segunda-feira, 29 de junho de 2015

REVOLTA DO “QUEBRA QUILOS” EM ALAGOAS - OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA,

REVOLTA DO “QUEBRA QUILOS” EM ALAGOAS.


OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA, escritor, membro da Academia Alagoana de Cultura, membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Espirito Santo sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Campinas/SP e membro da Comissão Alagoana de Folclore. Membro Correspondente da A.P.H.L.A. 


O Brasil império durante quase todo século XIX viveu imerso em conflitos e beligerâncias , quer entre a coroa e seus lacaios –  e aqui se inclui o povo - e não menos ainda suas províncias, que em busca de autonomia político administrativa desvencilhando-se do poder a que estava subordinada. E nesta amálgama em que a população se via envolvida, acorrentada nos abissais contrastes que subjugavam e impunham um impiedoso “apartheid” entre ricos e pobres, tornando estes ainda mais, e não sendo suficiente, o Estado [Império] mostrava seu poder aumentando a carga tributária que resignado o cidadão tinha que suportar.
A antiga província da “Parahyba”, conhecida pelas inúmeras demonstrações de excessiva violência envolvendo velhos caciques da política local, a estes se somavam grandes latifundiários, abastados comerciantes, figuras do clero, que fizeram daquela comuna nordestina um forte armamentista. E foi no chão arenoso, ressecado pelo calor suportado apenas por aqueles que a ele estavam habituados, que insurgiu uma das grandes revoltas populares denominada “Quebra Quilos” , que ultrapassou os limites geográficos chegando inclusive às províncias irmãs – Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Não foram poucas as razões que culminaram em tal revolta, desde a insatisfação com elevados impostos, o recrutamento para o serviço militar onde apenas pobres e dissidentes do atual governo eram recrutados e ainda a prisão do padre Dom Vital que fez frente a maçonaria, impedindo a participação destes em procissões e demais atos religiosos. A Paraíba desde 1870 se encontrava imersa numa crise econômica devido a queda dos preços do açúcar e algodão, e somado a este declínio financeiro o então governo exige o cumprimento da lei imperial n º 1.157 de 26 de junho de 1862 que instituía o sistema  métrico decimal e pesos oficiais. As formas de medição e aferimento comumente usadas pelos comerciantes eram: vara, côvado, braça, cuia, palmo, quarta, estas agora deveriam obrigatoriamente serem substituídas por quilograma, metro, litro e demais instrumentos averiguadores, cujo novo sistema foi copiado do governo francês, e aqueles que descumprissem tal imposição eram multados e punidos, cuja sanção dar-se-ia inclusive cerrando o infrator na prisão.  Serviços de fiscalização e controle eram montados nas chamadas bodegas, açougues, armazéns e mercados no afã de obrigar o cumprimento da lei.
O estopim da revolta de Quebra Quilos, se deu na manhã de sábado do dia 07 de novembro de 1874 numa paupérrima vila de Campina Grande, quando a população se achando enganada com novas formas de medição e desconfiadas com os altos preços em consequência da volumosa carga de tributos a que tinha que se submeter, invadem a feira munidos de armas, foices, pedras, e apreendem os quilos, metros e demais instrumentos aferidores.  Tal revolta repercutiu por toda a província tendo recebido apoio nas vilas de Ingá, Cabeceiras, Pilar, Areia, Lagoa Grande, Guarabira, Bananeiras, São José do Cariri, dentre outras.
Com muita propriedade e não menos conhecimento intelectual o qual lhe era peculiar, o eminente político, secretário da fazenda, jurista Serzedelo de Barros Correia nome por demais conhecido nesta paragem caeté, brinda os cultores da história com suas pesquisas que culminou na publicação da obra “Quebra Quilos em Alagoas” em 1972, numa lídima alusão a revolta nascida na Paraíba e que ganhou força e apoio popular na terra de Deodoro. Dr. Serzedelo não poupou esforços em demostrar que Alagoas também aderiu a tal movimento, ainda que pouco ou quiçá estranho entre seus conterrâneos.
Nas palavras do historiador viçosense, cujas raízes remontam ainda à sua Boa Esperança de seus antepassados no atual município de Chã Preta, a primeira notícia sobre Quebra Quilos em Alagoas se deu na antiga povoação de Mundaú Mirim em 26 de dezembro de 1874, cuja narrativa do Sr. Manoel Martins de Miranda ao presidente da província  dava conta de uma grande destruição de pesos e medidas e ainda incêndio de cartórios do juiz de paz e do subdelegado o que durou por mais ou menos um ano, conforme prescreve trecho de declaração constada no supramencionado relatório, in verbis:
"Estava o Chefe de Polícia de Maceió, Joaquim Guedes Correia Gondim, convicto de que a causa da perturbação da tranquilidade pública em Alagoas fora, indubitavelmente, a sedição que rebentara nas Províncias da Paraíba e de Pernambuco, e que se ampliara, atingindo o território alagoano".
Tais registros ainda que desconhecidos de grande parte da comunidade acadêmica alagoana, terão doravante sua notoriedade mediante os esforços empreendidos pelo brilhante historiador Dr. Serzedelo Correia, que por anos à fio mergulhou nos anais do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas –IHGAL, do qual fez parte ocupando uma cátedra naquele sodalício. As fontes bibliográficas  foram as mais diversas, desde velhos jornais empoeirados com artigos que fazem menção ao Quebra Quilos, testemunhos epistolares de participantes da revolta em Alagoas até os  relatórios oficiais do presidente da Província dirigidos a Assembleia Legislativa. Todo esse acervo emoldurou uma das mais ricas e proeminentes obras da literatura local, imortalizando a figura inolvidável do Dr. Serzedelo de Barros Correia, cuja inestimável colaboração percebida  pela veracidade histórica com que discorre sobre os fatos, merece os mais sonoros e vibrantes aplausos do povo alagoano, em reconhecimento e gratidão por seus relevantes serviços a terra que um dia lhe serviu de berço.

OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA, escritor, membro da Academia Alagoana de Cultura, membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Espirito Santo, sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Campinas/SP e membro da Comissão Alagoana de Folclore.

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