História de Alagoas
COMO EXPLICAR ALAGOAS?
Sávio Almeida: “ Falo de quem é fundamental e em quem ninguém mexe “
Lelo Macena
Repórter
Repórter
Para
o historiador Luis Sávio de Almeida, considerado um dos nossos
principais pensadores, Alagoas só começa a se preocupar em escrever sua
história no final do século XIX, por meio dos textos de José Próspero
Jeová da Silva Caroatá (1825-1890), João Francisco Dias Cabral
(1834-1885) e Pedro Nolasco Maciel (1861-1909).
Segundo
ele, é a partir desses três personagens que se inauguram as formas de
ver o Estado: são os três paradigmas, como ele define. Caroatá, em seu
texto Crônicas do Penedo, publicado nos três primeiros números da
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), seria a
visão declaradamente senhorial do poder. Dias Cabral, apesar de também
representar esse segmento, começa a introduzir na história alagoana as
classes menos favorecidas. Por fim, vem Pedro Nolasco Maciel, pelo fato
de que este, no livro Traços e Troças: Crônica Vermelha, Leitura Quente,
cuja primeira edição foi publicada em 1899, sem o nome do autor, busca
definir o que seria “esta coisa” chamada os filhos do trabalho, uma
categoria que se define historicamente em confronto com o capital, com o
poder.
Para
Sávio, essas três leituras são fundamentais para o entendimento básico
da formação histórica, política, social e econômica de Alagoas. “O
Caroatá dá uma visão de Alagoas em todos os setores: da economia à
política. Toda hora que você lida com uma questão chamada poder, passa
por tudo isso. Todo livro é uma plataforma política. Principalmente os
que dizem que não são. Não tem um que não seja. Caroatá é fantástico e
extraordinário porque ele sabe disso. Ele não nega que está a serviço do
poder local”, diz ele.
O
pesquisador segue apresentando a sua lista de títulos essenciais com o
nome do maquinista João Ferro, segundo ele, um dos introdutores do
pensamento de esquerda por aqui. “Ele sustenta uma discussão com a elite
do pensamento de Alagoas sobre o que é socialismo em 1902”, explica
Sávio.
Seguindo
em ordem cronológica, Sávio faz referência ao nome de Francisco de
Paula Leite e Oiticica (1853-1927) e seu texto de título quilométrico:
Memorial Biográfico do Comendador José Rodrigues Leite Pitanga. “Se o
cabra não ler, vai ficar muito difícil entender Alagoas. Hoje seria
considerado um texto de direita. Mas é imperdoável querer, por conta
desse tipo de balizamento, deixar de dizer que é uma obra-prima”,
ressalta. “É um artigo publicado em três números na Revista do Instituto
Histórico. É fantástico! Extraordinário! O cara escreve sabendo que
está em cima de um palanque, de uma plataforma política. Tem que ser
lido sim”, observa Sávio.
O
historiador Nicodemos de Souza Moreira Jobim (1836-1913) é outro nome
que integra a lista do pesquisador. Ele não lembrava o título do volume
por ser muito extenso, mas a Gazeta trouxe para o leitor. Lá vai:
História de Anadia em princípio arqueológico, contendo a descrição
topográfica, nomes de todos os funcionários públicos, biografia de
alguns de seus representantes, anais da igreja, genealogia das
principais famílias da província que nela têm origem, remontando-se ao
quinto grau em ascendência e crônica minuciosa de todos os
acontecimentos, desde 1801 (publicado em 1881).
“Esse
cara é fundamental pela chacoalhada que ele dá no tipo de história que
era feita. Ele baseia a história dele na história oral, em coisas que só
agora são valorizadas. É genial pela audácia na forma de construir o
texto com condições de informação que na época não tinham prestígio
científico”, analisa ele. De acordo com Sávio, no texto de Nicodemos
percebe-se a intelectualidade que vivia contida pela forma de
organização da sociedade.
Sigamos
mais um pouco à frente, até chegar ao deputado estadual, juiz de
direito e promotor Wenceslau de Almeida (1883-1936), outro escalado na
seleção de Sávio de Almeida. “Ele representava o saber local, o erudito
local. Era considerado um grande historiador, mesmo sem ter saído de
Capela. Esse cara produziu textos que mostram como era a boa erudição
local ligada aos documentos”.
Vale
ressaltar que o historiador Sávio de Almeida não se ateve aos títulos
específicos dos nomes citados. Para ele, há que se ler a obra completa
do autor.
Depois
de falar de Wenceslau de Almeida, Sávio cita Théo Brandão como mais uma
leitura fundamental para a elucidação do enigma alagoano. “O Théo foi
um dos melhores do Brasil. Eu não estou dizendo que eu concordo com ele,
estou dizendo que ele é um dos melhores que eu já li em toda a minha
vida, no tipo de coisa que ele fazia. Ele tem que ser lido.
Especialmente a introdução do livro dele, Folguedos Natalinos.
Brilhante!”, diz, aproveitando para incluir outro nome no rol das
leituras cruciais sobre Alagoas: Manuel Diégues Júnior. “A influência do
Diégues Júnior em Alagoas jamais foi estudada. Esse homem teve uma
importância vital na formação da melhor intelectualidade em Alagoas. Eu
estou falando do livro O Bangüê nas Alagoas”.
Sávio
não deixa de citar também o que ele define como “duas contrapartidas de
Théo Brandão”, que são Félix Lima Júnior (1901-1986) e Abelardo Duarte
(1900-1992). “O velho Félix é a classe média falando. Ele recupera a voz
da classe média”.
Em
seu roteiro Sávio de Almeida faz questão de mencionar o historiador
Moacir Medeiros de Santana, membro do Instituto Histórico e Geográfico
de Alagoas, da Academia Alagoana de Letras e à frente do Arquivo Público
de Alagoas desde 1961. Com mais de 50 obras publicadas sobre Alagoas e
várias outras no prelo, Santana é apontado por Sávio como um autor
fundamental dentro da bibliografia sobre o Estado.
“O
Moacir é uma espécie de virada em Alagoas. Ele tem textos fundamentais
sem os quais não se entende isso aqui. O segundo capítulo do livro dele,
chamado Uma Associação Centenária: História da Associação Comercial de
Maceió, tem que ser lido”, diz Sávio, que chama a atenção ainda para
outro título produzido por Moacir Santana, Contribuição à História do
Açúcar em Alagoas (de 1970). “Ele tem coisas importantíssimas. O Moacir é
um brilhante historiador”, observa.
Sávio
põe Moacir Santana no mesmo patamar de Dirceu Lindoso ao afirmar: “Quem
também dá uma contribuição importante e é tão bom quanto o Moacir é o
Dirceu Lindoso. São duas vertentes diferentes. O homem que vai em busca
da documentação, que é o Moacir, e o homem que vai atrás da análise e da
interpretação, que é o Dirceu Lindoso. Os dois são os mais importantes
da nossa geração”, sentencia.
O
historiador segue enumerando nomes e títulos e não perde a oportunidade
de citar a letra do frevo Nega Juju como um dos textos mais importantes
da história alagoana. “O autor desse frevo é o primeiro cara que
entende que folia pode ser geografia”, diverte-se ele. “Veja que eu não
estou falando de ninguém consagrado. Eu não estou falando de Graciliano
Ramos, nem de Lêdo Ivo. Já se falou demais. Eu estou puxando quem é
fundamental e em quem ninguém mexe”, diz, ao explicar suas indicações.
Dos
nomes contemporâneos, Sávio prefere não citar ninguém da safra da
produção intelectual acadêmica - mais especificamente os estudiosos
ligados à área da pós-graduação. “A pós-graduação veio para colocar
todos em um mesmo nível. Nessa situação de hoje, você não tem nomes que
se distanciem. Eu me incluo entre eles. Os que se sobressaem na
pós-graduação são os gênios. E aqui nós não temos gênios”, completa o
historiador, embora não deixe de enxergar uma nova geração de estudiosos
e pesquisadores vindo por aí. “Alguns deles serão fundamentais para o
pensamento alagoano”, acredita.
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Um olhar sobre o Baixo São Francisco
Há 16
anos em Maceió e há mais de dez estudando o Baixo São Francisco, a
socióloga e cientista política mineira Evelina Antunes Oliveira está
entre os vários pesquisadores de outros Estados do Brasil que têm
Alagoas como objeto de estudo.
Evelina
acabou de publicar o resultado de parte de uma pesquisa que desenvolve
em algumas regiões ribeirinhas do Rio São Francisco, entre os municípios
de Piranhas (AL) e Paulo Afonso (BA). Seu trabalho Nos Trilhos da
História do Baixo São Francisco: Um Ensaio sobre a Estrada de Ferro
Paulo Afonso, publicado numa reunião de textos sobre o Velho Chico
chamada Rio Sem História? Leituras sobre o Rio São Francisco recebeu
muitos elogios, inclusive do historiador Sávio de Almeida, que o
classificou como uma grande contribuição para a história alagoana
daquela região.
COMEÇO DE CONVERSA
Antes
de dar início à lista das obras que elege como essenciais para pensar
Alagoas, a socióloga trata de avisar: “Eu sou uma pesquisadora. Não
tenho compromisso político e ideológico de enaltecer determinadas
correntes. A minha função de pesquisadora é pensar sobre Alagoas, pois é
aqui que eu trabalho. O local de nascimento do autor é o que menos me
importa. A mim importa a reflexão que ele fez sobre Alagoas”.
Dos
autores do século XIX, ela começa citando o médico e jornalista Tomás
Espíndola (1832-1889) e o seu Geografia Alagoana; Descrição Física,
Política e Histórica da Província de Alagoas (1860). Evelina ressalta a
universalidade do livro de Espíndola e a maneira pela qual o estudioso
aborda os vários aspectos da geografia tratada.
Tavares
Bastos também serve de fonte para seus estudos. “Ele é da área do
Direito, mas dá pistas importantes e bonitas sobre a sociedade alagoana
de sua época. Ele tem considerações de natureza nacional que nos ajudam a
pensar o que poderia estar acontecendo aqui”, explica.
O
livro Introdução à Antropologia, do alagoano Arhur Ramos, é outro
citado pela pesquisadora. “O objeto dele também é nacional, não local,
mas é lógico que ele contribuiu para a intelectualidade local”, diz ela,
também citando Sobrados e Mocambos, do pernambucano Gilberto Freyre.
“Ele qualifica com muita propriedade as relações sociais que se deram no
Nordeste, e Alagoas é Nordeste. Não dá para pensar o que acontece em
Alagoas sem pensar o que acontece no Brasil”, observa.
Outro
alagoano cujos trabalhos servem de base para as pesquisas de Evelina é
Adalberto Marroquim, com seu Terra das Alagoas (1922). “Foi uma boa
lanterna para iluminar minhas pesquisas sobre o Baixo São Francisco,
sobre a estrada de ferro de Paulo Afonso. Eu estava querendo entender o
que acontecia ali, naquela época”, diz. “É uma descrição, um mapa. É
muito interessante também você ver o estilo de redação da época. Ele tem
considerações interessantes sobre cada município alagoano do começo do
século XIX”, comenta. Theodoro Sampaio é mais um nome imprescindível
para quem pretende conhecer o Baixo São Francisco, segundo a
pesquisadora.
Contemporâneos
Dos
autores contemporâneos, Evelina cita o historiador Luis Sávio de
Almeida como uma das principais fontes de sua pesquisa. Os estudos sobre
as ferrovias alagoanas de Douglas Apratto Tenório, de 1977, também são
mencionados pela socióloga, assim como Alberto Saldanha e seu estudo
sobre o movimento estudantil no Estado.
Evelina
faz questão de incluir em sua lista nomes de pesquisadores e estudiosos
que, para ela, desenvolvem trabalhos fundamentais sobre Alagoas e
concentram seus estudos nesse pedaço de terra do Nordeste. São eles:
Maria do Carmo Vieira, mineira, socióloga, com livros publicados sobre
questões ambientais no complexo lagunar Mundaú-Manguaba; Regina Marques,
Alice Plancherel, Bruno César e Raquel Rocha; Cícero Péricles e
Fernando Lira (na área de Economia); Maia Cecília Lustosa, Paulo Décio
de Arruda Melo,Regina Dulce Lins, Maria Angélica Silva, Ruth
Vasconcelos, Siloé Amorim, Silvia Martins e Nara Salles. LM
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Bruno César e a lista dos "dez mais"
Citado
por alguns dos estudiosos entrevistados pela reportagem como um dos
principais nomes da pesquisa sobre a cultura alagoana, o professor Bruno
César Cavalcante listou dez títulos os quais considera essenciais para o
conhecimentos sobre o território alagoano, embora tenha feito algumas
ressalvas.
“A
informação de e sobre Alagoas, ao menos nesses últimos 50 ou 60 anos,
não mais está disponível em obras de síntese”, afirma ele. “De modo que
não há ‘o livro’ que nos explique, que nos dimensione em várias frentes.
Temos um ensaísmo constante, e de qualidade, mas deixamos de produzir
obras do tipo ‘A História das Alagoas’, ou ‘A Civilização de Alagoas’ e
similares”, diz.
“Histórias” diferentes
Dos
autores alagoanos o pesquisador cita Sávio de Almeida, Dirceu Lindoso e
Douglas Apratto quando o assunto é história política. “No passado,
poderíamos dizer o mesmo de gente como Hugo Jobim ou José Prospero
Caroatá; e até de viajantes estrangeiros que deixaram suas descrições
mais rápidas ainda, a exemplo de Gardner, Ave-Lallemant e outros”,
compara. Para a história econômica ou a sociedade formada em torno da
economia do açúcar, Bruno cita Moacir Santana, Manuel Diégues Jr. e
ainda Manuel Correia de Andrade.
No
segmento da cultura e do folclore, o pesquisador lembra os nomes de
dois das escolas de Viçosa e Maceió. “É o caso de autores como Abelardo
Duarte e Théo Brandão. Aí, nada temos que não uma imensa produção muito
especificada, às vezes de um único folguedo, sem nenhuma análise com
alcance que mereça ou justifique a inclusão numa lista tão pequena. O
mesmo vale para os estudos étnicos, onde, aliás, há também bons estudos
isolados”, justifica.
A
lista de livros do pesquisador é encabeçada por Formação de Alagoas
Boreal, de Dirceu Lindoso. “É o livro mais belo, ao menos o mais
agradável de ler, sobre a história alagoana, mesmo que não seja o mais
amplo. Um livro para apaixonar o leitor pelos temas que descreve”.
Depois vem mais uma obra de título gigantesco: Idéa da população da
capitania de Pernambuco e das suas annexas, extenção de suas costas,
rios, povoações notáveis, agricultura, número de engenhos, contractos e
rendimentos reaes, augmento que estes tem tido & &, desde o anno
de 1774 em que tomou posse do Governo das mesmas Capitanias o
Governador e Capitam General José Cezar de Menezes (na grafia original),
de José Cezar de Menezes. Segundo Bruno, o escrito vale por seu
pioneirismo e antigüidade na descrição da paisagem local.
Seguindo
o roteiro de Bruno César Cavalcante, surgem ainda Geografia Alagoana,
ou Descrição Física, Política e Histórica da Província das Alagoas, de
Tomás Espíndola, Opúsculo da Descrição Geographica e Topographica,
Phizica, Política e Histórica do que Unicamente Respeita à Província de
Alagoas no Império do Brasil, de Hum Brasileiro, que talvez tenha sido
escrito pelo Presidente da Província de Alagoas, Antônio Joaquim de
Moura, Adalberto Marroquim, com seu Terra das Alagoas, lançado em 1922 -
segundo Bruno “uma viagem imagética ao passado; um deleite visual antes
de tudo” -, e O Bangüê nas Alagoas, de Manuel Diégues Júnior.
Dirceu e Jorge de Lima
O
pesquisador Dirceu Lindoso e o seu A Utopia Armada também faz parte da
lista e é considerado um dos títulos fundamentais para o estudioso.
“Junto com a tese de doutoramento de Luiz Sávio [ainda inédita], é obra
importantíssima por incluir os pobres [índios, caboclos e negros] também
como atores da nossa história e da historiografia de e sobre Alagoas”.
Geografia
de Alagoas, de Ivan Fernandes Lima, também comparece no conjunto de
Bruno César, juntamente com outras obras do autor, igualmente
importantes, como Maceió, Cidade Restinga e Ocupação Territorial de
Alagoas.
Moacir
Santana é citado por seu livro História do Modernismo em Alagoas. “Esse
livro é a melhor fonte para se apreciar as relações entre a vida
provinciana e os movimentos artístico-literários do Brasil, nas
primeiras décadas do século”. Calunga, de Jorge de Lima, completa a
lista das obras básicas para a compreensão de Alagoas, segundo Bruno
César Cavalcante. |LM
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Luitgard Cavalcante e o legado dos literatos
De sua
casa, no bairro de Laranjeiras, na capital carioca, a antropóloga
alagoana Luitgard Cavalcante Barros também topou o desafio de apontar os
autores e os livros fundamentais para o entendimento da chamada “terra
dos caetés” (ou seria “terra dos marechais”?). Enquanto organizava a
confusão de papéis em sua mesa de trabalho, ela foi traçando a
bibliografia que considera basilar para a compreensão da formação do
Estado.
“A
Solidão dos Espaços Políticos, de Luis Nogueira Barros”, começa,
citando o ensaio político do médico nascido em Pão de Açúcar, publicado
em 1988. “É um livro muito interessante para se conhecer Alagoas”, diz.
Outra fonte primordial, segundo ela, são os Relatórios de Províncias no
Brasil, que podem ser encontrados na Biblioteca do Congresso Nacional.
“Muita gente está bebendo dessa fonte”, comenta, dando o caminho das
pedras para os pesquisadores desavisados. Viçosa das Alagoas, de Alfredo
Brandão, recém-lançado em edição fac-similar estão nesse conjunto,
junto com os escritos do professor Hélio Gazaneo.
Para
ela, a literatura alagoana representada por Graciliano Ramos, Jorge de
Lima, Lêdo Ivo e Breno Accioly “dizem demais sobre Alagoas”. Luitgard
diz que, antes dos historiadores, os literatos resolviam o problema.
“São Bernardo e Vidas Secas são importantíssimos. Angústia é Maceió”,
diz. “Calunga, de Jorge de Lima, é essencial”, avalia.
O
tio do contista Breno Accioly, Tadeu Rocha, e seu trabalho sobre
Delmiro Gouveia, é citado por Luitgard como referência para o
entendimento das relações sociais no sertão alagoano. A Utopia Armada,
de Dirceu Lindoso, também entra na lista da antropóloga. Da história
para o teatro, as peças de autoria de Pedro Onofre seriam mais uma
indicação na busca dos caminhos para o entendimento do nosso Estado. E
mais: Pontes de Miranda, Abelardo Duarte, Moacir Santana, Mário
Marroquim, Medeiros Neto, Pedro Costa Rego, o poeta Aloísio Branco, o
jurista Guedes de Miranda, o historiador Moreno Brandão, as crônicas de
Arthur Ramos, Ernesto Senna, Douglas Apratto, Otávio Brandão e Walter
Pedrosa. |LM
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Dirceu Lindoso busca fontes d'além mar
Citado
por boa parte dos estudiosos consultados, o professor Dirceu Lindoso é
hoje uma unanimidade entre os principais nomes que se debruçam sobre
Alagoas. Autor de títulos fundamentais que ajudam a desvendar episódios
da nossa história, a exemplo de A Utopia Armada e Formação de Alagoas
Boreal, o pesquisador nascido em Maragogi listou alguns livros e fontes
nas quais, segundo ele, encontram-se guardados os registros necessários
para a compreensão de seu Estado natal.
Lindoso
aponta fatos para ele cruciais, cujo entendimento é imprescindível para
a compreensão de Alagoas. O processo de formação das cidades de Penedo,
Anadia, Viçosa e Maceió é parte essencial desse quebra-cabeças, segundo
o pesquisador. A Guerra dos Bárbaros (o levante das tribos confederadas
Tapuias) e o que ele denomina de Guerra dos Palmares também seriam
episódios importantes para esse processo.
“Livros
sobre a história de Alagoas quase não há. O que existe é documentação.
Os documentos sobre a Guerra dos Palmares estão todos em Portugal”,
afirma Dirceu. “Tem gente que fala que eu sou inventivo, mas eu
pesquisei e li essa documentação”, diz ele.
“Se
você estudar a destruição de Palmares, você vai ver que o motivo foi a
terra, que era muito fértil naquela região. Essa história de que os
negros se suicidaram pulando de penhascos não existe. Eram mais de 30
mil negros e a maior parte foi vendida para o sul do Brasil e para a
América Central”, conta.
Pioneirismo
Dirceu
garante que foi ele o primeiro a tocar no assunto de que havia uma
cultura alagoana - o termo cultura era tratado de outra forma. Ele
afirma também que é pioneiro em Alagoas no uso do método de pesquisas
históricas antropológicas. “Eu trouxe esse método novo de estudar a
cultura alagoana que os outros historiadores não tinham”, observa.
Segundo
Lindoso, grande parte dos documentos históricos sobre Alagoas estaria
na Europa. As informações sobre todas as tribos de índios que habitavam
as regiões de Penedo até o alto sertão alagoano estão no Arquivo de
Évora, em Portugal. O pesquisador conta ainda que o Arquivo das Índias
Ocidentais, na Holanda, também guarda informações sobre a população
indígena dos primórdios de nossa formação.
Nos
acervos de São Petesburgo, Torre do Tombo, Portugal, Leningrado,
Luanda, Uidá, na Nigéria, e Moçambique estariam guardados, segundo
Lindoso, documentos importantes sobre a história de Alagoas. “Essas são
as minhas fontes. São diferentes das fontes de outros pesquisadores
daqui”, explica. “A nossa história não começa aqui”.
Da própria lavra
Quanto
aos livros, Dirceu começa indicando os seus: A Utopia Armada: Rebelião
de Pobres na Mata do Tombo Real, A Interpretação da Província e Formação
de Alagoas Boreal. O pesquisador diz considerar o livro de Manuel
Diégues Júnior, O Bangüê nas Alagoas, um dos principais. Cita também
Jaime de Altavila, Cristiano Barros, Théo Brandão, especialmente seu
estudo sobre o pastoril, e Otávio Brandão.
Sobre
Alfredo Brandão, ressalta Viçosa das Alagoas e a sua conferência no
Congresso de Cultura Negra do Recife, de 1934. Dirceu critica Próspero
Caroatá, embora ache sua leitura fundamental. “Ele fala tanta coisa, mas
não cita os negros como parte da população. É a história vista do copiá
da casa grande”, observa. LM
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Moacir Santana começa com Bangüê nas Alagoas
Autor
de mais de 50 obras sobre a história alagoana e seus personagens, membro
do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Alagoana
de Letras, Moacir Medeiros de Santana escreveu obras importantes para a
compreensão da formação histórica de Alagoas. À frente do Arquivo
Público de Alagoas há mais de 40 anos, o historiador também listou as
obras e documentos segundo os quais é possível entender a verdadeira
alma alagoana.
Ele
começa citando O Bangüê nas Alagoas, de Manuel Diégues Júnior, e lembra
da visita que fez ao escritor em seu apartamento, no bairro de
Botafogo, no Rio de Janeiro, em 1969. “Ele morava na Rua da Matriz, em
Botafogo, numa casa alugada”, conta Moacir.
“Outra
sumidade se chama Luis Sávio de Almeida”, diz Moacir Santana, citando
Crendices e Superstições em Alagoas, O Negro e a Construção do Carnaval
no Nordeste e Alagoas nos Tempos do Cólera, Comeram Dom Pero Fernandes
Sardinha e Dois Dedos de Prosa com os Karapotó. “Este homem é uma
enciclopédia ambulante”, comenta, sobre Sávio.
Craveiro
Costa (1874-1934) é outro considerado fundamental por Moacir Santana,
de quem aponta os livros O Indicador Geral do Estado das Alagoas (1902) e
Biografia do Visconde de Sinimbu (1937). “Ele era um funcionário
público que tinha uma redação maravilhosa”.
A
Geografia Alagoana, de Tomás Espíndola, também entra na sua lista,
assim como Alfredo Brandão, Otávio Brandão e Théo Brandão, especialmente
O Folclore de Alagoas (1949). O jornalista e crítico literário Valdemar
Cavalcanti (1912-1982) seria importante para o conhecimento da vida
artística e literária de Alagoas. Dele, Moacir indica Jornal Literário
(1960), 14 Poetas Alagoanos e suas colaborações em jornais da capital.
Ainda no terreno literário, o historiador menciona Calunga e O Mundo do
Menino Impossível, de Jorge de Lima, e a obra de Graciliano Ramos, onde
estariam contidos aspectos relevantes de Alagoas.
Moacir
fala ainda do que ele chama de “livros ferramentas” ao citar os Anais
da Biblioteca Nacional e o Dicionário de Victorino Blake, onde constam
indicações importantes sobre publicações e onde elas podem ser
encontradas. O ABC das Alagoas, de Francisco Reinaldo Amorim de Barros,
um dicionário biobibliográfico, histórico e geográfico de Alagoas,
lançado este ano pela editora do Senado Federal, é outra obra a ser
consultada por quem pretende conhecer Alagoas, segundo Santana. |LM
Fonte: novoirisalagoense.blospot.com - Editado por Golbery Lessa
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