segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Criacionismo x Evolucionismo Debate SESC TV

1. Teoria Criacionista
Criacionismo é o termo utilizado para indicar a formação [criação] dos seres na natureza. Resume a noção genérica de uma entidade ou entidades inteligentes por trás de eventos como a origem do Universo, da vida na Terra ou das próprias espécies. A palavra criacionismo é de significado amplo e visa sustentar: a) interpretações existentes em livros considerados sagrados,  como Gênesis, da Bíblia, ou  Corão; b) versões religiosas não explícitas, rotuladas como hipótese do desenho inteligente (em geral, abreviada para DI, ou ID, do inglês intelligent design), que  combatem teorias científicas conflitantes com o fundamentalismo religioso. Durante mais de trinta séculos, a crença criacionista perdurou como uma verdade absoluta, interpretada literalmente da forma como está escrita nos textos sagrados das diversas literaturas religiosas, não dando chance a qualquer opinião discordante, menor por imposição das autoridades da época e mais por uma ausência de necessidade prática de um maior questionamento.
As concepções criacionistas não se limitam a ação de  Deus como criador  do universo e da vida. A visão criacionista judaico-cristã mostra que Deus fala diretamente com o homem e interfere no cotidiano e destino das pessoas, produz efeitos notáveis como  as pragas no  Egito, a passagem do Mar Vermelho, a paralisação  o sol para Josué consolidar sua batalha.O criacionismo como idéia geral, se caracteriza pela oposição, em diferentes graus, às teorias científicas sobre fenômenos relacionados à origem do universo, da vida e da evolução das espécies. Entretanto, há aqueles que aceitam as teorias científicas e, ao mesmo tempo, acreditam que Deus tenha criado o universo e o que há nele. Pertencem ao criacionismo evolucionista, ou evolucionismo criacionista, convivendo plenamente com os conceitos centrais de ambas as visões. Há, dentre os criacionistas cristãos, os que apóiam radicalmente a idéia da criação em sete dias literais, questionando ou ignorando as evidências arqueológicas, físicas e químicas existentes que dizem o contrário. Há os que aceitam a idade da Terra, ou até mesmo do universo defendida pela ciência, mas mantendo ainda posições conflitantes com a biologia. Outros defendem a idéia de que na  Bíblia e em outros livros sagrados há uma mistura da evolução dos seres com a criação, propriamente dita, dizendo que Deus deu origem à vida, mas permitiu que esta evoluísse. A propósito, A Bíblia faz menção de seis dias criativos e um sétimo dia de “descanso”. Alguns criacionistas entendem que isto dá margem para dizer que a expressão “dias” envolve milhares ou até mesmo bilhões de anos, tornando mais compatível a idéia da criação com a Geologia moderna. Alguns grupos mais radicais trabalham argumentos para refutar evidências evolucionistas em vez de estudar a Criação. As principais facções que abordam a criação dos seres e do universo são:
Criacionismo Clássico - Alguns afirmam que, de modo geral, o criacionismo exige apenas a crença em um criador ou projetista inteligente: Deus é o criador supremo de todos as coisas e seres. Neocriacionismo  também chamado de planejamento inteligente, é uma corrente surgida por volta de 1920 nos EUA. Defende a idéia de que houve influência de uma entidade inteligente na criação dos seres vivos. Grupos religiosos dessa corrente têm lutado para impor o ensino da criação nas escolas em pé de igualdade com o ensino da evolução, como resposta ao veto do ensino religioso. Nas aulas de ciências nos Estados Unidos da América é considerado inconstitucional o ensino do criacionismo religiosamente explícito (Bíblia e  Corão). A interpretação criacionista literal perdeu sua unidade, sendo questionada com maior profundidade.

2. Teoria evolucionista - Evolução evidência cientifica

De acordo com a maioria dos cientistas, todas as ramificações do Criacionismo ferem importantes princípios filosóficos da ciência. A Ciência não aceita o Criacionismo, mas o Evolucionismo.  A teoria evolucionista, que é aceita em muitos círculos científicos, tem três aspectos principais: A) há  relação ancestral entre os organismos, tanto vivos quanto fossilizados;  b) é possível surgir novas características em uma nova linhagem ou geração de seres; c) existe um O mecanismo biológico que faz com que algumas características persistam enquanto outras perecem. A maioria dos biólogos evolucionistas acredita que toda a vida na Terra descende de um ancestral comum, habitualmente chamado de LUCA (Last Universal Common Ancestor — Último Antepassado Comum Universal). Esta conclusão é baseada no fato de que os organismos vivos apresentam características básicas extremamente semelhantes (como o código genético). Os criacionistas que defendem a teoria do Projeto Inteligente dizem que isso reflete um planejamento, uma mente superior que designou para os seres vivos características que seriam as melhores para a vida. Já os neocriacionistas defendem que o fato da vida apresentar aspectos semelhantes em todos os seres vivos só evidencia que eles tiveram um mesmo Criador, que teria um estilo de "criação" particular. A teoria da evolução que atualmente domina é chamada de síntese moderna, referindo-se à síntese da teoria da evolução de Darwin (Evolução das espécies) pela seleção natural com a teoria genética de Gregor Mendel (estabeleceu as leis básicas hereditariedade, que é o caráter transmitido por herança).

O QUE É O SER HUMANO
(Ou a história de três decepções)
Frei Betto
O mapeamento preliminar do genoma humano deitou por terra a nossa empáfia. Uma decepção! Aliás, a terceira grande decepção nesses últimos cinco séculos. Temos apenas trezentos genes a mais do que um rato. E só 30.000 genes, ao contrário dos esperados 100.000.

A primeira grande decepção

A pancada em nossa pretensão equivale à descoberta por Copérnico, no século XVI, de que a Terra não ocupa o centro do Universo.

Em 1514, o papa pediu ao astrônomo polonês que fizesse uma reforma do calendário. Ao estudar o Almagesto de Ptolomeu, Copérnico percebeu as deficiências que transparecem na prolixidade das proposições. A ciência é o avesso da arte, e não o seu contrário. Toda verdadeira descoberta científica deve corresponder à harmonia demonstrada pela natureza. E o modelo geocêntrico de Ptolomeu, embora do agrado da Igreja, era complexo e carecia de beleza.

"Um sistema desse tipo" - escreveu Copérnico a respeito da elaboração ptolomaica - "não parece suficientemente absoluto nem suficientemente agradável à mente". Ele sabia também que, desde a Antiguidade, o Sol e as estrelas haviam sido contemplados por quem tem os pés na Terra. E não ignorava a força ideológica da Bíblia, que proclama que Deus se encarnou e viveu como homem aqui neste planeta. Não seria este um sinal evidente de que vivemos no centro em torno do qual tudo se move?

Ora, ao beber nas fontes da Antiguidade clássica, o Renascimento aprendeu que a ciência é filha da verdade e não da autoridade. Imbuído dessa mentalidade dessacralizadora, quase iconoclasta, e da convicção de que não há barreiras à pesquisa, Copérnico ousou inverter a posição do observador e imaginou-se com os pés no Sol. Sua conclusão, a de que vivemos num sistema heliocêntrico, foi registrada no De Revolutionibus.

Cauteloso, não esqueceu que a Europa ainda se movia na órbita da Igreja. Por isso, considerou prudente não se apressar em publicar sua teoria heliocêntrica. Permitiu apenas que um esboço manuscrito circulasse entre especialistas. Só veio a admitir que o De Revolutionibus fosse editado quando já se encontrava no derradeiro abrigo, no qual a Inquisição não poderia mais alcançá-lo: o leito de morte.

Ainda assim, o teólogo luterano Andreas Osiander, que prefaciou a obra, achou melhor sublinhar apenas que o sistema copernicano era uma mera descrição matemática, o que não significava que o Sol ocupasse o centro em torno do qual girariam os planetas... E deixou seu texto sem assinatura, de modo a dar a impressão de que fora redigido pelo próprio Copérnico.

A bomba, entretanto, explodiu com a publicação do livro, em 1543, após a morte do autor, e provocou, de fato, uma autêntica revolução ao deslocar, da Terra para o Sol, o eixo do mundo.

Mesmo o nascente protestantismo sentiu-se ofendido ao ver este planeta relegado à condição de uma entre as tantas contas que ornamentam o colar do sistema solar. "Quem se aventura a pôr a autoridade de Copérnico acima do Espírito Santo?" bradou Calvino. Lutero também não se conteve e denunciou: "Esse idiota quer inverter toda a ciência da astronomia; mas a Sagrada Escritura nos diz que Josué mandou que o Sol parasse, e não a Terra".

A Igreja católica teve, de início, uma reação mais tolerante. Dez anos após a morte de Copérnico, o chanceler austríaco Johann Albrecht von Widmanstadt expôs aos papa Clemente VII, nos jardins do Vaticano, os aspectos fundamentais da teoria heliocêntrica. A reação foi positiva. Não obstante, a Igreja acabou incluindo o De Revolutionibus - oitenta anos após a sua publicação - no Index, a lista dos livros proibidos, onde figurou até 1835.

Se o poder eclesiástico já conhecia as idéias de Copérnico desde 1533, como se explica a perseguição a Galileu no século XVII? Talvez por ter ele escrito em toscano e, portanto, permitido ao povo o acesso às suas teorias. Deve ter pesado também sua atitude, considerada ousada e mesmo irreverente, de desafiar a autoridade papal ao "legislar" sobre os fenômenos da natureza.

O fato é que a teoria fixista de Ptolomeu, astrônomo egípcio do século II, tão conveniente a quem se julgava no centro do Universo, foi derrubada pelo heliocentrismo de Copérnico, relegando o ser humano a um planeta periférico situado na órbita de uma estrela vagabunda, de quinta grandeza, o Sol, localizada na periferia da Via Láctea, uma entre bilhões de galáxias que brilham sobre o veludo negro deste Universo parecido a uma caixa de jóias.

A segunda grande decepção

Bem, podemos não estar situados exatamente no centro do Universo, mas ao menos restava o consolo de que somos o capricho de Deus. A Bíblia, palavra divina, não mente. E em sua porta de entrada, o Gênesis, consta que o próprio Criador fez o ser humano, e o fez homem e mulher.

Tudo corria às mil maravilhas, até que, no século XIX, Charles Darwin descobriu que somos filhos de macacos. Sob o impacto de sua própria conclusão, o autor de A origem das espécies, ocultou, durante certo tempo, a sua teoria da evolução. Ele vivia doente, queixando-se de intensas dores de cabeça, derramando-se em vômitos e contraindo-se em palpitações cardíacas. Sofria os efeitos de um conflito íntimo, como quem somatiza um drama de consciência.

Darwin, que sonhara ser sacerdote, fora levado por caminhos que o tornaram autor de uma teoria que, como a astronomia de Copérnico e Galileu, faria a Igreja vociferar também no século XIX. Chegou a confidenciar a seu amigo Joseph Hooker que, ao admitir o parentesco entre o ser humano e os símios, ficou-lhe o sentimento de culpa de quem comete um crime, um verdadeiro parricídio - o assassinato de Adão.

Faltou o gene a Darwin para que ele pudesse completar sua teoria e explicar o micromecanismo da hereditariedade.

A terceira grande decepção

Agora, em plena era de domínio humano dos espaços siderais e das intimidades das partículas atômicas, vem a ciência demonstrar que temos só duas vezes mais genes do que os vermes. Cerca de 60% de nossos genes são cópias dos genes de moscas, fungos e bactérias.

O conceito de raça, que motivou tantas guerras e, ainda hoje, produz ferozes discriminações, acaba de escorrer pelo ralo. A diferença genética entre um branco e um negro é menor do que a existente entre dois negros.

Ficou tudo muito confuso na cabeça de quem centrava sua esperança em clones. Nada indica que uma cópia humana será melhor que o original, uma vez que a estrutura genética não é o determinante em nossa constituição humana. O meio ambiente influi, e muito. O livre arbítrio é inegável! O que explica tanta diferença entre gêmeos univitelinos.

É evidente que, ao abrir o capítulo dos genes no livro da vida, a ciência descortina avanços inestimáveis, como prever anomalias que poderão ser previamente evitadas. A perdurar essa fútil cultura de dianas e apolos, é provável que se faça uso de mutações genéticas por meros caprichos estéticos. Mas as doenças poderão ser combatidas antes em suas causas que em seus efeitos. 

Frei Betto é escritor, autor de "A Obra do Artista ­ uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros

domingo, 24 de agosto de 2014

Será que a mortalidade é inevitável? Entrevista especial com o físico brasileiro Marcelo Gleiser

Será que a mortalidade é inevitável?

Nesta entrevista especial com o físico brasileiro Marcelo Gleiser levantam-se questões como se poderemos armazenar a “nossa” informação num disco e tornar-nos imortais dentro dessa máquina. Ou como é muito difícil para um cientista aceitar a existência de uma entidade sobrenatural no universo. Entrevista de Graziela Wolfart e Patricia Fachin do Instituto Humanitas Unisinos



“A preocupação com os seres humanos está sempre em torno do início e do fim. E em relação à questão do fim está obviamente o tema do fim da vida humana e a manipulação do tempo”. A afirmação é do físico brasileiro Marcelo Gleiser, especialista no debate sobre as relações entre ciência e fé. E provoca: “uma das grandes aflições humanas é a mortalidade. Será que a mortalidade é inevitável? Ou será que pode ser controlável por meio da ciência?”. Gleiser, que é agnóstico, participou nos dias 2 e 3 de outubro, na Unisinos, do XIII Simpósio Internacional IHU Igreja, cultura e sociedade. A semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica. Na ocasião, concedeu a entrevista a seguir às jornalistas Graziela Wolfart ePatricia Fachin do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Durante a entrevista, Gleiser questiona: “qual o futuro da humanidade? Vamos virar cada vez mais máquinas? Pois eu digo que já estamos virando máquinas. Onde termina o ser humano e começa a máquina que também é parte dele? O próprio pensar o ser humano está a transformar-se de forma profunda e rápida”. E conclui: “temos de enriquecer o espírito humano abrindo o máximo de modos possíveis de se pensar sobre as grandes questões”.
Marcelo Gleiser é graduado em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio, mestre em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e doutor em Física Teórica pelo King’s College, em Londres. É pós-doutor pelo Fermilab e pela Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, nos Estados Unidos. Leciona no Dartmouth College, em Hanover, nos Estados Unidos. Tem uma vasta produção académica, além de inúmeros artigos e livros publicados, dentre os quais citamos “Cartas a um jovem cientista” (Rio de Janeiro: Campus, 2007); “Conversa sobre fé e ciência” (São Paulo: Agir, 2011), escrito com Frei Betto; “Criação imperfeita” (Rio de Janeiro: Record, 2010) e “A dança do universo” (Rio de Janeiro: Companhia de bolso, 2006).
IHU On-Line – Quais são as pesquisas mais relevantes que marcam a contribuição da ciência hoje?
Marcelo Gleiser – Temos avanços incríveis em várias áreas, como na ciência genética, onde estamos a aprender cada vez mais sobre a composição genética dos animais e do homem, e isso, a princípio, irá permitir uma nova revolução da medicina, porque seremos capazes de inventar e criar não só remédios, mas também pequenas bactérias que poderão servir até como cura às doenças. Se tiver, por exemplo, alguma infeção, poderá colocar no seu sistema uma bactéria que irá combatê-la. Essa é uma forma bem diferente de pensar a medicina. E obviamente, conhecendo o genoma humano, também podemos entender melhor como somos feitos, as diferenças que temos, etc. Apesar de parecer um cenário de ficção científica, poderemos encomendar certas propriedades nos nossos filhos, que é algo que assusta muita gente. Todo mundo vai querer ter um filho bonito, inteligente, forte. Isso tudo está muito longe ainda, mas não há a menor dúvida de que, em termos de manipulação genética, as coisas estão a avançar rapidamente.
Nas ciências neurocognitivas avança o conhecimento de como o cérebro funciona, como os neurónios são conectados às sinapses, incluindo a química que é relacionada com essa transmissão de sinais no cérebro, e como podemos interferir nela. Hoje existe uma série de remédios psiquiátricos novos, porque existe um conhecimento cada vez maior de como as coisas funcionam. Muitas das doenças existentes na época do Freud, que se achava serem neuroses, histerias e psicoses, hoje em dia são atribuídas em grande parte ao funcionamento químico, ao desequilíbrio do cérebro. É outra conceção da doença mental. Infelizmente há uma série de abusos nessa área, mas isso já é outra conversa.
Depois, temos os avanços das nanociências, a miniaturização da tecnologia, como o tamanho dos gravadores, por exemplo. Há alguns anos isso seria considerado magia negra, mas hoje não é e cada vez mais essa perceção será menor. Em princípio, a nanotecnologia também poderá ser aplicada na medicina, e serão criados minirrobôs, que poderão fazer uma porção de coisas, como um minirrobô broca, que poderá desentupir uma artéria entupida de uma pessoa.
Nas áreas da física espacial, estamos a aprender cada vez mais sobre o universo. O telescópio espacial Hubble foi uma das máquinas mais incríveis da história e agora vem o seu sucessor, para ser mais incrível ainda. Com isso, poderemos aprender ainda mais sobre a composição e a história do universo e sobre o nosso lugar nele. Também ligada a isso está a ideia de vida extraterrestre, que hoje em dia é parte da ciência e não mais ficção científica; trata-se da busca por outros seres e da possibilidade de encontrar traços de vida noutros planetas muito distantes daqui sem ter de ir lá, o que é incrível.
Quais os principais desafios para a ciência do século XXI? Que respostas o ser humano contemporâneo busca obter do conhecimento científico?
Uma coisa que é importante esclarecer é que o conhecimento científico é incrivelmente amplo. Podemos ir da astronomia à zoologia. E cada uma dessas áreas tem as perguntas específicas, bem como os métodos e os avanços específicos. Mas é óbvio que todos os seres humanos têm um interesse muito grande por dois tipos de questão, porque elas vão muito além das aplicações tecnológicas; estas são as questões sobre o começo e o fim. Temos essencialmente três questões: das origens (como surgiu o universo, será que a ciência pode explicar isso um dia, ou será que é algo essencialmente metafísica da religião?); a origem da vida (será que poderemos criar vida em laboratório?); e a origem da mente (como um apanhado de neurónios e sinapses de três quilos – que é o cérebro – consegue fazer coisas tão incríveis?). Essas são três questões que têm uma fronteira direta com o questionamento mais metafísico e religioso das pessoas. É por isso que todo mundo gosta de saber sobre essas coisas. Está todo mundo a querer saber se a ciência vai encontrar Deus nas equações, por exemplo.
O ser humano contemporâneo não está a buscar algo diferente na ciência pelo facto de se considerar mais autónomo, mas, ao mesmo tempo, temer a morte, a velhice e as doenças?
Pois é... Eu, por exemplo, tenho 150 anos, mas ninguém sabe disso (risos...). A preocupação com os seres humanos está sempre em torno do início e do fim. E em relação à questão do fim está obviamente o tema do fim da vida humana e a manipulação do tempo. Nos últimos 150 anos a expectativa de vida dobrou. Há 100 anos as pessoas viviam 35, 40 anos em média. E este é um avanço sensacional da medicina e da biologia, que levanta uma porção de outras questões sociais e políticas. Mas não há dúvidas de que, quanto mais aprendemos sobre o universo e sobre nós mesmos, mais autónomos ficamos. E devemos nos perguntar até que ponto podemos ir. Por exemplo, uma das grandes aflições humanas é a mortalidade. Será que a mortalidade é inevitável? Ou será que pode ser controlável por meio da ciência? Há uma porção de pessoas a estudar o processo de envelhecimento, o que acontece com o nosso corpo, no funcionamento das células, de forma que, de repente, as coisas comecem a mudar e é uma mudança irreversível. Ou não? Ao conhecermos os mecanismos de envelhecimento celular, veremos que, aparentemente, ele tem a ver com os cromossomas, com a parte genética da célula, e parece que um dos pedaços destes cromossomas vai-se desgastando com o tempo. E a partir deste desgaste, as células não se rejuvenescem da maneira como poderiam. E se conseguíssemos controlar este desgaste, será que seria possível manter uma idade constante? Muita gente aposta nisso.
Existência eterna virtual
Há outros cenários, mais “loucos” ainda. Por exemplo, hoje estamos na era da informação. Tudo é informação, até o código genético. Podemos usar cromossomas para armazenar um livro. Se somos informação, será que podemos armazenar a “nossa” informação numa espécie de disco? Será que poderíamos salvar a essência da nossa personalidade, a nossa memória? E se pudéssemos implantar essa essência num computador, numa máquina, que fosse capaz de “rodar o nosso programa”, poderíamos tornar-nos imortais dentro dessa máquina? E então passaríamos a existir virtualmente. Qual o futuro da humanidade? Vamos virar cada vez mais máquinas? Pois eu digo que já estamos a virar máquinas. Sem o telemóvel não somos mais a mesma pessoa. Ele já é parte da gente. Onde termina o ser humano e começa a máquina que também é parte dele? O próprio pensar o ser humano está a transformar-se de forma profunda e rápida. A novidade do nosso momento é o facto de todos poderem estar conectados sempre, no caso, pela Internet, a vila global.
O que deve fazer parte da extensão das ciências para além do tradicional método reducionista?
A questão é que a ciência sempre reduz para entender. E esse método foi muito eficiente. Só que começamos a questionar-nos se existe apenas este mecanismo de explicação, porque existem certos sistemas naturais que não se dão a este tipo de reducionismo. Por exemplo, o cérebro. Se o apresentarmos como um conjunto de neurónios, bastaria entender como funciona o neurónio para entender o cérebro. Isso jamais vai dar certo. Outro exemplo é o clima. Não dá para entender o clima a partir da troca de calor entre o mar, as florestas e a atmosfera, porque temos uma porção de efeitos, como o sol e a poluição humana interferindo. Esses sistemas complexos precisam de leis da natureza que são novas, que não são redutíveis ou explicáveis a partir das leis que usamos para entender como funcionam os átomos e os mecanismos mais comuns da natureza. Surge a necessidade de inventarmos uma ciência nova, paralela, que chamamos de ciência da complexidade. Essa ciência traz outra maneira de pensar sobre o mundo. A ideia é a de que há níveis de explicação diferentes adequados a níveis de complexidade diferentes. É como se a própria complexidade do sistema criasse essas leis. Por exemplo, a sociedade humana se organiza a partir de certas leis. E quando os homens surgiram essas leis não existiam. Elas foram desenvolvidas a partir das necessidades que a vida em sociedade exigiu.
Em que medida o discurso religioso limitou o desenvolvimento da ciência? Hoje, a religião ainda limita a ciência?
A religião “errada”, extremista, tenta limitar. Falo, por exemplo, dos fundamentalistas, que tentam envolver-se nos conselhos educacionais de escolas e governos para proibir o ensino da teoria da evolução ou da cosmologia. Isso é obscurantismo medieval. Esse tipo de religião é errado por tentar interferir no processo educacional, social, político, etc. Mas existem outras maneiras de ser religioso e ter fé.
É que fica a preocupação de que, talvez, a ciência poderia estar a avançar mais, não fosse a interferência religiosa...
Já foi o tempo em que isso aconteceu. Talvez no século XVII, na época de Galileu, a religião estava atravancando as coisas. Hoje a separação é tão radical e o mundo da ciência é tão independente do mundo da religião, tendo-se a separação entre Igreja e Estado tão claramente na maioria dos países que realmente isso não acontece mais.
Em que sentido o senhor afirma que a espiritualidade é parte constituinte do ser humano?
O ponto é que, quando falamos em espiritual, pensamos em espírito. E esse não é o significado da palavra a que me refiro. Quando se fala em religião, não necessariamente se fala num deus monoteísta, judaico-cristão-muçulmano. Existem muitas religiões no planeta. E a forma como crescemos na nossa cultura cria em nós um certo preconceito com relação a como deveria ser a fé. A própria história da Igreja e da evangelização tem muito a ver com a postura de “o deus que importa é o meu. Aprende, porque se não vais para o inferno”. A questão é: como resgatar isso numa era científica?
As pessoas precisam entender que ciência não significa uma relação destituída de intensidade com a natureza. Muito pelo contrário. Uma pessoa que resolve ser cientista é alguém que dedica a vida inteira ao estudo do mundo natural, porque tem paixão pelo mistério do desconhecido. A ciência funciona a partir do mistério, do não saber. Estamos a tentar entender cada vez mais o mundo. A ciência precisa desse mistério e afeiçoa-se a ele. E, para mim, essa relação do homem com o desconhecido, com o que transcende o humano, que é muito maior do que ele, que é tão cativante a ponto de dedicarmos uma vida a essa busca, é algo profundamente espiritual. Eu faço corrida de longa distância e gosto muito de correr em trilhas, em florestas. Domingo de manhã, enquanto as pessoas vão à missa, vou para o meu templo, que são essas trilhas na floresta. Quando entro ali, tenho um senso de reverência tão profundo quanto alguém que entra num templo religioso (católico ou judaico, por exemplo). Falo aqui da grandiosidade da natureza, da nossa relação profunda com o natural. Afinal somos todos feitos das mesmas coisas. Isso é uma relação espiritual com o mundo.
Como é a sua relação com “deus”, com a fé? Como o define e qual a importância da transcendência na sua vida?
Eu não uso a palavra “deus”. Já usei, porque cresci numa família judia e tive uma formação bem radical. Hoje, não chamo isso de “deus”; chamo de natureza. Há gente que me diz: “ah, mas essa sua natureza é deus”. E eu respondo que tudo bem. Cada um chama como quiser a natureza e a criatividade do universo. Mas é uma questão semântica. Que é menos importante do que a questão da nossa relação espiritual com isso. O nome é menos importante do que a emoção. E eu tenho essa relação e essa emoção. Não sou ateu, sou agnóstico. Se você me pergunta se eu tenho fé no sentido cristão, eu respondo que não. Mas se usar fé no sentido da capacidade quase que miraculosa do ser humano de entender o mistério do universo, de ter essa confiança de que é possível, então digo sim. Temos de ter fé na confiança de que é possível, na nossa crença de que podemos entender o mistério. Por outro lado, precisamos ter a humildade de reconhecer que não dá para entender tudo. As pessoas enganam-se quando apontam os cientistas como arrogantes que “sabem tudo”. É justamente o contrário. Os meus colegas que adotam essa postura da arrogância são ou iludidos ou hipócritas. Porque ninguém sabe tudo. Quanto mais se aprende, mais se descobre o quanto não sabemos e mais perguntas se podem fazer.
Qual a contribuição que a ciência e a fé oferecem, de modo específico, para a nossa compreensão do mundo e o nosso lugar nele, bem como para encontramos sentido nas nossas vidas? Como elas podem contribuir, cada uma a seu modo, com a diminuição do sofrimento humano?
As duas não são necessárias. Se alguém optar apenas por uma visão científica do mundo, pode ser perfeitamente feliz, moral – não existe isso de que só se é moral se acreditar em Deus; isso é um absurdo. Então, é possível ter uma visão científica, somada a uma visão complementar, em que a ciência leva até um certo ponto e não satisfeitos, porque queremos ir além, iremos em busca de uma outra visão, que apela para a fé, para a crença num poder sobrenatural, que é maior do que o homem. Esse também é um caminho. Porque muitas vezes algumas pessoas têm, na participação do ato religioso, restituída a sua dignidade, o seu senso de comunidade e de pertencimento, que não tinham antes. Isso a ciência nunca lhes vai dar. Por outro lado, é muito difícil para um cientista, como eu, aceitar a existência de uma entidade sobrenatural no universo, porque vai contra toda a estrutura do pensamento científico. Por exemplo, se pensarmos no deus judaico-cristão: ele existe fora do espaço e do tempo, é imanente e transcendente. Por outro lado, ele – se é que é um ele – pode agir dentro do espaço e do tempo. É imaterial, mas pode agir e interferir na matéria. Essas coisas, do ponto de vista científico, não fazem o menor sentido.
Só que aí entra o mistério da fé, a partir do qual nem tudo se explica racionalmente...
Aí é que está o ponto. Diante de uma “visão” eu posso escolher tomar como desafio a tentativa de entender como ela aconteceu, ou posso enquadrá-la como um sinal de Deus.
Então o que as pessoas chamam de fé é algo que elas ainda não compreenderam e não conseguem explicar, justificando por meio da fé?
Sim, para muita gente. “Ah, não entendi como surgiu a vida, então foi Deus quem a fez”. É a questão do Deus das lacunas, pela qual colocamos Deus no meio de tudo o que não entendemos.
Com isso está a dizer que Deus não existe?
Não se pode afirmar que Deus não existe. Mas também é muito perigoso dizer: “Deus está lá”, porque a física e a ciência explicam muita coisa.
Mas então ele sempre vai existir, porque sempre haverá algo a ser descoberto...
Mas quem é esse "deus"? O nome “deus” é mais usado porque “pegou”. Mas essa ideia do sobrenaturalismo contra o naturalismo é muito complicada para um cientista. Se bem que hoje em dia há uma porção de cientistas religiosos, que partem da lógica de que “quanto mais se entende o universo, mais se admira a glória de Deus”. O problema começa quando existe uma interferência nas esferas.
A partir dos usos que os seres humanos fazem da ciência e da religião, o senhor tende a perceber que nosso caráter pende mais para o bem ou para o mal?
Sou um otimista. Se não tendêssemos mais para o bem já não estaríamos aqui. O facto de estarmos aqui é a prova de que tendemos mais para o bem do que para o mal. Depois de 1945, temos o poder de nos aniquilarmos como espécie, mas não o fizemos. Ao contrário. Desde então não tivemos mais nenhuma guerra nuclear.
E não podemos atribuir essa “bondade” humana ao controle das instituições – escola, igreja, família – sobre nós, moldando-nos a fazer o bem desde o início de nossas vidas?
Boa pergunta. Acho que sim. As instituições não estão aí por acaso. O casamento, por exemplo, garante um parceiro sexual, o que pelo menos torna as pessoas mais calmas, não tendo que sair mundo afora na busca, o que resulta num controlo social. Se as instituições não dessem certo, realmente as coisas ficariam más, mas estão a funcionar, bem ou mal. O ser humano ainda é um bicho muito tribal, basta assistir a um jogo de futebol. O desporto é uma guerra controlada, é uma maneira de sublimar o instinto da guerra. Então eu concordo que o ser humano precise de regras porque temos tendências muito apaixonadas, tanto numa direção como na outra.
Qual o diálogo que é possível entre a filosofia e as demais ciências, especialmente a física, para compreender a essência humana?
Está a ocorrer uma guerra entre a a filosofia e a física nos Estados Unidos, em que os físicos afirmam que a primeira não ajuda em nada, sendo uma perda de tempo. A verdade é que não é bem assim. A filosofia ajuda-nos a organizar a maneira como pensamos sobre as coisas. Muitas dessas questões de origem, de metafísica, são filosóficas e estão a ser discutidas pela filosofia há milénios. Temos de enriquecer o espírito humano abrindo o máximo de modos possíveis de se pensar sobre as grandes questões.
Fonte:

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Milton Rosendo

Conheça a vida e a obra do jovem poeta alagoano, autor do livro "Os Moinhos", Milton Rosendo. No programa, descubra como despertou o interesse pela escrita e quais os projetos que estão por vir.

O Autoria vai ao ar pela TV Educativa às segundas-feiras, às 19h15 (estréia) e sábados, às 12h45 (reprise).

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O ser humano como nó de relações totais - LEONARDO BOFF

O ser humano como nó de relações totais

Em 1845 Karl Marx escreveu suas famosas 11 teses sobre Feurbach, publicadas somente em 1888 por Engels. Na sexta tese Marx afirma algo verdadeiro mas reducionista:”A essência humana é o conjunto das relações sociais”. Efetivamente não se pode pensar a essência  humana fora das relações sociais. Mas ela é muito mais que isso pois resulta do conjunto de suas relações totais.
Descritivamente, sem querer definer a essência humana, ela emerge como um nó de relações voltadas para todas as direções: para baixo, para cima, para dentro e para fora. É como um rizoma, aquele bulbo com raízes em todas as direções. O ser humano se constrói na medida em que ativa este complexo de relações, não somente as sociais.

Em outros termos, o ser humano se caracteriza por surgir como  uma abertura ilimitada: para si mesmo, para o mundo, para o outro e para a totalidade. Sente em si uma pulsão infinita, embora encontre somente objetos finitos. Daí a sua permanente implenitude e insatisfação. Não se trata de um problema psicológico que um psicanalista ou um psiquiatra possa curar. É sua marca distintiva, ontologógica, e não um defeito.
Mas aceitando a indicação de Marx, boa parte da construção  do humano se realiza, efetivamente, na sociedade. Daí a importância de considerarmos qual seja a formação social que melhor cria as condições para ele poder desabrochar mais plenamente nas mais variadas relações.
Sem oferecer as devidas mediações, diria que a melhor formação social é a democracia: comunitária, social, representativa, participativa, debaixo para cima e que inclua a todos sem exceção. Na formulação de Boaventura de Souza Santos, a democracia deve ser ser sem fim. Temos a ver com um projeto aberto, sempre em construção que começa nas relações dentro da família, da escola, da comunidade, das associações, dos movimentos, das igrejas e culmina na organização do estado.
Como numa mesa, vejo quatro pernas que sustentam uma democracia mínima e verdadeira, como tanto acentuava em sua vida Herbert de Souza (o Betinho) e que juntos em conferências e debates, procurávamos difundir entre prefeitos e lideranças populares.
A primeiro perna reside na participação: o ser humano, inteligente e livre, não quer ser apenas beneficiário  de um processo mas ator e participante. Só assim se faz sujeito e cidadão. Esta participação deve vir de baixo para não excluir ninguém.
A segunda perna consiste na igualdade. Vivemos num mundo de desigualdades de toda ordem. Cada um é singular e diferente. Mas a participação crescente em tudo impede que a diferença se transforme em desigualdade e permite a igualdade crescer. É a igualdade no reconhecimento da dignidade de cada pessoa e no respeito a seus direitos que sustenta a justiça social. Junto com a igualdade vem a equidade: a proporção adequada que cada um recebe por sua colaboração na construção do todo social.
A terceira perna é a diferença. Ela é dada pela natureza. Cada ser, especialmente, o ser humano, homem e mulher, é diferente. Esta deve ser acolhida e respeitada como manifestação das potencialidades próprias das pessoas, dos grupos e das culturas. São as diferenças que nos revelam que podemos ser humanos de muitas formas, todas elas humanas e por isso merecedoras de respeito e de acolhida.

A quarta perna se dá na comunhão: o ser humano possui subjetividade, capacidade de comunicação com sua interioridade e com a subjetividade dos outros; é um  portador de valores como  solidariedade, compaixão, defesa dos mais vulneráveis e de diálogo com a natureza e com a divindade. Aqui aparece a espiritualidade como aquela dimensão da consciência que nos faz sentir parte de um Todo e como aquele conjunto de valores intangíveis que dão sentido à nossa vida pessoal e social e também a todo o universo.
Estas quatro pernas  vem sempre juntas e equilibram a mesa, vale dizer, sustentam uma democracia real. Ela nos educa a sermos co-autores da construção do bem comum; em nome dele aprendemos a limitar nossos desejos por amor à satisfação dos desejos coletivos.
Esta mesa de quatro pernas não existiria se não estivesse apoiada no chão e na terra. Assim a democracia não seria completa se não  incluisse a natureza que tudo possibilita. Ela fornece a base físico-química-ecológica que sustenta a vida e a cada um de nós.  Pelo fato de terem valor em si mesmos, independente do uso que fizermos deles, todos os seres são portadores de direitos. Merecem continuar a existir e a nós cabe respeitá-los eentendê-los como concidadãos. Serão incluidos numa democracia sem fim sócio-cósmica. Esparramdo em todas estas dimensões realiza-se o ser humano na história, num processo ilimitado e sem fim.
Leonardo Boff é autor de O destino do homem e do mundo, Vozes 2000.

Interior: Fóssil de tartaruga com 125 milhões de anos é achado em AL - TNH1 - O portal de notícias de Alagoas

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“Viver é uma arte. E seu roteiro deve ser escrito pela sabedoria e pelo bom senso”. Dr. José Reginaldo de Melo Paes (medico, poeta, acadêmico alagoano)

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