domingo, 8 de fevereiro de 2015

“UM PARAÍSO CHAMADO FAZENDA BOA VISTA, ANADIA ALAGOAS/BRASIL Século XX- Manuel Cícero Palmeira e Domitilla Vieira Palmeira”



“UM PARAÍSO CHAMADO FAZENDA BOA VISTA, ANADIA ALAGOAS/BRASIL Século XX- Manuel Cícero Palmeira e Domitilla Vieira Palmeira”











Peço licença a vocês caríssimos e estimados leitores, em especial aos membros da família PALMEIRA, filhos e descendentes do casal Manoel Cícero Palmeira e Domitila Vieira Palmeira e os convido a quebrarem juntos comigo os limites estabelecidos pelo tempo, espaço e as convenções da natureza e retornamos a um lugar em um tempo não muito longínquo, preservado apenas na memória de alguns poucos contemplados, que vivenciaram tal época de brilho, amor, solidariedade, fraternidade, doçura, inocência, amizade, honestidade, e muita fartura; que um dia foi a FAZENDA BOA VISTA, do MAJOR CÍCERO PALMEIRA localizada nas terras do município alagoano de Anadia, há 110 km de Maceió.

Tomo a iniciativa de narrar aqui, neste pequeno texto, descrito com a ajuda da minha adorável mãe (Maria do Carmo Palmeira Chaves) e do meu segundo pai, padrinho tio e grande amigo Dr. Sebastião Palmeira, para tentar descrever brevemente e superficialmente, os inúmeros relatos que ouvi, desde criança, causando-me encantamento, entusiasmo e curiosidade. Entretanto, quando pedi ajuda a minha mãe, para escrever este texto, ela me recitou emocionada o poema do parnasiano carioca Luiz Guimarães Júnior (1847-1898) intitulado “Visita a Casa Paterna”:


COMO A AVE QUE VOLTA AO NINHO ANTIGO,

DEPOIS DE UM LONGO E TENEBROSO INVERNO,

EU QUIS TAMBÉM REVER O LAR PATERNO,

O MEU PRIMEIRO E VIRGINAL ABRIGO.


ENTREI. UM GÊNIO CARINHOSO E AMIGO,

O FANTASMA TALVEZ DO AMOR MATERNO,

TOMOU-ME AS MÃOS — OLHOU-ME GRAVE E TERNO,

E, PASSO A PASSO, CAMINHOU COMIGO.


ERA ESTA SALA... (OH! SE ME LEMBRO! E QUANTO!)

EM QUE DA LUZ NOTURNA À CLARIDADE,

MINHAS IRMÃS E MINHA MÃE... O PRANTO


JORROU-ME EM ONDAS... RESISTIR QUEM HÁ-DE?

UMA ILUSÃO GEMIA EM CADA CANTO,

CHORAVA EM CADA CANTO UMA SAUDADE”.

Imagens de uma vida no campo bela e serena. Onde o ar puro e matas verdejantes, serviam de morada aos pássaros, cercados por flores estonteantes. O som do carro de bois, dos pássaros e das flores, consistia em uma belíssima sinfonia de trinados e cores, onde a Água pura e cristalina da Bica da Santa Cruz, proporcionava adoráveis horas de lazer e deliciosos banhos.
Das inúmeras narrativas e aventuras ocorridas no grupo Escolar “Rui Barbosa”, no qual a maioria dos meus tios estudou, inclusive minha mãe. Os passeios a cavalo, as procissões de Nossa Senhora da Piedade, sempre culminavam na Igreja da matriz. A filarmônica tocando, as crianças brincando, os jovens sonhando e namorando, as festas Juninas, Ano Novo, Natal, carnaval, semana santa, santas missões. Com tanta inocência e magia, essa história tão especial e marcante para nós que fazemos a família desse tronco PALMEIRA, daqueles deliciosos tempos que nunca vivi, mas que estão vivos em mim.

Surgida de linda história de amor, na cidade de Campo Alegre, na FAZENDA CRÔA DA AREIA do meu saudoso Bisavô Manuel Vieira, foi cenário de uma linda historia de amor à primeira vista. Um jovem de 22 anos e uma menina moça de 16 anos, sobre as benções de Deus constituíram uma bela família e uma prole inúmera de filhos netos e bisnetos. Refiro-me aos meus avôs maternos Cícero Palmeira e Domitila Vieira Palmeira. Dessa união nasceu nove filhos que eu descreverei a seguir: Leni Palmeira, José Palmeira Sobrinho, Gilda Palmeira, Benedito Palmeira, Caetano Palmeira, Carminha, Teresinha, Edson, e o Dr. Sebastião Palmeira caçula, da família.

Eram belíssimos montes, serras, serranias e vales frondosos, com árvores da nativa mata atlântica que coexistiam com os verdejantes canaviais em perfeita harmonia. - Nossa mata abrigava inúmeras espécies de plantas e animais - existia um enorme pomar, plantado com muito amor pelas mãos do meu querido avô, fruteiras essas que se assemelhavam ao céu. Descrito nas grandes religiões orientais (hinduísmo, budismo, taoísmo e confucionismo) e aos relatos judaicos cristão, como também nas maiores doutrinas ocidentais que descrevem o paraíso em termos de diversidade, fartura.
Frutas de tamanhos descomunais, tendo como característica marcante o doce. Minha querida avó comandava com doçura, generosidade, sempre meiga, carinhosa e com muita criatividade ao lado do meu avô. Também éramos comerciantes, tínhamos uma loja na cidade, local que ainda hoje pertence ao meu tio Edson Palmeira.

Canaviais, pastagens e lavouras de mandioca, milho e feijão, um engenho e uma casa de farinha, formavam as terras do nosso engenho. A moagem da cana para a obtenção do caldo (garapa); cocção do caldo em grande fornalha e a solidificação, era administrada pelo meu avô, atentamente, sobre o acompanhamento de bons e fieis amigos e colaboradores.
Sobre um sol causticante, mãos calejadas, cuidar do gado, das aves, dos bichos, era uma constante. Isso sem se falar na companhia dos leais e fies cães, que meu avô gostava de criar em grande quantidade. Meu avô materno sempre montado em seu cavalo branco, era um bravo e um forte, nada temia, sua vida era uma luta constante.
Meu avo Manuel Cícero Palmeira tinha um conjunto de qualidades que o fazia um verdadeiro homem de bem. Acredito que suas inúmeras qualidades agradam a Deus no plano espiritual. Mas vale ressaltar a sua fé em Deus, no futuro e colocava os bens espirituais acima dos bens temporais, possuía um belíssimo sentimento de caridade e amor. Era sempre bom, justo e benevolente para com todos sem distinção. Afirmava que "para o homem honesto uma boa reputação é a melhor herança." HUMILDADE, HUMANIDADE, HONESTIDADE, DISCIPLINA, GRATIDÃO E GENEROSIDADE eram lições constantes ensinadas pelo meu avo.
Nas proximidades da casa grande, existia um sitio recheado de todas as frutas, mangas, melancias, goiabas, jacas, carambolas, laranjas. Meu saudoso e admirado avô tinha um hábito de tudo que consumia plantava, selecionava as sementes a dedo. Resultando em um rico pomar cuja a variedade quase ilimitada de frutas e verduras e quaisquer gêneros que a natureza pudesse oferecer. Tudo isso associado ao trabalho humano, do qual ele sempre valorizava. Tínhamos um engenho e uma casa de farinha, cujo aroma adocicado associado à delicada brisa do campo encantava e seduzia a todos, a quilômetros de distância.
Ao redor da nossa casa grande da fazenda Boa Vista, habitavam inúmeras famílias. Eram homens, mulheres, crianças, anciãs que conviviam harmoniosamente sobre a generosidade e afeto do meu avô.
Nossa fazenda era quase auto-suficiente. Nossa casa grande, simples que se tornara um palácio aos nossos olhos, era uma luxuosa habitação em termos de afetividade e aconchego. Com seu delicioso fogão a lenha era palco de inumemos e saborosos banquetes, almoços, jantares cafés da manhã, especiarias da culinária regional alagoana e brasileira, agradando quaisquer paladares. Local onde se decidiam questões de toda ordem referentes à sociedade local, estadual e nacional.
Muitos mitos, crenças e manifestações do folclore alagoano se mostraram presentes e em nossa casa da cidade e nossa fazenda Boa Vista. Não poderia deixar de citar aqui, por exemplo, as memoráveis e adoráveis festas de reisados. No qual os reisados saiam da nossa casa da cidade, e visitavam as ruas de Anadia. Indo de casa em casa, saudando os moradores e pedindo contribuições para a festa. Bem como a misteriosa aparição de um “homem-lobo”, em nossa fazenda. Semelhante ao descrito na mitologia brasileira e mundial. Com características de porco, com o corpo todo coberto de pelos, semelhante a um grande cão negro, possuidor de olhos aterrorizantes vermelhos e com orelhas e unhas enormes essa criatura mitológica apareceu em nossa fazenda boa vista.
Minha avó dizia e ensinava a seus filhos, carinhosamente que somos todos iguais, imagem e semelhança de Deus, nascido num berço rico, ou pobre. Sempre dizia que o que vale é o caráter do ser humano. Entretanto, alertava que o mundo só valoriza aos que tem dinheiro e poder. Nunca deixou de acreditar em uma sociedade fraterna, que um dia pudesse nascer. Sempre educou com amor minha mãe e meus tios e tias para serem cidadãos de bem, prósperos, justos, dignos, amigos, parceiros... Enfim, serem felizes.
Os riscos provérbios da minha estimada avó, carinhosa, inteligente, sensata, e amável, iam mais além do que uma mera expressão lingüística. Retratava muito mais o fazer e o viver de todos os seus antepassados. Eram frases curtas, que baseadas em largas experiências e sabedorias condensadas. Frases que atravessam distâncias geográficas e séculos. Pois já dizia Cervantes que “um provérbio é uma frase curta, baseada em uma longa experiência.” Ou seja, a da ciência de bem viver.
Foram inúmeros casamentos e histórias de amor que nasceram em nossa fazenda. Foi lá também onde meu adorável pai Murilo, enterrou meu umbigo e do meu irmão Bacharel em Direito Carlos Henrique Palmeira Chaves. Com muito carinho, meu pai me diz que naquela terra tudo que lá nascia crescia e prosperava.
A história que narrei aqui e diferente dos bangüês, engenhos e usinas de açúcar, das centenas de cidades pacatas do interior, onde ainda hoje são marcadas pelos sofrimentos e exploração seculares, não faziam parte da nossa Boa Vista. Um lugar onde o trabalho humano era exercido sempre na sua melhor forma de expressão, a da redenção e avanço, não como mais uma mera mercadoria, era em prol do bem comum.
A seguir citarei as poesias do meu Tio, Dr. Sebastião Palmeira, intituladas: “MINHA INFÂNCIA e ANADIA, A TERRA EM QUE NASCI.




ANADIA, A TERRA EM QUE NASCI

DR. SEBASTIÃO JOSÉ PALMEIRA.

ENTRE MONTES E SERRAS EU NASCI,
NAS SERRANIAS E VALES ME CRIEI,
FORAM TANTOS OS LUGARES QUE ANDEI,
MAS NÃO ESQUEÇO DA TERRA ONDE NASCI.

A CASA EM QUE MORAVA,
A MÃE MEIGA E CARINHOSA,
A IGREJA DA MATRIZ
E O GRUPO ESCOLAR “RUI BARBOSA”.

AS AULAS DE CATECISMO,
OS AMIGOS DA INFÂNCIA,
FICARAM NA MEMÓRIA,
SÃO PARTES DA MINHA HISTÓRIA.

A FILARMÔNICA TOCANDO,
O GRANDE “MASTRO” CHEGANDO.
AS CRIANÇAS NA CARREIRA E O SINO
ANUNCIANDO A FESTA DA PADROEIRA.

DO ALTO DA PROCISSÃO,
MAJESTOSAMENTE OLHANDO,
IA A VIRGEM DA PIEDADE
A TODOS ABENÇOANDO.




BOA VISTA

AUTOR: SEBASTIÃO JOSÉ PALMEIRA

I

QUE LINDO TEMPO AQUELE,
EM QUE EU ERA CRIANÇA,
GUARDO DE MINHA MÃE SÓ LEMBRANÇAS,
LEMBRANÇAS DO QUE PASSOU.

II

PASSOU E DEIXOU SAUDADES,
SAUDADES DA MINHA INFÂNCIA,
DO MEU PAI MUITAS LEMBRANÇAS,
DE MINHA MÃE MUITO AMOR.


III

DOS MEUS IRMÃOS E IRMÃS
E DAQUELE LAR JÁ DISTANTE,
EU RECORDO A CADA INSTANTE,
NA SAUDADE QUE RESTOU.

IV

BOA VISTA,
TEMPOS IDOS,
RECORDO OS DIAS VIVIDOS,
NA SAUDADE QUE FICOU.

V

A MATA SE ENCHIA DE FLOR,
O CAFEZAL DE PERFUME,
OS PASSARINHOS SOLTAVAM OS QUEIXUMES,
DE SUAS MÁGOAS DE AMOR.

VI

O ENTARDECER ERA LINDO,
OS GANSOS VINHAM CANTANDO,
A NOITE SE APROXIMANDO,
ERA MAIS UM DIA FINDO.

VII

ADEUS INFÂNCIA QUERIDA,
ADEUS PASSADO DISTANTE,
MINHA ALMA ENTRISTECIDA,
TE RECORDA A CADA INSTANTE.



Jeferson Palmeira - Funcionário Público, Professor Universitário de História, Filosofia e mestrando em Administração de Empresas na Universidad de la Empresa – UDE- em Montevidéu, na República Oriental do Uruguai- e membro honorário da Academia maceioense de letras. jeffersonpalmeira@ymail.com

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