuvens bran- vezes os vigias gritaram — Velas! Velas! — 

«as enganam _ ,. ,. 

no mar. mas, quando nos adiantávamos na direcção 

indicada verificava-se termos sido enganados 
por uma nuvem branca que ao longe bem 
simulava um navio velejando. Em vista 
d'isto dirigimo-nos novamente para Pernam- 
buco, em cujo porto entramos, mercê de 
Deus, no dia 13 de Agosto. 

No dia seguinte fomos logo postos em 

Agosto. terra — comtudo fortes de muitos mil mais 

voltamos ou- do que quando partimos — (*) com o que 

tra vez p.» Per- , , ., , -, 

*ambuco. todos muito se alegraram por voltarem aos 
seus alojamentos e vestirem roupa limpa. 



(1) Állusão manifesta aos insectos parasitas de que deviam vir 
cheios. 



117 



TSm seguida procurei o meu Sr. Major, que Armo 
recebeu-me muito amavelmente, e pergun- a 1631 
tou-me gracejando si eu queria dividir com A g° st0 « 
-elle a minha presa. Respondi -lhe estar naotenhoaSs, 
prompto a dar -lhe não só uma centésima gue? tenho at£ 
parte mas toda a somma, porquanto durante 
.sete semanas não mudei de roupa, e dor- Duro leito 
mi sobre o duro convez entre os canhões, íomno? ° m 
prestando-me então o meu chapéo cinzento 
-de Bréda bons serviços como travesseiro. 
Qanto ao mais, tenho a dizer que, segun- 
do o costume de bordo, fomos pessima- 
mente alimentados, pelo que dou graças ao 
Altissimo por me haver trazido com saúde 
outra vez para terra. 

Tendo indagado de uns e outros conhe- 
cidos, especialmente dos meus camaradas, 
o que de notável aqui havia occorrido du- 
rante a minha ausência, foi-me referido que 
-a nossa gente atacara uma das fortificações 
do inimigo, expulsando -o d'ella com perda o que acon- 

j nr\ z: • • *j. e • teceu emquan- 

de 20 mortos, 6 prisioneiros e muitos feri- to estive au« 
dos. Os nossos soffreram pequeno damno, 
não tendo que lastimar nenhum morto (í). 
A 3 foram transportadas varias compa- 



sente. 



(1) Foi o ataque dirigido, em 10 de Julho, pelo Tenente Coronel 
eyn-Callemfels contra o posto dos Afogados, e repellido pelo Ca- 
pito Francisco Gomes de Mello. 



118 



Armo nhias, nomeadamente as do Srs. Major 

1631 Schutte, Capitães Schkoppe, Bach e Hil- 
lings, para os grandes navios e embarcadas 



Setembro. 

O nobre 8r. 



2Se e ?ívamen^ em ió d ' ell es. No' dia seguinte O o no- 

í?oS° m 16 n *" bre Sn Genera l Pater ** ez de ve l a Com elles - 

O que agora pretende executar o tempo o 
revelará. Deus lhe dê felicidade, saúde e 
bom vento, 
um desertor Na noute de 15 veio um portuguez ao 

falia de novas 

tracções. ruducto de madeira, permanecendo deitado 
junto á pallissada até o romper do dia. 
Consta que declarou existirem entre nós 
ainda trahidores, que por meio de cartas 
(que são collocadas em lugar seguro) noti- 
ciam e communicam tudo ao Governador hes- 
panhol, como também o fazia o brabantino 
Verdunc. 
Bôa emano- A 17 chegou aqui um navio da Hollanda 
trazendo noticia de que o Príncipe de Orange 
impuzéra contribuições de guerra a Flan- 
dres, e que os imperiaes haviam tomado 
Magdeburgo. 
Heróica reso- A 22 entraram no porto diversos navios 

Br?Generai°Pa- da frota do Sr. General Pater. Por elles 

ter. 

soubemos que o mesmo General encon- 



(2) Todos os anthores concordam em designar o dia 31 de Agosto 
como o da partida da esquadra de Pater. 



119 



Irando com os seus 16 navios, no Grande Anno 
Oceano, a armada hespanhola forte de 54 ( l ) 1631 

velas, tomara immediatamente a varonil re- ca^me°ã 
solução de bater- se. Para este fim abor- Ç^J ÍL™ 
■dou com o seu navio (2) a almiranta ( 8 ) 8ua gente - 
hespanhola, a qual soffreu tão forte canho- 
neio que desprendeu-se d'elle e foi a pique. 
Em compensação o navio do nosso Sr. Ge- 
neral incendiou-se e foi ao fundo, salvando- 
^e apenas, dos 250 homens da tripolação, 
quatro soldados e dous marinheiros, e pe- 
recendo o esforçado heróe Sr. General Pa- 
ter. Não obstante ter morrido o chefe o osr.vice-Ai- 
nosso Sr. Vice -almirante ( 4 ) portou-se como tôi r S ecomo P um 
um valente guerreiro, mettendo a pique a guerre,ro * 
^vice-almiranta ( 5 ) hespanhola e aprisionando 
o navio ( 6 ) do capitão de mar. Os demais 
fizeram o que melhor poderam , menos os 
quatro capitães dos navios chamados Dort- 
recht , Groeningen , Amersfoort e Memmlik , Quatro capi- 

, , , tftes portam-se 

que nao se bateram lealmente nem secun- deslealmente. 
daram os outros. Ainda assim os navios 



(1) A esquadra de Oquendo tinha apenas 17 galeões capazes de 
combater. As 30 velas restantes eram navios mercantes e peque- 
nos transportes. 

(2) Prins Willem. (3) Santiago, 
(é) Marten Thyszoon. 

(5) Santo António de Pádua, do Vice-almirante Francisco de Val- 
lecilla, que morreu no combate. 

(6) Buenaventura. 



r 



120 



Anno hespanhóes afastaram -se dos nossos sem 

1631 ouzarem atacai -os ou perseguil-os, e os 

e P ro * nossos dirigiram -se para aqui onde chega- 

os nossos na- ram a 24 do corrente. Acham -se na maio- 

um. ria r. uito avariados, trazem muitos feridos 

Trasem os que perderam pernas e braços. O meu ca- 

feridos do com- n *\ . r . * __. 

bate. marada e patrício Felippe de Haussen con- 

tou-me que era tamanho o ruido produzida 

pela grossa artilharia e mosquetaria que 

parecia querer o céo precipitar -se no mar. 

Perda do nos- O que é facilmente crivei, pois, do nosso 

so lado em gen- 
te e navios. lado perdemos 500 homens, e dous navios — 

o do Sr. General chamado Prins Willetn e 
Provintie van Uytrecht, que foram comsumi- 
dos pelas chammas. Do lado dos hespanhóes 
morreram mais de 1500 homens, foram ao 
fundo três navios (*). Um grande e bello 
galeão ( 2 ) aprisionado pelo Vice -almirante e 
trazido para aqui, estava tão damniflcado 
pelas balas que se podia ver atravez dos 
dous costados. Os navios estavam por den- 
tro e por fora tão salpicados de carne hu- 
mana, miolos e sangue, que foi preciso ras- 
pal-os com vassouras; o que foi horrível de 
vêr-se. 



(1) Que foram : Santo António de Pádua, 8. João Baptista e Nossa 
Senhora dos Prazeres Menor. 

(2) Buenaventura. 



121 



Ver -se- ha qual será a recompensa dos Anno 
quatro capitães que não combateram leal- t 1631 
mente. Eu, na minha humilde posição, P * 
prefiro morrer diante do inimigo que nas 
mãos do carrasco. 

A 30 veio á cidade um braziliense, sendo vem acidado 

, , ,,. , . . í um braziliense. 

ate alh acompanhado por vanos outros. 

A 1 dous mouros do inimigo dirigiram- Outubro. 
se em suas canoas para o navio do Sr. Al- dous mouro» 

dirigem -se ao 
mirante fundeado no portO. navio do Sr. Al- 

mirante. 

A 3 vieram novamente dous brazilienses dous brazi- 

lienses. 

do inimigo para o nosso lado, tendo atra- 
vessado o r.o em suas canoas. 

A 4 sahio a partidas o Sr. Capitão Clop- i português 

r x prisioneiro. 

penburg com vários escopeteiros , e regres- 
sou trazendo um portuguez prisioneiro. 

A 14 o Sr. Capitão Day aprisionou na 
praia um braziliense. Pouco depois vieram canoas: do- 

. a . Jf ,, tes dos selva- 

ter comnosco cinco d elles com as suas ca- gens. 
noas, que são feitas de um só tronco de 
arvore cavado, e armadas com muitos re- 
mos como as galeras; 20. 30 e mesmo mais 
homens podem navegar n'ellas de uma ilha 
para outra. 

A 20 chegou aqui o navio Omlandia, de 
Groeningen, trazendo toda a sorte de vive- 
res, porem, nenhum soldado. Na mesma 



r 



122 



Anno data desertou para o inimgo, na ausenci ; 

1631 do meu g r# Major, o seu criado de nome 
°o Ut ci b r d o Conrad Ebcrhard. 

«r^Majorde- A 2 \ chegou mais um navio da Hollanda 
carregado com provisões. 
8ou enviado A 23 fui despachado pelo meu Sr. Te- 

para Itamaracá â _ J _ , 

peio meu Sr. nente para Itamaracá, afim de nao so 
participar ao. Sr. Major de Berstedt a deser- 
ção do seu criado, como também receber 
ordens relativas á companhia ; dernorei-me 
oito dias alli na trincheira. Estaca guar- 
necida por três companhias, e tem qua- 
tro baluartes com 1 1 peças ; é em redor 
cercada de palissada e tem um hornaveque. 
a justiça mi- Em frente á trincheira foi arcabuzado um 

íitar faz curto 

processo. soldado que arrancara da espada para o seu 

official e não quiz obedecêr-lhe. INTesta oc- 
casião foi egualmente ferido um dos que 
faziam parte do pelotão de execução f ri coche- 
tando uma bala no poste e vindo penetrar- 
lhe na coxa, onde ficou enterrada, 
sou despa- A 31 fui despachado pelo Si\ Major, e 

«nado da ilha r % r J 

<ie itamaracá. dir gi-me em uma chalupa para o nosso 
quartel, onde dei verbalmente conta da mi- 
nha commissão ao Sr. Tenente, por não 
saber este lêr nem escrever. 

Nov'bro. A 16 chegou aqui um navio de Delft, 



-í.^ 



123 



•chamado De Goude Leeuw, pelo qual recebi Anno 
~uma carta do meu querido pae em Stras- V63Í 

burgo. N R ov ' h br0 ' 

° Recebo uma 

A 17 começou-se a demolição dos edifi- £*rg de Btras * 
•cios da cidade de Olinda de Pernambuco, a cidade de 

. Olinda é demo- 

transportando-se mais tarde para o Povo o lida e íncen- 

. r diada. 

imaterial aproveitável. 

A 24 a nossa gente que alli se achava 
retirou-se para a aldeia Povo ou Recife, des- 
truindo antes tudo o que foi possivel e pondo 
fogo á cidade em diversos pontos. Esta 
resolução foi motivada pelo facto de ser a 
cidade toda montanhosa e desegualmente 
-edificada, sendo difficil de fortificar e exigir 
uma forte guarnição, que podiamos empre- 
_gar melhor aqui e em outros pontos. 

A 28 embarcamos com 13 companhias 
sob o commando dos Srs. Tenente-Coronel Partimos com 

19 navios e 13 

'Steyn-Callenfels e Major Berstedt. companhias p> 

a Parahyba. 

A 2 fizemos de vela com 19 navios, che- Dez'bro. 
.gando em seguida, a 5, diante da Parahyba, 
onde ancoramos, e descendo sem demora 
para as chalupas desembarcamos na praia a 
meio tiro de canhão da trincheira inimiga. 
Os hespanhóes, que estavam atraz de um somos ama- 

• , 1 \ r velmente reco- 

parapeito, nos receberam com uma salva fe- bidos. 

Tindo muitos e matando a diversos nos na- 

9 



124 



Anno vios. Um dos contrários ferio com um s<> 

^ 1631 tiro a três dos nossos, do que immediata- 
z ' mente recebeu a paga, pois o nosso sar- 
gento cortou-lhe a retirada e de um só golpe 
decepou-lhe a cabeça tão lizamente que o* 
próprio carrasco não o faria melhor. 

Os demais deitaram a fugir e retiraram -se 

para o reducto ( l ) e intrincheiramentos. Em 

seguida as nossas forças foram dispostas em 

batalha (formando a minha companhia com 

Nowacomp.* varias outras a vanguarda) e commandadas- 

vae na van- ,, , . • . . . x 

guarda, ao assalto das posições inimigas. Logo ao* 

começar a marcha dous da nossa tropa* 

Dou mai fe- apenas três filas adiante de mim, foram ai- 

ridos por uma , , , 

bala rasa. cançados por uma bala rasa que arrancou- 
lhe as carnes das coxas. Não obstante, pro- 
seguimos avançando, animados pelo nossa 
Tenente, até chegarmos tão perto do ini- 
migo que poderíamos bem fallar-lhe, e tiro* 
o primeiro e teamos com elle, até que cada um disparou 

mais forte eu- . , *. ,. , ~ 

•ontro. tres tiros, quando fomos rendidos. Os ca- 

nos dos mosquetes estavam tão aquecidos 
pelo sol e pelo constante fogo que quasi 
era impossivel carregal-os mais. No entre- 
tanto foram feitos os approxes, levantados 



(1) forte do Cabedello cuja constrncçSo ainda não «lava nltl 



125 



os parapeitos, e perto da praia demarcou-se Anno 
e formou-se um acampamento. Ao anoi- f 1631 
tecer postaram -se sentinellas avançadas e p^-^kp- 
perdidas , e durante quasi toda a noute JJJJJJ e *"*■ 
tivemos alarmas. 

No dia seguinte, 6, estivemos occupados, Forma-se o 

• , - , , acampamento. 

nao so com a construcçao das nossas bar- 
racas e pôr o acampamento em melhor es- 
tado de defeza, como no levantamento de 
uma bateria contra a trincheira, que come- Batemos a 

„, trincheira. 

çamos a bater com três meios canhões. Mas o inimigo 

o artilheiro inimigo (tão perito em seu offl- tíi?eEo. bomw " 

cio que não errava facilmente o que podia 

vêr e alcançar) respondeu-nos de modo tal, 

que logo demolio o reparo debaixo de uma 

peça e acertou com uma bala na bocca da 

outra, sendo preciso conduzir duas novas 

para a bateria. Continuamos então a jogar 

fortemente contra a trincheira, no que pro- 

seguimos durante três dias. No entretanto 

sahimos do acampamento com numerosas 

partidas contra o inimigo, sustentando com 

elle renhidas escaramuças, nas quaes, de am- Banimos com 

- - , A , . .. , fortes partidas 

bos os lados, foram mortos muitos valerosos contra o mimi- 
officiaes e soldados e outros perigosamente 8 °* 
feridos. Vários prisioneiros que fizemos, de- 
clararam unanimemente que, não só os cori- 



126 



Anno trarios ainda se achavam bastante fortes na 

1631 trincheira e no reducto, como esperavam 

«•?i; r0 '«M certamente receber soccorro dentro de pou- 

Declaração * 

priiioneTro/ 08 cos ^ iSiS ' ^ m v * sta ^'isto resolvemos acom- 

metter com todas as forças a sua posição, 

Accommette- o que fizemos na tarde de 9. Chegamos 

racom todas aã até debaixo dos canhões e com as escadas 

íorç * 8, ás estacadas, porem o inimigo defendeu -se 

tão briosamente, dentro e fora da trincheira, 

e do reducto fizeram-nos atravez do rio tão 

mortifero fogo com os canhões que fomos 

obrigados a retirar-nos. 

a perda é Novamente ficaram de ambos os lados 

grande de ain- . ,, .. ,, 

i)08 os lados, muitos mortos e feridos. No espaço d estes 

primeiros cinco dias cada companhia teve, 

entre mortos e feridos, 30 e mais homens, 

subindo o total da nossa perda a mais de 

Recebo omeu 500 soldados. Tive também o meu qui- 

qninn&o sobre . „ , , , .. . , 

um oiho. nhao, recebendo logo no dia seguinte, um 

ferimento, acima do olho direito. Achan- 
do-me com vários da nossa companhia no 
matto, em frente ao acampamento, e tendo 
o inimigo se apresentado em um pequeno 
prado do outro lado do rio, eu disse aos 
que estavam ao meu lado que convinha 
apoiarmos os canos dos nossos mosquetes 
nos ramos dos arbustos afim de podermos 



127 



fazer melhor pontaria, e deixarmos os ad- Anno 
versados atirarem primeiro. Mal terminava 1631 

estas palavras quando cahi para frente com z 
o meu mosquete, parecendo -me que me 
acertara na cabeça um grande tijolo, e ouvi 
alguém dizer ;— Então, strasburguez, Deus 
te console ! Apanhaste o teu quinhão ! — 
Quando voltei a mim e puz-me em pé, o que Recobro os 

sentidos , com- 

fallára muito se admirou, pois julgava- me quanto já fosse 

' r J ° julgado morto. 

morto. Extrahio-me então da testa um 
pedaço de pau, que a bala arrancara de um 
galho e fizera penetrar- me alli, correndo-me 
o sangue em abundância pelo rosto e todo 
o corpo. O meu camarada Hans Carol Hans caroi 

Spiessen ex- 

Spiessen. sabendo que eu estava ferido e põem-sepor 

minha causa a 

pensando egualmcnte que morto, quiz aju- perigo, 
dar a transportar -me. Em caminho quasi 
lhe acontece uma grande desgraça, pois 
uma bala rasa veio bater á distancia ape- 
nas de um passo d'elle, voando-lhe a areia 
por cima da cabeça. Ainda assim acom- Lealdade de 

C fLTYl 3.1* â. d & 

panhou-me até á praia, d'onde fui condu- 
zido com outros feridos, para um navio e 
alli pensado. Porem não me demorei muito 
a bordo ( voltando logo para terra, com o 
chapáo sobre o lado esquerdo. Pouco de- 
pois tirei a atadura. Graças e louvores 



128 



Anno eternos ao Altíssimo por não haver logo 

1631 alli posto fim á minha vida. 
Dez'bro. _ 
volto em bre- Durante o assalto um marinheiro hollan- 

um marinai- dez, que achava-se prisioneiro na trincheira, 

ro prisioneiro , . , 

íibert» -se com aventurou-se a trepar no parapeito, onde, ar- 
mado de um meio-chuço, fingio bater-se va- 
lentemente contra nós. Mas, aproveitan- 
do-se de sua vantagem, pulou por cima da 
estacada e correu velozmente para o nosso 
acampamento, onde, com grande admiração 
Episódios ata- nossa, chegou são e salvo. Além d'este 

guiares. 

aconteceram outros episódios singulares, dos 
um» sopa quaes apenas mencionarei um que foi filho 

com assucar é « ~ . A . , 

melhor que do accaso. Dous camaradas tinham prepa- 

misturada com , . 

sangue. rado na sua barraca uma sopa de vinho de 

Hespanha e biscoito, e altercavam dizendo 
um ter posto n'ella mais biscoito que o 
outro. No meio d'esta disputa, voou uma 
bala rasa da trincheira atravez da barraca e 
arrancou a este a cabeça, que foi cahir den- 
tro da gamella. O outro disse então : « Agora 
podes tomar a sopa toda; eu não a quero 
mais.» 

Temosdeam- A 10 tivemos de ambos os lados tanto 
muitos que en- que fazer com enterrar os mortos que quasi 

terrar. , , 

suspenderam-se o canhoneio e escaramuças. 
Como também comprehendêssemos que, 



129 



com tão pouca gente, nada de importância Anno 
conseguiríamos n'este sitio, tomaram os Srs. f 1631 
Conselheiros de Guerra, e principalmente z °' 
os Srs. Tenente-Coronel e Major, a seguinte 
-deliberação : 

Ao ahoutecer jogou-se de novo fortemente o principio 
com a artilharia contra a trincheira, e fez- 
se rebate falso como si ainda uma vez a 
«quizessemos accommetter. Quando a es- 
curidão tornou-se completa untaram-se bem 
com azeite os reparos das peças que fo- 
ram de novo transportadas para os navios. 
Em seguida os Srs. Officiaes jogaram a da- os b». om« 

. ciaesjo&ampe- 

<los a ordem em que as companhias deviam ia preferencia, 
ser conduzidas para bordo nas chalupas. 
Como o nosso Sr. Major fosse infeliz, coube Nossa com- 
é. nossa companhia ser a ultima e portanto Sma de todas! 
ã que ficava exposta ao maior perigo. 

Antes da retirada, porem, e até a meia- 
noute, usou -se de toda a sorte de estrata- 
gemas e tocou-se vários rebates falsos. Em- 
lim collocamos muitos morrões accesos em ArdisdeGner- 
paus fendidos nos parapeitos, baterias e 
-acampamento, como si toda a tropa esti- 
vesse em armas. No entretanto, nos apres- p mo-nos to- 
samos por embarcar nos navios, e durante dos a 8alyo% 
esta noute dormimos em segurança e me- 



]?0 



Anno lhor sobre as duas taboas do convez do que^ 

1631 sobre a areia, nas barracas em terra. 
o inimigo dá- Ao amanhecer do dia seguinte, o inimigo- 
nos bons -dia». come çou a fazer fogo com as peças da trin- 
cheira; como nós lhe respondêssemos dos. 
navios e não da bateria, alguns temerários, 
apresentaram -se diante das nossas obras e 
o inimigo in- atiraram para dentro delias. Não vendo 

cendeia o nos- ,. -, , , 

so acampamen- sentinella alguma, transpuzeram as mesmas 
e vieram aos magotes ao acampamento que 
incendiaram. Puzeram-se então a gritar com 
todas as forças : — Flamminco Cornudo ( x ) 1 
ao que nós respondiamos : — Spaniola Cor- 
nudo ( 2 ) ! Assim nos despedimos amavel- 
mente uns dos outros, 
voltamos aos A 12 fizemos de vela e a 14 chegamos 

quarteis antlg08 de novo ao porto de Pernambuco e aos: 

nossos antigos quartéis. Depois de algum 

Novaexpe- descanço partimos outra vez, a 21, sob o* 

companhas X \ commando dos Srs. Tenente-Coronel Steyn- 

u navios. Callenfels e Major Berstedt, fortes de 19- 
companhias, em 14 navios, e chegamos, a 
27, em frente ao Rio Grande. Como não 
podessemos saltar bem junto ao forte ( 8 )>. 
(d'onde nos receberam desagradavelmente 
com tiros de canhões), fomos desembarcados- 



(1) (2) Textual. (3) Fortaleza dos Reis Magos. 



131 



um pouco abaixo d'elle, ( l ) e alli passamos Anno 
a noute, sahindo varias partidas em reco- 1631 

nhecimento, tanto contra o forte como em z 
todas as outras direcções. 

A 28 seguimos adiante e capturamos para 
mais de 40 cabeças de gado e 13 porcos, cozinhamos* 

, „ assamos duran- 

Foi então um matar, cozinhar e assar que, te três dias. 
durante três dias, consumimos mais carne 
fresca do que no decurso de todo o anno an- 
terior. 

A 13 marchamos mais pela terra a den- Encontramos, 
tro, chegando a umas casas perto das quaes ooiad g a r m n eio> 
encontramos cerca de duas mil cabeças de sevagem " 
gado. Como fossem de natureza muito bra- 
via, e os tiros ainda mais os espantassem, 
poucos teriamos pegado vivos si um cabo 
da nossa companhia (que fora outr'ora mer- 
cador de gado) não conduzisse com cordas 
a vários bezerros, a cujos berros acudiram como os pe- 
grande numero de bois, dos quaes ainda Numero dos q K 

foram trans- 

conseguimos levar para os navios 245, fora portados para, 

_ . , os navios. 

os que foram mortos e comidos. 

Passamos ainda um ou dous dias em terra Ha aqui ruína 
nos divertindo, e comemos bastante carne past<)S • 
fresca que, comquanto fosse saborosa, era, 
porem, muito magra. Provém isto de, em 

(1) Na enseada de Domingos Martins. 



132 



Anno toda esta terra do Brazil, se encontrarem 

1632 poucas pastagens, por ser o solo ou de areia 
Janeiro. QU pantanôso . 

A 2 embarcamos de novo, e, fazendo de 
vela a 4, chegamos a 9 no porto de Per- 
Embarcftmos nambuco, voltando aos nossos aquartela- 
vei* zem08 e mentos antigos. O gado trazido foi dividido 
pelas companhias, e a maior parte morto 
para os doentes. 
Nova expedi- A 15 partimos d'aqui, sob o commando 
rnoso. 10 ° r do Sr. Governador e dos officiaes anterior- 
mente mencionados, fortes de 13 compa- 
nhias em 19 navios. 

Logo no dia seguinte fomos postos em 
terra perto do Rio Formoso. Assim que o 
inimigo nos avistou, fugio, entregando ás 
chammas uma casa em que havia 200 cai- 
xas com assucar do qual pouco aproveita- 
mos. Passamos alli a noute, consumindo e 
destruindo o que o inimigo deixara. 

Partimos pe- Na madrugada de 17, seguimos, mar- 
a ma ug a. c ^ an( ^ ao i on g ^ a costa; encontramos 

varias casas e fizemos alguns prisioneiros, 
dous dos quaes conservamos comnôsco. Es- 
tes nos guiaram, durante quatro horas, por 
montes e valles, e atravez de vários pequ 
nos rios, pelo interior do paiz, até chegai 



133 



mos a um engenho de assucar. Junto a Anno 
«lie havia ainda diversos armazéns e outras 1632 

casas, que tinham sido abandonadas pelos Janeir0 * 
seus habitantes tão apressadamente que não o inimigo 
poderam levar comsigo a menor cousa, con- "d* apenM * 
seguindo apenas pôrem-se a salvo no matto 
e outeiro próximos. D'isto tivemos prova 
«encontrando sobre uma caixa de assucar 
{das quaes havia cerca de duas mil em vá- 
rios lugares) o pote de tinta, o pincel e a 
marca do mercador, meia começada. Perto Farto-me de 

* assucar e vinho 

■d'alli havia também um armazém, com mui- de Hespanna. 
tas pipas e barris cheios de vinho de Hes- 
panha, com que muito nos alegramos e for- 
talecemos, apezar do inimigo, reforçado no 
outeiro , atirar tão cerradamente com flexas com assucar 

, , ., . , e vinho de Hes- 

e balas que a muitos amargou o vinho e o panna passa-se 
assucar. Vendo o nosso Sr. Governador em ° mp °* 
<jue era impossível transportar para os na- 
vios ainda que parte d'esta grande presa, 
permittio que cada um enchesse de assucar 
o seu bornal e de vinho de Hespanha as o sr. Goverv 

, , . , nador dá boas 

cabaças, e levasse comsigo o que podesse mas também ri- 

A gorosas ordens. 

carregar junto com o mosquete. Em se- 
guida deu ordem de incendiar em vários 
>ntos o engenho e os armazéns, e, quando 
lo achou-se em chammas, não sendo pos- 



134 



Anno 

1632 
Janeiro. 

Passamos a 
noute em um 
Talle profundo 
e escuro. 



Partimos e 
embarcamos. 



Chegamos ao 
rio de Porto 
Calvo. 



Achamos pei- 
xe salgado. 



Desembarca- 
mos de novo. 



sivel mais extinguil-as ou salvar do fogo a. 
menor cousa, nos retiramos em boa ordem, 

Surprehendendo-nos a noute em caminho, 
não podemos alcançar a praia e voltar aos 
navios, pelo que acampamos em um valle- 
muito profundo. O inimigo, que nos seguia, 
de perto, alarmou -nos diversas vezes de 
sorte que pouco podemos descançar ou dor- 
mir. 

Ao amanhecer do dia 18, partimos de. 
novo; marchamos para os nossos navios, 
embarcamos e fizemos de vela. 

Ao anoutecer do dia 20, devisamos uma. 
caravela hespanhola, no rio, junto a Porto- 
Calvo. Dirigimo-nos para ella com vários 
botes cheios de tropa, e, chegados á dis- 
tancia de um tiro de mosquete, demos -lhe. 
uma salva. Como não nos respondessem 
nem de bordo nem de terra nos approxi- 
mamos e penetramos no navio, encontrando- 
apenas peixe salgado que descarregamos. 
Em seguida pozemos-lhe fogo, pois, estan- 
do encalhado, de pouco nos poderia servir.. 

A 21 desembarcamos n'este logar com 
algumas companhias e chegamos a diversas- 
casas, nas quaes pouco encontramos, a nãa 
serem limões, laranjas e algum milho. 



135 



A 22 penetramos ainda um bom pedaço Anno 
pelo interior do paiz, e vimos muitos arbus- t 1632 
tos cheios de lã que pareciam cobertos de 



Janeiro. 



neve. Encontramos também uma boiada, da Pegamos 42 

■qual pegamos 42 cabeças; os bois mortos 

<a tiro foram carneados e de novo nos far- Fartamo-noB 

, _ de novo de car- 

tamos de carne fresca. ne fresca. 

Em seguida embarcamos, e, fazendo de Embarcamos, 
vela no dia immediato, chegamos felizmente, 
-em 26, a Pernambuco. Comquanto peque- 
nos fossem os resultados da expedição aci- 
ma descripta, causamos ao inimigo grandes 
prejuízos, queimando-lhe varias casas, mui- 
to assucar e o engenho. Trouxemos tam- cannas em 

. , , . , , . . vez de bebida. 

bem grande quantidade de cannas, cujo sueco 
-chupávamos durante a marcha. D'ellas se 
expreme e fabrica o assucar da maneira se- 
guinte : Em primeiro lugar são as refe- 
ridas cannas cortadas pelos mouros. Em curta des- 

. , ,, - ., cripçâo do mo- 

seguida arrancam -se -lhes as folhas. do porque fa- 

bricado o assa- 
Em terceiro são as cannas expremidas car. 

nos engenhos e o sueco é recolhido em 

grandes bacias. 

Em quarto é o sueco limpo ao fogo em 
grandes caldeiras. 

Em quinto é tirado das caldeiras e posto 
em grandes potes de barro. 



136 



Anno Então, em sexto lugar, deixam-no solidi- 

1632 ficar-se rfelles, para depois soccal-o em cai- 
^ xas de 4 a 5 quintaes de peso, e assim 
transportal-o para os navios. 

Para este transporte são empregados os 
mouros escravos em vez de cavallos. 

os monrot Alguns mercadores possuem 20, 30 e 

saotratadoa ° r ' 

como cavaiios. mais escravos nos quaes queimam, na testa 
e no peito, um signal para podel-os distin- 
guir uns dos outros, pois, são pretos não- 
só de noute como as vaccas (*), mas tam- 
bém de dia claro. 

^necessarjo Torna- se sobretudo digno de admiração* 

tratai *oa com 

**™a!*a lWm ~ ° ^ ac ^° de n ^° poder-se collocar estes escra- 
vos sob as ordens de um christão, para 
leval-os ao trabalho, porque este seria de- 
masiado benévolo e condescendente para 
com elles. Pelo contrario, é sempre esco- 
lhido para dirigil-os aquelle considerado pelos- 
companheiros como o mais cruel e tyran- 
nico, que então os trata com deshumani- 
dade capaz de condoer uma pedra. E' este, 
porem, o único meio de fazêl-os trabalhar 
com afinco e conseguir que se portem bem. 



toaoidade* 



(I) Allusâo ao provérbio allemao : «B*i Nacht iimd attêj 
ÊckHtarB» que equivale ao nosso: «1* noute iodos oí gafai tão 
dói.» 



137 



A 2 foram enviadas para Itamaracá 13 Anno 
companhias para alli cortarem lenha e ma- ^ 1632 
deiras de construcção, as quaes seguio, no 



Fevereiro. 



dia immediato, o Sr. Major Cray com a u compa- 

, . , , nhias de lenha* 

sua companhia em chalupas. dores. 

A 14 seguio para alli o nosso Sr. Gover- 
nador em pessoa. 

A 17 fez de vela o flibusteiro anterior- umcapits* 

,. preso evade-sa 

mente mencionado, com o qual evadio-se o 
Capitão Kuch, que estava preso no forte. 
A 18 seguiram; sob o commando do Sr. os doente» 

-_ , tmt _ _ . , rsr\r\ 8 *° mandados 

Capitão Baron e do Camareiro, cerca de 300 para a ima d* 

Fernando. 

doentes para a ilha de Fernando, afim de 
alli se refrescarem. 

N'esta mesma noute o sargento da com- 
panhia do Sr. Capitão Klappenburg, de 
nome Hans Weber, querendo apaziguar uma 
rixa, foi morto por um soldado da com- 
panhia do Sr. Major Schkoppe. 

A 28 foi o referido soldado executado um sargento. 
pelo cutello. Pela manhã chegou nova- o assassino i 
mente aqui o hyate chamado De Eenhoom e *° 
trazendo aviso de que brevemente partirão 
da Hollanda vários navios conduzindo para Bôa noticia. 
aqui tropas frescas, afim de renderem as 
velhas que em breve completarão o praso 
de três annos de seu engajamento. Não 



138 



Anno sendo possível obrigarem - nos a ficar mais 

1632 tempo, nos rogaram amavelmente que con- 

tinuassemos a servir, promettendo aos que 

Roga-se ás quizéssem ficar não só soldo dobrado, como 

fo°nunííem tt a postos de officiaes. Assim o meu Sr. Major 

A'a* mesmas prometteu-me (o que refiro sem vaidade) 

*So feitas gran- . , ., 

«les offertas. a primeira vaga de alferes que se desse na 
sua companhia. 

Muito poucos, porem, acceitaram a offerta 
e todos mostraram grande desejo de vol- 
tar para a pátria. Si , porem , eu tivesse 
de ducados as vezes que arrependi - me de 
não ter ficado no paiz, até que o meu Sr. 
Major voltasse para a Hollanda, seria hoje 
mais rico que todos os mercadores aqui 
Arrependi-me, em Strasburgo. Assim , porem, o Senhor 

coreto tarde. 

(que tudo faz para o bem) quiz que fosse* 

Março. No dia 11 chegou de novo felizmente 

DeBrack traz aqui o hyate chamado De Brack, trazendo 
iiespanhoia. como presa uma caravela hespanhola carre- 
gada com 260 caixas de assucar e muitos 
rolos de tabaco. Em compensação fez de 
o sr. Gover- vela o Sr. Governador, com 14 companhias 

Sma r n°ov£ e ex* em 19 navios, para o cabo de Santo Agos- 
pediçâo. tinhQí 

A 14 voltou o Sr. Governador com 12 
navios deixando os outros .7 atraz com 



139 



ordem de seguirem para o Rio Formoso, Anno 

afim de alli esperarem os navios hespanhóes. 1632 

A 20 chegaram aqui os mencionados sete * ' 
navios, e trouxeram duas caravelas hespa- 

nholas bem carregadas com assucar, que Trazem 2ca- 

- ~. ._, ravelas hespa- 

-apnsionaram no no perto do Rio Formoso, nnoias. 

A 21 chegaram aqui duas charruas da 
Hollanda, trazendo bastante provisões, mas 
-só 34 soldados. 

A 23 bateram -se na praia dous francezes um francês 

t ii i n n .. . ó morto em 

em duello, sendo morto um delles; o feri- dueiio. 
mento, que foi abaixo do peito esquerdo, 
não era maior que o produzido por uma 
sangria. 

A 31 foram presos os quatro capitães e' preferível 

j • r> . 7 , ^ a morrer leal- 

uos navios: Dortrecht, Grocningen^ Amers- mente em fren- 
foort e Memmlik, que não se bateram leal- ío que 1 Tas 
mente no combate naval havido entre o ma0!s oag05B * 
nobre General Pater, de muito respeitável 
memoria, e os hespanhóes, como anterior- 
mente relatamos. " N;-o desejo partilhar da 
recompensa que lhes caberá. 

A 1 foi embarcado o Sr. Capitão Fries Abril, 
com a sua companhia, em dous navios de 
nomes Donáerkloct e De Gcude Leeuzve, de 
Groeningen, afim de seguirem para as In- partem as 

, . ~ . , ~~ , . primeiras tro- 

dias Occidentaes. Sao estas as primeiras P as velhas. 

10 



140 



Anno 



163: 



Abril. 



Revista dos 
reterano*. 



Copia do meu 
passa-porte. 



Sirvo sob o 
8r. Major von 
Berstedt ao to- 
do 83 mezes 
como anspeça- 
4a e sargento. 



tropas velhas que partem, ás quaes (que- 
rendo o Altíssimo) nós também em breve. 
seguiremos. 

A 2 passou-se revista afim de verificar-se 
quantos dos veteranos ainda existiam, dan- 
do-se-lhes as respectivas baixas. Assim re- 
cebi eu também o meu passaporte legal, a, 
5, do meu muito nobre e severo Sr. Major 
von Berstedt, o qual reza, palavra por pala- 
vra o seguinte : 

« Eu Hugo Wierich von Berstedt, Sar- 
«gento-Major ao serviço da Companhia 
« Geral Privilegiada das índias, sob os auspi- 
« cios dos Muito Poderosos Estados Geraes, 
« S. A. o Príncipe de Orange e os Srs. Com- 
« missarios da referida Companhia, e sob as 
« ordens do muito illustre, severo e vale- 
« roso cavalheiro Diederik van Waerden- 
«burch, Coronel e Prefeito das tropas no 
« Brazil, Governador de Pernambuco e da» 
« fortalezas vizinhas etc, etc. 

« Faço saber a todos que o portador 
« d'este, o nobre e valeroso Ambrósio Richs- 
« hoffer, de Strasburgo, conservou - se e ser- 
« vio na minha companhia, como anspcçada, 
« durante trinta mezes, tanto em terra como 
« no mar, e, como no decurso d'este tempo,. 



141 



« se portou como convém a um soldado Anno 

« honrado, foi por mim promovido ao posto 1632 

Abril 
«de sargento, que occupou lealmente por <í ™ 111 * 

« três mezes, e que também durante todo 

« o tempo anteriormente mencionado, em 

« expedições, rondas, seritinellas, de dia e 

« de noute, diante do inimigo, em todas as 

« occasiões que as necessidades da guerra o 

« exigiram, ou lhe foi ordenado pelos seus 

«superiores officiaes, comportou -se sempre 

« de modo a contentar-me e satisfazer-me. 

« Como, porem, tenha expirado o seu o meu sr. 

/ - , Major vonBer- 

« tempo de serviço, e deva, por ordem dos stedt deixa-me 

o r* . : ,, . . . partir mau gra- 

« Srs. Commissanos, dingir-se para um outro do seu. 
« sitio, rogou-me o mesmo Ambrósio Richs- 
« hoffer, para sua segurança o seu passa- 
« porte e cédula, a cujo justo pedido não 
« posso recusar-me. 

«Assim rogo a todos, quaesquer que 
« sejam as suas dignidades ou posições, de Recommenda- 
« deixarem em toda parte, em terra e no ç 
« mar, passar e repassar livremente, com 
« segurança e sem embargo o referido Am- 
«brosio Richshoffer, e se interessf-ein pelo 
«seu bem estar. O mesmo compron^ tto-me 
« a fazer a todo e qualquer de accôrdo com 
«a sua posição. 



142 



Anno « Dado em António Vaz, sellado com o 

1632 «meu sello (i) de nobre, e assignado com 
«o meu próprio punho, em 5 de Abril do 
Data. « anno de 1632. 



Abril. 




<$Muc 



j © ietich - 



Jõetdtedt* 



os veteranos No dia 1 1 parti mos para as índias Occi- 

Bão tirados do 

purgatório p. » dentaes com 10 navios (nos quaes foram 
embarcados os veteranos) sob o commando 
dos Srs. Almirante Marten Thyszoon e 
Major Cray. Entre elles havia 4 navios 
carregados com assucar, que eram Arca Noè\ 
tendo a bordo o Sr. Tenente-Coronel Steyn 
Callenfels, Hei Wapen vau Delft, De Jaeger* 
da Zelândia e o navio chamado Pater, os 
quaes devem dirigir -se para a Hollanda. 
Meu velho camarada Han§ Carol Spiessen 
e eu acham o -nos de novo juntos no navio 
Amsterdam, o que foi um singular destino 



(1) A cera hospanhola do -:ello derreteu-se e estrajrou-se por tal 
Grande calor forma, durante a minha viagem ás Índias Ocvidentaes, que, quando 
nas índias Oc- aqui chibou íelizment? o m<*u Sr. Major teve que sellal-o novameut 
cidentaes. DMsto podi-se fácil monte inferir qual o quasl intolerável calor qi 

faz ífaquelleí paizeá. 

(Xota do Author.) 



143 



de Deus, pois, antes estivemos em terra Anno 
muitas vezes a 60 milhas de distancia um _ 1632 
do outro. Era este um grande navio, como 



Abril. 



se pode ver na lista anterior, com o4 peças Meu camara- 
de grossa artilharia. Seguimos rumo E.N. mo-nos ma- 

ravilhosamente 

E. com bom vento e bello tempo. juntos. 

A 13 o Sr. Almirante fez içar a bandeira, 
indo a bordo todos os capitães. O Sr. 
Tenente-Coronel, porem, junto com os pa- 4 navios se- 

. ~ , . . , param-se de 

troes dos quatro navios acima mencionados, nós. 
despedio-se amavelmente de nós, sendo sau- 
dados com salvas dos canhões e mosquetes 
de todos os navios. Eiles tomaram rumo 
da Hollanda, nós, porem, fizemos caminho 
de N.E. Deus dê a todos felicidade e % 

bom vento. 

A 14 tivemos bom vento e bello tempo, 
e seguimos para N.O. 

A 15 o tempo e o vento estiveram tão o tempo de 

r Abril também ó 

variáveis que tivemos que mudar de rumo notado nestas 

^ x paragens. 

quatro vezes. 

A 16 tivemos outravez um bom vento N. 
E. e navegar.- os para N. O. 

A 17 apanhamos calmaria e aguaceiros e orabomtem- 

r po, ora agua- 

fizemos caminho de N. E. ceiros. 

No dia seguinte continuou o mesmo 
tempo. 



144 



Anno A 19 voltaram o bello tempo e bom vento 

1632 e levamos a proa contra N.O. 

Em compensação a 20 tivemos máu tem- 
po ; fizemos caminho de O. N. O. 

A 21 navegamos com rumo de N.N.O.; 

comquanto chovesse, soprou vento favorável. 

Durante a noute sobreveio uma forte bor- 

Borrasca. rasca com violenta ventania que durou toda 

ella. 

A 22 voltou o bom vento ; fizemos cami- 
nho de, N. O. 

A 23 e 24 tivemos de novo ventos con- 
Tempovaria- trarios ; navegamos com rumo de O. N.O. 

vel. 

A 25 apanhamos vento forte e aguacei- 
ros ; fizemos caminho de N.O. 
calmaria. A 26 foi tal a calmaria que deixamos o 

nosso navio derivar. 

A 27 voltou um bom vento N. pelo que 
navegamos com rumo de O. N.O. 

A 28 e no dia seguinte, continuando o 
mesmo vento conservamos o rumo anterior. 

Novas ordens. A 30 o Sr. Almirante fez de novo içar a 
bandeira e indo a bordo todos os capitães, 
receberam novas ordens, segundo ás quaes 
devem d'oravante dirigir-se. 
Maio. A 1 fizemos caminho de N. O. com r" 



145 
^vento ; passamos também a Linha Equino- Anno 



1632 



:xial, sendo esta a terceira vez que, mercê 

<ie Deus, eu atravesso felizmente são. p^á.'^ 

7 Passo 5 ve» 

Ar» t r . • zes a Linha. 

A 2 apanhamos .vento forte e aguaceiros ; 
navegamos com rumo de N. E. 

A 3, 4 e 5 tivemos de novo bom vento 
-e fizemos caminho de N. O. 

De 6 até 10 conservou-se o vento soprando 
■do N.E., com o qual navegamos para N. 
JN.O. 

Alio Sr. Almirante fez içar a bandeira o sr. Aimr- 
•e reunio a bordo todos os capitães, resol- conseinode 
vendo-se, após Conselho de Guerra, seguir- 
mos vagarosamente para O. 

A 12 e 13 tivemos novamente bello tempo 
-e bom vento; fizemos caminho de S.S.O. 

Na noute de 14, no terceiro quarto, des- onossobo- 

A te desprende-se 

prendeu-se do navio o nosso bote ou canoa, do navio, 
pelo que viramos de bordo e disparamos 
um canhão. Durante quatro horas navega- 
mos contra estibordo, e em seguida muda- 
mos de rumo. Quando o dia clareou avis- Avistamos a 

ilha de Bartoa- 

tamos o bote fluctuando no mar. dos. 

A 15 avistamos a ilha de Barbados ; n'esta 
•occasião nos apartamos do Sr. Almirante 
•com os navios — De HollandscheThuyn, Dort- 



146 



Anno rec/it, Groetiingen, Omlandia e o hyate Per- 

1632 nambuco, e levamos as proas contra O. 
Maio. 
iihas de s> Ao anoutecer do dia 16" avistamos as duas: 

ca. ilhas de Santa Lúcia e Martinica. 

A 17 navegamos com rumo de N.O. 
para as duas ilhas, e entramos ao anoute- 
cer com grande trabalho no porto de Santa 
Lúcia. Fizemos alguns disparos com as 
peças grossas, afim de atemorisar os selva- 
gens. Em seguida içamos uma bandeira, 
branca e largamos a ancora. Logo vieram 
Os selvagens á praia varias centenas de homens e mu- 

«Testa ilha vêm 

a bordo e tra- lheres, moços e velhos, todos completamente 

sem toda a sor- * 

te de deliciosas nus, o que constituia o mais singular espe- 

fructas. 

ctaculo. Veio também ao nosso navio uma. 
canoa com 8 selvagens, que subiram a bor- 
do trazendo toda a sorte de magnificas 
fructas para trocar, como fossem ananazes,, 
bananas e batatas, e algumas gallinhas, 
pelo que lhes demos umas mercadorias ve- 
lhas. 
Enchemos A 18 o Sr. Capitão foi a terra só com 

aqui os barris 

com agua fres- 12 homens ; encontramos um bello e fresca 

ca. 

rio d'agua doce, com a qual enchemos os 
barris vazios do nosso navio. Penetrando 
um pouco pelo interior da ilha ouvimos 
uma horrivel celeuma e latidos de peque- 



147 



nos cães com que os selvagens caçam por- Anno 
cos. D'estes, elles trouxeram a bordo dous . 1632 
(que não eram grandes) e os offereceram ao Mai °* 
Sr. Vice - Almirante que em troca presen- 
teou - os com algumas bugigangas. Esta 
ilha é apenas habitada por poucos selva- os selvagens* 

, ... l , confiam em 

gens, que nada cultivam e sustentam-se de Deus e na na- 
peixes ]e raizes, principalmente de plantas 
silvestres. 

O porto offerece excellente e profundo 
ancoradouro ; não obstante á noute fizemos 
de vela, seguindo rumo de N.O. 

A 19 avistamos á nossa direita a ilha de 
Martinica para a qual nos dirigimos, fun- os hawtan- 
deando ao anoutecer. No dia seguinte levan- Martinica vêem 
tamos de novo o ferro e nos approxima- trocar comnôsw 
mos mais de terra. Logo vieram, como na 
ilha anteriormente mencionada, selvagens 
de ambos os sexos, moços e velhos, a admi- 
rar por entre as arvores da praia, os nossos 
navios e a nossa gente, dirigindo-se alguns 
em duas canoas ao navio do Sr. Vice -Al- 
mirante. Levantamos ainda uma vez o ferro 
e entramos em uma outra bahia maior e 
mais commoda. 

Na madrugada de 21 o Sr. Capitão e o 
mercador tomaram um bote, levando oito 



148 



Anno dos nossos, armados de escopetas, e dirigi- 

lOv32 ram-se £ volta do cabo para uma outra 

Dirigem-8e bahia onde moravam muitos selvagens. Es- 

no nosso bote . , , . , « / /. , 

para uma ou- tes trouxeram - nos a bordo nao so fructas, 
tra bahia. ^ as ari teriorm ente mencionadas, como tam- 
bém papagaios, iguanas, gallinhas e bolos 
de mandioca (que são usados por elles corro 
pão e feitos de raízes, parecendo -se muito 
Trazem-nos com os de aveia). Em troca demos-lhes 

papagaios, 

iguanas, gaiii- facas, anzoes, dedaes e outras bugigangas. 

nhãs e pao de 

mandioca. D'estes selvagens entraram cinco homens 

robustos no nosso bote, e examinaram atten- 
tamente as nossas escopetas. Afim de agra- 
dai -os disparamos alguns tiros, e mostra- 
mos -lhes como se carrega o cano e enga- 
Lingua dos tilha a arma. Ninguém, porem, podia 
seus V fefos n ges^ fallar-lhes, ou entendei -os quando entre si 
t08, conversavam á sua singular maneira, indi- 

cando com os dedos os objectos, ora gri- 
tando em altas vozes, ora murmurando 
vivem ainda baixinho junto ao ouvido, sem o menor 

^m estado de , r , , , , , 

innocencia. pudor fazendo gestos obscenos, e tomando 
tão extraordinárias attitudes que mal podía- 
mos conter o riso, o que aliás era rigoro- 
samente prohibido. Estes nos indicaram 
ainda uma quarta bahia mais distante onde 
egualmente negociamos com outros. 



149 



Em regresso surprehendeu - nos a noute, Anno 
<ie sorte que não podemos alcançar o nosso 1632 

navio e tivemos que pernoitar com o bote KoTaVrai». 
•em uma enseada. Alli os selvagens trou- mos - 
xeram-nos três gallinhas cozidas com bata- os selvagens 

. « - , o r* .,- presenteam 

tas e em paga receberam do br. Capitão e o nosso capitão, 
mercador algumas das ninharias já men- 
cionadas. N'esta occasião obtive por 40 Paço uma 
pregos, 4 ananazes e 124 bananas. Esti- 
vemos toda a noute de alerta e com as ar- 
mas engatilhadas, pois não ha que confiar Não se devo 
nos selvagens. Não obstante eu teria ousado vagens. noss 
acompanhai - os á terra, com o meu cama- 
rada, afim de vêr como elles se occupam dos 
misteres caseiros, mas o nosso Sr. Capitão, 
por graves motivos, não permittio-nos fa- 
sel-o. 

Na madrugada de 22 sahimos d'esta en- 
seada em direcção ao nosso navio ; em cami- 
nho trocamos ainda mais objectos com os 
habitantes d'esta ilha, trazendo assim para 
bordo 20 gallinhas, 40 mamãos, 18 anana- 
zes, 600 bananas e cajus, um sacco com sommados 

refrescos ou d 

batatas, um bacorinho, um papagaio velho trouxemos. 
« um novo e vários bolos de mandioca. 

N'esta ilha de Martinica vive um povo 
bastante bom e ingénuo, e a terra é muito 



r\ 



Maio 

Breve descri 



150 



Anno fértil. As fructas anteriormente menciona- 

1632 das são tão delicadas e saborosas como si 

contivessem assucar e especiarias. A' noute 

Sa*uha P ° v ° e er g uemos a ancora e levamos a proa para 

a ilha de S. Domingos. 

chegamos á Ao anoutecer do dia 23 pozemo-nos á 

ilha de 8. Do- , .,, , _. 

mingos com capa no porto da ilha de S. Domingos. 

gena troc^moa" Vieram logo muitos selvagens em suas ca- 
noas a todos os navios. Os homens su- 
biam a bordo, mas as mulheres conserva- 
vam -se sentadas nas canoas segurando os 
filhos. Trouxeram, como os de Martinica, 
toda a sorte de fructas, de modo que tro- 
quei com um rapaz uma faca velha por 
cem cajus. 
Faço duas A 24 vieram novamente a bordo varias. 

boas trocas. A . ,~ . . , 

canoas; troquei então trinta pregos por ses- 
senta bananas. 
Encontramos A 25 começamos a encher os nossos bar- 

aqui um bello . 

rio de agua ris vazios com agua fresca, de um bello e 

doce. A 

grande rio de agua doce que havia n'esta. 
ilha, perto da praia. 
Avistamos um A 26 avistamos ao largo um navio extra- 
ed^conheddo° nho ; immediatamente o hyate Pernambuco- 
levantou a ancora e sahio-lhe ao encalço. 
Como se partisse o cabo da nossa ancora, 
fizemos de vela e entramos em uma outra. 



151 



bahia. A' noute chegamos ao porto onde Anno 

se nos juntaram duas charruas hollandezas. 1632 

A 27 começamos a cortar lenha, sendo cortamos ie- 

entretanto prohibido continuar a traficar nha - 

com os selvagens. Em compensação levan- Levanta-se 

, , , uma barraca. 

tou-se na praia uma barraca onde os mer- 
cadores deviam negociar com elles, e depois 
dividir as fructas pelos navios segundo o 
numero de tripolantes. 

A 28 foram enviados de todos os navios omeucama- 

i j j i . - j rada e en, tra- 

soldados completamente armados para pro- ficamos com os 
tecção dos lenhadores. Aventurei-me então suaTSbanaí 8 
a entrar com o meu camarada nas cabanas 
dos selvagens ; dle trocou por um pente 
onze ananazes, e eu obtive por uma faca 
36 bananas extraordinariamente grandes. 

A 29 fui á terra e dirigi -me com alguns 
outros para as cabanas dos selvagens ; estes, saqueiamosas 

,. , r • , n, casas dos 8©i- 

porem, tinham -se refugiado na floresta, vagens, 
pelo que cortam os-lhes as cannas de assu- cortamos-ihes 

, ' cannas de as- 

car e carregamos tudo o que encontramos, sucar. 
A causa d'este nosso procedimento foi terem 
elles mostrado -se mais hostis que os da 
ilha de Martinica; voltamos outra vez para 
lrórdo e fizemos de» vela. 

A 30 avistamos varias ilhas e dirigimo- Avistamos c 
nos para uma d'ellas de nome Guadelupe, verí,aís ^ 



152 



Anno em cujo porto entramos á tarde, indo á. 

1632 terra 20 dos nossos, armados de escopetas, 
IVÍaio 

' em companhia do mercador. Entraram nas 

cabanas dos selvagens, não encontrando 

nenhum d'elles, e só poucas fructas pelo 

que voltaram para o navio. 
o Br. Major No dia seguinte foi egualmente á terra o 
o8 r seus e soidaí Sr. Major Cray, e perdeu-se na floresta com 

os soldados que o acompanhavam. O mes- 
Meu camará- m0 aconteceu ao meu camarada Hans Carol 

da Bpiessen 

*and" 8e em Spiessen, que, perseguindo papagaios e cor- 
vos selvagens, não conseguio mais sahir da 
floresta e alcançar a praia e o bote. Dis- 
parou então um tiro e respondendo- lhe a. 
e\ porem, gente do Sr. Major Cray de egual forma, 

salvo, pelo Sr. . ,. , , , , . 

Major. seguio na direcção dos tiros ate encontral-a, 

escapando assim a um grande perigo. Agora 
não o deixarão mais ficar em terra, porque 
também outros estiveram perdidos com o 
Sr. Major, e si estivesse só elle não teria 
escapado. Conseguiram afinal sahir da flo- 
resta e voltar aos navios. A' noute levan- 
Paaemoa no- tamos o ferro e levamos a proa contra a 

vãmente de .,, , ., ,. , 

veia. ilha de S. Martinho ; navegamos com ruma 

de N.N.O. 
Junho. A 1 avistámos a bombordo cinco ilh; 

que eram: Montserrate, Redonda, Nev 



153 



Sant' Eustáquio e S. Christovão ; depois a Anno 
estibordo três: Antigua, S. Bartholomeu e 1632 

Barbuda, e á tarde S. Martinho. Bordeja- J ™^o*e* 
mos toda a noute. um dia 9 imas. 

A 2 entramos no ancoradouro de S. Mar- Entramos no 

.. - . , r . t ancoradouro de 

tinho, onde encontramos fundeadas nove s. Martinho, 
charruas hollandezas carregando sal. Nós 
lançamos o ferro e preparamo-nos para o 
carregamento de sal. 

De 3 até o dia 11 do mez occupamo-nos 
em preparar espaço esvaziando o porão, e a 
tripolação foi mandada á terra por partes 
afim de retirar o sal das salinas. 

No dia 11 um inglez, que no nosso navio Preparativo» 

, para retirar o 

furtara um pouco de pao a um portuguez, sai das salinas, 
apanhou, amarrado ao mastro grande, cin- 
coenta pancadas com uma grossa corda. 

Aproveito a oppurtunidade para descrever Justiça admi- 

. , nistrada a bor- 

rapidamente os castigos usados a bordo do dos navios. 
dos navios. 

Em primeiro lugar, quando alguém pra- 
gueija ou usa de linguagem inconsiderada, J^l 1 ^^ 
bate-se-lhe com o trazeiro varias vezes de 
encontro ao mastro grande, de modo tal 
que durante algum tempo elle não pôde 
sentar-se sem grandes dores. 

Em segundo : quando alguém furta a ou. o segundo. 



r\ 



154 



Junho. 



Anno trem o seu pão ou alguma peça de roupa, 

1632 é trancado por alguns dias ou mesmo uma 
semana no calabouço do talhamar do navio, 
onde, quando o mar está agitado ninguém 
pôde conservar-se enxuto, e é alimentado 
com muito pouco pão e agua. Este lugar, 
que é a prisão do navio, serve também de 
latrina. 



O terceiro. 



quarto cas- 
tigo. 



Em terceiro, e em seguida á condemna- 
ção, deixa -se o delinquente cahir duas ou 
três vezes do alto do mastro no mar. 
Amarra-se-lhe em volta do corpo uma % córda 
que é passada por uma roldana presa á 
extremidade da verga maior. Deixam-no 
então cahir e, si ao tocar na superfície do 
mar não Lva bem juntas as pernas pôde 
succeder-lhe notável contusão. Em seguida 
é amarrado, assim molhado, ao mastro 
grande, sendo -lhe applicadas, segundo o 
delicto 30, 40 ou 50 pancadas com uma 
grossa corda, tanto pelos Srs. Officiaes como 
pelos simples soldados e marinheiros, a 
ponto de por muito tempo não poder sen- 
tar-se nem ficar» deitado socegado. 

Em quarto, quando um soldado ou ma- 
rinheiro saca para outro da espada ou da 
faca, prega -se -lhe esta atravez da mão no 



morte. 



155 



mastro grande. Si elle quizer soltar-se tem Anno 

-que lascar a própria mão. 1632 

Junho. 
Em quinto segue -se o perigoso castigo o quinto cu- 

, . . , , . , tigo é um pon- 

de passar o criminoso por debaixo da qui- co melhor do 

,. , . ~ . L que passar da 

lha, o que e uma punição muito severa e vida para a 
próxima da morte. O condemnado é amar- 
rado a um forte cabo; suspende -se -lhe na 
-cintura um grande peso e prende-se-lhe com 
uma das mãos á bocca um chapéo impre- 
gnado de alcatrão e azeite, para que possa 
-conter a respiração debaixo d 'agua. Em 
seguida é mergulhado no mar á profundi- 
dade de algumas braças, e passado, duas 
-ou três vezes segundo merecer por baixo 
da quilha do navio (dos quaes alguns dos 
.grandes calam para mais de trinta pés). 
Si consegue conter a respiração tudo corre-lhe 
bem, do contrario ficará asphyxiado e mor- 
rerá. 



laçâo. 



Em sexto e ultimo lugar, quando alguém ouitimocas- 

4J . t tigo a bordo é 

incorre na pena ultima, ergue-se um poste & estrangu- 
furado, junto ao mastro do tanque, onde 
•o culpado é estrangulado e depois atirado 
-ao mar. 

Com estes castigos consegue -se conter 
perfeitamente esta corja desenfreiada. 

li 



156 



Anno A 12 foi construído no nosso navio um 

1632 grande forno de pão. 

F»z-sé um A 13, 14, 15, 16 e. 17 continuamos a 
forno de pao. extracção do sal até terminal-a. Este não 

DescHpçfto é logo cosido como na Lorena e em outros 

das salinas d'a- , *,,,,, 

qm lugares, mas, e gerado pelo calor do sol 

em um valle e lago, entre altos montes, e 
jaz, com bastante espessura, debaixo d'agua 
como gelo, sendo extrahido com pás, car- 
regado em carrinhos de mão e conduzida 
para os navios, 
chegam mais A 19, 20. 21 e 22 transportamos para o 

navios e solda- . „ 

dosdaHoiian- navio a nossa carregação completa. Na 
mesma data chegaram uma charrua e um 
corsário da Hollanda, trazendo aquella 50 
soldados que foram postos no pequeno forte 
d'aqui, afim de reforçarem a guarnição. 

Kecebemos a 23 principíou-se a coser pão fresco no 

pao fresco, po- x r x 

rem, pouco. nosso navio, recebendo cada um dous pães 
de munição, de 2 1/4 libras, por apenas 
4 1/2 libras por semana, que alguém com 
bom appetite comeria, junto com o resto 
da parca ração, em dous dias. 
os francezes A 24 vieram ao nosso navio alguns fran- 

desejam trocar ... , , , , ... 

fomo por vive- cezes, que habitam do outro lado da ilha 

reB. 

de S. Martinho, e offereceram-nos fumo em 
troca de viveres . . Como não tivéssemos 



157 



provisões supérfluas os despedimos amável- Anno 
mente com pouca cousa. 1632 

A 25 chegaram da Hollanda 4 charruas !i n °\ 

° Chegam 5 na- 

e um navio bem providos de barris para jjosdaHoiian- 
carregar sal. 

A 26 envergamos as velas e principiamos chegam mais 

, .. , 3 navios. 

a aprestarmo-nos para a partida. 

A 27 chegaram aqui mais dous navios 
da -Hollanda, de nomes Adam e Eva e um 
navio da carreira do Cabo, para carregarem 
sal. 

A 28 alijamos a ancora maior e no dia Prepara- 

, mo-nos para 

seguinte o outro ferro, e a noute, tendo partir. 

levantado a ancora diária, fizemos de vela 

para a ilha de S. Christovãò. Antes da chegam am- 

,. , , . , « , da 2 navios. 

nossa partida chegaram ainda uma charrua 
e um navio inglez. 

N'esta ilha de S. Martinho existe sal em 
grande quantidade. Como já anteriormente Breve des- 

~ . , , . L . cripçfto da ilha 

referimos, a pouca distancia da praia encon- de b. Martinho 

, , , , , e das Balinas. 

tra-se um grande lago, entre os montes, no 
qual o sal é cosido pelo calor do sol, jazen- 
do bastante espesso, como gelo, debaixo 
d'agua, sendo carregado com pás em barris. 
~~ ' j os annos vêm muitos navios carre- 
illi. Próximo ao porto ergue-se, no 
ie um monte alto, d'onde avista-se o 




158 



Anno mar até grande distancia, o pequeno forte 

1632 atraz mencionado, armado com 10 peças e 
Junho. occupado por 80 homens. 

Franceses No outro lado da ilha habitam francezes 

2aco panam plantadores de tabaco de cujo cultivo vivem 

parcamente. No mais nada de singular 

Pau de bode. alli se encontra senão o pau-de-bóde, ( l ) que 
é uma madeira semelhante ao ébano, porem 
tão dura que não pode ser cortada, mas, 
sim serrada com grande trabalho. Quanto 

h ervas da a hervas existem muitas, não só próprias 
para cosinhar como para salada. 

Na madrugada de 30 nos achamos per- 
to da ilha de S. Christovão, porem, como 
o vento nos fosse contrario, tivemos que 
Bordejamos bordejar durante todo o dia e a noute. 

dia e noute. 

Julho. A 1 aproamos para terra e, avistando 

alguns navios ancorados, no porto, para lá 

Entramos em- nos dirigimos, lançando o ferro junto a elles. 

to ooVmodo Não sendo possivel obter-se agua fresca 

onde encontra- , L , _ , , 

mos s navios n este lugar, fizemos novamente de vela, e 
gezes. continuamos a bordejar até encontrarmos 

uma bahia melhor, onde se achavam três 
navios inglezes e havia agua fresca em abun- 
dância. 



(1) Bockenholtz. 



159 



A 3 fomos a terra e começamos a encher Anno 

os nossos barris vasios com agua fresca. 163~ 

- j , , Julho. 

Ao por do sol, chegou um pequeno na- Fazemos 

vio inglez da Terra Firme, trazendo muitos a8 vêmo 8 mui- 

, . «tos bellos pas- 

corvos selvagens, papagaios, macacos, bu- saros e ontros 

. . ii_ j. curiosos anl- 

gios e outros animaes semelhantes. m aes. 

A 4 fomos de novo á terra afim de tro- 
carmos com os inglezes toda a casta de 
objectos, por tabaco. Os que chegaram hon- 
tem, no pequeno navio, nos contaram que 
ultimamente, em frente á capital das índias cycione.nma 

7 * horrível tor- 

Occidentaes, chamada Havana, vários galeões menta com re- 

7 7 ° domoinhos de 

hespanhóes foram a pique, durante um cy- vento. 
clone, que é uma horrível tormenta com 
redomoinhos de vento. 

A 5 o Governador inglez d'esta ilha foi o Governador 

, inglez é feste- 

explendidamente tratado a bordo do nosso jado no nosso 

. . ^ . ,. , navio. 

navio; durante a refeição foram disparados 
alguns canhões. Entrou também aqui um 
navio inglez, nós, porem, fizemos de vela 
á noute e aproamos para E.S.E. e depois Partimos, 
para S. 

Durante os dias 6, 7, 8 e 9 proseguimos 
como cPantes, tendo bom vento e bello 
tempo. 

Ao amanhecer do dia 10 avistamos a 
grande e bella ilha de Santa Margarida, na 



160 



Anno qual moram portuguezes e bandidos. EUes 

1632 têm muitos mouros como escravos, que lhes 
Julho. vão b uscar as pérolas a grande profundi- 
dade no mar, e podem conservar- se longo 
Avistamos a tempo debaixo d'agua. Avistamos também 
p e er a ía* e^ a Terra Firme ( l ) das índias Occidentaes, 
da^indias oc e da qual nos apartamos, correndo diante do 

cid Gntâ es 

vento. Seguimos com rumo de S. O. e de- 
pois de O. deixando-a a bombordo. 

Na madrugada do dia 1 1 avistamos a ilha 
Tortuga. Tivemos calmaria durante todo 
o dia ; á noute voltou novamente um bom 
vento, e nos conservamos próximos de terra. 
circumnave- A 12 navegamos em redor d 'esta ilha 
Tortuga. afim 'de vêr si o Sr. Almirante achava -se, 

com os navios que o acompanham, fun- 
deado em alguma das suas enseadas. Não 
o encontrando, porem, levamos a proa con- 
Avistamosno- tra a ilha de Buen-Aire, seguindo com rumo 
ra Firme* er ~ de O. S. O. e avistando de novo a Terra 

Firme. 
- iihas los ro- A 13 guardamos o mesmo curso, ao meio 
Aves 8 e das dia avistamos a ilha Los Roques e á tarde 
a das Aves. 
Encontramos A 14 chegamos ao porto da ilha de Buen- 
em r B A u^AÍm Aire, no qual estava fundeado o Sr. A 



(1) A costa da actual' Republica de Venezuela. 



161 



rante com 8 navios e duas chalupas, cor- Anno 
tando e carregando pau -bacalhau (}), que 1632 

tem este nome por parecer-se muito com o Madeira, indi- 

rtpívp gena semelhan- 

P clAe - te ao bacalhau. 

A 15 fomos 50 homens do nosso navio 
á terra caçar carneiros. Pegamos mais de Pegamos mui- 

r-r\ ' ., ,, . , tos carneiros, 

50 e um vitello, cuja carne, comquanto sa- mas só um vi- 

t tello. 

borosa, era magra. 

A 16 foi desembarcado egual numero de 
homens, que trouxeram ao nosso navio 40 
■carneiros, que foram logo comidos. 

De 17 a 21 continuamos a trazer diaria- 
mente da ilha para os nossos navios tan- 
tos carneiros quantos as tripolações quize- vae tudo aqui 

* ao gosto do sol- 

ram comer. Foi então um nunca acabar dado. 
«de cosidos e assados, sendo atirado ao mar 
muito mais do que o que varias vezes 
tivemos para comer durante um mez inteiro. 
Alguns dos nossos penetraram pelo inte- 
rior da ilha, até duas ou três milhas, não Breve descrf- 

pção da ilha 

achando nem um só gole d'agua doce nem Buen-Aire. 
bandidos, dos quaes dizem haver muitos 
n'esta ilha, que, segundo referio-me pessoa 
digna de credito, pagam annualmente como 
tributo ao rei de Hespanha centenas de mi- 
lhares de pelles de carneiro. Não acharam 

(1) Stockfischholtz. 



162 



Anno também nem limões, laranjas e fructas se- 

1632 melhantes ás das ilhas atraz mencionadas^ 

Somente na praia, junto aos rochedos, vimos 

como crescem no fundo do mar muitos ramos de coral,. 

os coraes. - .1 

como pequenas arvores, nao estando, porem, 
ainda maduros ou vermelhos. 
Nos despedi- A 22 entraram no porto 2 navios fran- 

mos dos fran- 

cezes. cezes. Nos, porem, fizemos de vela ao 

anoutecer e, ao partir, o Sr. Almirante fez: 
disparar varias salvas de honra, com as- 
peças grossas, o que egualmente fizeram os~ 
francezes. O baleieiro, junto com o flibus- 
teiro e a barca hespanhola despediram -se 
de nós dirigindo -se para a Hollanda; nós- 
nos afastamos d'elles levando as proas con- 
tra N. N. O. 
Bom tempo A 23 e 24 continuamos, como anterior- 

e vento. 

mente, com bello tempo e bom vento, 
vemos de A 25 avistamos novamente duas ilhas, 

novo duas ilhas. 

S. Catharma e Hispaniola; conservamos a 
mesmo curso. 
Ancoramos A 26 navegamos ao longo da costa; ao< 
vaoca. * a anoutecer achamo-nos em frente á ilha da 
Vacca, que está situada muito próxima  33'. 

A 20 continuando o mesmo vento con- 
servamos o rumo anterior; estávamos na 
altura de 42° 40'. 

A 21 com o mesmo vento conservamos o 

mesmo rumo; tomamos o sol ,em 44° íl\ 

Perdemos o A 22 amainou o bom vento e tivemos 

bom vento e , , u , , - rt - _, 

tempo. mau tempo; estávamos na altura de 4à° o/ , 

Apanhamos A 23 apanhamos uma borrasca de E. 

uma borrasca. que obrigou . nos a ferrar as ygjfc,. 

A 24 continuou a borrasca a ti á noute, 
quando acalmou-se um pouco. 



177 



Na tarde de 25 recomeçou horrivelmente Anno 
-a tormenta, a ponto de termos que ferrar as • 1632 
velas e desapparelbar. Ao anoutecer, o ^^^"^ 
"vento amainou. Estávamos na altura de torment *< 
46° 45\ 

A 26 recomeçou novamente o furacão que as vagas 

. 'a eguaes a mon- 

-acalmou-se um pouco a noute. As vagas, tantas, 
porem, estavam tão agitadas que pareciam 
,grandes montanhas, e oca erguiam-nos até 
4s nuvens, ora desciam-nos a tamanha pro- 
fundidade, como se devessem precipitar-nos 
no inferno. 

A 27 largamos de novo as velas, mas, á o vento cor- 

T tava as nossas 

tarde apanhamos uma borrasca de N.E. veiascomouma 

navalha afiada. 

<jue fez em pedaços o nosso toldo e obri- 
.gou-nos a ferrar as velas. 

A 28, pela tarde, acalmou -se o vento e Acaimam-se 

, „ as vagas e o 

-as vagas deminuiram, como, porem, aquelle vento, 
^inda nos fosse contrario deixamos o navio 
derivar durante a noute. 

Durante o dia vimos muitos dos grandes 
peixes a que chamam golfinhos. 

A 29 içamos de novo as vergas e des- 
ferramos o panno; fizemos caminho de E. 
<e tomamos o sol em 44° 30\ 

A 30 apanhamos vento favorável de S. O. Bom vento. 




178 



Anno e levamos a proa contra N. E; estávamos: 

1632 na a it um de 44° 40'. 
to. A 31 continuou o mesmo vento, porem 
mais forte e com tempo encoberto. 
Nov'bro. A 1, comquanto o vento saltasse para N., 
conservamos o rumo anterior; tomamos o 
sol em 47° 40'. 

A 2, com vento N. O., fizemos caminho 
de N.E. e E. 
Mudança do A 3, com vento O., levamos a proa contra. 
Te o èr. Aimi- E. N. E., e o nosso Sr. Almirante fez Hm- 

rante fae lim- . , A c > 

par o seu na- par o seu navio por dentro e por fora. 

Ao amanhecer do dia 4 percebemos que: 
um navio se achava entre os nossos um navio francez^ 
oMnyate cu- Egualmente encontramos o hyate Curae, 
nStícia.* 8 m que se havia afastado de nós durante a tor- 
menta. Por elle soubemos que o navio Hol- 
landia fora a pique e se perdera a 29 de- 
Setembro, sendo salva a tripolação menos; 
dous homens. 

Dos náufragos recebemos a bordo da* 
nosso navio quatro soldados e dous gru- 
metes, e o hyate De Halve Macn (que du- 
rante a tormenta perdera um mastro e uma. 
Muitos hospe- verga) teve que recolher um terço dos tripo- 

des e pouca co- „ , . , . , , . , 

mida. lantes do navio perdido, os quaes, devidf 

á pequenhez do hyate e á falta de vivere: 



179 



suffl cientes, tiveram que passar miserável- Anno 
mente. Tendo o Sr. Almirante feito dis- 1632 

parar um tiro e içar a bandeira, lançamos ov ro * 
a sonda, encontrando em 90 braças fundo Achamos d<* 

, . . ^ , novo fundo. 

de areia branca. Em seguida o br. Almi- 
rante chamou a bordo todos os capitães e 
ordenou nova sondagem, que deu 60 braças. 
Com vento N.O. fizemos caminho de E. 

A 5 avistamos a extremidade da Ingla- Passamos o. 

extremo da In- 

terra, e neste dia passamos por Valney e giaterra. 
Bleney, seguindo com rumo de N.E. e E. 
N.E. 

Ao amanhecer do dia 6 distinguimos Avistamos no- 

t , , , . ve navios des- 

nove navios a barlavento, pelo que içamos conhecidos sem 

_, , ,. bandeiras. 

as nossas flammulas e ferramos o panno. 
No entretanto vieram sobre nós dous navios 
correndo diante do vento, e como vissemos 
que não pertenciam aos demais nos esfor- 
çamos por sut>ir até elles. Vendo isto os 
outros içaram promptamentç a bandeira do 
Príncipe, fazendo assim com que os dous capitães de- 

,, ,, . navios de Dun- 

mencionados, d elles se approximassem . kerque rene- 

t j j j li. gam o sen se- 

Logo se apoderaram de um, escapando-lhes o nnor e comba^ 

,, tem os hollan- 

outro nao obstante fazerem-lhe fortemente dezes. 
íogo. O capitão d'este ultimo veio quei- 
xar-se ao nosso Sr. Almirante, que eram 
navios de Dunkerque os que lhe haviam 



180 



Anno tomado o seu outro navio, carregado com 

^ 1632 300 caixas de assucar, e pedio-lhe auxilio 
para perseguil-os como inimigos e reto- 
mar-lhes a presa conquistada. Immediata- 
mente nos separamos para velejar sobre 
elles, mas, como tivessem a vantagem do 
ve/*to lhes soprar favorável e começasse a 
anoutecer, fomos obrigados a abandonar a 
perseguição e retomar o nosso curso primi- 
o nosso pilo- tivo. Pouco depois da meia-noute fizeram 
um tiro de canhão a bordo do navio do 
piloto, e gritaram-ncs em alta vozes que 
virássemos de bordo, com o que assusta- 
ram horrivelmente aos de todos os navios, 

A causa d'isto foi nos termos approximado 

corremos tanto de terra e dos rochedos, junto á 

tSrra grande Beachy Head, que d'elles distávamos apenas 

perigo de nau- . . . , . . . 

tragar. um tiro de pistola e cornamos risco ímmi- 

nente de naufragar. D' este maior perigo 
que ameaçou -nos em toda a nossa viagem 
por mar, salvou-nos misericordiosa e pater- 
nalmente Deus, a quem louvaremos por 
toda a eternidade. Amen. 

separamo-nos A 7 passamos entre Dover e Calais. Os 

-do Br. Almi- . , 

rante. nossos navios separam -se uns dos outros 

despedindo-se com salvas e seguindo cada 
um para o seu porto. Nós, com mais cinco 



181 



navios de Amsterdam, aproamos paraTexel, Anno 
com rumo N, N. E. 1632 

Na tarde de 8 avistamos das vergas terra ^ov ^ ro - 

., ,. , . t^ i Avistamos, 

e para ella nos dirigimos. Re eternos a mercê de Deu» 
bordo um pratico e ao anoutecer lançamos HÒuànda! 6 * a 
ferro no Raumen Zee. (?) 

Ao amanhecer de 9 levantamos novamente Naopodemos 

- . , . t • -i , ainda entrar no 

o ferro. Ao meio- d ia sobrevindo calmaria, porto, 
que impedio-nos de entrar no porto, de novo 
lançamos a ancora. 

A 10 içamos de novo a ancora e nos ap- Approxima- 

■* , mo-nos de ter- 

proximamos de terra. ra . 

Na manhã de 11, estivemos atá ao meio- 
día occupados com içar as ancoras, mas, 
não podendo entrar no porto, as largamos 
novamente em frente de Texel. Avistamos, Avistamos 

~ , . . muitos navios 

prompta para partir, uma frota de mais de fundeados em 
cem velas ou navios. 

No dia seguinte, pela manhã, içamos nova- 
mente as ancoras e bordejamos próximo á Bordejamos 

- . . , «, afim de chegar 

terra; cahmdo, porem, um nevoeiro tao a Texei. 
denso e desacostumado que nada podía- 
mos ver, largamos ainda uma vez o ferro. 

A 1 tarde, porem, içamol-o de novo. 

Na manhã de 13 chegamos, com o au- cnegamosao 

_ pharol perto de 

xiho de Deus, junto ao pharol onde fundea- TexeL 
mos. A' tarde levantamos o ferro , mas, 



r, 



182 



Anno como nos surprehendêsse a noute, içamol-o 

1632 de novo. 
Entramos no Ao amanhecer do dia 14 levantamos o 
e^MÍamo-íos f erro > P ela ultima vez, e entramos no porta 
Jòites 08 trans " ^ e Texel. A' tarde passamos dos grandes 
navios para os transportes afim de sermos 
conduzidos para Amsterdam. 
cnegamoBfe- A 15 ao meio - dia , alli chegamos feliz- 

liimente a fios ' ° 

em Amsterdam. mente. Ao desenbarcarmos fomos cercados 

por muito povo , principalmente mulheres 

que, em parte nos pediam noticias dos 

TraBemosno- seus maridos, filhos e irmãos, e em parte 

titias alegres e , 

tristes regosijavam - se com o regresso dos mes- 

mos. Muitas também ficavam em extremo- 
penalisadas por saberem que os haviam 
perdido. Apezar d'isto trouxeram-nos aguar- 
dente, vinho de França e comida, dando- 
nos assim amavelmente a boa -vinda. Em 
somos ama- seguida fomos conduzidos á Casa das In- 

velmente rece- , . ^ . , , , , 

bidos. dias Occidentaes, onde depuzemos os nos- 

sos mosquetes. 
r* Entregamos Em caminho para alli exgottamos a pol- 
quetes 808 m ° 8 " vora que ainda nos restava, a ponto de nãa 
poder pessoa alguma mostrar -se á janella, 
sem ser logo salvada com tiros de rego- 
sijo, pois, bem nos parecia que voltáva- 
mos, não do purgatório, mas do próprio ii 



183 



ferno para o céo, como se deprehende do Anno 
-que diz o real propheta David, no Psalmo 1632 

CVII, já citado, versículos 30, 31 e 32. N °J^ o 
Em obdiencia ao mandamento contido n'esta n '? l ?J5 n,lda ' 

Singular r&- 

•ci tacão concebi a seguinte breve e singella co p^.*Socvn 
oração : 

«Oh! Grande Deus! Misericordioso/ ter- PsaimoLxxn, 

, . , . vera. 8 

ínoe devino pae, que reinas de um ao outro 

* mar, e do mar ao extremo do universo! 

-* Do intimo de minh'alma eu te agradeço or*ç*octar!at*, 

* todos os benefícios que, desde o ventre 
« de minha mãe, até a presente hora, me 

* tens feito na alma e no corpo, e princi- 
« palmente teres -me guiado desde os mais 

* tenros annos , e teres - me concedido ver 
« e experimentar no mar a tua grande obra 

* e maravilhas. Me guiaste por um longo psmimo m, 

* caminho , mas , sob a guarda dos teus 
«santos anjos, não só durante toda a via- 

* gem por terra e por mar, entre tantos pe- 
« rigos d'alma, corpo e vida, me protegeste 
« e conservaste, e, de accôrdo com o meu 
« desejo, me permitttste voltar para a pátria 
« são e salvo, sem perda de um olho, braço 
« ou perna , como vi acontecer a muitos 
«diante, atraz e junto a mim. Por cuja 
«grande e immerecida clemência eu em 



r 



184 



Anno « vida te louvarei entre os simples e elo- 

1632 
Nov'bro. 



«giarei entre os grandes, e na bemaventu- 
« rança, porem, com todos os santos e es- 
pgaimocvn. «colhidos te louvarei por toda a eternidade, 
« Para ella me conduza a Santíssima Trin- 
«dade, Deus Pae, por intermédio do seu 
« querido filho Jesus Christo nosso Salvador, 
« e com o auxilio de Deus Espirito Santo . 
« Amen. Amen, 

Recebemos o A 29 depois de havermos esperado quinze 

resto do nosso 

soido na casa dias pelo pagamento, recebemos o nosso 

das índias Oc- 

ddentaes. soldo. Coube-me pelo que me restava (de- 
ducção feita da roupa recebida durante toda 
a viagem) em schillings hollandezes de 8 
em um escudo , cento e dez escudos do 
império (digo 110 escudos), dos quaes pa- 
guei ao Sr. Jorge Bierbaum, por um saque 
ao Sr. Pater Bexen , de Strasburgo, 80; 
despendi em Amsterdam 14 escudos, e le- 
vei com migo 16 para a viagem. 

Dez'bro. A 1 embarquei , com o meu camarada 
Partimos de Hans Carol Spiessen, em um kaag (que é 

Amsterdam p.» t_ ~ \ tt j **i 

Harderwjjk. uma pequena embarcação) para Harderwijk, 
onde pernoitamos nos Três Çysnes Brancos, 
sendo bem tratados. 

ParaArnheim. A 2 seguimos em egual embarcação para 




185 



Arnheim, hospedando-nos na estalagem do Anno 
Wtsel. , 16 32 

A 3 nos dirigimos para o dique e passa- p^od^ue. 
mos a noute na Azimula. 

A 4 entramos, em Emmerich, na Escada Em Emme- 
de Ouro, onde jantamos, partindo em se- 
guida para Rees e alli pernoitamos no Corno 
Preto. 

A 5 seguimos para Wesel , mas , encon- Para weseL 
trando já fechadas as portas, tivemos que 
passar a noute em um navio fundeado de- 
fronte , onde gastamos mais dinheiro que 
depois no forte. 

A 6 e no dia seguinte estivemos parados Demora- 

mo -nos dou» 

na cidade e hospedados no Copo Azul. «as aiii 
v A 8 alugamos um bomem d'alli para nos 
conduzir a Ruhrort. Quando já estávamos 
próximos soubemos achar-se n'ella uma par- 
tida hespanhola, pelo que mandamos o nosso 
guia em reconhecimento , e esperamos no 
campo até que voltasse. Como durante este 
tempo ficássemos quasi gelados, demos gra- 
ças a Deus quando 'pudemos entrar na ci- seguimos p> 

, , , , Ruhrort e qua- 

dade, e achar uma camará quente e o que si morremos de 



comer. Demoramo-nos alli ainda o dia se- 
guinte a divirtir-nos. 

A 10 embarcamos no navio de um car- 



frio. 



186 



Anno voeiro e passamos a noute fundeados diante 

1632 d e um lugarejo chamado Miinchen. 

Chegamos a 

;Múnchen. Ali chegamos a Kaiserwerth , pernoi- 

tando nos i?«j Magos. 
Dfisseidorf. A 12 jantamos em Dússeldorf, no Cavai- 
Grimmiinga- leiro , mas, fomos pernoitar em Grimmlings- 

husen. 
zons. Ao meio dia dia 13 chegamos a Zons, 

Hitdorf. mas, fomos passar a noute em Hitdorf. 
coionia. A 14 chegamos a Colónia alojando -nos 

Demoro- me ~ ,- .. 

«inda três dias. no Ganço- Vermelho. 

A 15 mudei de hospedaria ficando ainda 

três dias alli no Cavallo Branco, afim de 

melhor visitar a cidade. Meu camarada 

o meu ca- Hans Carol Spiessen não quiz, porem, de- 
^marada deixa- . , , .., , , 

me. morar-se mais e subio o Rheno embarcado. 

Embarco em A 18 embarquei em um navio de Colo- 
•côionia. nia afim de seguir até Mainz. Ao chegar- 

mos a Koblenz vieram dous francezes da 
guarda, que visitaram toda a embarcação e 
sou maitra- exigiram dinheiro dos passageiros (entre os 

lado pelos fran- 

«ezes em Ko- quaes se achava a mulher de um cura). 
Como ninguém no navio podésse entendel- 
os fallei-lhes, e logo começaram a injuriar- 
me , e perguntaram - me si não havia no 
navio mercadoria suspeita. Ao que respon 
di-lhes com verdade que d'isto nada sabia* 




187 



Então um (Telles deu-me uma pancada na Anno 
nuca, a vista do que puz-me em guarda e ^ _„*^" 
defendi-me. Encolerisaram-se então a ponto 



Dez'bro. 



de um atirar um golpe de hallabarda, que Ferido em dous 
ferio-me o braço direito , emquanto que o 
outro fez-me atravez do chapéo um grande 
ferimento na cabeça, de modo que por 
estes dous francezes fui mais mal ferido do 
que pelo inimigo em tantas renhidas pelejas 
no Brazil e nas índias Occidentaes. Em 
seguida saltei do navio para o cães, e 
corri todo ensanguentado peda porta a den- 
tro até ao commandante a quem queixei-me 
da violências de que fora victima, mostrando- 

Ihe também o meu passaporte. Elle imme- dous france- 
zes sao por mi- 

diatamente mandou buscar os dous soldados nna causa met- 

tidos a ferros. 

da guarda e, depois de ouvir-lhes a defeza, 
fel -os metter a ferros, e prometteu-me 
que ainda os faria castigar como mereciam. Tenho que de- 

m , morar- me al- 

Fiz-me então pensar e demorei - me alh guns dias em 
ainda alguns dias ; ao partir levei commigo 
pontos falsos. O barbeiro, porem, afian- 
çou-me que logo que partisse lhes tirariam 
os ferros e não soffreriam mais castigo 
algum. Assim que senti-me um pouco me- 

r segui a pá o caminho para Mainz, uiEoajidp,» 
le demorei-me dous dias. D'alli dirigi-me heilU™ 



Dez'bro. 



188 



Anno para Oppenheim e , apezar de me dizerem 

1632 q Ue estavam em caminho tropas suecas, 
prosigui, em nome de Deus, a minha mar- 
cha, evitando sempre, nas visinhanças dos 
povoados, as estradas de rodagem e os 
Perto de Gun- caminhos ordinários. Um pouco adiante 
alcançado por de Guntersblum sahiram da aldeia, ao 

dou» soldados . , . . , ,, 

a cavaiio. meu encalço, dous soldados a cavallo, com 
as clavinas a tiracollo ; eu, porem, voltei - 
me e dirigi -me para elles. Perguntaram -me 
quem eu era, d'onde vinha e para onde ia, 
e inssistiram para que os acompanhasse junto 
umdeiies ao seu capitão para alistar-me. Como me 

desarma- me -a.. 

traiçoeira- negasse a fazel-o e mostrasse-lhes os meus 
papeis e passaporte, um d'elles arrancou-me 
traiçoeiramente a espada debaixo do braço. 
Dizendo-lhe eu que era indigno totnar-se a 
arma a um soldado que não era inimigo, 
respondeu-me que não querendo mais ser sol- 
dado também não precisava mais de espada 
e si com isto não me desse por contente 
me tiraria ainda o casaco. Disse-lhe então 
sem temor que sem duvida era-lhe conhecido 
o velho adagio, que diz : 

um veiho «da- « Não ha inverno tão frio em que os 
^ « lobos se devorem uns aos outros ! » 

Assim terminou este incidente e prosegui 



^ 



189 



o meu caminho desarmado. Perto de Lan- Anno 
dau encontrei diversas carretas de Stras- 1632 

I)P7 nPfi 

burgo, junto com mercadores de Liittich Encontro 
com os quaes segui viagem para casa. rôVdetfâgem" 

Chegamos felizmente a Strasburgo no 
principio da feira. Eu atravessei a cidade 
sem ser conhecido, com a minha mochila 
ao hombro , e entrei na estalagem do Boi. Entro aqui no 

Boi. 

d'onde mandei o criado participar a minha 
chegada á minha querida mãe. Pouco de- 
pois o criado voltou trazendo-me um manto 
e acompanhou-me até á casa. Ahi, no es- 
criptorio, fui bem e amavelmente recebido 
pela minha querida mãe e o Sr. Pater Be- 
xen, meu tutor juramentado, sendo por am- 
bos acolhido com grande alegria. O saque 
atraz mencionado pagou-me aquelle senhor, 
de honrada memoria, com oitenta escudos 
saxões, e, dous annos depois, deu -me em 
casamento a sua querida filha Catharina. 



FIM 



Soli Deo Gloria. 

A. PXJBLICAR-SE: 

Para a Historia de Pernambuco. — II. Notas 
Dominicaes tomadas durante uma residência 
em Pernambuco, nos annos de J8J6, 1817 
e 1818, por L. F. de Tollenare. 


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