quinta-feira, 14 de novembro de 2013

ZUMBI: VALENTE E CORAJOSO OU UM COVARDE FUJÃO? PROFESSOR ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS (UFAL)

ZUMBI: VALENTE E CORAJOSO OU UM COVARDE FUJÃO?
 
 
            Existe nos documentos que relatam o assassinato de Zumbi uma diferença no que reside ao como de sua morte. Nos documentos nº 38 - “Carta do Governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro dando conta de se ter conseguido a morte do Zomby a qual descreve. Pernambuco, 14 de março de 1696” – nº 39 – “Consulta do Conselho Ultramarino de 18 de Agosto de 1696, em que o Governador da Capitania de Pernambuco dá conta de se haver conseguido a morte do Zomby, e perdão que se deu ao Mulato que o entregou” – do livro de Ernesto Ennes, e nº 28 – “A Morte de Zumbi” – do livro de Décio Freitas, “República dos Palmares” – este semelhante ao de nº 39, de Ennes - lemos que a morte de Zumbi ocorreu da seguinte maneira:
 
                                    Senhor
“O Governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro em carta de 14 de março deste ano dá conta a Vossa Majestade de se haver conseguido a morte do Zumbi, ao qual descobrira um mulato de seu maior valimento que os moradores do Rio de São Francisco aprisionaram, e remetendo-se-lhe topara com troço das tropas que dedicara àqueles distritos, que acertou ser de paulistas, em que ia por cabo o Capitão André Furtado de Mendonça, e temendo-se o dito mulato de ser punido por seus graves crimes oferecera que segurando-se-lhe a vida em nome dele Governador se obrigaria a entregar o dito Zumbi, e aceitando-se-lhe a oferta desempenhara a palavra, guiando a tropa ao mucambo do negro que tinha já lançado fora a pouca família que o acompanhava, ficando somente com vinte negros, dos quais mandara quatorze para os postos das emboscadas que esta gente usa no seu modo de guerra, e indo com os mais que lhe restaram a se ocultar no sumidouro que artificiosamente havia fabricado, achando tomada a passagem, pelejara valorosa ou desesperadamente, matando um homem, ferindo alguns, e não querendo render-se nem os companheiros fora preciso matá-lo, apanhando só um vivo...”.
                                                                                             
                                                                                                                                                                                                                              
        O que nos informa sobre o assunto o documento nº 27 – “O Homem que Matou Zumbi” – publicado no livro de Décio Freitas, “República dos Palmares”?
                        Vejamos o trecho:
 
“... havido por cabo de 150 homens a correr a campanha dar nas cabaceiras (ou cabeceiras?) do rio Paraíba com mucambo do negro Zumbi chamado Rei, avançando por um lado o entrar de sorte que os pôs em fugida em cuja ocasião indo em seu alcance matou a cinco negros e ao dito Zumbi...”.
                                                                                                                                             
                                                                                                                                                                     
 
Quais as diferenças?
  
 
1.        Aqui, não há a menor referência a traição do mulato Antônio Soares;
 
2.        É diferente o número de palmarinos que acompanhavam Zumbi;
 
3.        Não há menção aos que ficaram nos “postos das emboscadas”;
 
4.        Não se fala da existência de um “sumidouro”, mas sim, de um “mocambo”;
 
5.         Como óbvia conseqüência, um completo silêncio em relação aos que, com Zumbi, se dirigiram ao sumidouro;
 
6.         Zumbi não encontrou a entrada do sumidouro “tomada”, isto é, impedida;
 
                        7.         Não pelejou “valorosa ou desesperadamente” e nem feriu ninguém como lemos em todos os livros que tratam de seu assassinato;
 
                        8.         Quando houve o encontro das forças opostas, Zumbi e seus guerreiros fugiram;
 
9.          Foi morto porque o Capitão André Furtado de Mendonça o perseguiu e “matou a cinco negros e ao dito Zumbi”;
                             
10.       Finalmente, não há a menor informação sobre o número e tipos de ferimentos sejam de arma branca ou de fogo em seu corpo.
 
 
          


  Afinal, qual a versão correta? A que afirma que existia um sumidouro e Zumbi ao pretender nele se ocultar encontrou a “passagem tomada” e lutou bravamente até a morte, ou a que informa que ele, como um verdadeiro covarde, fugiu da luta e só foi morto depois de uma brutal perseguição?
            Reconheço que este é um assunto muito controvertido, pois só a descoberta de novas fontes históricas primárias pode esclarecer o que realmente ocorreu. Enquanto este documento-chave não for descoberto permanecerá, sobre o “Tigre dos Palmares” a tenebrosa dúvida: ele, na realidade, fazia jus a fama de valente e corajoso ou não passava de um covarde fujão?
 
 
ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS
PROFESSOR DA UFAL

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