terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

UMA REVISÃO DO PROCESSO HISTÓRICO BRASILEIRO- DR. JOSÉ ROBERTO SANTOS LIMA (UFAL) Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL

UMA REVISÃO DO PROCESSO HISTÓRICO BRASILEIRO

JOSÉ ROBERTO SANTOS LIMA –UFAL



Durante as comemorações dos 500 anos (texto escrito em 2000) por diversas instituições de ensino e pesquisa do nosso País têm por objetivo fundamental proporcionarmo-nos uma autorreflexão sobre o processo histórico brasileiro, tanto do passado como acima de tudo do nosso presente cotidiano, que nos remete para uma reflexão constante a respeito do espaço construído historicamente, fruto das ações humanas cheias de realizações, fracassos, êxitos e demais contradições vivenciadas pelo homem em sociedade.
É dentro deste espírito de desafios e contradições que a equipe de O JORNAL oportuniza condições férteis para o debate, a discussão e a reflexão a respeito desse momento tão importante da nossa história brasileira a alagoana. Para que possamos entender o porquê da presença francesa e holandesa em Alagoas e no restante do Brasil, torna-se necessário traçarmos um perfil da Europa dos fins do século XV e começo do século XVII.
O processo de unificação política e territorial das duas coroas ibéricas Portugal no século XII e a Espanha no século XV, depois do casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Costela - possibilitou a ambos os países assumirem a liderança das ações objetivando a conquista do além mar. A consequência imediata de tal fato histórico teria desdobramentos geopolíticos, fruto dos desacordos diplomáticos de ambas as coroas ibéricas sobre o domínio das novas áreas territoriais recém descobertas, cujo impasse só seria resolvido depois da assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, que regulamentou a divisão e posse do mundo por ambas as nações ibéricas. Aparentemente, o problema estaria resolvido entre as coroas ibéricas; entretanto, os outros países europeus- os franceses, os ingleses e os holandeses - não tinham direitos sobre as terras descobertas, assim como eles não reconheciam a validade do Tratado de Tordesilhas. E passaram a utilizar a prática do contrabando, do saque, do corso e da ocupação de partes do território brasileiro. A compreensão do significado das ações, envolvendo o contrabando do pau-brasil, e das motivações que teriam levado os holandeses a invadir o litoral alagoano e os desdobramentos econômicos, políticos, sociais e culturais na história das Alagoas de tal fato, recheado de contradições onde os interesses dos holandeses em não perderem o monopólio da distribuição do açúcar português no mundo contrastavam com o sentimento de repúdio ao protestante calvinista por parte das populações locais. José Roberto Santos Lima

DESCAMINHOS DA COLONIZAÇÃO AMBICIOSA

Os caminhos estavam descobertos e os mares até então nunca dantes navegados se transformaram em paraíso dos aventureiros.O Atlântico abria-se, oferecido a todas as cobiças. No princípio, apenas os contrabandistas, os traficantes das riquezas existentes nas terras recém-descobertas, enfrentavam a grande travessia e alcançavam as costas do Brasil, de onde regressavam com os barcos abarrotados. Depois, com o aparecimento das primeiras cidades, vieram os piratas- por conta própria - e depois os corsários- a serviço de governos que patrocinavam os assaltos.
As primeiras e precárias feitorias portuguesas na costa brasileira eram importantes para deter os ataques, que se sucediam cada vez mais audaciosos o mar, que fora a estrada do descobrimento, passava a ser um inimigo, de onde surgiam de repente os marinheiros assaltantes da pirataria. Agora procurando formas econômicas e políticas de sobrevivência, o Brasil já recebia os golpes dos interesses agressivos, que um oceano aberto a todos permitia. Além do assalto puro e simples às riquezas naturais da terra - o pau-brasil -e depois às cidades e aos produtos da agricultura, havendo inclusive tentativas de ocupação do país por potências europeias, como a dos franceses no Maranhão e Rio de Janeiro e a dos holandeses na Bahia e Pernambuco, com sucessos temporários. O pau-brasil já era conhecido e explorado pelos europeus, mesmo antes da presença portuguesa no Brasil, já que o produto encontrava-se incluído entre as diversas mercadorias (que eram) objetos de interesse dos europeus, que chegavam à Europa provenientes da Ásia - o que explica em grande parte o interesse dos europeus pelo produto, já que ele era uma especiaria de grande valor comercial.
O pau-brasil não exigia uma tecnologia sofisticada, nem mão-de-obra numerosa nem especializada, aliada ao fato de que os preços do pau-brasil nos mercados internacionais eram sempre compensadores, suportando fretes caros. O Estado português, para assegurar os seus direitos exclusivistas sobre a exploração e comercialização do produto, declarou-o monopólio da Coroa, sendo a sua exploração apenas permitida através do consentimento real, como aconteceu em 1502, quando um grupo de comerciantes portugueses, liderados pelo cristão-novo Fernão ou Fernando de Loronha mais tarde teria sido aportuguesado o seu nome para Fernando de Noronha, teve ordem de - por um prazo de três anos - explorar o pau-brasil no litoral brasileiro.
O governo português organizou sucessivas expedições com o objetivo de reconhecer e principalmente policiar o litoral brasileiro das incursões estrangeiras, em particular do invasor francês.

DIANTE DE UM DILEMA: COLONIZAR OU PERDER O BRASIL

A política portuguesa de supervalorizar os produtos asiáticos, as especiarias, em detrimento do Brasil que não produzia produtos de grande valor para o mercado europeu , exceto o pau brasil, provocou um certo descaso ou abandono por parte dos portugueses em relação as terras brasileiras. Porém, diante da concorrência estrangeira, os portugueses viram-se diante de um dilema : ou colonizar o Brasil ou perdê-lo para a concorrência francesa. Já na Segunda década, após o "descobrimento", os portugueses tomavam consciência dos perigos
que vinham do mar. Os inimigos mais constantes eram os traficantes franceses do pau-brasil, originários da Bretanha e da Normandia, que partiam dos portos de Honfleur e Dieppe com destino certo; o Brasil. Pouco depois de 1520 o rei de Portugal D. João III resolveu mandar uma frota armada com a missão de navegar ao longo da costa brasileira, fundar estabelecimentos militares (feitorias) e expulsar os contrabandistas, comandados por Cristóvão Jacques.
Tanto os franceses quanto os portugueses utilizaram- se da mão-de-obra indígena nos trabalhos de derrubada e transporte dos toros de madeira - pau-brasil- para os navios que ficavam próximos à costa. Os índios recebiam em troco pelos seus "serviços” prestados aos europeus, coisas simples sem muito valor comercial como: tecidos, roupa espelhos e outras bugigangas etc. Vale apena lembrar que tal “troca” era denominada de Escambo que não chegou a desestruturar as sociedades tribais indígenas.
A mais antiga referência documental da presença francesa em nosso litoral, fazendo contrabando do pau-brasil, data de 1504 quando Binot Paulmier de Gonneville fazia incursões às áreas entre a Bahia de Todos os Santos e as ilhas do Rio S. Francisco, contando com o apoio dos índios da região.

FRANÇA ANTÁRTICA

Em fins de 1555, por motivos religiosos e políticos, os franceses tentaram fixar-se definitivamente em terras brasileiros, mais precisamente no Rio de Janeiro, fundado q França Antártica, porém seriam mais tarde expulsados por Men de Só, em 1560, fracassando deste a primeira tentativa de fixação definitiva francesa no litoral brasileiro. Porém novamente os franceses organizaram outa outra expedição, com o mesmo objetivo da anterior, só que desta vez o palco\ de sua ação foi o Maranhão, onde por volta 4e 1612 fundariam a França Equinocial, cuja capital daria origem a atual capital do Estado do Maranhão (São Luís). Os franceses foram expulsos do Maranhão por volta de 1615. Segundo M. Wordem, em sua obra "Histoire de L'Empire du Brésil": citado por Werner Brandão, ao comentar acerca de "três irmãos chamados de Parmentieer, que iriam a Pernambuco em 1529, com o objetivo de carrega-lo de pau-brasil, asseverando que esses inclusões, já naquela época eram muito comuns". Porém a reação portuguesa às incursões francesas ao nosso litoral alagoano não demorariam, tanto assim que o donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, não se contentou de ficar na suo povoação senão ir-se em suas embarcações pela costa abaixo até o rio. S. Francisco, entretanto nos portos, todos de sua Capitania achavam-se navios franceses que estavam no resgate do pau-brasil com os índios e os fez despojar nos portos as mercadorias e tomou algumas lanchas dos franceses. Como podemos verificar as incursões francesas ao litoral alagoana eram cada vez mais constantes e intensas.

A PRESENÇA FRANCESA EM ALAGOAS

Para Ter uma ideia da influência francesa em nossa história local, devemos apenas lembrar que o historiador alagoano Alfredo Brandão "chego o conjecturar, haver sido o cidade de Penedo originado de um entreposto francês do comércio do pau-brasil, naquela região do rio São Francisco", aliado ao fato de existir ainda hoje, sobrevivências culturais da- presença francesa em nosso litoral, como é o exemplo da tão conhecida "Praia do Francês", nas proximidades da atual cidade e município de Marechal Deodoro, há alguns quilômetros da cidade de Maceió. Segundo Gabriel Soares de Souza, em seu Tratado Descritivo do Brasil de 1587, nos informa que existiram quatro portos franceses no litoral alagoano, descriminados assim: 1) Porto Velho dos Franceses - localizado o quatro léguas antes do rio S. Miguel, que é hoje conhecido como "Praia do Francês"; 2) Porto Novo dos Franceses -localizado a duas léguas adiante da foz daquele rio, na barra do rio Jequiá, e finalmente o 3) Porto dos Franceses - próximo aos Baixios ou arrecifes de Dom Rodrigo, próximo à enseada formada pelo rio Coruripe.
Além dos locais acima citados, os franceses chegavam a penetrar além da desembocadura dos rios e planícies litorâneas, em busca do pau-brasil. Entretanto o contrabando do pau-brasil, nas costas alagoanos foi realizado até quase meados do século passado - 18 de Novembro ed 1840 -"quando foi apreendido em Coruripe, durante o Presidência de Manuel Felizardo de Souza e Melo, um brigue francês, que já se achava em parte carregado daquela pedrosa madeira. Uma outra embarcação que ali se encontrava em operação de contrabando, conseguiu escapar", segundo nos informo o historiador Moacir Santana. Apesar da intensidade do contrabando do pau-brasil pelos franceses, a referida apreensão foi à primeira feita, desde quando passamos na condição política-administrativa de Capitania Independente. O pau-brasil, sendo monopólio do governo português, só poderia efetivar-se através de contratos, não trazendo a exploração da referida madeira nenhum lucro para a Capitania e depois província das Alagoas, de onde eram extraídas das matas do Poxim, São Miguel, Sumuáma, Jacuípe e outros locais do território alagoano. A exploração indiscriminada do pau-brasil levou a quase extinção da espécie vegetal. Até 1875 o pau-brasil ainda aparecia na lista dos produtos de exportação de economia brasileira.

OS HOLANDESES EM ALAGOAS E AS CONTROVÉRSIAS

O tema ora proposta - os holandeses em Alagoas - dado a fertilidade do mesmo, sugere-nos uma série de questionamentos que se encontram tão bem arquivados no nosso subconsciente. O primeiro grande questionamento levantado diz respeito à falsa concepção histórica, de que determinados locais ou monumentos históricos teriam sido construídos ou edificados pelos holandeses. Na enciclopédia dos municípios alagoanos atesta - como se verdade histórica que o cruzeiro e Igreja de N. S. Auxiliadora de Barro de Santo Antônio, o Igreja de Matriz de Japaratinga e a Matriz de S. Miguel dos Milagres, teriam todos eles sido construídos pelos holandeses. Quanto a Porto Calvo - maior palco de lutas contra as tropas holandesas - a referida Enciclopédia destacou que a "Igreja de N. S. da Apresentação foi fruto da herança do domínio holandês sobre aquela área”.
Todas as afirmativas feitas sobre o domínio holandês, no que se refere às afirmativas citadas são inconsistentes, demonstrando a falta de preparo ou desconhecimento a respeito do processo histórico daquela época; já que os holandeses como calvinistas não tinham nenhum interesse em construir, nem tão pouco preservar, qualquer templo católico, exceto quando estes templos serviam-lhes como objetos militares ou estratégicos. Apesar disso, o imaginário popular, através da tradição oral às vezes reforça a inverdade de tais fatos, no que se refere à Igreja Católica, pois afirma - se que tais templos foram Construídos durante a época dos holandeses e não pelos holandeses.

AS RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE PORTUGAL E FLANDRES

Para que possamos ter uma ideia de como desenvolver tal processo histórico, torna-se necessário retrocedermos até os fins da Idade Média, para que possamos entender melhor como evoluíram as relações econômicas, políticas e comerciais entre as regiões de Flandres e Bugres, onde "Portugal mantinha em Antuérpia comprovada intensamente de relações de troca com aquelas áreas". O Estado português tinha interesse em desenvolver a atividade no Brasil, dadas as excelentes condições ecológicas para o seu desenvolvimento em nosso território; porém os seus objetivos esbarram na falta de capital para a realização de tão vultuosa iniciativa. Então, os portugueses resolveram recorrer aos banqueiros holandeses, que imediatamente aceitaram financiar a empresa açucareiro no Brasil, em troca da exclusividade, por parte da Holanda, do transporte do açúcar e ainda as atividades de refinação e distribuição do açúcar brasileiro na Europa. A União Ibérica foi um período histórico- que se iniciou em 1580, e se encerraria em 1640- em que todas as suas colônias ultramarinas passariam para o domínio espanhol, quando do falecimento do rei de Portugal, o qual não deixou herdeiros, o seu parente mais próximo era o Rei da Espanha Felipe II, que apoiado pela classe nobre portuguesa e por setores da burguesia portuguesa, assumia as rédeas do processo político- administrativo português. Por outro lado; a Holanda, que havia financiado a instalação da empresa açucareira no nordeste brasileiro, foi proibida pela Espanha de continuar frequentando os portos brasileiros e distribuir o açúcar brasileiro na Europa, assim com a proibição estendia-se às demais colônias portuguesas da África e da Ásia.
Tai fato se constituiria num verdadeiro prejuízo para a Holanda, que tinha investido bastante capital na atividade açucareiro no nordeste brasileiro. A reação da burguesia, flamenga ou batavo foi imediata à progressiva: financiando corsários para atacar os comboios de galeões espanhóis carregados de ouro e prato do Novo Mundo e destruindo o bloqueio e uso - espanhol. No Oriente as violências cometidas pelos portugueses contra as populações locais favoreceram a aliança dos poderosos chefes locais com os holandeses. Mais tarde, 1602, seríamos criadas a Companhia das Índias Orientais, que seria a responsável pela conquista de colônias espanholas e principalmente portuguesas na Ásia.
Em 1621, é criada a companhia das Índias Ocidentais, que seria a responsável pela ação bélica e mercantil no litoral oriental da América do Norte - onde seria fundada Nova York -pela ocupação das Antilhas, do litoral ocidental da África e do Nordeste brasileiro. A primeira tentativa de ocupação efetiva, por parte dos holandeses no Brasil, foi em 1624/25, na Bahia, onde seriam expulsos no ano seguinte e sua ocupação, mediante a reação e capacidade organizativa da população local.
A ocupação de Salvador pelos holandeses foi um demonstrativo de sua força bélica e disposição política da companhia das Índias Ocidentais que não estavam dispostos a tolerarem a intransigência da Espanha em não permitirem que os holandeses continuassem se abastecendo do açúcar brasileiro como "a Guerra do Açúcar”.

A INVASÃO HOLANDESA A PERNAMBUCO

Então por que os holandeses escolheram Pernambuco, depois do insucesso na Bahia? Além da grande produção açucareiro - foi o grande motivo da invasão -, também extraia-se bastante pau-brasil das suas matas; além de Pernambuco por ser uma capitania particular ou privada que dispunha de frágil infraestrutura de defesa militar e estratégica e por não dispor de grandes cursos para bancar tal empreendimento. A posição geográfica favorável e estratégica de Pernambuco também teria favorecido o interesse dos Flamengos em virtude dela estar à meio-caminho das investidas bélicas dos holandeses, contra os galpões espanhóis carregados de ouro e de prata, provenientes do México, Peru e Bolívia ou abastecer-se de escravos africanos vindos de São Jorge de Mina, Guiné portuguesa, São Paulo de Luanda ou Moçambique, ou ainda saquearem as possessões portuguesas e espanholas na África e na Ásia.
A prova do grande interesse holandês pela região de Pernambuco são as Instruções Secretas e regimentos que deveriam orientar as ações militares e na organização do governo da colônia, cujos documentos haviam sido discutidos, aprovados pelos diretores da Companhia Gerais das Índias Ocidentais, em 08 de agosto de 1629, quando “ordenava que as forças militares atacassem Pernambuco e, sendo tomada a cidade de Olinda que fortificassem os seus pontos altos e, especialmente, o Convento dos Jesuítas" ... Olinda era uma das principais cidades do período colonial, constituindo-se no principal eixo econômico, social e político do Brasil no início do século XVII, tornando o açúcar um dos principais centros mais notáveis da época, dispondo de um progresso ainda não alcançado por outras cidades ou vilas do período colonial, da época. Matias de Albuquerque trouxera apenas três caravelas e vinte e sete homens, enquanto que os holandeses durante a invasão à Pernambuco dispunha de mais de 50 navios e 07 mil homens, que teriam desembarcado na praia do Pau Amarelo, 1630 mediante já disporem de informações a respeito da fragilidade do sistema de defesa da Capitania de Pernambuco. Mesmo diante da inferioridade numérico e os vezes bélicas das tropas locais frente aos Flamengos, Matias de Albuquerque enfrentou os inimigos, porém não conseguiu impedir que Olinda fosse ocupado pelos Flamengos. Matias de Albuquerque não contava com um exército tão numeroso, porém contava com o fator supressa, no ataque ao exército invasor, além de usar a tática de guerrilhas, contra as forças militares holandesas.  O tempo, o avanço batavo sobre a região principalmente depois da montagem de toda uma estratégia de resistência ao invasor, que se instalou no Arraial de Bom Jesus, que ficava localizado estrategicamente entre Olindo e Recife; permitindo por mais 5 anos neutralizar os avanços das tropas Flamengas. Quando Matias de Albuquerque percebeu que os holandeses dominavam os fortes do Recife - que na época era apenas uma aldeia de pescadores -, tratou de incendiar os armazéns de açúcar e fugir para o Arraial de Bom Jesus. Por mais de 05 anos, de intensas lutas, Matias de Albuquerque recebeu um emissário do holandês Weerdenburck - comandante dos tropas invasoras que exigia que os títulos de indenização fossem ressarcidos dos prejuízos, com o incêndio dos armazéns de açúcar e caso os suas reivindicações não fossem atendidas prometiam - e cumpriram tal promessa - incendiar a cidade de Olinda. Durante o incêndio de Olinda, apenas a igreja de São João Batista dos militares, manteve – se intacta, porém as demais Igrejas e Conventos não teriam tido a mesma "sorte". As Igrejas da Sé – que teria sido reconstruído entre 1654 a 1711 -, de N. S. do Amparo e do Carmo foram destruídas em 24 de Novembro de 1631 e teriam sido mais tarde reconstruídas. Entre 1630 - quando teve início a invasão holandesa à Pernambuco - 1631 - quando do incêndio de Olinda; destacou - se pelo seu crescimento e localização geográfica excepcional, a vila de Recife, como local propicio para o desenvolvimento da atividade mercantil, agora controlada pelos holandeses que contrastava com Olinda, que na época contava com uma população de aproximadamente 10.000 habitantes, onde mais 7.000 transferiam-se para o Recife, atraídos pelos lucros que tal atividade comercial propiciava.
Além da migração, da parte da população olindense, poro o vila do Recife, somava - se a população holandesa que ocupavam o local, acrescidos de 23.1, 63 escravos importados da África. E importante destacar o foto de que durante o período holandês, apesar dos Calvinistas estranharem o tratamento cruel dado aos escravos, porém logo aceitaram conviver com tal situação desumana vivida pelos escravos africanos, onde os dirigentes da Companhia das índias Ocidentais trataram logo de não apenas dominarem os ricos e disputadas rotas do tráfico de escravos - São Jorge de Mino, Guiné portuguesa, São Paulo de Luanda e Moçambique -, mas também aperfeiçoaram o mecanismo de repressão aos escravos e o combaterem os quilombos. Devemos lembrar que foram enviadas duas expedições militares holandesas, a serra da Barriga, com o objetivo de destruir Palmares, sem, contudo obterem sucesso.

CALABAR: O CONTROVERTIDO PERSONAGEM HISTÓRICO

É correto afirmar-se que a Vila do Recife teria surgido por volta de 1536, porém a invasão holandesa a teria ajudado a se construir no principal centro urbano da época holandesa, principalmente depois das reformas urbanas, feitas pelos arquitetos trazidos por Maurício de Nassau. Para o historiador Moacir Medeiros de Sant’Ana diante dos documentos hora existentes, argumento que o ato de Calabar assume, uma feição política e uma feição moral. Sob o ponto de visto político o ato de Calabar não constituía - se numa traição, porque trair o que? A quem? A que país ou noção? O Brasil naquela época não estava sob domínio de Portugal, mas sim vivendo um momento histórico atípico - que a união Ibérica (1580/1640); pois o Brasil era luso - espanhol. Sob o ponto de visto moral, o ato de Calabar pode ser encarado como traição em virtude do mesmo ter traído os seus irmãos de carne, encaminhado os holandeses poro atacarem e eliminarem sumariamente parte ou totalidade de uma população de uma determinada vila, engenho, povoado ou cidade etc.
Em 1631 o território alagoano começou a se ferira luta. Em 1632 o território alagoano começou o figurar como palco de futuras ações bélicas, "quando Bragnuolo fez desembarcar em Barra Grande (Maragogi) 700 homens de guerra, sob o comando de D. Antônio Oquendo, com destino ao arraial de Bom Jesus. A passagem de Calabar para o lado dos holandeses desequilibraria os forças militares envolvidas no conflito, que agora tornavam - se mais favoráveis para o lado do holandeses, que contavam com / obterem nenhum sucesso, culminando em si na um ótimo conhecedor do região, não apenas do morte do comandante das tropas holandesas ponto de vista geográfico, mas acima de tudo bélico estratégico.  
Entretanto, os holandeses conseguiram um importante aliado - Domingos Fernandes Calabar - o qual irá viabilizar aos invasores a conquista do Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Trata-se de um equivoco pensar-se que Calabar teria se passado para o lado dos holandeses, em virtude do mesmo ter ficado impressionado como o dinamismo e o caráter empreendedor, desenvolvidos durante o período do governo de Maurício de Nassau. Quando Maurício de Nassau chegou ao Brasil, em 1637, Calabar já havia sido enforcado e esquartejado em 29 de Junho de 1635, por ordens de Matias de Albuquerque. E conveniente lembrar que a cidade de Porto Calvo, tem em uma das suas superfícies colinosas uma localidade conhecida pelo nome d "Alto de Forca" ou "do Cruzeiro", onde Calabar teria sido enforcado.
Alagoas, com o colapso econômico e político que atravessa, tem merecido estigmas que devemos rechaçar. Afinal,· não há nada aqui que não se encontre em todo o Brasil, dos hábitos anacrônicos ao comportamento de seus representantes. Recentemente vi uma figura pública nacional condenar os seus companheiros tratando-os de "seguidores do alagoano Calabar". Ora, Calabar virou sinônimo de traidor e, por consequência, associado à nossa estigmatizada Alagoas. Será que é justo e que devemos aceitar isto? Inicialmente, vamos considerar que é universalmente aprovado as sociedades valorizarem os momentos mais significativos de seus antepassados nos instantes em que, agindo em defesa de suas aspirações, puderam representar os seus anseios maiores. Em segundo lugar, a História é uma ciência que está em constante revisão. À medida em que o processo democrático se alarga, muitas histórias passam a ser contadas do ponto de vista de camadas mais amplas e do seu grau de participação  Garibaldi, por exemplo, era o vilão da Itália fracionada e dominada pelo Império Austro-Húngaro. Com a unificação italiana, passou a ser o maior herói da península. Lenin, que era idolatrado em toda a União Soviética, passou a ser varrido do seu pedestal com o advento de novos tempos no leste europeu. Em contrapartida, os outrora malditos Romanoff passaram a ser reabilitados e ter honrarias oficiais. O resgate da memória de Tiradentes e sua ascensão ao panteon máximo dos heróis nacionais é outro exemplo. Execrado no período colonial, durante o império foi relegado a segundo plano. O maior historiador de sua época, Varnhagen, chamava-o de insignificante, preferindo louvar a nobreza pernambucana na luta contra os holandeses no século XVII. Com a proclamação da República, o papel de Tiradentes pode ser reavaliado, e, com justiça, foi transformado no grande herói brasileiro. Outro que, na era atual, teve também seu papel rediscutido, foi Zumbi dos Palmares, apesar de muita gente não aceitar ainda um herói negro em nossa Pindorama.
 A historiografia caeté, por seu turno, é muito severa com os movimentos e as figuras oriunda das "menos nobres" da população. s Cabanas são assim tratados como "famigerados bandidos", esquecendo as importando que tiveram como movimento social. Manoel Correia de Andrade, Décio Freitas, Dirceu Lindoso, Marcus Joaquim e Luiz Sávio de Almeida já demonstram em seus trabalhos a verdadeira visão dos rebelados das matas de Jacuípe. E Calabar? É uma figura que sempre a trai controvérsia. Seu estigma de traidor impresso pelos cronistas lusos ainda é muito forte, e a discussão sobre o assunto é sempre evitada. Teria sido mesmo um traidor ou, ao contrário, foi um herói? Não conviria, a nós alagoanos, discutir o tema e transformá-lo num grande herói.

REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
ALBUQUERQUE, Isabel Loureiro de. Notas Sobre os Holandeses no Brasil. DEC, Maceió, 1965 (Serie Estudos Alagoanos)
ALENCAR, Francisco, CARPI, Lucia et RIBEIRO, Marcus Vinicius .. Historio da Sociedade Brasileira, Ao Livro Técnico, RJ, 1985.
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ALFREDO, Brandão. Crônicas Alagoanas, Casa Ramalho Ed., Maceió, 1939.
CASCUDO, Luiz da (amara. Geografia do brasil Holandês, Livr. Jose Olympio Ed. , RJ, 1956.
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LINS, Audemario. Calabar: O Herói Desconhecido. Graf. Gazeta de Alagoas, Maceió, 1988.
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LOPES. José Roberto. História do Brasil Colonial, Ed. Mercado Aberto, Porto Alegre, 1981.
MELLO NETO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos, Sec. Cultura, (reed.) Recife, 1978.
OLIVIERI, Antônio Carlos. A Franca Antártica, Ed. Ática, SP. 1994.
Rocha, José Maria Tenório. Toponímia de Alagoas, SEWNAC, Maceió, 1989.


JOSÉ ROBERTO SANTOS LIMA - Possui graduação em História pela Universidade Federal de Alagoas (1980) e especialização em História Contemporânea pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió. Atualmente é professor efetivo do curso de História no Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes - ICHCA, da Universidade Federal de Alagoas - UFAL, é também sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL. Desde dezembro de 2007, ocupando a cadeira número 34, que tem como patrono o José Bento da Cunha Figueiredo Júnior.
PROJETOS DE PESQUISA- Memória de Alagoas (1998 – 2002) Descrição: Resgate da memória histórica do Estado de Alagoas, envolvendo as áreas de: Arquivologia, História de Alagoas (escrita e oral), Patrimônio Arquitetônico, Arqueologia, Espaços Culturais (museus e etc.), Banco de Dados, Imagens de Alagoas. Situação: Concluído; Natureza: Pesquisa. Integrantes: José Roberto Santos Lima - Coordenador / Clara Suassuna Fernandes - Integrante / Patrícia Pinheiro - Integrante / Maria de Lourdes Lima - Integrante / Geraldo da Silva Filho - Integrante / Marisa Beltrão Malta - Integrante / Jenner Glauber Barreto - Integrante.
Levantamento Histórico dos Municípios do Reservatório do Lago de Xingó- AL (1998 – 2001) - Descrição: Verificar o potencial da documentação primária e seu estado de conservação no Estado de Alagoas, mas particularmente nos municípios de área de abrangência da CHESF: Delmiro Gouveia, Olho d'Água do Casado e Piranhas/ AL e Canindé do São Francisco/SE. Situação: Concluído; Natureza: Pesquisa. Integrantes: José Roberto Santos Lima - Coordenador / Clara Suassuna Fernandes - Integrante / Maria de Lourdes Lima - Integrante. Financiador (es): Companhia Hidroelétrica do São Francisco - Auxílio financeiro.
Levantamento Histórico Documental do Município de Porto Calvo – AL (1995 – 1997). Descrição: Projeto com o objetivo de levantamento da documentação primária do município, executando a identificação, classificação e criação de um espaço multicultural envolvendo: documentação primária, biblioteca e espaço de pesquisa e mini museu. Situação: Concluído; Natureza: Pesquisa. Integrantes: José Roberto Santos Lima - Coordenador / Clara Suassuna Fernandes - Integrante / Patrícia Pinheiro - Integrante / Maria de Lourdes Lima - Integrante. Financiador (es): Prefeitura Municipal de Porto Calvo - Cooperação.

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