MONTE TROVÃO
Professor Dr. ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS
Quem, por específico interesse, curiosidade ou proposta de estudo, dispor de tempo e paciência para se debruçar sobre as fontes históricas primárias – paleografadas ou não – e secundárias de determinados cronistas que nos informam sobre as notícias das entradas e bandeiras e nos contam os eventos da colonização dos primeiros dois séculos do Brasil se deparará, inevitavelmente, com os mais variados relatos e, alguns, de estranhíssima natureza.
Tais relatos versam sobre assuntos de interesse histórico, arqueológico – como a existência de fabulosos impérios, cidades de ouro e outras simplesmente de robusta alvenaria e arrojada arquitetura e planejamento, perdidas entre as montanhas, que vitimou exploradores famosos em sua busca, templos enormes totalmente soterrados ou como informa determinada fonte primária, construídos num gigantesco subterrâneo e que não condizem com nada que os habitantes do Brasil pré-cabralino possam ter construído – antropológico – tribos de homens totalmente brancos – criptozoológico – descrição de animais que ainda hoje se desconhece – toponímico – conjuntos de topônimos que nos lembram o de antigas civilizações – e, também, geológico, como é o caso do “Monte Trovão”, objeto do presente artigo.
Torna-se necessário esclarecer que o acima citado representa, apenas, uma microscópica parcela da vasta gama de informações deixadas por aqueles que se aventuraram pelos mais recônditos locais do vastíssimo, misterioso e mal explorado território brasileiro. Também é preciso esclarecer que muitos desses tempestuosos assuntos são tidos como meras lendas, miragens ou até mesmo produto de um louco, apesar do relatado ter sido mal ou nunca devidamente pesquisado. Esta, a maior ironia!
Contudo, acho que a história do “Monte Trovão” se escreve com “H” e não com “E” e, por isso, não acredito que ela se encaixe em nenhuma dessas famosas categorias retro-mencionadas.
Quem menciona os “mistérios” do “Monte Trovão” é Joannes de Laet. Na página 95, do Duodécimo Livro, referente ao ano de 1635, da sua “História ou Anais dos Feitos da Privilegiada Companhia das Índias Ocidentais, desde sua fundação até o ano de 1636” , informa: “Devemos aqui falar de passagem sobre a estranha propriedade do monte Miritibe, o qual compõe-se de uma tal terra que nos meses das chuvas, quando essas caem com força, fazem tal estrondo como se fosse trovão ou tiros de canhão de grande calibre, de sorte que o povo que mora ao redor, fica aterrado e salta das camas com medo. A mesma terra encontra-se no monte Pasyra, situado no mato atrás do engenho de Gregório de Barros”.
Ainda segundo Laet, á página 159 do citado Livro, “a casa do Barros” dista “sete léguas da Alagoa Grande” e era onde se cortava “a maior parte do pau Brasil e do melhor de toda capitania, mas tem de ser conduzido umas 30 léguas para a costa do mar” e “A “duas léguas dessa casa acha-se o Monte Trovão...”.
Com a palavra os Professores de Toponímia, História do Nordeste – período holandês – Cartografia, Geografia e Geologia para identificar quais os montes de hoje eram, em 1635, conhecidos como “Miritibe” e “Pasyra” e explicar a que se deve o fenômeno relatado.
Arqueólogo
Professor da Ufal
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