REVOLTA DO “QUEBRA
QUILOS” EM ALAGOAS.
OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA, escritor, membro da Academia Alagoana de Cultura, membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Espirito Santo sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Campinas/SP e membro da Comissão Alagoana de Folclore. Membro Correspondente da A.P.H.L.A.
O Brasil império durante
quase todo século XIX viveu imerso em conflitos e beligerâncias , quer entre a
coroa e seus lacaios – e aqui se inclui
o povo - e não menos ainda suas províncias, que em busca de autonomia político
administrativa desvencilhando-se do poder a que estava subordinada. E nesta
amálgama em que a população se via envolvida, acorrentada nos abissais
contrastes que subjugavam e impunham um impiedoso “apartheid” entre ricos e pobres, tornando estes ainda mais, e não
sendo suficiente, o Estado [Império] mostrava seu poder aumentando a carga
tributária que resignado o cidadão tinha que suportar.
A antiga província da “Parahyba”, conhecida pelas inúmeras
demonstrações de excessiva violência envolvendo velhos caciques da política
local, a estes se somavam grandes latifundiários, abastados comerciantes,
figuras do clero, que fizeram daquela comuna nordestina um forte armamentista.
E foi no chão arenoso, ressecado pelo calor suportado apenas por aqueles que a
ele estavam habituados, que insurgiu uma das grandes revoltas populares
denominada “Quebra Quilos” , que
ultrapassou os limites geográficos chegando inclusive às províncias irmãs –
Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Não foram poucas as razões
que culminaram em tal revolta, desde a insatisfação com elevados impostos, o
recrutamento para o serviço militar onde apenas pobres e dissidentes do atual
governo eram recrutados e ainda a prisão do padre Dom Vital que fez frente a
maçonaria, impedindo a participação destes em procissões e demais atos
religiosos. A Paraíba desde 1870 se encontrava imersa numa crise econômica devido
a queda dos preços do açúcar e algodão, e somado a este declínio financeiro o
então governo exige o cumprimento da lei imperial n º 1.157 de 26 de junho de 1862
que instituía o sistema métrico decimal
e pesos oficiais. As formas de medição e aferimento comumente usadas pelos comerciantes
eram: vara, côvado, braça, cuia, palmo, quarta, estas agora deveriam
obrigatoriamente serem substituídas por quilograma, metro, litro e demais
instrumentos averiguadores, cujo novo sistema foi copiado do governo francês, e
aqueles que descumprissem tal imposição eram multados e punidos, cuja sanção
dar-se-ia inclusive cerrando o infrator na prisão. Serviços de fiscalização e controle eram
montados nas chamadas bodegas, açougues, armazéns e mercados no afã de obrigar
o cumprimento da lei.
O estopim da revolta de
Quebra Quilos, se deu na manhã de sábado do dia 07 de novembro de 1874 numa
paupérrima vila de Campina Grande, quando a população se achando enganada com
novas formas de medição e desconfiadas com os altos preços em consequência da
volumosa carga de tributos a que tinha que se submeter, invadem a feira munidos
de armas, foices, pedras, e apreendem os quilos, metros e demais instrumentos aferidores.
Tal revolta repercutiu por toda a
província tendo recebido apoio nas vilas de Ingá, Cabeceiras, Pilar, Areia,
Lagoa Grande, Guarabira, Bananeiras, São José do Cariri, dentre outras.
Com muita propriedade e não
menos conhecimento intelectual o qual lhe era peculiar, o eminente político,
secretário da fazenda, jurista Serzedelo de Barros Correia nome por demais
conhecido nesta paragem caeté, brinda os cultores da história com suas
pesquisas que culminou na publicação da obra “Quebra Quilos em Alagoas” em 1972, numa lídima alusão a revolta nascida na Paraíba e que ganhou
força e apoio popular na terra de Deodoro. Dr. Serzedelo não poupou esforços em
demostrar que Alagoas também aderiu a tal movimento, ainda que pouco ou quiçá
estranho entre seus conterrâneos.
Nas palavras do historiador
viçosense, cujas raízes remontam ainda à sua Boa Esperança de seus antepassados
no atual município de Chã Preta, a primeira notícia sobre Quebra Quilos em
Alagoas se deu na antiga povoação de Mundaú Mirim em 26 de dezembro de 1874,
cuja narrativa do Sr. Manoel Martins de Miranda ao presidente da província dava conta de uma grande destruição de pesos e
medidas e ainda incêndio de cartórios do juiz de paz e do subdelegado o que
durou por mais ou menos um ano, conforme prescreve trecho de declaração
constada no supramencionado relatório, in verbis:
"Estava
o Chefe de Polícia de Maceió, Joaquim Guedes Correia Gondim, convicto de que a
causa da perturbação da tranquilidade pública em Alagoas fora,
indubitavelmente, a sedição que rebentara nas Províncias da Paraíba e de
Pernambuco, e que se ampliara, atingindo o território alagoano".
Tais registros ainda que
desconhecidos de grande parte da comunidade acadêmica alagoana, terão doravante
sua notoriedade mediante os esforços empreendidos pelo brilhante historiador
Dr. Serzedelo Correia, que por anos à fio mergulhou nos anais do Instituto
Histórico e Geográfico de Alagoas –IHGAL, do qual fez parte ocupando uma
cátedra naquele sodalício. As fontes bibliográficas foram as mais diversas, desde velhos jornais
empoeirados com artigos que fazem menção ao Quebra Quilos, testemunhos
epistolares de participantes da revolta em Alagoas até os relatórios oficiais do presidente da Província
dirigidos a Assembleia Legislativa. Todo esse acervo emoldurou uma das mais
ricas e proeminentes obras da literatura local, imortalizando a figura
inolvidável do Dr. Serzedelo de Barros Correia, cuja inestimável colaboração
percebida pela veracidade histórica com
que discorre sobre os fatos, merece os mais sonoros e vibrantes aplausos do
povo alagoano, em reconhecimento e gratidão por seus relevantes serviços a
terra que um dia lhe serviu de berço.
OLEGÁRIO
VENCESLAU DA SILVA, escritor,
membro da Academia Alagoana de Cultura, membro da Academia de Letras e Artes do
Nordeste, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte,
sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Espirito Santo, sócio do Instituto
Histórico e Geográfico de Campinas/SP e membro da Comissão Alagoana de Folclore.
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