OS CAMINHOS DO AÇÚCAR EM ALAGOAS
do banguê à usina, do escravo ao bóia-fria
Douglas Apratto Tenório
Resumo:
Este artigo analisa a economia da cana-de-açúcar em Alagoas desde o período colonial
até os dias atuais. Entre o braço escravo e o bóia fria, o econômico e o
político, se desenha este caminho. Alagoas não é só o lugar das utopias
armadas é também o lugar dos guerreiros do sol do cangaço, das
insurgências urbanas, dos canais e lagoas, e das terras dos marechais. É
a terra dos engenhos, do doce e amargo gosto do açúcar.
Palavras chave: Economia açucareira, oligarquias políticas, presença holandesa.
Résumé:
Cet article analyse l’économie de la canne-à-sucre en Alagoas dès la
période coloniale jusqu’à l’actualité. Entre l’esclavage et le
travailleur saisonnaire, l’aspect économique et politique, se dessine ce
chemin. Alagoas n’est pas seulement la place des utopies armées mais le
lieu des guerriers du soleil du cangaço, des révoltes urbaines, des
canaux et des lacunes, c’est la terre des maréchaux. C’est la terre des engenhos pour la fabricação du sucre, du sucre doux et amer.
Mots-clés: Economie du sucre, les oligarchies politiques, la présense hollandaise.
Uma terra que cheira a mel
Uma das menores unidades federativas da República do Brasil2,
Alagoas teve, desde o início, a sua formação ligada ao cultivo da cana
de açúcar, o que gerou no período colonial uma sociedade senhorial com
consequências em sua trajetória histórica e organização social, assim
como em seus hábitos e feição cultural.
Quando
o rei de Portugal dom João III dividiu o Brasil em capitanias
hereditárias, nas primeiras décadas do século XVI, o governo real de
Lisboa havia iniciado alguns anos antes a produção de açúcar na Ilha da
Madeira. Portanto, não é surpresa que o processo de colonização adotasse
o cultivo de tal cultura agrícola bem sucedida na Madeira fosse
utilizado para ocupar as terras do Novo Mundo, descobertas por Pedro
Álvares Cabral em 22 de abril de 1500.
A
capitania de Pernambuco, uma das mais promissoras dentre tantas
estabelecidas, com cinquenta léguas de costa, incluía o atual território
de Alagoas, sua parte austral, e estendia seus limites ao norte, com a
ilha de Itamaracá, no sítio do
1 Professor
Doutor, historiador vice-reitor do Centro Universitário CESMAC.
Membro efetivo da Academia Alagoana de Letras.
Marco, em Itapissuma, até a margem do Rio São Francisco, onde fica a parte sul, a Alagoas de hoje.
O
ciclo econômico que se expandiu na faixa litorânea dessas terras
outrora habitadas pelos aguerridos índios caetés e potiguaras começou
com a construção dos engenhos Escurial e Buenos Aires, obras do fidalgo
Cristóvão Lins, formou uma sociedade hierarquizada, de castas,
escravista, senhorial, de traços feudais, que influenciou profundamente a
vida alagoana. Um sistema de vida familiar, econômico e cultural que ao
longo dos séculos condicionou o ethos da sociedade alagoana. Não
é sem razão que um de seus mais famosos intelectuais, o antropólogo e
historiador Manuel Diégues Júnior, afirmou que a história de Alagoas é a
história do açúcar.
As
usinas que continuam a operar, com suas chaminés fumegantes, são a
continuidade do processo. E os pouquíssimos exemplares dos milhares de
engenhos banguês antigos ainda exibem nas suas ruínas uma mostra de uma
arquitetura forte e sóbria que encanta quem as mira. Não há mais
escravos, mas seus substitutos não tiveram grandes progressos.
Diferente
da produção em larga escala das usinas, dos enormes caminhões chamados
treminhões e dos sofisticados sistemas de irrigação, a legião de
trabalhadores chamados bóias-frias evoca o primitivo cotidiano do
plantio da cana, com seu movimento de moagem, senzalas, escravos,
festas, sinhazinhas, missas, capelães, carros de boi rangendo,
compadrio, banhos de rio e de gamela, trotar de cavalos. Cheiro de
doces, cuscuz, tapioca, rolete chupado e melaço.
Alagoas
não é só o lugar das utopias armadas dos cabanos do norte, dos
quebra-quilos, dos guerreiros do sol do cangaço, das insurgências
urbanas, dos canais e lagoas, terra dos marechais. É a terra dos
engenhos e do açúcar. Por isso, um de seus mais famosos menestréis, em
um de seus poemas, cantou enamorado: “Eu trago a minha terra em meus
olhos, eu trago a minha terra em meu olfato, minha terra cheira a mel
quente dos engenhos, minha terra tem o gosto ardente dos canaviais”3.
O fadário índio e alta conta social
É
vasto o mundo do açúcar em Alagoas. Seus limites, que começam nas
regiões do litoral e da mata, onde nasceu e se consolidou, hoje chegam
próximos do agreste e do sertão e penetraram definitivamente o núcleo
são-franciscano na sua bela capital, a “mui leal e heróica Penedo”, que
já nos seus primórdios conheceu tanto o
ciclo do gado como o ciclo da saccharum-officinarum. Estende-se
pela maior parte do seu território um verde dominador e obsessivo. Até
parece, ao observador incauto, que nada mais brota da terra e
pergunta-se o porquê da preferência quase absoluta em seus campos,
quilômetros e quilômetros afora, de um mar verde sem fim. Essa mesma
pergunta foi feita quatro séculos atrás, quando a extensão atingida era
um pouco menor.
A
interrogação que atravessou o túnel do tempo foi feita pelos louros
neerlandeses invasores, quando da deflagração da Guerra do Açúcar, um
deles chamado Gaspar Barleus, cronista oficial do príncipe invasor
Maurício de Nassau, encantado com o território que denominou “os mais
férteis campos do Brasil”. Ele não respondeu sua própria pergunta do
porquê da obsessão em plantar cana e cana, desprezando a policultura,
esquecendo até os gêneros alimentícios tão indispensáveis à
subsistência, precisando, por isso, importar quase tudo da Europa. Seria
uma espécie de sina, um
fadário de Rudá ou Tupã4, contra os importunos colonizadores que invadiam as matas
úmidas,
cheias de massapé, para instalar uma ordem nova, onde eles não mais
seriam invocados? E os usurpadores não se contentaram apenas com os
vales úmidos e as matas do tombo real, chegaram também aos tabuleiros,
tidos como terra ruim, onde só a mangaba, o ouricuri e o araçá eram
apreciados.
O
viajante que percorre o território de gente mestiça de presença forte
na história do país intui que existe um simbolismo que une o passado ao
presente. Ao passar em estradas emolduradas pelos intermináveis
canaviais, de um lado e de outro, estendidos por todo o seu território,
detém a visão por um instante sobre aquele imenso oceano verde e conclui
que sob o mar de caules ondulantes de hoje jazem, já decompostas,
inúmeras outras plantações de cana que lhe antecederam naquele mesmo
chão. Plantações que tomaram o lugar de outro verde, o da Mata
Atlântica, abatida pelos colonizadores pioneiros, exploradores que aqui
chegaram atraídos pela sedução do eldorado, do enriquecimento que
certamente a pindorama lhes ofereceria.
Foram
esses desbravadores que se tornaram senhores de engenhos. Engenhos que
lhes deram ascensão e nobreza. Engenhos de pilões, mós e eixos, movidos
por escravos, água ou animais, com instalações rudimentares e processos
morosos. Fragmentos esparsos de uma civilização que vai lutando
desesperadamente contra o seu ocaso, mergulhada no silêncio do fogo
morto, fumegando na memória de um passado distante, num ciclo que
prosseguiu por séculos, até hoje, sobrevivendo na paisagem
contemporânea, marcando ao mesmo tempo os contrastes e a continuidade
das modernas instalações atuais do açúcar.
Agora
são as usinas e as destilarias, verdadeiros parques industriais, que
lideram o processo de modernização sucroalcooleiro do estado,
trabalhando estratégias competitivas no acirrado mercado nacional.
Representam, na verdade, o componente do estágio mais recente desse
mundo enigmático e desafiador. Embora a entrada de novos e poderosos
estados no plantio da cana e na exportação do açúcar e do álcool tenha
mudado o ranking das unidades produtoras, a pequena unidade
federativa, mantém o seu destaque no setor, ocupando uma das primeira
colocações e mantendo, com São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco a
liderança desse importante item da economia brasileira.
A
herança canavieira é preservada, mesmo sem o apogeu de outrora. Suas
raízes ocupam boa parte do território alagoano, seguindo a tendência
secular, e divisas são geradas para a economia local. Poetas a cantam em
prosa e verso, a literatura sobre o tema é inesgotável, mas não se pode
deixar de reconhecer que a cana deixou também uma alta conta social a
pagar pela falta de diversificação econômica e baixíssimo grau dos
indicadores de desenvolvimento humano. Antonil dizia, no período
colonial, que “para os que não sabem o que custa a doçura do açúcar a
quem o lavra, o conheçam e
sintam menos dar por ele o preço que vale”5.
O braço escravo era o esteio da economia
O
engenho de açúcar foi o suporte da expansão colonizadora e o
responsável pela constituição dos primeiros núcleos povoadores que deram
origem às atuais cidades alagoanas.
A
atual capital, Maceió, teve formação mais tardia, no século XVII.
“Nasceu espúria, no pátio de um engenho colonial”, assim como Santa
Luzia do Norte, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, Pilar, São Miguel
dos Campos, Porto Calvo, Atalaia, Anadia e tantas outras. Poucas
escaparam desse destino histórico. Penedo, que foi um arraial
fortificado e núcleo de defesa na extremidade sul do território,
desenvolveu a pecuária, daí o São Francisco ser chamado “rio dos
currais”, mas mesmo assim vários engenhos surgiram em suas proximidades.
As
três vilas principais - Alagoas do Sul, Penedo e Porto Calvo -
presidiram o impulso colonizador e as povoações menores foram se
formando naturalmente, avançando sempre do litoral para o sertão. As
populações que iam se fixando em seu espaço geográfico dedicavam-se à
agricultura e tinham o engenho como célula, sob a
proteção do sesmeiro senhor da terra, da escravaria e do gado, elementos essenciais do trabalho nas propriedades.
O
florescimento dos burgos iniciais e a expansão de novos povoados e
vilas não afastaram o engenho de açúcar e o seu proprietário do
epicentro do poder, e este passou a exercer autoridade sobre outras
atividades menores que iam surgindo. Essa autoridade ampla, dominadora e
absorvente se transmite naturalmente com a sucessão da propriedade aos
descendentes. Esse predomínio está na razão direta da opulência
senhorial. Por isto, foram as áreas canavieiras, e não as outras, que se
destacaram como o espaço de maior importância, pontas de lança da
penetração ocupadora do sertão, de Porto Calvo a Penedo, a última
fronteira. Dentro delas, as aldeias principais que tiveram crescimento,
gerando famílias influentes – oligarquias poderosas após a fase dos
pioneiros –, firmadas na lavoura da cana plantada em grandes extensões
de terra como Maragogi, Porto de Pedras, Porto Calvo, Ipioca, Santa
Luzia, Pilar, Camaragibe, Coruripe, São Miguel dos Campos e Alagoas do
Sul.
Nas
décadas anteriores à abolição da escravatura pela princesa Isabel, a
população escrava desses dez centros agrícolas e suas freguesias chegava
a 32.746 pessoas, diante de 116.192 homens livres. Avalie-se que o
tráfico negreiro era ilegal e combatido pelas forças imperiais e no
parlamento no Rio de Janeiro se votavam sucessivas leis
antiescravagistas como a Lei do Ventre Livre e a do Sexagenário, além de
uma campanha de alforria muito vigorosa.
O
escravo era o esteio do regime, sem o que a economia desses locais não
sairia do lugar. Era a razão dos seus bons índices de crescimento. A
província estava dividida em 28 freguesias. As dez já citadas estavam
inseridas na zona canavieira; nas demais, a organização econômica era
baseada na pecuária, na atividade pastoril e na valorizada cultura do
algodão, embora parte delas compartilhasse com a cana-de-açúcar o
necessário para subsistência produtos como a rapadura, o mel e o açúcar
mascavo6. Nelas, o braço escravo não era tão
numeroso e a sociedade era menos rígida na sua estratificação. Mas
nenhuma delas rivalizava, em opulência, com as casas-grandes da
zona
da mata. Por isso mesmo, os homens mais abastados da zona da pecuária e
do algodão não tiveram na política local, nem de longe, o papel
exercido pelos senhores de engenho, principalmente os do norte. As
dificuldades de transporte e a distância que ficavam do centro do poder,
na capital, deixavam os pecuaristas e os plantadores de algodão longe
dos acordos vantajosos e das conspirações, da ocupação de postos
privilegiados nas esferas administrativas.
Nas
dezoito freguesias fora do perímetro litorâneo havia apenas 16.952
escravos, metade da população das dez mencionadas. Por isso, a pecuária
foi menos afetada com a crise de braços quando a Lei Áurea abriu as
senzalas em 1888, libertando os negros. Lembremos que em 1819, quando
assumiu o primeiro governador da província recém-emancipada, Sebastião
de Melo e Póvoas, o conselheiro Veloso de Oliveira, cumprindo
determinação régia, computou no censo realizado uma população escrava
que superava a de homens livres 69.084 para 42.879. Um cronista da época
chegou a afirmar que a zona da pecuária não chegou a desorganizar-se
para o trabalho, contrapondo-a com a zona dos banguês, onde a abolição
afetou com mais intensidade a economia e a casa-grande construiu seus
alicerces exclusivamente sobre o dorso negro do escravo.
Poder e privilégios da casa-grande
A
elevação do território à condição de comarca reduziu um pouco a
onipotência dos senhores de engenho pelo surgimento generalizado da lei e
o prestígio da autoridade judiciária, mas sem alteração substancial de
seu poder. Havia agora um poder maior a que se podia recorrer - mesmo
que na maioria dos casos inutilmente - do arbítrio dos mesmos, de
natureza feudal. Apesar de morosa, parcial e ineficaz, a lei cerceou de
alguma forma o poderio dos senhores de terra, restringindo suas
arrogâncias e truculências desmedidas aos límites das fazendas ou
propriedades.
Causou espécie em Alagoas quando o governador Costa Rego7, na década de
20
do século XX, autorizou a entrada da Polícia Militar para capturar
criminosos condenados pela Justiça em qualquer lugar que estivessem,
inclusive nos santuários dos coronéis rurais, dos senhores de engenho,
até então redutos inalcançáveis como as catedrais da Europa na Idade
Média. Foi um fato que passou de geração em geração pela memória oral,
cantado nas feiras em prosa e verso, nos cordéis populares e citações de
escritores, poetas e historiadores mais liberais. Foi um escândalo, uma
inovação sem precedentes que ajudou a esculpir o mito em torno daquele
dirigente, de formação essencialmente urbana, nascido em Pilar, mas
educado e vivido no Rio de Janeiro, para onde foi muito cedo,
tornando-se um dos grandes jornalistas do país.
Até
então, o homem rural, plantador de cana ou senhor de engenho, dentro de
seus domínios era a autoridade suprema. A casa-grande, mais que uma
construção, era um verdadeiro símbolo de poder. Há nuanças nas
transformações que se verificam com
o
tardio processo de urbanização alagoana. A soberania do senhor em suas
terras solidifica-se quando a capitania inaugura sua vida independente e
inicia na política. O chefe senhorial perde a rudeza colonial ao ter
contato com novas idéias, amplia seu campo de influências sociais e
igualmente alarga o seu raio de autoridade ao sair de suas divisas para
estender-se sobre vilas e municípios circunvizinhos, ligando-se a outros
de sua condição por diferentes laços de aliança.
A
eleição de políticos, em vários níveis, exige um número superior de
votos que os moradores de um só feudo rural não atingem. Surgem as
oligarquias municipais. Regiões açucareiras tornam-se um enovelado de
grupos com forte poder de decisão na partilha governamental. Os
presidentes da província nomeados pelo Império eram funcionários de
carreira e não desejavam ter atritos com os poderosos senhores rurais.
Quando os tinham, perdiam sua base de sustentação e eram substituídos.
No período republicano, todos os governantes procedem ou têm ligação
umbilical com o setor canavieiro. Fernandes Lima e Batista Acioly, por
exemplo. São advogados, proprietários de terra e senhores de engenho da
região norte, legítimos representantes de sua classe. O clã dos Góis
Monteiro - Ismar, Edgar, Silvestre Péricles -, profissionais liberais,
militares que dirigiram o estado de 1930 a 1950, são originários do
Engenho São Salvador do Guindaste, então pertencentes a São Luís do
Quitunde, também região norte.
A oligarquia dos Malta8, procedente de Mata Grande e Penedo, bem como os
demais
governantes, só governou com vice-governadores que vinham da base
política originária da mata açucareira. Até mesmo na segunda metade do
século XX, quando o mundo urbano torna-se mais potente que o rural,
governadores como Arnon de Mello, Afrânio Lages, Lamenha Filho, Divaldo
Suruagy, Guilherme Palmeira, José Tavares e Manoel Gomes de Barros
tinham fortes ligações com o mundo forjado secularmente pelos velhos
banguês coloniais.
Fernando
Collor, que se tornaria o primeiro presidente da República eleito após o
fim do regime militar de 1964, tornou conhecida sua passagem pelo
Palácio dos Martírios em 1987 primeiro pelo confronto, e depois pelo
acordo fiscal realizado com os usineiros, o que debilitou por vários
anos as finanças estaduais. Nas eleições governamentais de 2006, sem
mais prepostos, os candidatos mais fortes que disputaram o pleito, junto
com mais três pretendentes, foram dois usineiros, João Lyra e Théo
Vilela, oriundos de duas famílias tradicionais da chamada
“açucarocracia”. O último venceu o pleito e é candidato à reeleição. O
único governante que não seguiu essa regra
foi
Sebastião Marinho Muniz Falcão, pernambucano, funcionário do Ministério
do Trabalho que, na condição de delegado veio implantar a representação
trabalhista e a sua legislação em Alagoas. Por conta de sua atuação,
tornou-se um ídolo dos trabalhadores e entrou na política local. No seu
governo, ao pretender a taxação do açúcar para custear a educação e a
saúde, enfrentou uma tentativa de impeachment e séria crise
institucional, verdadeira guerra que marcou a história do Estado. Mesmo
vencendo as eleições para um segundo mandato, anos mais tarde, não
conseguiu retornar devido a casuísmo político do regime militar,
morrendo antes do segundo turno de um novo pleito.
Uma mudança lenta, gradual, mas perceptível.
Nesta
primeira década do século XXI, indícios de uma nova sociedade estão
aflorando. Em meio a uma legião de excluídos, com 60% da população
considerada pobre, numa sociedade rigidamente estratificada, a terceira
menor renda per capita do Nordeste, e mal distribuída, a economia e a
sociedade alagoana vão lentamente mudando. Um contingente expressivo de
universitários e pequenos empreendedores, mais os recursos de
beneficiados pela previdência e verbas da União vão alterando o perfil
da economia, ainda bastante dependente do setor tradicional. O principal
problema é o modelo econômico, que gerou uma forte concentração de
renda, com a prioridade dada à grande empresa. Para uma transformação
significativa seriam necessárias mudanças, com especial atenção à
educação, diversificação das atividades agrícolas e não agrícolas,
superar sua infraestrutura precária e, principalmente, gerar novos
empregos.
A
antiga comarca resiste para continuar como dantes. As famílias de
“bens”, no domínio da economia e da política e com expressão social de
uma nobreza, assiste o seu ocaso. O panorama dos clãs senhoriais tem
contornos da obra O Leopardo, de Lampedusa9.
Um grande corte histórico já foi feito nos fins do século XIX, quando
surgiram as usinas centrais que sepultaram os engenhos banguês. Mas como
no filme de Lucchino Visconti, baseado no mesmo livro, sobre a nobreza
siciliana, tudo mudou para continuar como estava. Assiste-se a briga sem
fim dos herdeiros dos clãs tradicionais, em que “o cobertor é curto
para a cama”, gerando divergências, demandas judiciais, falências e até
crimes entre eles.
O
número de famílias no campo foi ficando cada vez mais reduzido a partir
do desaparecimento dos engenhos. Passada a fase de ouro, eles foram
substituídos pelas grandes unidades agroindustriais, usinas e
destilarias de álcool. Os escravos foram substituídos pelos bóias-frias e
pelas máquinas. Caminhões, sofisticados sistemas de irrigação,
implementos vários, informatização, substituem gradativamente o braço
humano. Mas os sucessores da secular estrutura senhorial são ainda os
maiores produtores da riqueza caeté, os grandes eleitores da vida
política do estado, uma aristocracia que resiste a deixar o topo da vida
social sem os títulos nobiliárquicos de outrora, mas com o prestígio
ainda em alta.
O gosto amargo do açúcar
O
doce açúcar tem também o seu gosto amargo. A área mais rica de Alagoas,
de maiores depósitos bancários e de economia mais rica é também a mais
pobre na conta dos indicadores sociais e de desenvolvimento humano. Com a
derrubada das casas dos empregados, por conta das reclamações
trabalhistas, não existem praticamente moradores fixos nas propriedades.
Só o mínimo indispensável. A população seguiu para as grandes cidades
em busca de melhores condições, engrossando o contingente de favelas.
Sem
instrução, sem preparo para novas oportunidades, vão passar por
dificuldades. O desemprego e a miséria se acentuaram com a evolução por
que passou o mundo do açúcar. A usina é um verdadeiro parque industrial,
uma fábrica moderna, mas nunca vai esquecer o primitivo banguê, do qual
saiu como o pinto do ovo. Não se conseguiu, nessa extraordinária
trajetória de modernização industrial, oferecer ao trabalhador
orientações seguras e eficiente estímulo. Repete-se o drama dos escravos
quando alcançaram a liberdade. São jogados num mundo estranho e hostil
sem nenhum preparo.
Nos
lares improvisados desses trabalhadores não existem comodidades.
Faltam-lhes educação e saneamento básico. Os imensos canaviais agora
adotam a contratação temporária, os bóias-frias, sem nenhum vínculo com a
terra, trazidos em caminhão de madrugada, com sua comida fria para a
refeição do meio-dia e retornando à noite. Um salário insuficiente para
as suas necessidades básicas e uma grande oferta de braços tirada da mão
de obra abundante e barata à disposição do empregador ou do
intermediário, que é o responsável pelo aliciamento. Nenhuma ligação mais com a empresa.
Parece
que voltamos no tempo, após a alforria geral de 1888 e o surgimento das
usinas centrais. Os anos são outros, o século é outro, mas há enormes
semelhanças nas condições dos personagens humanos Craveiro Costa10,
arguto observador da transformação por que passou o mundo do açúcar,
anteriormente escreveu com uma forte dose de pessimismo sobre esse
trabalhador desditoso, acabrunhado por tantos males oriundos da
ignorância e da escravidão, legado do extinto mundo dos engenhos.
“Quem
vive nessas espécies de lutas é gente sem alegria, dominada por um
desânimo penoso; homens combalidos pelas sezões; fumadores de maconha;
alcoólatras, tocadores de viola; pobres criaturas fatalistas, com a
noção integral de sua desdita a que procuram se subtrair, fugindo do
engenho onde estão para outro em que se encontram os mesmos infortúnios;
mulheres desgrenhadas, em estado permanente de gravidez, como se fossem
ratazanas gigantescas, amigas do cachimbo e da pinga, metidas em
sapatões, sem o menor traço de feminilidade; crianças ventrudas, sujas,
piolhentas, dadas ao prazer que a psicanálise tão bem explica de chupar
os dedos”.
As
estruturas sociais, que pouco se alteram com o correr dos tempos
cristalizam-se, tendem à inércia, são arcabouços prisionais de longa
duração. Mudou a tecnologia na produção do açúcar, acabaram-se os
banguês, surgiram as usinas, as commodities, o universo
financeiro, as aplicações nas bolsas, a internet, mas mudaram pouco as
condições do campesinato rural que surgiu com a extinção da escravidão,
acabrunhado por tantos males oriundos da ignorância a que o reduziu a
açucarocracia desde os tempos d’antanho. Quando se passa pelos
trabalhadores nos campos, dedicados à faina do cultivo ou da colheita da
cana, vemos homens e mulheres humilhados diante de si mesmos, pobres
criaturas com uma diária R$4,00, equivalente a menos de U$ 3.00, num
trabalho insano, no sol ou na chuva, sem estímulo ou aspiração para
nada.
O
mesmo historiador já citado nos fala de manifestações artísticas.
Sabemos que a riqueza e a variedade dos nossos folguedos populares
nasceram no terraço das casas-grandes, vindos das senzalas para
apresentar-se para seus senhores. Herança cultural que passa de geração
em geração com os mestres do folclore, com sua beleza, movimento,
improviso e harmonia. Uma delas, a embolada11,
autêntica manifestação popular regional, é do caboclo da cana. Um canto
aparentemente cheio de alegria, mas que esconde o sofrimento do homem do
eito, a incerteza de seu viver. Diz ele a respeito “... a incoerência
de suas ações, em perene antagonismo com os mandos dos
proprietários
dos latifúndios, em cuja mentalidade o cativeiro negro ou as
sobrevivências do mesmo obliteraram totalmente as mais rudimentares
noções de justiça e a idéia de respeito pelos seus operários”.
A saga dos Palmares e a Guerra do Açúcar
Cinco
séculos nos separam do início da formação daquilo que hoje conhecemos
por Alagoas. Passaram os homens, passaram os anos, mudou o cenário,
novidades foram surgindo, mas continuam vivos, presentes em seu
arcabouço social, os vestígios do mundo do açúcar. Frágil, a memória é
enganosa, seleciona, interpreta e reconstrói dentro da visão do
presente. Será que é exagero dizer que a casa-grande e seu complemento, a
senzala, continuam dominando a vida alagoana? Será possível narrar a
história do estado sem vê-los com suas capelas, moendas e plantações
pairando nas várzeas, nas encostas, nas chãs, influenciando de forma
poderosa os seus destinos, na política, na cultura, no seu modo de ser,
enfim, um elo indestrutível entre o campo e a cidade? O que une e divide
a sociedade?
O
açúcar é um veio inesgotável de estudos, o ciclo econômico de maior
duração e intensidade em nossa evolução histórica. Nenhum tipo de relato
da história de Alagoas seria possível sem unir fatos e símbolos a ele
relacionados. Nos episódios de maior relevância ele está lá presente.
Primeiro, na odisséia dos Palmares, o quilombo negro que representou o
maior movimento de liberdade contra a escravidão nas Américas. Dos
engenhos alagoanos os negros escravos fugiam, embrenhando-se nas
matas densas da Serra da Barriga12, até então habitada por tribos indígenas, e a elas se
juntaram
para instalar um verdadeiro bastião de resistência, um projeto
alternativo de sobrevivência ao modelo de colonização portuguesa.
A
epopéia palmarina é uma crônica de feitos heroicos de uma gente sofrida
que desmentiu a versão errónea-a da submissão consentida do negro para a
escravidão. Zumbi, a maior liderança dos negros dos Palmares, foi
guindado na época moderna ao panteão dos heróis brasileiros, um lutador
pela liberdade que queria uma sociedade igualitária, fora dos padrões de
seu tempo, e comandou os seus irmãos contra os sucessivos ataques ao
reduto da serra.
Em
documento escrito por um dirigente holandês há o registro de que o
quilombo famoso era uma forma diferente de cultura da terra, baseada no
trabalho individual e não no trabalho por turmas, como se fazia na
terras dos engenhos. Todavia,
mesmo
deixando em polvorosa fazendas e vilas entregues à monocultura
canavieira, os próprios palmarinos mantinham também o cultivo da cana de
açúcar para a sua subsistência. No interregno das escaramuças e dos
combates travados, e ainda nos breves períodos de paz entre os dois
lados, antes do assalto final à cerca fortificada da Serra da Barriga,
chegou a haver comércio entre os dois lados e o açúcar era um produto de
troca entre as partes litigantes.
O
segundo episódio refere-se à presença holandesa em Alagoas, que
aconteceu com a invasão a Pernambuco feita com o objetivo de garantir as
fontes produtoras do açúcar artigo precioso no mercado internacional,
cujos compromissos comerciais estabelecidos tradicionalmente com
Portugal foram desprezados pela Espanha, nova detentora do trono de
Lisboa em função da União Ibérica.
Alagoas
era parte importante da região dos engenhos de açúcar pernambucanos,
que tanto os neerlandeses queriam. A figura mais polêmica desta que é
chamada a Guerra do Açúcar foi Domingos Fernandes Calabar, um mestiço de
Porto Calvo, senhor de engenho, que passou para o lado holandês e mudou
completamente o rumo da guerra com sua coragem e conhecimento da terra.
Nova mudança no curso do conflito se deu quando ele foi capturado e
garroteado em solo alagoano. Uma das
batalhas mais importantes foi travada no Engenho Mata Redonda13 em Porto de Pedras,
quando morreram o general espanhol Luiz Rojas y Borja e o sobrinho de Nassau, Carlos.
No
governo do príncipe Maurício de Nassau, admirado governante flamengo,
houve um esforço para introduzir a pequena propriedade e a policultura
para evitar a importação de gêneros alimentícios, ao lado da
cana-de-açúcar, mas isto não foi bem aceito pela Companhia das Índias
Ocidentais, sua contratante, nem pelos grandes proprietários, que
desejavam continuar com a vantajosa monocultura. Os senhores de engenho
não gostaram das ordens de Nassau para que plantassem roças de mandioca,
apesar da garantia de compra da primeira safra. Ele pretendia fazer de
Alagoas a fonte de abastecimento de farinha e de víveres básicos da
província que governava.
As
divergências se acentuaram quando foram cobradas as dívidas de
financiamentos tomados pelos engenhos. A saída do príncipe de Orange,
que construiu o Forte Maurício em Penedo, e a falta de habilidade de
seus sucessores fizeram deteriorar a precária détente que existia e terminou com a expulsão dos holandeses após a derrota na Batalha de Guararapes.
Os
flamengos eram mais voltados à atividade comercial e o colono português
mais afeito à faina agrícola. Falando dessa falta de aptidão dos
holandeses pelo campo, Johannes Von Waalbeck14,
um dos altos comissários da Companhia, observa em relatório sobre
Alagoas: “Sendo, no Brasil, as mercadorias européias muito caras, a
agricultura não pode dar frutos que lhes permitam manterem-se
devidamente, conforme a condição que tinham em sua pátria. Os moradores
portugueses, tanto os mais simples
camponeses
como também os senhores de engenho, estão afeitos comumente a comer um
pouco de bacalhau e legumes ordinários, de modo que, em alguns engenhos,
não há comida por algum tempo”.
A herança holandesa e o brasão alagoano
A
Guerra do Açúcar legou terrível herança de abandono, desolação e
miséria. Os moradores sofreram toda sorte de privações, mesmo nos
lugares mais distantes do teatro de guerra. As labaredas incendiaram
prédios, casas e igrejas, como as do Engenho Furado e a de Nossa Senhora
da Conceição, em Alagoas do Sul: os saques e as mortes se espalharam
praticamente por todo o território, especialmente nas vilas mais
prósperas. A economia foi abalada e nos engenhos a reconstrução foi a
palavra de ordem. Muitos ficaram em ruínas e passaram à condição de fogo
morto. As regiões produtoras de açúcar foram as mais afetadas, pois,
além de se apossar do produto que motivou o conflito, os invasores ainda
podiam arrecadar mantimentos para suprir suas tropas.
Na
crônica dos feitos destacados da guerra que grassou do Ceará a Bahia,
há um lugar de honra para Alagoas. Figuras como os índios Clara e Felipe
Camarão, o negro Henrique Dias, o português Matias de Albuquerque, o
italiano Bagnuolo, o polonês Arciszewski e o espanhol Rojas y Borja
ombrearam-se aqui com Sebastião Ferreira, Valentim da Rocha Pita e
também Calabar.
A bandeira e o brasão de armas criados em 196315 basearam-se nos símbolos
criados
na época dos holandeses. Além do colmo da cana-de- açúcar,
representativo do que movia a antiga capitania, ressaltam a simbologia
dos três núcleos povoadores iniciais, traduzidos nos três morros postos
em faixa de Porto Calvo, as três tainhas de Alagoas do Sul e o Rio São
Francisco contendo o forte estratégico de Penedo, herança da engenharia
heráldica holandesa nos primitivos brasões criados por Maurício de
Nassau e seus artistas. Substituiu outra representação heráldica criada
em 1894, no
alvorecer
republicano, onde avultava um vapor e um trem, meios de transporte da
época, e os ramos de café e cana representando as riquezas do estado
recém-criado. Como esses meios de transporte praticamente desapareceram
do cenário, bem como o café - uma experiência fugacíssima, a cana
conservou sua majestade vinda desde os tempos iniciais, ultrapassando
séculos e mudanças.
As usinas centrais substituem os antigos banguês
O
processo evolutivo da agroindústria açucareira registra periodicamente
crises e adaptações em suas diferentes etapas. O velho banguê atravessou
anos e séculos como elemento vivo da paisagem alagoana, um ciclo que
parecia interminável. Mas, como toda invenção humana, teve auge e ocaso.
Desde 1850, no Porto de Jaraguá desembarcavam em quantidade arados de
ferro vindo da Inglaterra que iam ganhando adeptos, apesar do apego à
enxada, à foice e ao machado. A mão de obra escrava usada na agricultura
operava os instrumentos de plantio e corte e a fabricação do açúcar na
indústria rudimentar. Mas os ventos da mudança que aconteciam no mundo
com o advento da evolução industrial começavam a soprar por toda parte, e
não respeitavam barreiras.
Através
do processo de modernização que chegou à sociedade alagoana no final do
século XIX, pode-se perceber que as muralhas da tradição começam a
cair. Instala-se a crise entre as práticas e os instrumentos antigos e
as novas técnicas industriais nos vários campos da economia. Há a
estagnação do setor canavieiro, a forte queda de preços no mercado
internacional e a concorrência de outros centros produtores, inclusive
com a ampliação do cultivo da beterraba para fazer também o açúcar. O
governo imperial imaginou, para conter a ameaçadora crise, a criação de
grandes engenhos centrais, visando separar a atividade agrícola da
industrial, moendo canas alheias, trazidas de engenhos e fazendas
diferentes, numa escala de produção maior, com preços competitivos junto
aos importadores internacionais. Era uma nova fase que atingia em cheio
um modo secular de economia e sociedade, baseadas na estrutura limitada
e praticamente isolada do banguê.
Em
Alagoas, três engenhos centrais foram implantados, mas com uma
característica diferente, pois foram construídos em terras próprias e
não obedeceram ao princípio usual de separação preconizado. Eram,
portanto, usinas. Compreendeu-se que só com elevado nível tecnológico se
poderia superar a intensa competição do exterior.
Quem
não o fizesse, pereceria nessa guerra implacável. Parece que a
vinculação visceral da terra caeté com a cana a fez portadora de uma
visão aguçada para se proteger das tormentas e buscar os
aperfeiçoamentos técnicos necessários. As usinas Brasileiro, Utinga Leão
e Serra Grande passaram a ser exemplos de mudança diante da crise.
A
decadência dos engenhos banguês coincide, portanto, com o aparecimento
da usina, uma realidade tecnológica muito diversa do sistema
tradicional. O aproveitamento da eletricidade como força motriz, a
utilização do bagaço como combustível, o emprego da cal como decoada em
lugar da potassa, as fôrmas de açúcar de metal, o aparelhamento para
fabricar açúcar branco sem purgar e o uso do arado foram inovações que
acompanharam as transformações que afetaram o velho mundo do banguê.
Essa nova realidade e a competição acabaram por liquidar o engenho. Sem
poder concorrer com a produtividade e a alta qualidade do produto da
usina, eles foram pouco a pouco minguando, passando a fogo morto. Ficava
para trás o tempo do tratamento rudimentar do caldo de cana e das
moendas movidas por escravos ou animais de tração.
O poeta alagoano Ledo Ivo16, na apresentação do livro Engenho e Memória, de
Luciano
Trigo, diz que “... a usina, que engoliu os engenhos e trouxe a
industrialização gulosa e desumana, criou novas formas de servidão e
infelicidade, o êxodo rural que inchou as cidades e tornou mais claras e
até mais escandalosas as separações sociais e econômicas”. O que se tem
agora é alta tecnologia proporcionando o álcool combustível que move
boa parte dos veículos que trafegam pelas cada vez mais congestionadas
rodovias brasileiras, com expectativas de fazer o mesmo além do
território nacional.
Quando
percorrermos os campos de Alagoas e divisamos os vestígios do que
outrora foi um pequeno engenho, temos noção dessa ruptura e,
indiferentes ao presente, assistimos a um verdadeiro flashback do mundo do açúcar desde os primeiros dias do Escurial e do Buenos Aires17 até
hoje, com as chaminés das grandes usinas. Relembramos o modo de vida
dos antigos engenhos, da riqueza da casa-grande, da sua gesta cantada
por poetas e narradores como um tempo de Camelot e da Távola Redonda,
mas igualmente do sofrimento dos negros, da crueldade da escravidão, do
infortúnio de cassacos, cortadores, cambiteiros, bóias-frias de hoje, a
opulência e o
poder das famílias senhoriais.
Moradores e trabalhadores livres
A
unidade social açucareira era uma estrutura complexa que articulava,
sob a denominação genérica de engenho, a fazenda com o canavial,
pastagens e culturas de subsistência, matas fornecedoras de madeira e
lenha e o engenho propriamente dito. Dessa estrutura complexa, a
fazenda, o engenho e a senzala constituíam a sua base econômica,
enquanto a casa-grande e a capela eram as instâncias jurídico-políticas.
A diversidade da divisão da produção social-especialmente a da
atividade agrícola e da manufatureira-e a divisão técnica do trabalho,
sobretudo nas etapas especializadas, a ela conferiam grande
autossuficiência, o que é profundamente alterado com sua transformação
em relações de produção capitalista, com o aparecimento da usina.
O
usineiro e sua família não moram na sede da usina e lá raramente vão.
Ele a dirige de seu escritório na capital. São seus representantes, sua
equipe técnica que executam suas ordens. A transformação também atinge a
mão de obra, o trabalhador, que não precisa mais morar necessariamente
em seus domínios.
É
importante destacar que há mais de uma categoria de trabalhador na
velha ordem e que todas essas mudanças vão também afetar as suas vidas.
Mas não alteraram as diferenças acentuadas entre a vida deles e a dos
patrões. Antes, o senhor de engenho, temido e respeitado por todos, com
sua aura aristocrática, residia na casa-grande, em geral assobradada, de
onde dirigia seu pequeno mundo como um nobre feudal. Sua autoridade
estendia-se além da sua propriedade. Atingia os lavradores livres, isto
é, os plantadores de cana, em terras próprias ou alheias, que não
possuíam capital suficiente para as instalações necessárias à moagem da
cana e ao fabrico do açúcar, e também a categoria de lavradores
obrigados, de cana cativa, aqueles que plantavam nas terras dos engenhos
e tinham a obrigação de neles fazer a moagem. Tanto uns como outros, os
livres e os obrigados, dependiam totalmente da palavra do proprietário
para moer a cana na época certa e receber a parte que lhes cabia, dada a
inexistência de contratos escritos. Assim, viviam inseguros, morando
hoje em um local e correndo o risco de amanhã ser expulsos, por não
conseguirem a renovação de seus arrendamentos das terras ou por terem
perdido sua safra. Em vista disso, construíam pequenas e toscas
habitações e empregavam normalmente suas rendas em gado e escravos.
Há
ainda a figura do morador, geralmente mulato, que, em um pedaço de
terra do engenho, cultivava produtos de subsistência em troca de um
salário, ou, então, de uma participação, porcentagem, da produção.
Formava, junto com outros agregados, também mestiços, que viviam nos
domínios do proprietário, uma categoria que prestava ao senhor das
terras todo tipo de serviços. Uma categoria que, teoricamente livre, não
apresenta
muita diferença da condição, em seu modo de vida, do escravo. No
engenho também havia o feitor, o mestre do açúcar, o capelão e uns
poucos trabalhadores assalariados, que igualmente se sujeitavam ao poder
do dono das terras. Eram a sua clientela e os laços de dependência eram
estreitados pelo compadrio. Estes conviviam com os escravos e habitavam
casas de um único compartimento, sem privacidade, em estágio de
promiscuidade–o grande pombal negro18 ao
lado da casa da majestosa família senhorial. Eram os responsáveis pelo
trabalho no campo, nas oficinas e na casa-grande. A vida para todos era
duríssima.
O que mudou nos dias de hoje?
Para
tornar o açúcar competitivo e se inserir no exigente mercado
industrializado, surgiu a moderna usina integrada, que resolve o
problema ao plantar as próprias canas. Ela substituiu o projeto do
engenho central e superou a produção dos banguês, a partir da safra de
1923. Por ter mais capital e condições de incorporar os avanços
tecnológicos, tinha maior rendimento industrial e capacidade para
absorver inovações como irrigação, seleção de mudas e os novos processos
de trabalho. Em 1933, há uma maior participação estatal no processo com
a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool, que estabelece cotas de
produção por usina e por fornecedores. Nessa década ocorre também a
disputa entre usineiros e fornecedores de cana, que termina com uma
solução negociada pelo IAA. O controle político do órgão estatal pelos
usineiros é absoluto.
O
processo usineiro que viabilizou a expansão da produção agrícola e
industrial do setor não explorou alternativas intensivas presentes nos
recursos disponíveis na estrutura de produção que estava sendo montada.
Os programas federais para o setor sucroalcooleiro transferiram somas
fabulosas de recursos sem que houvesse alterações substanciais na antiga
estrutura social da região, nem a aproximasse dos níveis de
produtividade de estados como São Paulo e Paraná, que disputavam agora
com Alagoas e Pernambuco e ganharam a liderança nacional. Os efeitos
colaterais do maciço investimento estatal, que beneficiava a classe
produtora, também afetaram o ecossistema da região. As matas alagoanas
foram dizimadas. Os tabuleiros, a última fronteira, foram ocupados.
Acelerou-se a destruição da vegetação natural e a poluição
dos rios e córregos com o lançamento do vinhoto19 nas águas, que chegou até o
santuário
ecológico das lagoas. O uso intensivo de agrotóxicos fez com que os
antigos rios de açúcar da zona da mata atingissem níveis alarmantes de
poluição.
O trabalhador no século XXI
Imagens do francês Debret20 mostra
com a acuidade do artista a vida do trabalhador nos períodos anteriores
à abolição e à República. Numa delas vemos a integração do escravo na
vida social e familiar, os senhores à mesa dando migalhas da refeição a
duas crianças negras enquanto uma ama abana a senhora e dois outros
estão de pé, à espera de ordens. A cena tem forte simbolismo. Da senzala
da casa-grande aos mocambos dos trabalhadores de hoje, houve mudança,
mas não muito significativas.
A
zona da mata canavieira, a zona mais rica, dos vales úmidos e férteis,
apresenta contraditoriamente os mais altos índices de exclusão social da
população do estado. Há carências de toda ordem, educação com altos
índices de analfabetismo, baixos indicadores de saúde e de nutrição, o
que, segundo Diégues Júnior, “...vão fazer do trabalhador um doente, sob
o domínio da subalimentação e a influência da moradia”, ou seja, não
tanto melhor que as antigas senzalas.
Por
outro lado, a expansão da cana reduzindo drasticamente a área da
agricultura de subsistência, os novos implementos e a mecanização do
campo, e ainda a aplicação do Estatuto do Trabalhador Rural21 nos
anos 60 do século passado, inviabilizaram os antigos “moradores de
condição”, trabalhadores que ocupavam um pedaço de terra próximo aos
canaviais, pagando com trabalho gratuito ou parte da produção perante o
proprietário ou o foreiro. Estes sitiantes, ligados ao dono das terras,
tal como os escravos, têm uma situação muito precária e formam uma mão
de obra reserva que deixa os campos para viver nas cidades da mata
canavieira.
O
resultado da modernização do setor é uma concentração de terras ainda
mais ampla e a transferência para a periferia da capital, ou dos
municípios maiores, de um contingente de trabalhadores sem qualificação.
Voltam ao campo para a colheita e juntam-se aos que vêm do sertão na
época da seca, com trabalho provisório, como boias-frias. Fragilizados,
são presa fácil do assistencialismo, de relações com o patronato e
vítimas da compra de votos nas eleições. As Ligas Camponesas e a atuação
sindical rural não prosperaram em Alagoas. A mobilização de
trabalhadores do campo, arrendatários, assalariados, posseiros e
moradores pela reforma agrária nunca esteve sintonizada com o
movimento de outros estados, só mudando com o advento do
Movimento
dos Sem Terras. O MST hoje ocupa esse espaço e tem uma atuação forte. E
seu vigor decorre exatamente das mudanças nas relações de trabalho a
partir da década de 90, do alto índice de rotatividade da mão de obra do
setor e do esvaziamento dos sindicatos pelas dificuldades de convocação
que dispunham até então.
A
violência no campo envolvendo conflitos de terra tem sido agora
acompanhada pelas entidades que lutam por reforma agrária. O revide
contra os trabalhadores que ingressam com ações na Justiça do Trabalho
reclamando direitos não passam mais em branco. Há órgãos governamentais e
outros ligados à Igreja Católica que se posicionam ao lado das vítimas.
A realidade da zona canavieira de Alagoas e do Nordeste passa neste
começo do século XXI por um novo momento. Um novo panorama, em que as
relações de dominação têm como matriz o mundo das grandes propriedades,
dos velhos engenhos, passa por uma nova dinâmica os trabalhadores se
mobilizam e querem maior liberdade para negociar seus próprios
interesses.
Literatura alagoana e o romance canavieiro
Toda
a riqueza do mundo canavieiro e toda a história de Alagoas baseada nos
caminhos do açúcar não motivaram uma reação do escritor local com sua
sociedade. Se o primeiro pintor de renome, Rosalvo Ribeiro, escolheu
motivos europeus, principalmente franceses, para eternizar em suas
telas, não temos também nas letras - com honrosas exceções, como Jorge
de Lima-uma bibliografia considerável, uma conquista progressiva e
permanente dos recursos de expressão que se empenhe em retratar o
horizonte humano de sua província com a civilização do açúcar.
Uma
contribuição como a de Graciliano Ramos, em Vidas Secas, ou como a do
paraibano José Lins do Rego em sua narração de Meninos de Engenho.
Aliás, Lins do Rego22 escreveu
algumas de suas obras em Maceió, onde residiu por alguns anos, mas
abordando a paisagem canavieira de sua terra. A única exceção à regra é o
romance O Último Senhor de Engenho, de autoria de A.S. de Mendonça Júnior23,
que retrata o ocaso dos banguês e é um interessante romance histórico
de uma época de transição. Mas não somos um deserto de literatos e
idéias sobre o tema. Como dizia o poeta Judas Isgorogota24,
há alguns trabalhos que descrevem o suor, o sangue, as lágrimas e a
lama de uma Alagoas impiedosamente negada e esquecida, Alagoas rural,
Alagoas dos engenhos, Alagoas do trabalhador da cana-de-açúcar, das
nossas grandezas e das nossas negações mais humilhantes. Trabalhos que
dizem que suas vozes, seus abandonos, são
também ouvidos. Como o longo poema Olá, Negro, de Jorge de Lima25, do qual extraímos esta estrofe:
Olá, Negro! Olá, Negro!
Os netos de teus mulatos e de seus cafuzos
e a quarta e quinta gerações de teu sangue sofredor Tentarão apagar a tua dor
E as gerações dessas gerações quando apagarem
a tua tatuagem execranda,
não apagarão de tuas almas, a tua alma, negro! Pai-João, Mãe Negra, Fulô, Zumbi
Negro-fujão, negro cativo, negro rebelde Negro cabinda, negro congo, negro ioruba que foste para os canaviais do Brasil,
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga de todos os senhores do mundo.
Ou o belo trabalho do poeta José Geraldo Marques26, em seu Trecho do poema eneidalaoensis, professor universitário e um dos melhores nomes da geração atual da inteligência caeté:
Triste Alagoas, oh quão dessemelhante és! a razão da nossatuaamargura é doce:
são doces nomes de usinas macios que nem a espuma... mas que entre espadas ocultam violentíssimos crisântemos!
E
ainda o do professor universitário, pós- graduado aqui mesmo em
Grenoble, Fernando Fiúza, que, dentre tantos de sua apreciada obra, tem
um sob o título Mulher Usina:
Lanças vapor e líquidos perfeitos Cristais de alvura doce e venenosa devorando se culpa todo engenho
ao
redor dessa língua em brasa e pólvora Baila a cana flechada – os finos
pêlos– Do latifúndio fértil do teu corpo Soberba arquitetura em sangue e
ferro– no descampado cinza de meus olhos Mulher usina, jóia monstruosa
–Orquídea num jardim de pobres rosas–
Há outros poetas que abordam o tema com maestria, como Maurício de Macedo, Iremar Marinho e Humberto Gomes de Barros27.
No romance temos dificuldades de enumerá-los. Falta uma fermentação
criadora e condensadora do cotidiano do ciclo do açúcar, uma leva de
romances sobre o tema capaz de abordar ao mesmo tempo o humano e o
social. Faltam obras que procurem desvendar pela ficção o complexo mundo
canavieiro, povoado de gente de carne e osso, longe dos esquemas
econômicos e estatísticos, mas com suas mazelas e virtudes, suas
munificências e misérias, para se fixar além das contingências das
várias épocas que atravessou, como a projeção de um universo muito
próprio e característico que são os caminhos do açúcar
alagoano.
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Notas:
- Alagoas é o penúltimo estado brasileiro em área e o 16º em população. Tem um território de 27.767,661 km2 e uma população de 3.156.000 habitantes.
- É um trecho do poema Canto Nativo, do historiador e poeta Jayme de Altavila (17/10/1895-26/03/1970). 4 Divindades da mitologia tupi-guarani. O primeiro significa trovão, deus supremo; o segundo é o deus do amor.
- Expressão que abre uma obra sobre a história de Maceió, abordando as suas origens canavieiras em contraste com outros historiadores que admitem ter sido o Porto de Jaraguá o responsável pelo início dapovoação.
- Açúcar obtido pela concentração do caldo de cana ao natural, sem utilização de aditivo químico na composição.
- Pedro da Costa Rego foi um renomado jornalista da imprensa brasileira, nascido no Pilar-AL, em 12/03/1889 e falecido no Rio de Janeiro, em 06/07/1954. Foi também um vitorioso político que chegou ao governo do Estado e ficou famoso pela coragem no combate ao banditismo e à violência.
- Período em que a família Malta, através dos irmãos Euclides e Joaquim, se revezou no poder, naprimeira década do século XX. Foi derrubada por uma rebelião popular - as Salvações - que colocou no governo Clododaldo da Fonseca, vencedor das eleições.
- Giuseppe Tomasi di Lampedusa, escritor italiano (23/12/1896-23/07/1957). Escreveu várias obras e é famoso por seu romance Il Gattopardo ( O Leopardo), que retrata a decadência da aristocracia siciliana,no qual um dos príncipes afirma que é preciso mudar para que tudo continue com está.
- João Craveiro Costa, historiador nascido em Maceió, em 22/01/1874 e falecido na mesma cidade, em 31/08/1934. Um dos principais historiadores alagoanos, deixou dezenas de obras.
- Também conhecida como coco de embolada, ou coco de improviso, espécie de canto muito popular na região da mata alagoana. Surgiu nos engenhos de açúcar e tem melodia muito rápida e de intervalos curtos.
- Localizada em União dos Palmares, dista 100 quilômetros de Maceió. É monumento nacional, tombadopelo Governo Federal través do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-Iphan. Abriga o Parque Nacional dos Palmares, pois ali ficava localizado o sítio do Quilombo dos Palmares.
- Importante batalha terrestre travada entre forças holandesas de um lado e luso-espanholas de outro, em 28 de janeiro de 1636, lideradas por Arciszeswski e Luíz Rojas y Borja, respectivamente, vencida pelo primeiro.
- Cronista holandês que enviou importantes relatórios à Companhia das Índias Ocidentais sobre asunidades provinciais conquistadas por seu país. Um deles, em parceria com Henrique de Moucheron, traz informações preciosas sobre Alagoas.
- O atual brasão de Alagoas, reformulado em 1963 pelo professor Théo Brandão, evoca a heráldica holandesa trazida às terras alagoanas pelos artistas do príncipe Maurício de Nassau e se contrapõe àantiga bandeira e ao brasão criado pelos republicanos em 1894, baseado no sonho da industrialização.
- Ledo Ivo, considerado o maior poeta brasileiro dos dias atuais, é alagoano de Maceió (08/02/1924). Agraciado com vários prêmios nacionais e internacionais, é membro da Academia Brasileira de Letras e detentor do título de doutor honoris causa de várias universidades do mundo.
- Escurial e Buenos Aires são os dois primeiros engenhos construídos por Cristóvão Lins, um na região de Porto Calvo e o seguinte no vale do Camaragibe. Com eles iniciou-se o ciclo do açúcar em Alagoas.
- Pombal negro é a expressão cunhada por Joaquim Nabuco para designar a senzala, habitação dos escravos nos engenhos.
- Vinhoto é o restilo pastoso e malcheiroso que sobra da destilação do caldo, ou garapa, da cana de açúcar após a moagem. Forte elemento poluidor, contribuiu para reduzir drasticamente a fauna dos rios. Hoje, por pressão dos órgãos ambientais, é utilizado com o adubo para agricultura.
- Jean Baptiste Debret, pintor e ilustrador francês que deixou inúmeros trabalhos, aquarelas, desenhos equadros, retratando a vida do Brasil colonial no século XIX.
- Comissão Pastoral da Terra.
- Escritor brasileiro nascido na Paraíba, no Engenho Corredor, município de Pilar em 1901, e falecido no Rio de Janeiro em 1957, foi o mais autêntico narrador do ciclo da cana-de-açúcar do Nordeste. Moroualguns anos em Maceió, na era de ouro cultural, nos anos 20, convivendo com Graciliano Ramos, Jorgede Lima e Raquel de Queiroz.
- Antonio Saturnino de Mendonça Júnior, natural de Matriz de Camaragibe-AL, nasceu no Engenho Maranhão no dia 08/03/1908. Foi político e homem de letras. Faleceu em 10/01/1979.
- Nome literário de Agnelo Rodrigues de Melo.
- Jorge Mateus de Lima, “o príncipe dos poetas alagoanos”, é também romancista e nasceu em União dos Palmares-AL, terra de Zumbi dos Palmares, em 05/11/1893. Algumas de suas obras tratam do elementonegro, como o famoso “Essa Nêga Fulô”.
- José Geraldo Wanderley Marques é professor universitário, doutor em ecologia pela Unicamp e considerado um dos valores da moderna poesia alagoana.
- Iremar Marinho, jornalista, tem de sua autoria interessante poema intitulado Usina, que trata do sofrimento do morador canavieiro. Humberto Gomes de Barros é natural da zona açucareira, ex-ministro
do Superior Trib
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