OS HOLANDESES NO BRASIL
O texto a seguir apresenta uma introdução aos
aspectos históricos relativos a um período específico da história do Brasil no
qual, parte da região nordeste brasileiro esteve sob dominação holandesa, onde
se fez necessária a emissão de moeda corrente, que se tornou a primeira emissão
de dinheiro em território brasileiro. Ao mesmo tempo, o texto sugere um
complemento às grandes obras já editadas por: Dr.Gastão N.T.T. Dessart, Lupércio
Gonçalves Ferreira, Kurt Prober e José Antonio Gonsalves de Mello e outros, sem
a pretensão de contradizê-los, ou mesmo, criticar estudos de grande profundidade
científica, elaborados por fontes fidedignas baseadas em arquivos da época. Esse
texto também pretende apresentar duas moedas no valor de XII florins de 1645,
cunhadas com o mesmo cunho “aparentemente inédito” e outra, no valor de III
florins, também com cunho “inédito” citados nas antigas obras, mas que sua
confirmação somente foi possível após o “achado” do galeão “UTRECHT” em 1981.
UMA SÍNTESE HISTÓRICA
A curta passagem dos holandeses pelo Brasil foi
marcada por um grande avanço não só do comércio ultramarino, mas também nas área
da cultura, ciência e tecnologia. Foi também um período tumultuado nas questões
políticas e sociais, de 1624 a 1654. Por três oportunidades, os holandeses
procuraram firmar sua presença no Brasil. Duas tentativas na Bahia, nos anos de
1624 e 1638 e uma transitoriamente bem sucedida em Pernambuco, em 1630. Essas
localidades foram os principais marcos definidos pela estratégia militar
holandesa que se utilizou de uma empresa, com o privilégio de comercializar na
América e África à semelhança do que já ocorria no Oriente. Essa empresa
denominada Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais (Geoctroyeerde
West-Indische Compangnie) objetivou uma ocupação de parte da maior colônia
luso-espanhola das Américas. Com o privilégio de exploração por 24 anos, logo
reuniram-se recursos, cuja cifra se aproximou de sete milhões de guilders, dos
quais 2.846.582 guilders vieram de investidores que viviam em Amsterdam.
A idéia dessa iniciativa ocorreu por meio de
reuniões do Conselho dos XIX - dessa Companhia, e que provavelmente fez parte de
um plano maior apresentado aos Estados Gerais da União dos Países Paixos visto
que, após a incorporação de Portugal à Coroa de Castela em 1580, os holandeses
sentiram-se prejudicados e ameaçados - uma vez que cidades como Lisboa, Porto e
Viena suspenderam seu comércio de produtos exóticos, madeira, tabaco e açúcar,
passaram, então, a atacar os domínios da coroa espanhola, na África e no Novo
Mundo, priorizando o contato direto com fontes produtoras na América. A intensão
inicial da W.I.C não priorizava a exploração das plantações de açúcar no Brazil.
A Companhia das Índias Ocidentais preparou uma esquadra de 26 navios com 1600
marinheiros e 1700 soldados que, sob o comando do almirante Jacob Willekens
dirige-se ao Brasil e, em 9 de Maio de 1624, invade a Bahia. No porto,
encontravam-se 15 navios portugueses, dos quais 7 são destruídos e 8 apoderados
pelos holandeses. O governador Diogo Mendonça Furtado é levado à Holanda,
assumindo o governo local, o Coronel Johan van Dorth, assassinado em uma
emboscada em 17 de junho de 1624.
Confiantes de que tal operação havia firmado
seu domínio no Brasil, em São Salvador na Bahia, a esquadra partiu. No fim de
Julho de 1624 o almirante Jacob Willekens retorna à Holanda. Em 5 de agosto de
1624 , o vice-almirante Pieter Pieterszoon Heyn ou Piet Heyn se dirige para
Angola com os navios Neptunus, Hollandia, Gelderlandt, os yachts Zeejaegher em Meremin e os barcos a vela Haes e Cleyn Neptunus.
De Angola Piet Heyn parte em Fevereiro de 1625
para retornar ao Brasil. Em 3 de Março de 1625 o conselho dos
oficiais navais
havia decidido retornar à província do Espírito Santo, com
intuito de verificar a possibilidade de alguns navios se apossarem do
local . Em 13 de Março de 1625, Piet Hey desembarca com 250 homens,
porém, é vigorosamente repelido pela
população local e pelas tropas de Salvador Corrêa de Sá e Benevides,
com 250 homens brancos e índios em quatro canoas e uma caravela que seu
pai Martim de
Sá, governador do Rio de janeiro, mandara em seu auxílio.
Derrotado, o imediato do almirante Jacob Willekens, que atacara a Bahia,
foi enviado para o Caribe
para atacar vários pontos da costa americana, mais precisamente
o México (Nova Hispania). Em 1628 Piet Heyn estava liderando uma frota
de 20 grandes navios e 11 yachts. Em Setembro, sua frota havia tomado
cerca de 15 navios mercantes espanhóis em Matanzas Bay, apossando-se da
prata que ia do México para Espanha, como valor em torno de 13 a 14
milhões de guilders, dos quais cerca de 7 milhões de guilders em prata.
Esse montante foi fundamental para preparar a expedição que objetivava o
retorno ao Brasil com a conquista de Pernambuco.
Ainda, na Bahia, organiza-se uma resistência
que poria fim ao domínio holandês na região, pelo período de
aproximadamente 1 ano. Outras tentativas como a de Pieter Pieterszoon
Heyen de 1627 que saqueou o Recôncavo baiano se seguiram, o que
estimulou a W.I.C. em promover novos ataques
contra o Brasil, porém achava-se sem fundos, e dessa forma não se
arriscaria a outra grande expedição, com tropas de desembarque se não
houvesse um reforço financeiro, que só ocorreu graças a uma vitória
naval, promovida pela frota de Piet Heyn, contra D. Juan Benevides, que
tomou vários galeões e cujo montante se aproximava de nove milhões de
ducados. As riquezas naturais da Capitania de
Pernambuco (Zuikerland - Terra do açúcar) no início do séc. XVII já eram
bastante conhecidas pelas grandes potências da época. Os Países Baixos
necessitavam do açúcar que era produzido no Brasil para suas refinarias,
cuja produção de 121 engenhos de açúcar, em Pernambuco, despertou o
interesse dos diretores da Companhia que, com o apoio da Inglaterra e
França, rancorosos
inimigos da Espanha mandaram armar uma extraordinária esquadra de 67
navios e 7.280 homens dos quais 2.325 eram soldados e 2515 marinheiros,
sob comando do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck.
A 15 de fevereiro de 1630, inicia-se a operação
comandada pelo almirante Hendrick Corneliszoon Lonck e sob seu
comando está o
almirante da frota Pieter Adriaensz. Ita, o vice-almirante
Joost banckert e
comandando as tropas o coronel Diederick van Waerdenburch que
apresentam-se nas
costas de Pernambuco. Objetivando atacar a cidade de Olinda - a
mais importante
cidade da região, naquela época, a esquadra de 16 navios, sob o
comando de
Waerdenburch, desembarca em Pau Amarelo, com um contingente de
2948 soldados e
300 marinheiros de apoio. Olinda é conquistada sem opor
resistência. Os
pernambucanos se organizam e remetem sucessivos ataques de
guerrilhas aos
invasores, impedindo-os de prosseguir com sua dominação ao
interior. Nesse
ínterim, os holandeses conseguem construir um forte na extremidade da
ilha de
Itamaracá e o guarnecem com 360 homens sob o comando do capitão
polonês conhecido como Arciszewski (1592-1656). Em Abril de 1631,
inicia-se uma operação sob o comando do almirante Adriaen Jansz. Pater a
frota com 15 navios
e 3 big sloops e 7 barcos e 1260 soldados comandados pelo
tenente-coronel Hartman Godefrid van Steyn Callenfels, porém, supondo
que as forças portuguesas que haviam derrotado uma esquadra-reforço
enviada pela Companhia fossem muito numerosas, incendeiam Olinda e
pensam em abandonar Pernambuco.
Em 1632, porém, com auxílio do mameluco
Domingos Fernandes Calabar, rompem o cerco formado pelos portugueses e,
em sucessivas vitórias, dilatam o domínio holandês em solo brasileiro.
Finalmente, em 1633 a ilha de Itamaracá é conquistada por Sigismund
von Schkopp. Em janeiro de 1637, o governo holandês julga seu domínio
firmado e escolhe um local onde fundam Recife como sede de seus domínios
no Brasil, por ter, nessa localidade, a segurança que não dispunham em
Olinda. A Recife holandesa possuía rios e canais muito similares aos que
os holandeses estavam acostumados em sua pátria. Olinda situa-se e
região montanhosa, muito semelhante as cidades portuguesas. O Conselho
dos XIX da Companhia das Índias Ocidentais enviam, então, um príncipe da
família reinante, o conde João Maurício de Nassau-Siegen, para ocupar a
função de governador-geral do Brasil Holandês.
O BRASIL NASSOVIANO
O conde Maurício de Nassau aportou em
Pernambuco, em 23 de janeiro de 1637 e trouxe em sua comitiva, não um
exército, mas uma verdadeira missão artística e científica, o que até
hoje desperta a aten ção dos estudiosos desse período. Ao chegar ao
Brasil, o conde Maurício de Nassau-Siegen procurou imediatamente
estabelecer a segurança da colônia holandesa, reunindo um exército capaz
de afastar as tropas luso-brasileiras para o outro lado do Rio São
Francisco, na Bahia. Maurício de Nassau estabeleceu na margem esquerda
do Rio São Francisco o limite sul da conquista, o Forte Maurício na
Vila do Penedo.
O conde de Nassau-Siegen estava pronto para
se
dedicar à tarefa de restabelecimento econômico da colônia,
restaurando a indústria açucareira que, com o abandono dos engenhos
pelos antigos proprietários luso-brasileiros e dos estragos causados
pelas seguidas guerras, encontravam-se em ruínas. Em 1640, Portugal
reconquista sua independência, com a expulsão dos Felipes da Espanha e a
assunção ao trono do nobre João de Bragança, dessa forma D. João IV,
procura desde cedo, retomar as relações de amizade com todas as
potências inimigas da monarquia espanhola.
Em 12 de junho de 1641, Portugal celebra
com a Holanda um Tratado de Aliança Defensiva e Ofensiva, porém, o
Tratado não tem efeito nas colônias portuguesas, em poder dos
holandeses,pois o governo holandês no Brasil recebe a notícia somente em
3 de Julho de 1642. Nesse ínterim, aproveitando-se das circunstâncias, o
conde Maurício de Nassau-Siegen amplia os domínios de seu governo e
ocupa Sergipe, Ceará e Maranhão, contudo pouco depois, em 28 de
fevereiro de 1644, os holandeses são expulsos do Maranhão e concentram
suas atenções em Pernambuco. Durante a administração do conde Maurício
de Nassau-Siegen, o progresso vigorou de forma impressionante.
As
fronteiras foram finalmente estabelecidas do Maranhão à foz do Rio São
Francisco. A cidade do Recife passou por inúmeros melhoramentos
urbanísticos, como a instalação de duas pontes de grandes dimensões - a
primeira ligando Recife à ilha Antônio Vaz e a outra da ilha Antônio Vaz
ao continente. Supostamente essas foram as primeiras pontes construídas
no Brasil.
Nesse período, Nassau construiu o palácio
de Friburgo e a Casa da Boa Vista - um Horto Zoobotânico. Instalou o
primeiro Observatório Astronômico das Américas e diversas outras obras
de infra-estrutura, como nunca havia se visto na região.
A 22 de maio de 1644, o conde Maurício de
Nassau retorna à Europa, após sete anos de governo, por pressão
da Companhia das Índias Ocidentais, que desejava imprimir à colônia
rumos distintos a seus desejos. Nassau era um mecenas e desejava formar
do Brasil holandês, uma nação próspera e forte, governando com justiça e
sabedoria. Procurou expandir o comércio, as artes, a indústria e as
profissões liberais; incentivou a lavoura e a pecuária. Porém, seu
programa de governo, ocasionaria despesas e reduziria os recursos
imediatos da Companhia e, por isso, foi desprestigiado .
A finalidade da Companhia era retirar o
máximo proveito financeiro da colônia, pouco importando o progresso ou o
futuro da mesma, arrancando-lhe tudo o que podia. Após a retirada de
Nassau, a W.I.C. passou a extorquir os moradores locais e portugueses.
Os colonos, então, procuram salvar suas economias enterrando-as no
interior das florestas, o que provocou, cada vez mais, a falta de
dinheiro em circulação. Para minimizar essa situação caótica, a
Companhia enviou para Pernambuco 27.000 florins em moedas de um soldo,
dois soldos e xelins; porém, a situação tornara-se irreversível.
Em 13 de junho de 1645, se inicia a
Insurreição Pernambucana e, com ela, avolumou-se cada vez mais a crise
monetária, tornando-a prontamente angustiante. O momento era de
entressafra do açúcar e não havia dinheiro suficiente nem para pagar as
tropas que eram compostas de mercenários de todas as nacionalidades e
que estavam à mercê dos ataques das tropas luso-brasileiras. Nesse
ínterim, foi declarada a guerra entre Holanda e a Inglaterra
(1652-1654). Esse fato favoreceu o Insurreição Pernambucana, visto que a
Holanda ficava impossibilitada de socorrer sua colônia no Brasil.
Aliás, o Conselho dos XIX da G.W.C. dificilmente enviava recursos à
colônia e não seria nesse momento que haveria de fazê-lo.
Para a Metrópole, os navios da Companhia da
Índias Ocidentais também transportavam ouro, proveniente da África,
mais precisamente da Guiné e, como se tratava de mercadoria valiosa,
todas as precauções eram tomadas para se evitar ataques de pirataria ou
naufrágios em alto mar. Os navios, que vinham da costa africana, faziam
escala em Recife, onde coletavam correspondências, abasteciam e
carregavam o navio de açúcar e pau-brasil e, quando conveniente,
depositavam, com segurança, caixas de ouro em pepitas ou em barras, até o
momento em que partindo um comboio de navios para a Europa, pudessem
ser transportadas com segurança para os cofres da Companhia, na Holanda.
A primeira vez em que se faz referência à
idéia de se cunhar moeda no Brasil pelos holandeses, está em relação às
necessidades militares e às dificuldades da tesouraria da Companhia das
Índias Ocidentais. Lutando com a falta de numerário, o Alto e Secreto
Conselho começou a vender e hipotecar as mercadorias que tinham em
depósito. Em ata de 21 de julho de 1645, o órgão supremo da
administração local da colônia brasileira descreve que já havia
disponibilizado a venda de aproximadamente 741 kg de ouro, retirados da
última remessa vinda da Guiné e, com a crítica situação em que se
encontravam, pela escassez de numerário face à necessidade de dispor de
dinheiro para o pagamento da milícia, serviços e víveres, resolve mandar
cunhar moedas de ouro de 12, 6 e 3 florins, tendo de um lado a marca da
companhia e do outro a data, dando-lhes um aumento de 20% no valor do
ouro, a fim de que as mesmas não saíssem do país e pudessem ser
recolhidas no futuro.
A decisão de se cunhar moedas só foi tomada
pelo Alto e Secreto Conselho na sessão de 18 de agosto de 1645. O
Conselheiro Supremo da W.I.C. , Pieter Jansen Bas, foi o encarregado da
produção das moedas brasileiras, mediante concessão formal e isento de
qualquer acusação futura. A cunhagem das moedas obsidionais começou
imediatamente, e a 14 de setembro de 1645 foram remetidos exemplares de
cada um dos valores ao Conselho dos XIX, na Holanda. Finalmente, a 10 de
outubro de 1645, Pieter Bas ordenou o início da cunhagem dos ducados
brasileiros para circulação local.
AS EMISSÕES DE 1645 E 1646
Em meados de julho de 1645, o navio Zeeland,
recém chegado da Guiné, transportava 360 marcos ou cerca de 309
quilogramas de pepitas de ouro. A Companhia das Índias Ocidentais, que
passava por uma situação de desespero, pois encontrava-se sitiada e
constantemente atacada pelos luso-brasileiros, resolveu retirar
aproximadamente 90 quilogramas, sem a autorização de seus superiores na
Holanda, para comercialização imediata ou transformação do metal em
moeda, com aumento de 20% do valor para posterior recompra e suprir,
dessa forma suas necessidades básicas como alimentação e pagamento dos
soldos dos mercenários contratados para sua proteção.
As moedas foram cunhadas nos valores de III, VI
e XII florins com as iniciais da Companhia e valor (dentro de um colar
de pérolas) no anverso e a palavra ANNO/BRASIL e data (dentro de um
colar de pérolas) no reverso. Legalmente, um Marco de ouro (247,047 g.)
de título 916 2/3, deveria fornecer na cunhagem, 32 moedas de XII
Florins ( com peso de 7,72 g. ou 5 engels) e, para as de VI e III
Florins, 64 e 128 moedas respectivamente,
com peso proporcional. C. Scholten, em trabalho intitulado “The Coins of
the Dutch Overseas Territories”, indica como peso legal, 7.690, 3.845 e
1.920 g., respectivamente, tomando por base o Marco de Amsterdam, que
tinha 246,084 g.
Os holandeses comercializavam o ouro da Guiné a
37 Florins por Onça, ou seja, 296 Florins por Marco. Cunhando as
moedas, apuravam um valor muito maior, já que as moedas entraram em
circulação com um valor superior a 20%. Infelizmente, para a G.W.C., o
ano de 1646 não foi diferente. Na realidade, o que se seguiu foi a maior
crise que a Companhia sofreu durante toda a ocupação em terras
brasileiras. A situação econômica e social agravou-se a tal ponto, que
não se avistavam animais de nenhuma espécie para saciar a fome da
população. Cavalos, aves, cães, gatos e ratos chegaram ao limiar de sua
extinção na região.
A exigüidade de moeda obrigou os holandeses a
repetir a operação de retirada de ouro dos navios que vinham da África
com destino à Europa. Em agosto de 1646, retiraram 405 marcos de ouro,
dos quais 50 foram vendidos a peso e 355 foram entregues ao Conselheiro
Pieter Jansen Bas, para a cunhagem de novas moedas obsidionais.
Utilizando-se do mesmo regimento, a “Instrução” de 10 de outubro de
1645, Bas convocou os mesmos ourives que realizaram o trabalho de
cunhagem das moedas, no ano 1645. Em 27 de agosto de 1646, deu-se o
início às atividades de cunhagem; porém, com grande dificuldade, face à
péssima qualidade e capacidade dos cadinhos para fundição do ouro e dos
equipamentos empregados.
Durante a cunhagem de 1646, pela documentação
oficial existente, foram abertos 16 novos cunhos, mas se verifica que
pela perolagem das moedas conhecidas, como autênticas, foram utilizados
18 cunhos. Devemos considerar que nesse período foram usados cunhos de
1645, devidamente restaurados. No entanto, há de se considerar que
somente os cunhos de anverso, por não apresentarem a data da moeda,
puderam ser restaurados e reaproveitados.
O “ACHADO” DO NAVIO UTRECHT
A permanência holandesa no Brasil, a cada dia
se tornava mais insustentável, a ponto das tropas remanescentes da
Companhia das Índias Ocidentais praticarem pirataria aos navios que
passavam nas costas do nordeste brasileiro. Estavam sitiados, e a
condição de penúria se agravava. Do livro "História das lutas com os
holandeses no Brasil", o autor Francisco Adolfo Varnhagen descreve a
situação vivida pelos holandeses nessa época:
"Depois da derrota que levara nos Guararapes, o
intruso holandês nada ousava empreender por terra. Apenas em maio, havia
feito reconhecimento do forte Altená, e depois do outro lado da
barreta, para conseguir algum prisioneiro do qual pudesse ter notícia do
que se passava no acampamento contrário. Pôr mar porém os seus brios se
redobravam, agredindo quanto podia, e isso apesar da falta de
inteligência entre os membros do Conselho e o vice-almirante Witte
Cornelis de With. Com uma esquadra de nove barcos de guerra, além de
vários de menor tamanho, o vice-almirante, a partir do mês de maio em
diante conseguiu capturar muitas presas. Em princípios de dezembro de
1648, Witte de With foi encontrar-se com alguns navios, pertencentes à
esquadra do conde de Castel-Melor, e conseguiu tomar um barco inglês
guarnecido por vinte e nove canhões, além de outro menor, e uma galeota
identificada por São Bartholomeu. Uma fragata portuguêsa, chamada Nossa
Senhora do Rosário, sustentou contra duas inimigas, o galeão Utrecht
comandado pelo capitão Jacob Pouwelz Cort e o galeão Gissiling um
violento combate, e quando essas julgavam por vencidas a atacara,
dando-lhe a abordagem, foram todas as três a pique, em virtude da
explosão provocada no paiol do Nossa Senhora do Rosário pelo capitão
português, que preferiu ir ao fundo com seus inimigos, a deixar-se
aprisionar pelos mesmos"
Outras referências informam que o yacht
Gijsselingh não se envolveu na batalha de Todos os Santos, ocorrida em
28 de setembro de 1648.
O navio Utrecht afundou na entrada Bahia de
Todos os Santos, na altura da Barra do Porte e da Barra Grande, próximo
à Ilha de Itaparica, e foi "achado" em 1981, conforme relato publicado
pelo grande estudioso numismata, Sr. Kurt Prober, no boletim da
Sociedade Numismática Brasileira de outubro de 1983. A quantidade de
moedas obsidionais achadas no galeão Utrecht não são precisas, uma vez
que na divisão oficial, que a moda do Quinto Colonial é de 20% para o
governo e 80% para os "descobridores", o Museu da Marinha Brasileira
recebeu duas moedas, uma moeda de III Florins de 1645 e outra de III
Florins de 1646, o que poderia se supor que foram encontradas 10 moedas,
porém, o que se observou, através de leilões especializados, é que a
história é bem diferente, uma vez que essa quantidade já foi superada.
De qualquer forma, não há como contestar o alto grau de raridade que
essas moedas possuem, pois diante dos fatos apresentados, até então,
acredita-se que o número total de moedas existentes, nos três valores,
não ultrapassa a marca de cem unidades.
AS CARACTERÍSTICAS DAS MOEDAS OBSIDIONAIS
A cunhagem das moedas obsidionais brasileiras foram realizadas com as seguintes características:
=> A abertura dos cunhos e a respectiva cunhagem ficou sob a responsabilidade de Joan Hendrich Bruynsvelt.;
=> Foram definidos os valores de XII, VI e III florins;
=> Forma retangular - era comum o uso de discos retangulares nas moedas obsidionais emitidos pelos Países baixos;
=> Peso: XII florins ( 7,72 a 7,57 g ), VI Florins ( 3,86 a 3,79 g ) e III Florins ( 1,93 a 1,90 g );
=> Data de 1645 e 1646;
=> O título das moedas é em média 918 milésimos, com possível liga de prata e cobre;
=> Os retângulos do metal foram obtidos por cortes de tesoura sem muitos cuidados, por esse motivo seus lados não são paralelos e alguns têm os cantos arredondados ou limados, provavelmente realizados para ajustar o peso dos discos (os holandeses não possuíam cilindros laminadores e nem tão pouco equipamentos adequados para uma cunhagem perfeita;
=> A aplicação dos cunhos foi feita a martelo (apesar de que desde 1547 os italianos já haviam inventado as prensas de parafuso, já usadas na Europa). Alguns exemplares não são perfeitamente nítidos, havendo com freqüência o deslocamento dos cunhos;
=> As dimensões são bem variadas para peças de mesmo valor, o mesmo é verificado quanto à espessura, uma vez que o mais importante era o peso real e não o tamanho ou espessura.
=> A abertura dos cunhos e a respectiva cunhagem ficou sob a responsabilidade de Joan Hendrich Bruynsvelt.;
=> Foram definidos os valores de XII, VI e III florins;
=> Forma retangular - era comum o uso de discos retangulares nas moedas obsidionais emitidos pelos Países baixos;
=> Peso: XII florins ( 7,72 a 7,57 g ), VI Florins ( 3,86 a 3,79 g ) e III Florins ( 1,93 a 1,90 g );
=> Data de 1645 e 1646;
=> O título das moedas é em média 918 milésimos, com possível liga de prata e cobre;
=> Os retângulos do metal foram obtidos por cortes de tesoura sem muitos cuidados, por esse motivo seus lados não são paralelos e alguns têm os cantos arredondados ou limados, provavelmente realizados para ajustar o peso dos discos (os holandeses não possuíam cilindros laminadores e nem tão pouco equipamentos adequados para uma cunhagem perfeita;
=> A aplicação dos cunhos foi feita a martelo (apesar de que desde 1547 os italianos já haviam inventado as prensas de parafuso, já usadas na Europa). Alguns exemplares não são perfeitamente nítidos, havendo com freqüência o deslocamento dos cunhos;
=> As dimensões são bem variadas para peças de mesmo valor, o mesmo é verificado quanto à espessura, uma vez que o mais importante era o peso real e não o tamanho ou espessura.
AS CARACTERÍSTICAS DOS CUNHOS DE 1645 E 1646
ANVERSO: Um círculo de pérolas, tendo ao
centro um
grande "W" entrelaçado com um "G" e um "C" (de dimensões
menores). Sobre esse monograma que representa as iniciais da
GEOCTROYEERDE WEST-INDISCHE COMPAGNIE (Companhia Privilegiada das Índias
Ocidentais) tem o respectivo valor expresso em algarismos romanos.
REVERSO: Um círculo de pérolas, tendo ao centro as
palavras ANNO / BRASIL, em duas linhas paralelas e abaixo a data 1645 ou 1646.
SOBRE AS CUNHAGENS “INÉDITAS”
Após a conclusão dos trabalhos publicados, até
então, não havia notícias de moedas cunhadas com alguns dos cunhos
descritos pela tabela do Dr. Gastão Dessart, o que veio ocorrer
justamente com as três peças que “apareceram” no mercado internacional
em 1997, portanto após o ”achado” do galeão UTRECHT, as quais descrevo a
seguir:
1. III Florins de 1645
A/ G.W.C – III, sem pontos ou marcas de cunho
Colar de 50 pérolas com 12,7 mm de diâmetro
R/ ANNO/BRASIL com losângo / 1645
Colar de 54 pérolas com 12,8 mm de diâmetro
Dimensões: 13 X 13,5 mm
Espessura:1 mm
Peso: 1,80 g
Identificação pela tabela do Dr. Gastão Dessart: 1º Cunho de Anverso e 2º Cunho de Reverso
Anverso Reverso |
2. XII Florins de 1645
A/ G.W.C – XII, com ponto abaixo da letra G e encostado na 1ª perna da letra W
Colar de 74 pérolas com 17 mm de diâmetro
R/ ANNO /BRASIL com losângo / 1645 e ponto acima da palavra ANNO
Colar de 53 pérolas com17 mm de diâmetro
Dimensões: 18,8 X 18,5 mm
Espessura: 1,9 mm
Peso:7,54 g
Identificação pela tabela do Dr. Gastão Dessart: 2º Cunho de Anverso e 1º Cunho de Reverso3. XII Florins de 1645 (similar a anterior) A/ G.W.C – XII, com ponto abaixo da letra G e encostado na 1ª perna da letra W
Colar de 74 pérolas com 17mm de diâmetro
R/ ANNO /BRASIL com losângo / 1645 e ponto acima da palavra ANNO
Colar de 53 pérolas com 17 mm de diâmetro
Dimensões: 19 X 18,5 mm
Espessura: 1,9 mm
Peso: 7,6 g
Identificação pela tabela do Dr. Gastão Dessart: 2º Cunho de Anverso e 1º Cunho de Reverso
Anverso
|
Reverso
|
EMISSÃO DE 1645/1646 – Quantidade de Cunhos Conhecidos
|
Denominação
|
Emissão
de
|
1645
|
Emissão de
|
1646
|
Cunho Anverso
|
Cunho Reverso
|
Cunho Anverso
|
Cunho Reverso
|
|
III Florins |
1
|
2
|
2
|
2
|
VI Florins |
1
|
1
|
4
|
4
|
XII Florins |
2
|
1
|
4
|
2
|
III Florins 1645
|
Característica do Cunho
|
Círculo
|
Pérolas
|
Diâmetro
|
Nº de pérolas
|
||
1º Cunho Anverso |
12,7
|
50
|
|
1º Cunho Reverso | Losango após a palavra BRASIL |
12,8
|
52
|
2º Cunho Reverso | Losango após a palavra BRASIL |
12,8
|
54
|
III Florins 1646
|
Característica do Cunho
|
Círculo de Pérolas
|
|
Diâmetro
|
Nº de pérolas
|
||
1º Cunho Anverso |
Ponto após o valor
|
Aproveitado?12,5
|
50
|
2º Cunho Anverso | Pontos após o valor | 13,0 | 50 |
3º Cunho Anverso | 14,0 | 43 | |
1º Cunho Reverso | Losango após a palavra BRASIL |
Aproveitado?12,5
|
52
|
2º Cunho Reverso | Pontos após a palavra BRASIL | 13,0 | 52 |
3º Cunho Reverso |
14,5
|
49
|
VI Florins 1645 | Característica do Cunho | Círculo de Pérolas | |
Diâmetro
|
Nº de pérolas
|
||
1º Cunho Anverso | Sem ponto ou sinais | 15,5 | 63 |
1º Cunho Reverso | Losango após a palavra BRASIL | 15,5 | 68 |
VI Florins 1646 | Característica do Cunho | Círculo dePérolas | |
Diâmetro | Nº de pérolas | ||
1º Cunho Anverso | Ponto após o valor | 15,5 | 50 |
2º Cunho Anverso | 17,5 | 52 | |
3º Cunho Anverso | 15,5 | 58 | |
4º Cunho Anverso | 15,5 | 54 | |
1º Cunho Reverso | Losango após a palavra BRASIL | 15,5 | 43 |
2º Cunho Reverso | Um ponto após a palavra BRASIL | 17,5 | 39 |
3º Cunho Reverso | Não possui pontos ou sinais | 15,5 | 64 |
4º Cunho Reverso | - | 15,5 | 52 |
XII Florins 1645 | Característica do Cunho | Círculo de Pérolas | |
Diâmetro | Nº de pérolas | ||
1º Cunho Anverso | 17,0 | 72 | |
2º Cunho Anverso | Ponto na perna da letra W | 17,0 | 74 |
1º Cunho Reverso | Losango após a palavra BRASIL | 17,0 | 53 |
XII Florins 1646 | Característica do Cunho | Círculo dePérolas | |
Diâmetro | Nº de pérolas | ||
1º Cunho Anverso | Ponto após o valor | 16,5 | 69 |
2º Cunho Anverso | Pontos após o valor | 20 | 57 |
3º Cunho Anverso | Dois pontos após o valor | 16.5 | 69 |
4º Cunho Anverso | |||
1º Cunho Reverso | Losango após a palavra BRASIL | 17 | 61 |
2º Cunho Reverso | Pontos após a palavra BRASIL | 20 | 59 |
III Florins de 1645 |
Anverso: 50 Pérolas - mesmo cunho do anverso
Reverso: 54 Pérolas - Losango ao lado do L de BRASIL - nº5 ligado à perola nº1 da data normal - mesmo cunho do reverso |
VI Florins de 1645 |
Anverso: 63 Pérolas - mesmo cunho do anverso
Reverso: 69 Pérolas - Losango ao lado do L de BRASIL - nº1 da data normal Data afastada - mesmo cunho do reverso |
VI Florins de 1646 |
Anverso: 50 Pérolas - Ponto após o valor - mesmo cunho do anverso
Reverso: 43 Pérolas - Losango ao lado do L de BRASIL - B ligado à pérola nº1 da data curvo - Data afastada - ANN unidos - mesmo cunho do reverso |
Anverso: 49 Pérolas - mesmo cunho do anverso?
Reverso: 53 Pérolas - nº1 da data normal - AN unidos |
Anverso: ? Pérolas - emendado de 1645??? mesmo cunho do anverso?
Reverso: 69 Pérolas - Ponto ao lado do BRASIL - B ligado à pérola - nº1 da data normal - A de Brasil com acento - mesmo cunho do reverso? |
XII Florins de 1645 |
Anverso: 74 Pérolas - mesmo cunho do anverso
Reverso: 53 Pérolas - Losango ao lado do L de BRASIL - Ponto acima do 2º N nº1 da data normal - mesmo cunho do reverso |
XII Florins de 1646
|
Anverso: 69 Pérolas - Ponto após o valor - mesmo cunho do anverso
Reverso: 60 Pérolas - Losango ao lado do L de BRASIL - Data afastada nº1 da data normal - AN unidos - mesmo cunho do reverso |
Anverso: 69 Pérolas - Ponto após o valor - mesmo cunho do anverso
Reverso: 64 Pérolas - Losango ao lado do L de BRASIL - Data afastada nº1 da data normal - AN unidos |
Anverso: 69 Pérolas - Ponto após o valor - mesmo cunho do anverso
Reverso: ? Pérolas - Losango ao lado do L de BRASIL - Data afastada nº1 da data normal - AN unidos |
Anverso: 69 Pérolas - Ponto após o valor - mesmo cunho do anverso
Reverso: 59 Pérolas - Ponto ao lado do L de BRASIL - Ponto após ANNO nº1 da data normal - ANN unidos |
BIBLIOGRAFIA
COIMBRA, Álvaro da Veiga. Noções de Numismática
DESSART, Gastão N.T.T. Ensaio Histórico e Descritivo das Primeiras Moedas Cunhadas no Brasil - 1960
FERREIRA, Lupércio Gonçalves. As Primeiras Moedas do Brasil - 1987
GONÇALVES, Cleber Batista. Casa da Moeda do Brasil - 2. Ed. rev., ampl. e atualizada - RJ - Casa da moeda do Brasil - 1989
GONÇALVES, Cleber Batista. Casa da Moeda do Brasil - 290 anos de História
HERKENHOFF, Paulo. Brazil and the Dutch - 1630-1654 - 1999
LOON, Gerard Van. Beschryving der Nederladsche Historipenningen - 1726
MARSON, Isabel. Moedas e História no Brasil - 1500-1889 - 1989
MEILI, Julius. O Meio Circulante no Brasil - As Moedas da Colonia do Brazil - 1897
MEILI, Julius. O Meio Circulante no Brasil - As Moedas do Brazil Independente - 1905
MELLO, José Antonio Gonsalves de. Os Ducados
Brasileiros de 1645 e 1646 Separata do Vol.48 da Revista do Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano - 1976
PROBER, Kurt. Catálogo das Moedas Brasileiras - 1982
PROBER, Kurt. Moedas Falsas e Falsificadas do Brasil - 1946
RUSSO, Arnaldo. Livro das Moedas do Brasil- 8ª edição - 1998
CHOOLTEN, C & SCHULMAN, Jacques. The Coins of the Dutch Overseas Territories - 1953
SCHULMAN, Jacques N.V. Coins, Medals and Decorations of Brasil from an Imperial Estate, Auction Sale 24/11/1970
VARNHAGEN, Francisco Adolfo, História das Lutas com os Holandeses no Brasil - 1871 (1945)
fhttp://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/downloads/educacaoemlinha14.pdf
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