quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O MILAGRE DOS PÁSSAROS - ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS



O MILAGRE DOS PÁSSAROS

ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS

Somos viajantes do tempo. Estamos no Recife no dia 14 de abril de 1631, observando o conturbado início da invasão holandesa. Vemos chegar o general Pater com quatro navios e centenas de militares com ordens expressas da Assembléia dos XIX, da Companhia das Índias Ocidentais, para que o Governador e o Conselho Político incluíssem ao domínio holandês a ilha de Itamaracá.
Em 22 de abril, uma expedição composta por quatorze navios e 1260 homens, parte para o seu destino. Por engano, desembarcam num canal ao sul de onde pretendiam, ou seja, longe da cidade e da fortificação e aí, após algumas explorações infrutíferas, resolvem acampar e construir um forte.
Ato contínuo relata Joannes de Laet, à página 206, do Livro Oitavo, de sua “História dos Feitos da Companhia Privilegiada das índias Ocidentais, desde o seu começo até o final do ano de 1636”: “Antes de deixarmos este forte, vamos referir um fato admirável. Um pouco ao norte do acampamento havia uma pequena ilhota, distando menos de um tiro de pistola, e que com a maré cheia ficava inundada, e estava coberta de pequenos arvoredos e arbustos; nesse mato vinha aninhar-se todas as noites, às seis horas, uma quantidade extraordinária de pássaros de tamanho regular e pequenos, que, ao chegarem, quase faziam escurecer o céu como uma nuvem, e no dia seguinte pela manhã, às seis horas, retiravam-se. Mas o que causou estranheza foi que, apesar da presença tão próxima da nossa tropa e de todos os tiros e gritos, essas aves nunca deixaram de chegar à hora habitual, até todo o mato ficar arrasado pela nossa gente e a fortificação ser ocupada”.
Trata-se de um fato admirável, pois sabemos que os pássaros, com o menor barulho, se assustam e fogem desesperados. Por que, então, os pássaros de que fala Joannes de Laet, apesar do barulho infernal causado pela máquina de guerra, a presença humana com os gritos de ordem, de dor e de desespero, só abandonaram o local após a completa destruição da vegetação e ocupação da fortificação?
         É, realmente, estranho. Tão estranho que não se pode hesitar em classificá-lo como um fato milagroso, uma vez que acontecimentos milagrosos ocorrem quando o Intangível interfere no curso normal da natureza. O homem primitivo, não completamente destituído de razão, atribuía origem sobrenatural a certas anomalias do mundo natural. Os Livros Sagrados, das mais diversas culturas, estão repletos de relatos de milagres e aparições e determinados casos nos fazem crer que esta interferência no mundo físico continuou através das diversas Idades atribuídas a nossa História – Antiga, Média, Moderna, início e meados da Contemporânea – e continua na atualidade, pois manifestações e aparições de Jesus e da Bem Aventurada Sempre Virgem Maria têm aparecido em diferentes épocas, locais e materiais: a inexplicável imagem do Santo Sudário, da tilma do índio Juan Diego e as incontestáveis aparições de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, de Lourdes, na França e de Fátima, em Portugal são apenas alguns exemplos mundialmente conhecidos e famosos.
       O que mais impressiona é o fato de que se levarmos em conta o caráter rural, a complexidade do ambiente, o estímulo a religiosidade, a consonância com a crença religiosa, a devoção a “Rainha do Céu” e a existência de fenômenos paranormais em nosso mundo, o que Joannes de Laet considerou como “fato admirável” obedece, rigorosamente, a alguns dos mandamentos básicos das teofanias e aparições.
Portanto, salvo exagero – já que não há nenhum motivo para fraude, pois Joannes de Laet era um rigoroso protestante – não vejo nenhum absurdo em se rotular o ocorrido na ilha pernambucana de Itamaracá como “O Milagre dos Pássaros”.
Os exércitos holandeses e luso-espanhóis não sentiram o exuberante cheiro do perfume do Transcendente e nem entenderam a sua doce e solene intervenção, pois continuaram a se digladiar.
Por isso, não posso conceber este acontecimento sem que nossa Divina Mãe, com lágrimas nos olhos, por ver seus amados filhos se matando, não tenha exclamado o que escrito foi pelo Profeta Jeremias em Lamentações 1, 12:

"Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor semelhante à minha dor".


PROFESSOR ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS
 ( UFAL)













http://www.aloisiovilela.com/






Um comentário:

  1. Boa tarde, Em nome de Aloisio Vilela de Vasconcelos, peço que por gentileza retire as fotos do mesmo e troque-as pela foto que encontra-se o perfil do facebook dele.
    https://pt-br.facebook.com/aloisio.vasconcelos.1?hc_location=stream

    ResponderExcluir

“Viver é uma arte. E seu roteiro deve ser escrito pela sabedoria e pelo bom senso”. Dr. José Reginaldo de Melo Paes (medico, poeta, acadêmico alagoano)

  Dr. José Reginaldo de Melo Paes (medico, poeta, acadêmico alagoano) “Viver é uma arte. E seu roteiro deve ser escrito pela sabedoria e p...