A documentação sobre nossa história é parca. Um tabelião insano queimou os arquivos de Porto Calvo sob sua guarda. Pouco se sabe hoje o que foi documentalmente a história de Porto Calvo. A história da pars borealis é quase toda antropológica. Só a história antropológica pode salvar parte de nossa memória social. E baseado nessa desdocumentação – e permita-se a mim o neologismo – surge o delírio de alguns, mais preocupados com a projeção de seus desejos e frustrações que com a probidade histórica, imaginando uma Porto Calvo holandesa que jamais existiu. O que sempre existiu foi a Porto Calvo portuguesa desde as origens, que chegou por várias vezes a ser ocupada por tropas da Companhia das Índias Ocidentais.
"Porto Calvo nasceu portuguesa, portuguesíssima pelo nome e pela língua falada pelos seus povoadores. Nome de aldeia portuguesa do Minho e Alto Douro".
Na obra de Lindoso, uma nova leitura da nossa história
Gazeta – Vamos falar de seus livros. A Utopia Armada trata da Guerra dos Cabanos, episódio ocorrido na fronteira entre Alagoas e Pernambuco. Apesar de ter ocorrido aqui, é um fato quase desconhecido pelos alagoanos. Por que você resolveu escrever sobre o conflito e o que mais chamou sua atenção nessa história?
Dirceu Lindoso – O meu avô era compadre do filho do Vicente de Paula, o maior chefe dos cabanos, que chamavam de General de Todas as Matas. A família do meu avô ficou do lado dos cabanos. Nem todos os senhores de engenho ficaram contra os cabanos, como muita gente já afirmou. E meu avô me contava muitas coisas sobre essa história. O pai do meu avô ajudou muito os cabanos. Foi uma guerra feita pelos conservadores para trazer Dom Pedro I de volta. Ele tinha ido embora para Portugal. Mas D. Pedro I já tinha morrido e eles não sabiam. Eles colocaram os escravos deles como soldados e enfrentaram o exército de Pernambuco e Alagoas. Os cabanos tomaram Maceió. Essa guerra durou de 1832 até 1850. Foram 18 anos. Levaram o Vicente de Paula para Fernando de Noronha, preso.
A Guerra dos Cabanos seria uma prova de que, há tempos, o povo de Alagoas não seria tranquilo, pacífico?
Tranquilo? Onde? E as guerras de famílias onde ficam hoje Palmeira dos Índios, Viçosa, Arapiraca? Uma guerra terrível. No sertão também. Muitos conflitos. O Octávio Brandão dizia que a família dele tinha engenhos, era rica, mas os parentes mais antigos dele eram pobres: pequenos comerciantes e empregados de fazenda. E foi depois dessas guerras todas que esse pessoal ficou rico. Foi aí que surgiram essas fortunas de Viçosa.
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O historiador fala sobre o futuro da economia alagoana
Gazeta – Como você trabalha sempre com fatos distantes, quando você está realizando o levantamento de dados para um trabalho não fica receoso de estar recorrendo a uma versão deturpada ou falsa de um episódio?
Dirceu Lindoso – Em geografia, não. Os mapas eram feitos por cientistas. Não havia como estarem errados, até porque eram usados. Agora, quando o documento é sobre algum acontecimento, sim, por conta da interpretação do acontecimento, o sentido que se dá ao fato. Mas o que faço não é história nem etnologia. É etnohistória. A história que usa da etnologia para desvendar. Eu estou desmontando os museus de história. O modelo de história de Alagoas, para mim, não servia. É a história oficial. Um modelo que vinha se repetindo.
E sobre os índices de violência urbana no Estado: você tem pensado sobre isto?
Antes aqui só tinha briga de família. Hoje mais não. É um problema social. Pobreza. Querem fundar em Alagoas duas usinas atômicas. Vai ser a saída para Alagoas. Vai precisar de tecnologia e mão-de-obra. Faria surgir uma nova classe de profissionais altamente qualificados. A indústria têxtil acabou. Era forte, mas acabou. Hoje o problema é a cana-de-açúcar. A China e outros países não querem mais saber de açúcar nem de álcool. Querem saber de celulose e aqui se queima celulose. A celulose é retirada da palha da cana. A maior riqueza de Alagoas eles queimam.
Gazeta – Vamos falar de seus livros. A Utopia Armada trata da Guerra dos Cabanos, episódio ocorrido na fronteira entre Alagoas e Pernambuco. Apesar de ter ocorrido aqui, é um fato quase desconhecido pelos alagoanos. Por que você resolveu escrever sobre o conflito e o que mais chamou sua atenção nessa história?
Dirceu Lindoso – O meu avô era compadre do filho do Vicente de Paula, o maior chefe dos cabanos, que chamavam de General de Todas as Matas. A família do meu avô ficou do lado dos cabanos. Nem todos os senhores de engenho ficaram contra os cabanos, como muita gente já afirmou. E meu avô me contava muitas coisas sobre essa história. O pai do meu avô ajudou muito os cabanos. Foi uma guerra feita pelos conservadores para trazer Dom Pedro I de volta. Ele tinha ido embora para Portugal. Mas D. Pedro I já tinha morrido e eles não sabiam. Eles colocaram os escravos deles como soldados e enfrentaram o exército de Pernambuco e Alagoas. Os cabanos tomaram Maceió. Essa guerra durou de 1832 até 1850. Foram 18 anos. Levaram o Vicente de Paula para Fernando de Noronha, preso.
A Guerra dos Cabanos seria uma prova de que, há tempos, o povo de Alagoas não seria tranquilo, pacífico?
Tranquilo? Onde? E as guerras de famílias onde ficam hoje Palmeira dos Índios, Viçosa, Arapiraca? Uma guerra terrível. No sertão também. Muitos conflitos. O Octávio Brandão dizia que a família dele tinha engenhos, era rica, mas os parentes mais antigos dele eram pobres: pequenos comerciantes e empregados de fazenda. E foi depois dessas guerras todas que esse pessoal ficou rico. Foi aí que surgiram essas fortunas de Viçosa.
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O historiador fala sobre o futuro da economia alagoana
Gazeta – Como você trabalha sempre com fatos distantes, quando você está realizando o levantamento de dados para um trabalho não fica receoso de estar recorrendo a uma versão deturpada ou falsa de um episódio?
Dirceu Lindoso – Em geografia, não. Os mapas eram feitos por cientistas. Não havia como estarem errados, até porque eram usados. Agora, quando o documento é sobre algum acontecimento, sim, por conta da interpretação do acontecimento, o sentido que se dá ao fato. Mas o que faço não é história nem etnologia. É etnohistória. A história que usa da etnologia para desvendar. Eu estou desmontando os museus de história. O modelo de história de Alagoas, para mim, não servia. É a história oficial. Um modelo que vinha se repetindo.
E sobre os índices de violência urbana no Estado: você tem pensado sobre isto?
Antes aqui só tinha briga de família. Hoje mais não. É um problema social. Pobreza. Querem fundar em Alagoas duas usinas atômicas. Vai ser a saída para Alagoas. Vai precisar de tecnologia e mão-de-obra. Faria surgir uma nova classe de profissionais altamente qualificados. A indústria têxtil acabou. Era forte, mas acabou. Hoje o problema é a cana-de-açúcar. A China e outros países não querem mais saber de açúcar nem de álcool. Querem saber de celulose e aqui se queima celulose. A celulose é retirada da palha da cana. A maior riqueza de Alagoas eles queimam.
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