UFAL - Universidade Federal de Alagoas
Estudo indica que Semifeudalidade mantém Usineiros no poder do Estado
Grupo de Pesquisa de Serviço Social aponta manutenção de relações típicas do Brasil Colonial
Jhonathan Pino - jornalista
Professor Nascimento e Fernando Milton acreditam que só a mobilização agrária é capaz de acabar com opressão no Estado
Na edição de 16 de dezembro de 2012, a
edição da Gazeta de Alagoas chamou a atenção dos seus leitores para o
predomínio econômico e político dos usineiros e apontou o controle do
estado alagoano nas esferas executivas, legislativa e judiciária pelos
“Senhores” das terras alagoanas. Os dados não surpreendem a população,
que mostra-se cética diante de mudanças, mas corroboram com a pesquisa
do Grupo Cultura, Identidade e Movimentos Sociais da Faculdade de
Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas, que encontra no
Capitalismo Burocrático a causa para a manutenção de valores
pré-coloniais nas relações de trabalho e de poder em Alagoas.
Para o grupo, a exemplo de outras regiões do mundo, o Capitalismo Burocrático em Alagoas foi
formado a partir do fornecimento de capital por multinacionais, sem que
houvesse o interesse político delas para a modificação da estrutura
agrária, mantendo na região os pilares presentes em períodos
pré-coloniais, como a semifeudalidade e a semicolonialidade.
“Semifeudalismo” é o termo utilizado
pelo grupo para a “existência de relações de produção pré-capitalistas,
cuja sustentação é o capital proveniente dos grandes latifúndios,
bancos, monopólios, que é controlado pelo imperialismo”. Essa definição
foi utilizada pelo aluno Fernando Milton, em relatório do projeto de
pesquisa “Semifeudalidade em Alagoas: origens e expressões atuais”,
orientado pelo professor voluntário José Nascimento, da Faculdade de
Serviço Social (FSSO).
Fernando relata que muitos consideram o
termo antiquado para o atual estágio da economia, no entanto elementos
do semifeudalismo, como concentração agrária e o mandonismo persistem na
realidade alagoana desde a época em que o Brasil era formado por
Capitanias Hereditárias. “Há meeiros, trabalho por produção; a corveia,
instrumento tradicional da idade média, em que os servos prestavam
serviços gratuitos ao senhor feudal, foi utilizada em Alagoas em tempos
ainda recentes, com outra denominação, isto é, com outra roupagem e
adaptada ao mundo contemporâneo”, detalha Fernando.
Junto com os estudantes Felipe Santos e
Mônica Silva, o grupo pesquisou não só as relações de trabalho, mas
como a violência, a justiça e o poder público estão a serviço da
manutenção do poder dos usineiros. “É importante lembrar que nos dias
atuais, ao deixar de fornecer cana para uma determinada usina, o
fornecedor é obrigado a levar uma declaração desta para a outra usina em
que pretende moer suas canas, afirmando que já não é mais fornecedor da
primeira. Constata-se, claramente, o caráter controlador dos
usineiros”, acrescenta Fernando.
O Estado a disposição dos usineiros
Conforme a pesquisa, as políticas
públicas são feitas para servir aos latifúndios. A crise ocorrida no
estado na década de 90, culminando com mobilização da população em julho
de 1997, e a derrubada do Governador Divaldo Suruagy, seriam frutos das
constantes desonerações da indústria sucroalcooleira.
Além do declínio econômico da
população, a falta de recursos para saúde e educação seriam reflexos
desta política subserviente aos latifundiários. “A falta de tudo para a
população gerou o efeito de favelização e aumento da violência no
Estado. A discussão atual que o Estado tem sobre a violência também não é
levada a sério, é mais uma estratégia de marketing do Governo, com a
criação de secretárias que apenas iludem a população”, aponta Fernando.
Os dados vão ao encontro da matéria da
Gazeta de Alagoas, quando mostram que o declínio do setor e o letramento
dos descendentes dos usineiros foram determinantes para o interesse
progressivo deles pela máquina pública: “a ingerência com a coisa
pública e o uso do público para finalidade pessoal são posturas
costumeiras dos gestores do estado alagoano, desde a emancipação até os
dias atuais”, aborda Fernando.
Conforme o professor Nascimento, com a
categoria dos latifundiários no poder, o mandonismo não fica restrita às
propriedades rurais, mas se expandem até os órgãos públicos, com a
imposição do medo aos servidores. “As políticas governamentais também
auxiliam na manutenção do sistema, pois aos ofertar assistencialismo,
não se toca na necessidade de reais mudanças. A bolsa-escola, por
exemplo, na maneira como foi viabilizada, fortaleceu os poderes dos
prefeitos, com o processo de escolha e distribuição das rendas. Como os
prefeitos estão ligados as famílias tradicionais, eles acabam acumulando
mais poder em suas mãos”, relata.
Apesar de ver de forma positiva a
publicação do tema em veículos tradicionais da imprensa, os
pesquisadores consideram essas matérias fruto de interesses políticos
entre o senador Fernando Collor de Melo e o governador Teotônio Vilela
Filho. “Eles estão de olho nas eleições para o Senado, daqui a dois
anos”, especula Fernando, que a exemplo do grupo, acredita na
mobilização dos camponeses e conscientização das classes urbanas como
única possibilidade de mudança do estágio de semifeudalidade em Alagoas.
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