sábado, 28 de fevereiro de 2015

O ZIGUEZIGUE - ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS ARQUEÓLOGO PROFESSOR DA UFAL

O ZIGUEZIGUE

Aloisio Vilela de Vasconcelos

       Logo após o último carnaval estava, à noite, em um “canto chorando o meu pranto” num dos ambientes de meu refúgio de Viçosa quando, de repente, entra um ziguezigue que, após rodopiar como um desesperado a procura do caminho de entrada, que o levaria para fora de sua “prisão”, pousa, barulhentamente, sobre o abajur e se acalma.
       O fato além de me deixar pensativo, chamou de tal modo minha atenção que me fez esquecer por completo meus densos e interrogativos pensamentos de pouco antes e fixar minha atenção, unicamente, no seu interessante e misterioso aparecimento.
       Ora, todos sabem que o ziguezigue é uma criatura do ar, amante do campo, das plantas e, principalmente, um exímio conhecedor da luz do dia. Portanto, acreditar que a intensa luz branca do abajur o fez pensar que se tratava da brilhante luz do sol, que se tratava, enfim, da liberdade e, por isto, se acalmou e nele pousou, não passa de uma grande e tola ironia.
       Por que, então, um ziguezigue apareceu àquela hora da noite justamente onde me encontrava?
       Enquanto o olhava, pensava e pensava. Meus pensamentos retrocederam, e muito. Viajaram para o passado. Lembrei de Casimiro de Abreu. Lembrei da belíssima poesia “Meus Oito Anos”. Para mim, lembrar dessa poesia é lembrar e, como num sonho, reviver os tempos da Mata Verde. Lembrei, também, que lá corríamos atrás dessas libélulas e dos vaga-lumes. Que foi lá, quando brincávamos no terreiro da Casa Grande de Elias Brandão Vilela, o “Capitão Sinhô”, Senhor do Engenho Mata Verde “em assomos de fé, caridade e trabalho”, nosso avô, em tempos em que todos nós éramos felizes, pois desconhecíamos a palavra tristeza e desunião, que um de meus primos me botou o apelido de ziguezigue.
       Mas isto explicaria sua presença naquele lugar àquela hora da noite? Não, claro que não. Por que, afinal, ele veio me visitar?
       Sei que fatos estranhos acontecem e, para alguns, não há uma explicação racional. Quando ocorrem, é para nos avisar de algo que ainda não temos a mínima consciência ou para, propositadamente, nos chamar à realidade.
       Não tenho certeza, mas acredito que o ziguezigue, mesmo perdido e fora de seu mundo, tenha me visitado para me lembrar e dizer que, apesar dos oceanos de incertezas, amarguras e tristezas gratuitas que a vida oferece, “devo estar vivo para as coisas que me deram vida”.   




ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS
ARQUEÓLOGO
PROFESSOR DA UFAL

                                         
      
      


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“Viver é uma arte. E seu roteiro deve ser escrito pela sabedoria e pelo bom senso”. Dr. José Reginaldo de Melo Paes (medico, poeta, acadêmico alagoano)

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