quarta-feira, 11 de setembro de 2013

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO EM ALAGOAS - Leopoldo Costa - http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/

Leopoldo Costa

Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o  estado de Alagoas, era habitada pelos índios Potiguaras, Caetés, Carijós, Abacatiaras, Coropotós, Cariris, Pipianos, Umãs, Aconãs, Vouvés, Xucurus e outros.
A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores batizassem logo a região de Alagoas.

A primeira expedição ao território alagoano foi conduzida por Duarte Coelho Pereira (1485-1554) donatário da capitania de Pernambuco, que saiu do Recife bordejando o litoral até chegar a foz do rio São Francisco. De lá, rio acima, deparou-se com um local bonito, cheio de pedras. Ali, em 1545 edificou um forte que deu origem a povoação de Penedo. Deixou no local algumas famílias. Penedo tornou-se um importante centro de onde mais tarde partiram aventureiros rumo ao interior que alcançaram até a serra das Panelas, próxima da divisa com os atuais estados de Pernambuco e Bahia. Penedo foi elevado à vila de 1636.

A região foi invadida por franceses no início do século XVI, sendo retomada pelos portugueses em 1535, sob o comando de Duarte Coelho Pereira, o donatário.

Na década de 1560, Jerônimo de Albuquerque (1500-1583), à frente de uma expedição bem armada, massacrou uma tribo inteira dos Caetés, em represália por haverem matado e devorado o bispo Pedro Fernandes Sardinha (1496-1556), que naufragara nas costas de Alagoas em 1556, quando viajava para Portugal.

Santa Madalena da Alagoa foi fundada em 1575 por Diogo Soares da Cunha e Porto Calvo foi fundada em 1590 por Cristóvão Lins[1].
Cristóvão Lins, por delegação de Duarte Coelho Pereira (1485-1554), foi enviado ao território alagoano para conquistá-lo. Lutou contra os índios Potiguaras entre 1575 e 1585, expulsando-os para o interior, depois, de matar muitos e aprisionar outros. Como recompensa pelos bons serviços, recebeu uma grande sesmaria, que tinha como pontos extremos, o cabo de Santo Agostinho e o vale do rio Manguaba. Em 1600, foi nomeado alcáide de Porto Calvo, transformando a povoação num centro irradiador de criação de gado. Os primeiros engenhos de Alagoas foram construídos por ele como os de Escurial, Maranhão e Buenos Aires. Ficavam todos na região de Porto Calvo.

O segundo colonizador foi o português Antonio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins. Ele desembarcou no porto da Barra Grande (Maragogi) para tomar posse de uma sesmaria que compreendia as terras entre os rios Manguaba (fazendo divisa com a sesmaria do seu concunhado), passando pelo  Camaragibe e chegando até as margens do rio Santo Antonio, em São Luís do Quitunde. Começou a explorar as terras, com criação de bovinos e construiu engenhos de açúcar, como o engenho Santo Antônio em São Luís do Quitunde, que funcionou por mais de três séculos, até ser transformado na atual e moderna Usina Santo Antônio que desde a década de 1950, pertence a família Correia Maranhão.

Diogo Soares também recebeu uma sesmaria que compreendia as terras que ficaram conhecidas como Alagoa do Sul, às margens das lagoas Mundaú e Manguaba. Neste local os primeiros dois engenhos de cana de açúcar foram instalados e denominados Engenho Velho e Engenho Novo. O Engenho Velho deu origem a cidade de Pilar.

Antonio Martins Ribeiro foi outro explorador que fundou a vila de Santa Luzia do Norte, antiga Alagoa do Norte, onde Fernão Velho de Araújo construiu um engenho próximo a praia de Garça Torta.

Em 1611 foi fundado o povoado de Vila Madalena de Sumaúna, que veio a ser mais tarde a cidade de Alagoas, a primeira capital da capitania até 1839, quando a sede do governo foi transferida para Maceió. Alagoas é hoje a cidade de Marechal Deodoro, para homenagear o seu mais ilustre filho. Maceió teve origem num engenho de açúcar em 1609.

São Miguel dos Campos era uma antiga aldeia de índios Samambis, A sesmaria foi doada a Antônio de Moura Castro. Os exploradores, atraídos pela riqueza do solo, se estabeleceram cultivando cana de açúcar e outros produtos agrícolas, além da criação de gado que foi expandindo abrindo caminhos para o interior.

Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Vários engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e Paraíba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através do porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e rios, até chegar à vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando por Alagoas a capital (atual Marechal Deodoro) e atingir o porto. A maioria da mão de obra empregada, como em toda parte da Colônia, era de escravos negros.

Em Alagoas, ocorreu o mais importante movimento de resistência negra do Brasil. Alguns escravos não suportando o excesso de trabalho e os frequentes castigos impostos pelos seus donos, rebelaram-se e vieram a fundar em 1595, o Quilombo de Palmares.

Em 1630, os holandeses invadiram Pernambuco e também ocuparam Alagoas até 1654, quando os portugueses voltaram a reconquistar o domínio da região. A constante luta contra os quilombolas e os invasores holandeses enfraqueceu a economia açucareira da região. Segundo registros, dos 15 engenhos que existiam em Porto Calvo, nenhum estava mais funcionando em 1643. A concorrência do açúcar produzido nas Antilhas desestimulava pelo preço, a produção no Brasil. Tiveram que diversificar as atividades. A base que sustentou a economia foi a cultura do algodão e a criação de gado, que desenvolveu pelo interior, propiciando além da autossuficiência, uma sobra para ser exportada para as outras capitanias. Depois da expulsão dos holandeses a economia ficou ainda mais abalada. A retomada do crescimento foi lento, gradual e trabalhoso. Demorou mais de meio século para voltar a ser reconstruída a indústria açucareira. Em torno de 1730 Alagoas possuía cerca de 50 engenhos, 10 freguesias e razoável prosperidade.

Em 1706 Alagoas foi elevada à condição de comarca, primeiro passo para o alcance de sua autonomia. Em 1817, já com uma população de 90.000 pessoas, tornou-se capitania independente de Pernambuco, principalmente pelos esforços de Antônio José Ferreira Batalha, seu ouvidor geral, que não concordou em aderir a revolução Pernambucana.

Em 1819, Alagoas contava com 112.000 habitantes e era também um importante exportador de couros e peles.

Exportações de Couros pela Província de Alagoas em 1840 e 1841

Couros Salgados
Couros Secos
Chifres

Unidades
Arrobas
Unidades
Unidades
1841
2.816
2.481
52

1842
4.231
3.906
270
638
Fonte: Presidência da Província no relatório anual.

A província de Alagoas exportou no período de 1854 a 1857, a média de 75.870 couros[2].

Exportação de Artigos Pecuários de Alagoas durante o Ano Fiscal 1847/1848

Couros Salgados
Unidades
Carne do Sertão
Arrobas/Libras
Galinhas
Unidades
Suínos
Unidades
Para Outras Províncias
6.004
19
20


Para o Exterior
1.361


233
26
Fonte: Presidência da Província

No ano civil de 1861/1862 a província de Alagoas importou 31.302 arrobas de carne seca dos países platinos e 604 arrobas de Pernambuco. O total de 31.906 arrobas (478 toneladas) se destinava basicamente a alimentação dos escravos que labutavam nos engenhos.

No mesmo período exportou, principalmente para a Inglaterra, 569.888 arrobas (8.548 toneladas) de açúcar, 273.396 arrobas (4.101 toneladas) de algodão em rama e 12.391 arrobas (186 toneladas) de couros salgados.
No quinquênio de 1882 a 1886 a produção agrícola de Alagoas era representada basicamente pelo açúcar, com 65% do total e pelo algodão com 33% do total. Todos os outros produtos representavam apenas 2%. Não era computada a produção de carne.

Valor oficial da produção agrícola de Alagoas durante os exercícios de 1882-83 a 1886-87 (acumulado)
Aguardente                                     57:991$281  
Algodão                                       .669:224$031  
Arroz                                               1:150$000
Açucar                                      17.033:828$203  
Azeite vegetal                                  6:282$800
Borracha                                          2:934$000
Farinha de mandioca                         9:000$000
Farinha de araruta                               100$000
Fumo                                             12:520$000
Frutas                                                  20$000
Feijão                                             1:413$000
Melaço                                             1:577$000
Milho                                            122:243$320
Sementes de algodão                       31:513$380
Fonte: Relatório anual da Presidência da Província 1888

Delmiro Gouveia (1863-1917) em 1899 inaugurou no Recife o Derby, um moderno centro comercial que pode ser considerado o primeiro ‘shopping center’ do Brasil. Esse empreendimento foi um grande sucesso e motivo de orgulho para o Recife, atraindo multidões estimada em mais de 8 mil pessoas, até que foi  incendiado em 2 de janeiro de 1900 pela polícia de Pernambuco, obedecendo ordens do então presidente da província Sigismundo Gonçalves (1845-1915), pois Delmiro tinha raptado, uma filha natural de 16 anos dele. Delmiro  foi obrigado a fugir transferindo-se, em 1903, para Pedra, em Alagoas, uma povoação perdida no meio do sertão, porém servida pela estrada de ferro de Paulo Afonso e de excelente localização estratégica comercial, ficando próxima da fronteira com Pernambuco, Sergipe e Bahia (hoje chama-se Delmiro Gouveia em sua homenagem). Delmiro comprou uma fazenda às margens da ferrovia onde instalou uma indústria e comércio de peles e couros construindo currais, açude e prédios para abrigar o curtume. Pela abundância de algodão com bom preço, planejou construir ali também uma fábrica de linhas de costura, que até então eram todas importadas da Inglaterra, as conhecidas ‘Linhas Corrente’, que monopolizavam o mercado brasileiro. Conseguiu do governo de Alagoas isenção de impostos e permissão para construir uma usina na cachoeira de Paulo Afonso. Em 1912 iniciou a construção da fábrica e em 26 de janeiro de 1913 inaugurou a primeira hidroelétrica do Brasil com potência de 1.500 HP na queda de Angiquinho, Paulo Afonso, para abastecer a fábrica. Em 1914 iniciou as atividades da fábrica produzindo as linhas que eram vendidas em todo o Brasil, e exportadas para o outros países da América Latina, com preços muito abaixo dos praticados pela "Linhas Corrente", produzidas na Inglaterra pela 'Machine Cotton', que até então monopolizava o mercado de linhas de costura em quase todo o mundo. Com sua política comercial agressiva e inteligente logo dominou o mercado brasileiro e amplas fatias do mercado latino-americano. O sucesso da empresa - que em 1916 já produzia mais de 500.000 carretéis de linha por dia – preocupou a diretoria do conglomerado inglês 'Machine Cotton', que tentou por todos os meios comprar a fábrica de Delmiro, como fazia em todo o mundo quando aparecia um concorrente. Delmiro era independente e não aceitava ser submisso, por motivos políticos e questões de terras, entrou em conflito com alguns poderosos coronéis da região, terminando por ser assassinado misteriosamente em 1917. Alguns historiadores  incluem a 'Machine Cottton' no rol dos suspeitos por este assassinato. Seus herdeiros, não resistindo às pressões da 'Machine Cotton', venderam a fábrica à empresa inglesa, que mandou destruir as máquinas, demolir os prédios, e lançar os maquinários e escombros no rio São Francisco, livrando-se assim de uma incômoda concorrência.

A população de Alagoas no final de cada década era a seguinte:
Ano
População
1900
649.000
1910
795.000
1920
983.000
1930
1.127.000
1940
1.026.000
1950
1.093.000
1960
1.259.000

No período de 1938 a 1964 o rebanho teve a seguinte evolução:


1938
1950
1957
1964
1964/1938
Bovinos
226.000
350.000
501.000
741.000
228%
Equinos
73.000
-
100.000
124.000
70%
Suinos
90.000
200.000
366.000
623.000
592%
Ovinos
90.000
-
241.000
358.000
298%
Caprinos
89.000
170.000
269.000
378.000
325%

Alagoas nunca teve muita expressão em criação de gado. Ocupa o 22º lugar em tamanho de rebanho bovino entre as unidades federativas do Brasil. O rebanho do estado é igual ao do município de Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul.

O IBGE no Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia no estado de Alagoas 1.162.000 cabeças de bovinos. Os cinco maiores rebanhos, que representavam 14% do total estavam nos seguintes municípios:
·        Palmeira dos Índios            41.000 cabeças
·        Viçosa                               32.000 cabeças
·        Quebrângulo                      32.000 cabeças
·        Major Isidoro                      29.000 cabeças
·        União dos Palmares             28.000 cabeças


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[1]  O alemão Christoph Lintz, depois aportuguesado para Cristovão Lins, vivia em Portugal, onde casou-se com Adriana de Hollanda, filha do holandês Arnault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos. O casal desembarcou no Recife, na primeira metade do século XVI. 
[2] Relatório anual da Presidência da Província 1858.

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