quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Quando Alagoas emancipará o povo? ANA CLÁUDIA LAURINDO

Quando Alagoas emancipará o povo?

Fonte: http://reporteralagoas.com.br


Lembro da infância em Matriz de Camaragibe, e do cantar da criançada neste dia, quando sem entender ainda o significado da palavra, chamávamos Alagoas de estrela radiosa!
Todas as esperanças vestiam nossos corpos. Éramos seres cívicos e felizes.
A adolescência foi derrubando alguns véus, e no espanto da percepção que brotava imatura, tornei-me crítica; embora limitasse minhas revoltas ao modo de viver local, ao qual atribuía todas as culpas pelas exclusões e anti-cidadanias.
Passei a sonhar com a mudança para a capital, Maceió, como a resolução dos problemas. Ao menos dos meus, que tinha sonho de gente crescida e queria ser escritora e jornalista.
Foi por esse tempo que um amigo de São Luis do Quitunde faleceu em um acidente automobilístico, e reflexionando sobre o perigo do uso do álcool ao volante enviei meu primeiro artigo de opinião para a Gazeta de Alagoas, que o publicou, rendendo-me diversos elogios naquelas plagas.
Em Maceió encontrei o sol! Todas as manhãs podiam ser de mar e as tardes de estudar. Aos 15 anos, comecei a entender que exclusões e anti-cidadania estavam também pelos lados de cá…
Mas Alagoas ainda era radiosa e futurosa. Ao repetir salve a terra de Alagoas fazia coro com a juventude que sonhava tempos melhores, estudos promissores e muitos amores.
Talvez o ingresso no serviço público, com a vinda da idade adulta, tenha feito a cisão definitiva do cordão umbilical, que ligava individualidade e civismo. A necessidade maior tornou-se a de civilidade!
As escolas públicas me trouxeram a dimensão da vala social operante. Cada vez menos luz caía sobre o cotidiano dos nossos alunos e seus familiares, que não eram tão diferentes de nós mesmos e dos nossos familiares também.
Para fugir do desencanto fui me tornando amante da Educação. Contudo, necessitava elementos novos para assegurar a sobrevivência psicológica em contexto que despontava adverso. Encontrei-os no curso de Ciências Sociais da UFAL.
Apesar da jornada educativa, ainda não tinha aprendido o suficiente sobre Alagoas.
Foi quando tentei utilizar as senhas de cidadania que acreditava possuir, para fazer justiça a meu filho Alexystaine, vítima de tortura por agentes de segurança pública em 2007, que descobri serem todas inválidas.
A corrupção, omissão, espírito de corpo, conivência…despencavam às vistas desta mulher e mãe alagoana em dor e estupefação…
Não estava mais em uma terra radiosa, mas vivia a treva da anti-cidadania imposta!
Luta em pausa no dia 22 de novembro de 2010, quando meu filho entrou para as estatísticas dos crimes barateados…sem investigação, sem justiça…Apenas mais um corpo jovem sobre o próprio sangue.
Desde esse momento compreendo que Alagoas ainda não emancipou seu povo, e que apenas uma parcela mínima da população usufrui de sua luz radiosa em amplos espaços institucionais, tornados covis para tramar todas as vilanias.
Nós sociedade, mães e pais, jovens e crianças, ainda não sentimos o gosto da civilidade que acreditamos ter. Nossa realidade é montada sobre esquemas imaginários de cidadania, que, na prática, resultam em mais exclusões.
Mas cantemos, celebremos as lutas justas, e acumulemos força para resistir ao dia do despertamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

“Viver é uma arte. E seu roteiro deve ser escrito pela sabedoria e pelo bom senso”. Dr. José Reginaldo de Melo Paes (medico, poeta, acadêmico alagoano)

  Dr. José Reginaldo de Melo Paes (medico, poeta, acadêmico alagoano) “Viver é uma arte. E seu roteiro deve ser escrito pela sabedoria e p...