UMA REVISÃO DO PROCESSO HISTÓRICO BRASILEIRO
JOSÉ
ROBERTO SANTOS LIMA –UFAL
Durante as comemorações dos 500 anos (texto escrito
em 2000) por diversas instituições de ensino e pesquisa do nosso País têm por objetivo
fundamental proporcionarmo-nos uma autorreflexão sobre o processo histórico
brasileiro, tanto do passado como acima de tudo do nosso presente cotidiano,
que nos remete para uma reflexão constante a respeito do espaço construído
historicamente, fruto das ações humanas cheias de realizações, fracassos,
êxitos e demais contradições vivenciadas pelo homem em sociedade.
É dentro deste espírito de desafios e contradições que
a equipe de O JORNAL oportuniza condições férteis para o debate, a discussão e
a reflexão a respeito desse momento tão importante da nossa história brasileira
a alagoana. Para que possamos entender o porquê da presença francesa e
holandesa em Alagoas e no restante do Brasil, torna-se necessário traçarmos um
perfil da Europa dos fins do século XV e começo do século XVII.
O processo de unificação política e territorial das duas
coroas ibéricas Portugal no século XII e a Espanha no século XV, depois do casamento de Fernando de Aragão
e Isabel de Costela - possibilitou a ambos os países assumirem a liderança das
ações objetivando a conquista do além mar. A consequência imediata de tal fato
histórico teria desdobramentos geopolíticos, fruto dos desacordos diplomáticos
de ambas as coroas ibéricas sobre o domínio das novas áreas territoriais recém
descobertas, cujo impasse só seria resolvido depois da assinatura do Tratado de
Tordesilhas, em 1494, que regulamentou a divisão e posse do mundo por ambas as nações
ibéricas. Aparentemente, o problema estaria resolvido entre as coroas ibéricas;
entretanto, os outros países europeus- os franceses, os ingleses e os
holandeses - não tinham direitos sobre as terras descobertas, assim como eles não
reconheciam a validade do Tratado de Tordesilhas. E passaram a utilizar a
prática do contrabando, do saque, do corso e da ocupação de partes do
território brasileiro. A compreensão do significado das ações, envolvendo o
contrabando do pau-brasil, e das motivações que teriam levado os holandeses a
invadir o litoral alagoano e os desdobramentos econômicos, políticos, sociais e
culturais na história das Alagoas de tal fato, recheado de contradições onde os
interesses dos holandeses em não perderem o monopólio da distribuição do açúcar
português no mundo contrastavam com o sentimento de repúdio ao protestante
calvinista por parte das populações locais. José Roberto Santos Lima
DESCAMINHOS DA COLONIZAÇÃO AMBICIOSA
Os caminhos estavam descobertos e os mares até então
nunca dantes navegados se transformaram em paraíso dos aventureiros.O Atlântico abria-se, oferecido a todas as cobiças. No
princípio, apenas os contrabandistas, os traficantes das riquezas existentes nas
terras recém-descobertas, enfrentavam a grande travessia e alcançavam as costas
do Brasil, de onde regressavam com os barcos abarrotados. Depois, com o
aparecimento das primeiras cidades, vieram os piratas- por conta própria - e
depois os corsários- a serviço de governos que patrocinavam os assaltos.
As primeiras e precárias feitorias portuguesas na costa
brasileira eram importantes para deter os ataques, que se sucediam cada vez
mais audaciosos o mar, que fora a estrada do descobrimento, passava a ser um
inimigo, de onde surgiam de repente os marinheiros assaltantes da pirataria. Agora
procurando formas econômicas e políticas de sobrevivência, o Brasil já recebia
os golpes dos interesses agressivos, que um oceano aberto a todos permitia.
Além do assalto puro e simples às riquezas naturais da terra - o pau-brasil -e
depois às cidades e aos produtos da agricultura, havendo inclusive tentativas
de ocupação do país por potências europeias, como a dos franceses no Maranhão e
Rio de Janeiro e a dos holandeses na Bahia e Pernambuco, com sucessos temporários.
O pau-brasil já era conhecido e explorado pelos europeus, mesmo antes da
presença portuguesa no Brasil, já que o produto encontrava-se incluído entre as
diversas mercadorias (que eram) objetos de interesse dos europeus, que chegavam
à Europa provenientes da Ásia - o que explica em grande parte o interesse dos
europeus pelo produto, já que ele era uma especiaria de grande valor comercial.
O pau-brasil não exigia uma tecnologia sofisticada, nem
mão-de-obra numerosa nem especializada, aliada ao fato de que os preços do
pau-brasil nos mercados internacionais eram sempre compensadores, suportando
fretes caros. O Estado português, para assegurar os seus direitos exclusivistas
sobre a exploração e comercialização do produto, declarou-o monopólio da Coroa,
sendo a sua exploração apenas permitida através do consentimento real, como
aconteceu em 1502, quando um grupo de comerciantes portugueses, liderados pelo cristão-novo
Fernão ou Fernando de Loronha mais tarde teria sido aportuguesado o seu nome
para Fernando de Noronha, teve ordem de - por um prazo de três anos - explorar
o pau-brasil no litoral brasileiro.
O governo português organizou sucessivas expedições
com o objetivo de reconhecer e principalmente policiar o litoral brasileiro das
incursões estrangeiras, em particular do invasor francês.
DIANTE DE UM
DILEMA: COLONIZAR OU PERDER O BRASIL
A política portuguesa de supervalorizar os produtos
asiáticos, as especiarias, em detrimento do Brasil que não produzia produtos de
grande valor para o mercado europeu , exceto o pau brasil, provocou um certo
descaso ou abandono por parte dos portugueses em relação as terras brasileiras.
Porém, diante da concorrência estrangeira, os portugueses viram-se diante de um
dilema : ou colonizar o Brasil ou perdê-lo para a concorrência francesa. Já na
Segunda década, após o "descobrimento", os portugueses tomavam
consciência dos perigos
que vinham do mar. Os inimigos mais constantes eram
os traficantes franceses do pau-brasil, originários da Bretanha e da Normandia,
que partiam dos portos de Honfleur e Dieppe com destino certo; o Brasil. Pouco
depois de 1520 o rei de Portugal D. João III resolveu mandar uma frota armada
com a missão de navegar ao longo da costa brasileira, fundar estabelecimentos
militares (feitorias) e expulsar os contrabandistas, comandados por Cristóvão
Jacques.
Tanto os franceses quanto os portugueses utilizaram-
se da mão-de-obra indígena nos trabalhos de derrubada e transporte dos toros de
madeira - pau-brasil- para os navios que ficavam próximos à costa. Os índios
recebiam em troco pelos seus "serviços” prestados aos europeus, coisas
simples sem muito valor comercial como: tecidos, roupa espelhos e outras
bugigangas etc. Vale apena lembrar que tal “troca” era denominada de Escambo
que não chegou a desestruturar as sociedades tribais indígenas.
A mais antiga referência documental da presença francesa
em nosso litoral, fazendo contrabando do pau-brasil, data de 1504 quando Binot
Paulmier de Gonneville fazia incursões às áreas entre a Bahia de Todos os
Santos e as ilhas do Rio S. Francisco, contando com o apoio dos índios da
região.
FRANÇA ANTÁRTICA
Em fins de 1555, por motivos religiosos e políticos,
os franceses tentaram fixar-se definitivamente em terras brasileiros, mais
precisamente no Rio de Janeiro, fundado q França Antártica, porém seriam mais
tarde expulsados por Men de Só, em 1560, fracassando deste a primeira tentativa
de fixação definitiva francesa no litoral brasileiro. Porém novamente os
franceses organizaram outa outra expedição, com o mesmo objetivo da anterior,
só que desta vez o palco\ de sua ação foi o Maranhão, onde por volta 4e 1612
fundariam a França Equinocial, cuja capital daria origem a atual capital do
Estado do Maranhão (São Luís). Os franceses foram expulsos do Maranhão por
volta de 1615. Segundo M. Wordem, em sua obra "Histoire de L'Empire du
Brésil": citado por Werner Brandão, ao comentar acerca de "três
irmãos chamados de Parmentieer, que iriam a Pernambuco em 1529, com o objetivo
de carrega-lo de pau-brasil, asseverando que esses inclusões, já naquela época
eram muito comuns". Porém a reação portuguesa às incursões francesas ao
nosso litoral alagoano não demorariam, tanto assim que o donatário da Capitania
de Pernambuco, Duarte Coelho, não se contentou de ficar na suo povoação senão
ir-se em suas embarcações pela costa abaixo até o rio. S. Francisco, entretanto
nos portos, todos de sua Capitania achavam-se navios franceses que estavam no
resgate do pau-brasil com os índios e os fez despojar nos portos as mercadorias
e tomou algumas lanchas dos franceses. Como podemos verificar as incursões francesas
ao litoral alagoana eram cada vez mais constantes e intensas.
A PRESENÇA FRANCESA EM ALAGOAS
Para Ter uma ideia da influência francesa em nossa
história local, devemos apenas lembrar que o historiador alagoano Alfredo
Brandão "chego o conjecturar, haver sido o cidade de Penedo originado de
um entreposto francês do comércio do pau-brasil, naquela região do rio São
Francisco", aliado ao fato de existir ainda hoje, sobrevivências culturais
da- presença francesa em nosso litoral, como é o exemplo da tão conhecida
"Praia do Francês", nas proximidades da atual cidade e município de
Marechal Deodoro, há alguns quilômetros da cidade de Maceió. Segundo Gabriel
Soares de Souza, em seu Tratado Descritivo do Brasil de 1587, nos informa que
existiram quatro portos franceses no litoral alagoano, descriminados assim: 1)
Porto Velho dos Franceses - localizado o quatro léguas antes do rio S. Miguel,
que é hoje conhecido como "Praia do Francês"; 2) Porto Novo dos
Franceses -localizado a duas léguas adiante da foz daquele rio, na barra do rio
Jequiá, e finalmente o 3) Porto dos Franceses - próximo aos Baixios ou
arrecifes de Dom Rodrigo, próximo à enseada formada pelo rio Coruripe.
Além dos locais acima citados, os franceses chegavam
a penetrar além da desembocadura dos rios e planícies litorâneas, em busca do
pau-brasil. Entretanto o contrabando do pau-brasil, nas costas alagoanos foi
realizado até quase meados do século passado - 18 de Novembro ed 1840 -"quando
foi apreendido em Coruripe, durante o Presidência de Manuel Felizardo de Souza
e Melo, um brigue francês, que já se achava em parte carregado daquela pedrosa
madeira. Uma outra embarcação que ali se encontrava em operação de contrabando,
conseguiu escapar", segundo nos informo o historiador Moacir Santana. Apesar
da intensidade do contrabando do pau-brasil pelos franceses, a referida
apreensão foi à primeira feita, desde quando passamos na condição política-administrativa
de Capitania Independente. O pau-brasil, sendo monopólio do governo português,
só poderia efetivar-se através de contratos, não trazendo a exploração da
referida madeira nenhum lucro para a Capitania e depois província das Alagoas,
de onde eram extraídas das matas do Poxim, São Miguel, Sumuáma, Jacuípe e
outros locais do território alagoano. A exploração indiscriminada do pau-brasil
levou a quase extinção da espécie vegetal. Até 1875 o pau-brasil ainda aparecia
na lista dos produtos de exportação de economia brasileira.
OS HOLANDESES EM
ALAGOAS E AS CONTROVÉRSIAS
O tema ora proposta - os holandeses em Alagoas -
dado a fertilidade do mesmo, sugere-nos uma série de questionamentos que se
encontram tão bem arquivados no nosso subconsciente. O primeiro grande
questionamento levantado diz respeito à falsa concepção histórica, de que
determinados locais ou monumentos históricos teriam sido construídos ou
edificados pelos holandeses. Na enciclopédia dos municípios alagoanos atesta -
como se verdade histórica que o cruzeiro e Igreja de N. S. Auxiliadora de Barro
de Santo Antônio, o Igreja de Matriz de Japaratinga e a Matriz de S. Miguel dos
Milagres, teriam todos eles sido construídos pelos holandeses. Quanto a Porto
Calvo - maior palco de lutas contra as tropas holandesas - a referida Enciclopédia
destacou que a "Igreja de N. S. da
Apresentação foi fruto da herança do domínio holandês sobre aquela área”.
Todas as afirmativas feitas sobre o domínio
holandês, no que se refere às afirmativas citadas são inconsistentes,
demonstrando a falta de preparo ou desconhecimento a respeito do processo
histórico daquela época; já que os holandeses como calvinistas não tinham
nenhum interesse em construir, nem tão pouco preservar, qualquer templo
católico, exceto quando estes templos serviam-lhes como objetos militares ou
estratégicos. Apesar disso, o imaginário popular, através da tradição oral às
vezes reforça a inverdade de tais fatos, no que se refere à Igreja Católica,
pois afirma - se que tais templos foram Construídos durante a época dos
holandeses e não pelos holandeses.
AS RELAÇÕES
COMERCIAIS ENTRE PORTUGAL E FLANDRES
Para que possamos ter uma ideia de como desenvolver
tal processo histórico, torna-se necessário retrocedermos até os fins da Idade
Média, para que possamos entender melhor como evoluíram as relações econômicas,
políticas e comerciais entre as regiões de Flandres e Bugres, onde
"Portugal mantinha em Antuérpia comprovada intensamente de relações de
troca com aquelas áreas". O Estado português tinha interesse em
desenvolver a atividade no Brasil, dadas as excelentes condições ecológicas
para o seu desenvolvimento em nosso território; porém os seus objetivos
esbarram na falta de capital para a realização de tão vultuosa iniciativa.
Então, os portugueses resolveram recorrer aos banqueiros holandeses, que
imediatamente aceitaram financiar a empresa açucareiro no Brasil, em troca da
exclusividade, por parte da Holanda, do transporte do açúcar e ainda as
atividades de refinação e distribuição do açúcar brasileiro na Europa. A União
Ibérica foi um período histórico- que se iniciou em 1580, e se encerraria em
1640- em que todas as suas colônias ultramarinas passariam para o domínio
espanhol, quando do falecimento do rei de Portugal, o qual não deixou
herdeiros, o seu parente mais próximo era o Rei da Espanha Felipe II, que
apoiado pela classe nobre portuguesa e por setores da burguesia portuguesa,
assumia as rédeas do processo político- administrativo português. Por outro
lado; a Holanda, que havia financiado a instalação da empresa açucareira no nordeste
brasileiro, foi proibida pela Espanha de continuar frequentando os portos
brasileiros e distribuir o açúcar brasileiro na Europa, assim com a proibição
estendia-se às demais colônias portuguesas da África e da Ásia.
Tai fato se constituiria num verdadeiro prejuízo
para a Holanda, que tinha investido bastante capital na atividade açucareiro no
nordeste brasileiro. A reação da burguesia, flamenga ou batavo foi imediata à
progressiva: financiando corsários para atacar os comboios de galeões espanhóis
carregados de ouro e prato do Novo Mundo e destruindo o bloqueio e uso -
espanhol. No Oriente as violências cometidas pelos portugueses contra as
populações locais favoreceram a aliança dos poderosos chefes locais com os holandeses.
Mais tarde, 1602, seríamos criadas a Companhia das Índias Orientais, que seria
a responsável pela conquista de colônias espanholas e principalmente
portuguesas na Ásia.
Em 1621, é criada a companhia das Índias Ocidentais,
que seria a responsável pela ação bélica e mercantil no litoral oriental da
América do Norte - onde seria fundada Nova York -pela ocupação das Antilhas, do
litoral ocidental da África e do Nordeste brasileiro. A primeira tentativa de
ocupação efetiva, por parte dos holandeses no Brasil, foi em 1624/25, na Bahia,
onde seriam expulsos no ano seguinte e sua ocupação, mediante a reação e
capacidade organizativa da população local.
A ocupação de Salvador pelos holandeses foi um
demonstrativo de sua força bélica e disposição política da companhia das Índias
Ocidentais que não estavam dispostos a tolerarem a intransigência da Espanha em
não permitirem que os holandeses continuassem se abastecendo do açúcar brasileiro
como "a Guerra do Açúcar”.
A INVASÃO
HOLANDESA A PERNAMBUCO
Então por que os holandeses escolheram Pernambuco,
depois do insucesso na Bahia? Além da grande produção açucareiro - foi o grande
motivo da invasão -, também extraia-se bastante pau-brasil das suas matas; além
de Pernambuco por ser uma capitania particular ou privada que dispunha de
frágil infraestrutura de defesa militar e estratégica e por não dispor de
grandes cursos para bancar tal empreendimento. A posição geográfica favorável e
estratégica de Pernambuco também teria favorecido o interesse dos Flamengos em
virtude dela estar à meio-caminho das investidas bélicas dos holandeses, contra
os galpões espanhóis carregados de ouro e de prata, provenientes do México,
Peru e Bolívia ou abastecer-se de escravos africanos vindos de São Jorge de
Mina, Guiné portuguesa, São Paulo de Luanda ou Moçambique, ou ainda saquearem
as possessões portuguesas e espanholas na África e na Ásia.
A prova do grande interesse holandês pela região de
Pernambuco são as Instruções Secretas e regimentos que deveriam orientar as
ações militares e na organização do governo da colônia, cujos documentos haviam
sido discutidos, aprovados pelos diretores da Companhia Gerais das Índias
Ocidentais, em 08 de agosto de 1629, quando “ordenava que as forças militares atacassem
Pernambuco e, sendo tomada a cidade de Olinda que fortificassem os seus pontos altos
e, especialmente, o Convento dos Jesuítas" ... Olinda era uma das
principais cidades do período colonial, constituindo-se no principal eixo
econômico, social e político do Brasil no início do século XVII, tornando o
açúcar um dos principais centros mais notáveis da época, dispondo de um
progresso ainda não alcançado por outras cidades ou vilas do período colonial, da
época. Matias de Albuquerque trouxera apenas três caravelas e vinte e sete
homens, enquanto que os holandeses durante a invasão à Pernambuco dispunha de mais
de 50 navios e 07 mil homens, que teriam desembarcado na praia do Pau Amarelo,
1630 mediante já disporem de informações a respeito da fragilidade do sistema
de defesa da Capitania de Pernambuco. Mesmo diante da inferioridade numérico e
os vezes bélicas das tropas locais frente aos Flamengos, Matias de Albuquerque
enfrentou os inimigos, porém não conseguiu impedir que Olinda fosse ocupado pelos
Flamengos. Matias de Albuquerque não contava com um exército tão numeroso,
porém contava com o fator supressa, no ataque ao exército invasor, além de usar
a tática de guerrilhas, contra as forças militares holandesas. O tempo, o avanço batavo sobre a região
principalmente depois da montagem de toda uma estratégia de resistência ao invasor,
que se instalou no Arraial de Bom Jesus, que ficava localizado estrategicamente
entre Olindo e Recife; permitindo por mais 5 anos neutralizar os avanços das
tropas Flamengas. Quando Matias de Albuquerque percebeu que os holandeses
dominavam os fortes do Recife - que na época era apenas uma aldeia de
pescadores -, tratou de incendiar os armazéns de açúcar e fugir para o Arraial
de Bom Jesus. Por mais de 05 anos, de intensas lutas, Matias de Albuquerque
recebeu um emissário do holandês Weerdenburck - comandante dos tropas invasoras
que exigia que os títulos de indenização fossem ressarcidos dos prejuízos, com
o incêndio dos armazéns de açúcar e caso os suas reivindicações não fossem atendidas
prometiam - e cumpriram tal promessa - incendiar a cidade de Olinda. Durante o
incêndio de Olinda, apenas a igreja de São João Batista dos militares, manteve –
se intacta, porém as demais Igrejas e Conventos não teriam tido a mesma "sorte".
As Igrejas da Sé – que teria sido reconstruído entre 1654 a 1711 -, de N. S. do
Amparo e do Carmo foram destruídas em 24 de Novembro de 1631 e teriam sido mais
tarde reconstruídas. Entre 1630 - quando teve início a invasão holandesa à
Pernambuco - 1631 - quando do incêndio de Olinda; destacou - se pelo seu
crescimento e localização geográfica excepcional, a vila de Recife, como local propicio
para o desenvolvimento da atividade mercantil, agora controlada pelos
holandeses que contrastava com Olinda, que na época contava com uma população de
aproximadamente 10.000 habitantes, onde mais 7.000 transferiam-se para o
Recife, atraídos pelos lucros que tal atividade comercial propiciava.
Além da migração, da parte da população olindense, poro
o vila do Recife, somava - se a população holandesa que ocupavam o local,
acrescidos de 23.1, 63 escravos importados da África. E importante destacar o
foto de que durante o período holandês, apesar dos Calvinistas estranharem o
tratamento cruel dado aos escravos, porém logo aceitaram conviver com tal
situação desumana vivida pelos escravos africanos, onde os dirigentes da Companhia
das índias Ocidentais trataram logo de não apenas dominarem os ricos e
disputadas rotas do tráfico de escravos - São Jorge de Mino, Guiné portuguesa, São
Paulo de Luanda e Moçambique -, mas também aperfeiçoaram o mecanismo de
repressão aos escravos e o combaterem os quilombos. Devemos lembrar que foram
enviadas duas expedições militares holandesas, a serra da Barriga, com o
objetivo de destruir Palmares, sem, contudo obterem sucesso.
CALABAR: O
CONTROVERTIDO PERSONAGEM HISTÓRICO
É correto afirmar-se que a Vila do Recife teria surgido
por volta de 1536, porém a invasão holandesa a teria ajudado a se construir no principal
centro urbano da época holandesa, principalmente depois das reformas urbanas,
feitas pelos arquitetos trazidos por Maurício de Nassau. Para o historiador
Moacir Medeiros de Sant’Ana diante dos documentos hora existentes, argumento que
o ato de Calabar assume, uma feição política e uma feição moral. Sob o ponto de
visto político o ato de Calabar não constituía - se numa traição, porque trair
o que? A quem? A que país ou noção? O Brasil naquela época não estava sob
domínio de Portugal, mas sim vivendo um momento histórico atípico - que a união
Ibérica (1580/1640); pois o Brasil era luso - espanhol. Sob o ponto de visto
moral, o ato de Calabar pode ser encarado como traição em virtude do mesmo ter
traído os seus irmãos de carne, encaminhado os holandeses poro atacarem e
eliminarem sumariamente parte ou totalidade de uma população de uma determinada
vila, engenho, povoado ou cidade etc.
Em 1631 o território alagoano começou a se ferira luta.
Em 1632 o território alagoano começou o figurar como palco de futuras ações
bélicas, "quando Bragnuolo fez desembarcar em Barra Grande (Maragogi) 700 homens
de guerra, sob o comando de D. Antônio Oquendo, com destino ao arraial de Bom
Jesus. A passagem de Calabar para o lado dos holandeses desequilibraria os
forças militares envolvidas no conflito, que agora tornavam - se mais favoráveis
para o lado do holandeses, que contavam com / obterem nenhum sucesso,
culminando em si na um ótimo conhecedor do região, não apenas do morte do comandante
das tropas holandesas ponto de vista geográfico, mas acima de tudo bélico estratégico.
Entretanto, os holandeses conseguiram um importante
aliado - Domingos Fernandes Calabar - o qual irá viabilizar aos invasores a
conquista do Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Trata-se de um equivoco
pensar-se que Calabar teria se passado para o lado dos holandeses, em virtude
do mesmo ter ficado impressionado como o dinamismo e o caráter empreendedor,
desenvolvidos durante o período do governo de Maurício de Nassau. Quando
Maurício de Nassau chegou ao Brasil, em 1637, Calabar já havia sido enforcado e
esquartejado em 29 de Junho de 1635, por ordens de Matias de Albuquerque. E
conveniente lembrar que a cidade de Porto Calvo, tem em uma das suas
superfícies colinosas uma localidade conhecida pelo nome d "Alto de Forca"
ou "do Cruzeiro", onde Calabar teria sido enforcado.
Alagoas, com o colapso econômico e político que atravessa,
tem merecido estigmas que devemos rechaçar. Afinal,· não há nada aqui que não
se encontre em todo o Brasil, dos hábitos anacrônicos ao comportamento de seus
representantes. Recentemente vi uma figura pública nacional condenar os seus
companheiros tratando-os de "seguidores do alagoano Calabar". Ora,
Calabar virou sinônimo de traidor e, por consequência, associado à nossa
estigmatizada Alagoas. Será que é justo e que devemos aceitar isto? Inicialmente,
vamos considerar que é universalmente aprovado as sociedades valorizarem os
momentos mais significativos de seus antepassados nos instantes em que, agindo
em defesa de suas aspirações, puderam representar os seus anseios maiores. Em
segundo lugar, a História é uma ciência que está em constante revisão. À medida
em que o processo democrático se alarga, muitas histórias passam a ser contadas
do ponto de vista de camadas mais amplas e do seu grau de participação Garibaldi, por exemplo, era o vilão da Itália
fracionada e dominada pelo Império Austro-Húngaro. Com a unificação italiana,
passou a ser o maior herói da península. Lenin, que era idolatrado em toda a
União Soviética, passou a ser varrido do seu pedestal com o advento de novos
tempos no leste europeu. Em contrapartida, os outrora malditos Romanoff
passaram a ser reabilitados e ter honrarias oficiais. O resgate da memória de
Tiradentes e sua ascensão ao panteon máximo dos heróis nacionais é outro
exemplo. Execrado no período colonial, durante o império foi relegado a segundo
plano. O maior historiador de sua época, Varnhagen, chamava-o de
insignificante, preferindo louvar a nobreza pernambucana na luta contra os holandeses
no século XVII. Com a proclamação da República, o papel de Tiradentes pode ser
reavaliado, e, com justiça, foi transformado no grande herói brasileiro. Outro
que, na era atual, teve também seu papel rediscutido, foi Zumbi dos Palmares,
apesar de muita gente não aceitar ainda um herói negro em nossa Pindorama.
A
historiografia caeté, por seu turno, é muito severa com os movimentos e as
figuras oriunda das "menos nobres" da população. s Cabanas são assim tratados
como "famigerados bandidos", esquecendo as importando que tiveram
como movimento social. Manoel Correia de Andrade, Décio Freitas, Dirceu
Lindoso, Marcus Joaquim e Luiz Sávio de Almeida já demonstram em seus trabalhos
a verdadeira visão dos rebelados das matas de Jacuípe. E Calabar? É uma figura
que sempre a trai controvérsia. Seu estigma de traidor impresso pelos cronistas
lusos ainda é muito forte, e a discussão sobre o assunto é sempre evitada. Teria
sido mesmo um traidor ou, ao contrário, foi um herói? Não conviria, a nós alagoanos,
discutir o tema e transformá-lo num grande herói.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
ALBUQUERQUE,
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(Serie Estudos Alagoanos)
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Francisco, CARPI, Lucia et RIBEIRO, Marcus Vinicius .. Historio da Sociedade
Brasileira, Ao Livro Técnico, RJ, 1985.
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Brandão. Crônicas Alagoanas, Casa Ramalho Ed., Maceió, 1939.
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Luiz da (amara. Geografia do brasil Holandês, Livr. Jose Olympio Ed. , RJ, 1956.
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LIMA,
José Roberto Santos. História de Alagoas: Teoria e Testes, Curso Visão, Maceió,
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José Roberto. História do Brasil Colonial, Ed. Mercado Aberto, Porto Alegre, 1981.
MELLO
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Recife, 1978.
OLIVIERI,
Antônio Carlos. A Franca Antártica, Ed. Ática, SP. 1994.
Rocha,
José Maria Tenório. Toponímia de Alagoas, SEWNAC, Maceió, 1989.
JOSÉ
ROBERTO SANTOS LIMA - Possui graduação em História pela Universidade Federal de
Alagoas (1980) e especialização em História Contemporânea pelo Centro de
Estudos Superiores de Maceió. Atualmente é professor efetivo do curso de
História no Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes - ICHCA, da
Universidade Federal de Alagoas - UFAL, é também sócio efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL. Desde dezembro de 2007, ocupando a
cadeira número 34, que tem como patrono o José Bento da Cunha Figueiredo
Júnior.
PROJETOS
DE PESQUISA- Memória de Alagoas (1998 – 2002) Descrição: Resgate da memória
histórica do Estado de Alagoas, envolvendo as áreas de: Arquivologia, História
de Alagoas (escrita e oral), Patrimônio Arquitetônico, Arqueologia, Espaços
Culturais (museus e etc.), Banco de Dados, Imagens de Alagoas. Situação:
Concluído; Natureza: Pesquisa. Integrantes: José Roberto Santos Lima -
Coordenador / Clara Suassuna Fernandes - Integrante / Patrícia Pinheiro -
Integrante / Maria de Lourdes Lima - Integrante / Geraldo da Silva Filho -
Integrante / Marisa Beltrão Malta - Integrante / Jenner Glauber Barreto -
Integrante.
Levantamento
Histórico dos Municípios do Reservatório do Lago de Xingó- AL (1998 – 2001) -
Descrição: Verificar o potencial da documentação primária e seu estado de
conservação no Estado de Alagoas, mas particularmente nos municípios de área de
abrangência da CHESF: Delmiro Gouveia, Olho d'Água do Casado e Piranhas/ AL e
Canindé do São Francisco/SE. Situação: Concluído; Natureza: Pesquisa. Integrantes:
José Roberto Santos Lima - Coordenador / Clara Suassuna Fernandes - Integrante
/ Maria de Lourdes Lima - Integrante. Financiador (es): Companhia Hidroelétrica
do São Francisco - Auxílio financeiro.
Levantamento
Histórico Documental do Município de Porto Calvo – AL (1995 – 1997). Descrição:
Projeto com o objetivo de levantamento da documentação primária do município,
executando a identificação, classificação e criação de um espaço multicultural
envolvendo: documentação primária, biblioteca e espaço de pesquisa e mini
museu. Situação: Concluído; Natureza: Pesquisa. Integrantes: José Roberto
Santos Lima - Coordenador / Clara Suassuna Fernandes - Integrante / Patrícia
Pinheiro - Integrante / Maria de Lourdes Lima - Integrante. Financiador (es):
Prefeitura Municipal de Porto Calvo - Cooperação.
Endereço
para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2602942466421097
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