Leopoldo Costa
Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o estado de Alagoas, era habitada pelos índios Potiguaras, Caetés, Carijós, Abacatiaras, Coropotós, Cariris, Pipianos, Umãs, Aconãs, Vouvés, Xucurus e outros.
A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores batizassem logo a região de Alagoas.
A primeira expedição ao território alagoano foi conduzida por Duarte Coelho Pereira (1485-1554) donatário da capitania de Pernambuco, que saiu do Recife bordejando o litoral até chegar a foz do rio São Francisco. De lá, rio acima, deparou-se com um local bonito, cheio de pedras. Ali, em 1545 edificou um forte que deu origem a povoação de Penedo. Deixou no local algumas famílias. Penedo tornou-se um importante centro de onde mais tarde partiram aventureiros rumo ao interior que alcançaram até a serra das Panelas, próxima da divisa com os atuais estados de Pernambuco e Bahia. Penedo foi elevado à vila de 1636.
A região foi invadida por franceses no início do século XVI, sendo retomada pelos portugueses em 1535, sob o comando de Duarte Coelho Pereira, o donatário.
Na década de 1560, Jerônimo de Albuquerque (1500-1583), à frente de uma expedição bem armada, massacrou uma tribo inteira dos Caetés, em represália por haverem matado e devorado o bispo Pedro Fernandes Sardinha (1496-1556), que naufragara nas costas de Alagoas em 1556, quando viajava para Portugal.
Santa Madalena da Alagoa foi fundada em 1575 por Diogo Soares da Cunha e Porto Calvo foi fundada em 1590 por Cristóvão Lins[1].
Cristóvão Lins, por delegação de Duarte Coelho Pereira (1485-1554), foi enviado ao território alagoano para conquistá-lo. Lutou contra os índios Potiguaras entre 1575 e 1585, expulsando-os para o interior, depois, de matar muitos e aprisionar outros. Como recompensa pelos bons serviços, recebeu uma grande sesmaria, que tinha como pontos extremos, o cabo de Santo Agostinho e o vale do rio Manguaba. Em 1600, foi nomeado alcáide de Porto Calvo, transformando a povoação num centro irradiador de criação de gado. Os primeiros engenhos de Alagoas foram construídos por ele como os de Escurial, Maranhão e Buenos Aires. Ficavam todos na região de Porto Calvo.
Diogo Soares também recebeu uma sesmaria que compreendia as terras que ficaram conhecidas como Alagoa do Sul, às margens das lagoas Mundaú e Manguaba. Neste local os primeiros dois engenhos de cana de açúcar foram instalados e denominados Engenho Velho e Engenho Novo. O Engenho Velho deu origem a cidade de Pilar.
Antonio Martins Ribeiro foi outro explorador que fundou a vila de Santa Luzia do Norte, antiga Alagoa do Norte, onde Fernão Velho de Araújo construiu um engenho próximo a praia de Garça Torta.
Em 1611 foi fundado o povoado de Vila Madalena de Sumaúna, que veio a ser mais tarde a cidade de Alagoas, a primeira capital da capitania até 1839, quando a sede do governo foi transferida para Maceió. Alagoas é hoje a cidade de Marechal Deodoro, para homenagear o seu mais ilustre filho. Maceió teve origem num engenho de açúcar em 1609.
São Miguel dos Campos era uma antiga aldeia de índios Samambis, A sesmaria foi doada a Antônio de Moura Castro. Os exploradores, atraídos pela riqueza do solo, se estabeleceram cultivando cana de açúcar e outros produtos agrícolas, além da criação de gado que foi expandindo abrindo caminhos para o interior.
Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Vários engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e Paraíba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através do porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e rios, até chegar à vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando por Alagoas a capital (atual Marechal Deodoro) e atingir o porto. A maioria da mão de obra empregada, como em toda parte da Colônia, era de escravos negros.
Em Alagoas, ocorreu o mais importante movimento de resistência negra do Brasil. Alguns escravos não suportando o excesso de trabalho e os frequentes castigos impostos pelos seus donos, rebelaram-se e vieram a fundar em 1595, o Quilombo de Palmares.
Em 1630, os holandeses invadiram Pernambuco e também ocuparam Alagoas até 1654, quando os portugueses voltaram a reconquistar o domínio da região. A constante luta contra os quilombolas e os invasores holandeses enfraqueceu a economia açucareira da região. Segundo registros, dos 15 engenhos que existiam em Porto Calvo, nenhum estava mais funcionando em 1643. A concorrência do açúcar produzido nas Antilhas desestimulava pelo preço, a produção no Brasil. Tiveram que diversificar as atividades. A base que sustentou a economia foi a cultura do algodão e a criação de gado, que desenvolveu pelo interior, propiciando além da autossuficiência, uma sobra para ser exportada para as outras capitanias. Depois da expulsão dos holandeses a economia ficou ainda mais abalada. A retomada do crescimento foi lento, gradual e trabalhoso. Demorou mais de meio século para voltar a ser reconstruída a indústria açucareira. Em torno de 1730 Alagoas possuía cerca de 50 engenhos, 10 freguesias e razoável prosperidade.
Em 1706 Alagoas foi elevada à condição de comarca, primeiro passo para o alcance de sua autonomia. Em 1817, já com uma população de 90.000 pessoas, tornou-se capitania independente de Pernambuco, principalmente pelos esforços de Antônio José Ferreira Batalha, seu ouvidor geral, que não concordou em aderir a revolução Pernambucana.
Em 1819, Alagoas contava com 112.000 habitantes e era também um importante exportador de couros e peles.
Exportações de Couros pela Província de Alagoas em 1840 e 1841
Couros Salgados
|
Couros Secos
|
Chifres
| ||
Unidades
|
Arrobas
|
Unidades
|
Unidades
| |
1841
|
2.816
|
2.481
|
52
| |
1842
|
4.231
|
3.906
|
270
|
638
|
Fonte: Presidência da Província no relatório anual.
Exportação de Artigos Pecuários de Alagoas durante o Ano Fiscal 1847/1848
Couros Salgados
Unidades
|
Carne do Sertão
Arrobas/Libras
|
Galinhas
Unidades
|
Suínos
Unidades
| ||
Para Outras Províncias
|
6.004
|
19
|
20
| ||
Para o Exterior
|
1.361
|
233
|
26
|
Fonte: Presidência da Província
No ano civil de 1861/1862 a província de Alagoas importou 31.302 arrobas de carne seca dos países platinos e 604 arrobas de Pernambuco. O total de 31.906 arrobas (478 toneladas) se destinava basicamente a alimentação dos escravos que labutavam nos engenhos.
No mesmo período exportou, principalmente para a Inglaterra, 569.888 arrobas (8.548 toneladas) de açúcar, 273.396 arrobas (4.101 toneladas) de algodão em rama e 12.391 arrobas (186 toneladas) de couros salgados.
No quinquênio de 1882 a 1886 a produção agrícola de Alagoas era representada basicamente pelo açúcar, com 65% do total e pelo algodão com 33% do total. Todos os outros produtos representavam apenas 2%. Não era computada a produção de carne.
Valor oficial da produção agrícola de Alagoas durante os exercícios de 1882-83 a 1886-87 (acumulado)
Aguardente 57:991$281
Algodão .669:224$031
Arroz 1:150$000
Açucar 17.033:828$203
Azeite vegetal 6:282$800
Borracha 2:934$000
Farinha de mandioca 9:000$000
Farinha de araruta 100$000
Fumo 12:520$000
Frutas 20$000
Feijão 1:413$000
Melaço 1:577$000
Milho 122:243$320
Sementes de algodão 31:513$380
Fonte: Relatório anual da Presidência da Província 1888
Delmiro Gouveia (1863-1917) em 1899 inaugurou no Recife o Derby, um moderno centro comercial que pode ser considerado o primeiro ‘shopping center’ do Brasil. Esse empreendimento foi um grande sucesso e motivo de orgulho para o Recife, atraindo multidões estimada em mais de 8 mil pessoas, até que foi incendiado em 2 de janeiro de 1900 pela polícia de Pernambuco, obedecendo ordens do então presidente da província Sigismundo Gonçalves (1845-1915), pois Delmiro tinha raptado, uma filha natural de 16 anos dele. Delmiro foi obrigado a fugir transferindo-se, em 1903, para Pedra, em Alagoas, uma povoação perdida no meio do sertão, porém servida pela estrada de ferro de Paulo Afonso e de excelente localização estratégica comercial, ficando próxima da fronteira com Pernambuco, Sergipe e Bahia (hoje chama-se Delmiro Gouveia em sua homenagem). Delmiro comprou uma fazenda às margens da ferrovia onde instalou uma indústria e comércio de peles e couros construindo currais, açude e prédios para abrigar o curtume. Pela abundância de algodão com bom preço, planejou construir ali também uma fábrica de linhas de costura, que até então eram todas importadas da Inglaterra, as conhecidas ‘Linhas Corrente’, que monopolizavam o mercado brasileiro. Conseguiu do governo de Alagoas isenção de impostos e permissão para construir uma usina na cachoeira de Paulo Afonso. Em 1912 iniciou a construção da fábrica e em 26 de janeiro de 1913 inaugurou a primeira hidroelétrica do Brasil com potência de 1.500 HP na queda de Angiquinho, Paulo Afonso, para abastecer a fábrica. Em 1914 iniciou as atividades da fábrica produzindo as linhas que eram vendidas em todo o Brasil, e exportadas para o outros países da América Latina, com preços muito abaixo dos praticados pela "Linhas Corrente", produzidas na Inglaterra pela 'Machine Cotton', que até então monopolizava o mercado de linhas de costura em quase todo o mundo. Com sua política comercial agressiva e inteligente logo dominou o mercado brasileiro e amplas fatias do mercado latino-americano. O sucesso da empresa - que em 1916 já produzia mais de 500.000 carretéis de linha por dia – preocupou a diretoria do conglomerado inglês 'Machine Cotton', que tentou por todos os meios comprar a fábrica de Delmiro, como fazia em todo o mundo quando aparecia um concorrente. Delmiro era independente e não aceitava ser submisso, por motivos políticos e questões de terras, entrou em conflito com alguns poderosos coronéis da região, terminando por ser assassinado misteriosamente em 1917. Alguns historiadores incluem a 'Machine Cottton' no rol dos suspeitos por este assassinato. Seus herdeiros, não resistindo às pressões da 'Machine Cotton', venderam a fábrica à empresa inglesa, que mandou destruir as máquinas, demolir os prédios, e lançar os maquinários e escombros no rio São Francisco, livrando-se assim de uma incômoda concorrência.
A população de Alagoas no final de cada década era a seguinte:
Ano
|
População
|
1900
|
649.000
|
1910
|
795.000
|
1920
|
983.000
|
1930
|
1.127.000
|
1940
|
1.026.000
|
1950
|
1.093.000
|
1960
|
1.259.000
|
No período de 1938 a 1964 o rebanho teve a seguinte evolução:
1938
|
1950
|
1957
|
1964
|
1964/1938
| |
Bovinos
|
226.000
|
350.000
|
501.000
|
741.000
|
228%
|
Equinos
|
73.000
|
-
|
100.000
|
124.000
|
70%
|
Suinos
|
90.000
|
200.000
|
366.000
|
623.000
|
592%
|
Ovinos
|
90.000
|
-
|
241.000
|
358.000
|
298%
|
Caprinos
|
89.000
|
170.000
|
269.000
|
378.000
|
325%
|
Alagoas nunca teve muita expressão em criação de gado. Ocupa o 22º lugar em tamanho de rebanho bovino entre as unidades federativas do Brasil. O rebanho do estado é igual ao do município de Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul.
O IBGE no Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia no estado de Alagoas 1.162.000 cabeças de bovinos. Os cinco maiores rebanhos, que representavam 14% do total estavam nos seguintes municípios:
· Palmeira dos Índios 41.000 cabeças
· Viçosa 32.000 cabeças
· Quebrângulo 32.000 cabeças
· Major Isidoro 29.000 cabeças
· União dos Palmares 28.000 cabeças
http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/
[1] O alemão Christoph Lintz, depois aportuguesado para Cristovão Lins, vivia em Portugal, onde casou-se com Adriana de Hollanda, filha do holandês Arnault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos. O casal desembarcou no Recife, na primeira metade do século XVI.
[2] Relatório anual da Presidência da Província 1858.
Nenhum comentário:
Postar um comentário