domingo, 16 de junho de 2013

Sávio de Almeida: "Falo de quem é fundamental e em quem ninguém mexe" Como explicar Alagoas?

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LELO MACENA


Repórter


Para o historiador Luis Sávio de Almeida, considerado um dos nossos principais pensadores, Alagoas só começa a se preocupar em escrever sua história no final do século XIX, por meio dos textos de José Próspero Jeová da Silva Caroatá (1825-1890), João Francisco Dias Cabral (1834-1885) e Pedro Nolasco Maciel (1861-1909).


Segundo ele, é a partir desses três personagens que se inauguram as formas de ver o Estado: são os três paradigmas, como ele define. Caroatá, em seu texto Crônicas do Penedo, publicado nos três primeiros números da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), seria a visão declaradamente senhorial do poder. Dias Cabral, apesar de também representar esse segmento, começa a introduzir na história alagoana as classes menos favorecidas. Por fim, vem Pedro Nolasco Maciel, pelo fato de que este, no livro Traços e Troças: Crônica Vermelha, Leitura Quente, cuja primeira edição foi publicada em 1899, sem o nome do autor, busca definir o que seria “esta coisa” chamada os filhos do trabalho, uma categoria que se define historicamente em confronto com o capital, com o poder.


Para Sávio, essas três leituras são fundamentais para o entendimento básico da formação histórica, política, social e econômica de Alagoas. “O Caroatá dá uma visão de Alagoas em todos os setores: da economia à política. Toda hora que você lida com uma questão chamada poder, passa por tudo isso. Todo livro é uma plataforma política. Principalmente os que dizem que não são. Não tem um que não seja. Caroatá é fantástico e extraordinário porque ele sabe disso. Ele não nega que está a serviço do poder local”, diz ele.


O pesquisador segue apresentando a sua lista de títulos essenciais com o nome do maquinista João Ferro, segundo ele, um dos introdutores do pensamento de esquerda por aqui. “Ele sustenta uma discussão com a elite do pensamento de Alagoas sobre o que é socialismo em 1902”, explica Sávio.


Seguindo em ordem cronológica, Sávio faz referência ao nome de Francisco de Paula Leite e Oiticica (1853-1927) e seu texto de título quilométrico: Memorial Biográfico do Comendador José Rodrigues Leite Pitanga. “Se o cabra não ler, vai ficar muito difícil entender Alagoas. Hoje seria considerado um texto de direita. Mas é imperdoável querer, por conta desse tipo de balizamento, deixar de dizer que é uma obra-prima”, ressalta. “É um artigo publicado em três números na Revista do Instituto Histórico. É fantástico! Extraordinário! O cara escreve sabendo que está em cima de um palanque, de uma plataforma política. Tem que ser lido sim”, observa Sávio.


O historiador Nicodemos de Souza Moreira Jobim (1836-1913) é outro nome que integra a lista do pesquisador. Ele não lembrava o título do volume por ser muito extenso, mas a Gazeta trouxe para o leitor. Lá vai: História de Anadia em princípio arqueológico, contendo a descrição topográfica, nomes de todos os funcionários públicos, biografia de alguns de seus representantes, anais da igreja, genealogia das principais famílias da província que nela têm origem, remontando-se ao quinto grau em ascendência e crônica minuciosa de todos os acontecimentos, desde 1801 (publicado em 1881).


“Esse cara é fundamental pela chacoalhada que ele dá no tipo de história que era feita. Ele baseia a história dele na história oral, em coisas que só agora são valorizadas. É genial pela audácia na forma de construir o texto com condições de informação que na época não tinham prestígio científico”, analisa ele. De acordo com Sávio, no texto de Nicodemos percebe-se a intelectualidade que vivia contida pela forma de organização da sociedade.


Sigamos mais um pouco à frente, até chegar ao deputado estadual, juiz de direito e promotor Wenceslau de Almeida (1883-1936), outro escalado na seleção de Sávio de Almeida. “Ele representava o saber local, o erudito local. Era considerado um grande historiador, mesmo sem ter saído de Capela. Esse cara produziu textos que mostram como era a boa erudição local ligada aos documentos”.


Vale ressaltar que o historiador Sávio de Almeida não se ateve aos títulos específicos dos nomes citados. Para ele, há que se ler a obra completa do autor.


Depois de falar de Wenceslau de Almeida, Sávio cita Théo Brandão como mais uma leitura fundamental para a elucidação do enigma alagoano. “O Théo foi um dos melhores do Brasil. Eu não estou dizendo que eu concordo com ele, estou dizendo que ele é um dos melhores que eu já li em toda a minha vida, no tipo de coisa que ele fazia. Ele tem que ser lido. Especialmente a introdução do livro dele, Folguedos Natalinos. Brilhante!”, diz, aproveitando para incluir outro nome no rol das leituras cruciais sobre Alagoas: Manuel Diégues Júnior. “A influência do Diégues Júnior em Alagoas jamais foi estudada. Esse homem teve uma importância vital na formação da melhor intelectualidade em Alagoas. Eu estou falando do livro O Bangüê nas Alagoas”.


Sávio não deixa de citar também o que ele define como “duas contrapartidas de Théo Brandão”, que são Félix Lima Júnior (1901-1986) e Abelardo Duarte (1900-1992). “O velho Félix é a classe média falando. Ele recupera a voz da classe média”.


Em seu roteiro Sávio de Almeida faz questão de mencionar o historiador Moacir Medeiros de Santana, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, da Academia Alagoana de Letras e à frente do Arquivo Público de Alagoas desde 1961. Com mais de 50 obras publicadas sobre Alagoas e várias outras no prelo, Santana é apontado por Sávio como um autor fundamental dentro da bibliografia sobre o Estado.


“O Moacir é uma espécie de virada em Alagoas. Ele tem textos fundamentais sem os quais não se entende isso aqui. O segundo capítulo do livro dele, chamado Uma Associação Centenária: História da Associação Comercial de Maceió, tem que ser lido”, diz Sávio, que chama a atenção ainda para outro título produzido por Moacir Santana, Contribuição à História do Açúcar em Alagoas (de 1970). “Ele tem coisas importantíssimas. O Moacir é um brilhante historiador”, observa.


Sávio põe Moacir Santana no mesmo patamar de Dirceu Lindoso ao afirmar: “Quem também dá uma contribuição importante e é tão bom quanto o Moacir é o Dirceu Lindoso. São duas vertentes diferentes. O homem que vai em busca da documentação, que é o Moacir, e o homem que vai atrás da análise e da interpretação, que é o Dirceu Lindoso. Os dois são os mais importantes da nossa geração”, sentencia.


O historiador segue enumerando nomes e títulos e não perde a oportunidade de citar a letra do frevo Nega Juju como um dos textos mais importantes da história alagoana. “O autor desse frevo é o primeiro cara que entende que folia pode ser geografia”, diverte-se ele. “Veja que eu não estou falando de ninguém consagrado. Eu não estou falando de Graciliano Ramos, nem de Lêdo Ivo. Já se falou demais. Eu estou puxando quem é fundamental e em quem ninguém mexe”, diz, ao explicar suas indicações.


Dos nomes contemporâneos, Sávio prefere não citar ninguém da safra da produção intelectual acadêmica - mais especificamente os estudiosos ligados à área da pós-graduação. “A pós-graduação veio para colocar todos em um mesmo nível. Nessa situação de hoje, você não tem nomes que se distanciem. Eu me incluo entre eles. Os que se sobressaem na pós-graduação são os gênios. E aqui nós não temos gênios”, completa o historiador, embora não deixe de enxergar uma nova geração de estudiosos e pesquisadores vindo por aí. “Alguns deles serão fundamentais para o pensamento alagoano”, acredita.


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Um olhar sobre o Baixo São Francisco


Há 16 anos em Maceió e há mais de dez estudando o Baixo São Francisco, a socióloga e cientista política mineira Evelina Antunes Oliveira está entre os vários pesquisadores de outros Estados do Brasil que têm Alagoas como objeto de estudo.


Evelina acabou de publicar o resultado de parte de uma pesquisa que desenvolve em algumas regiões ribeirinhas do Rio São Francisco, entre os municípios de Piranhas (AL) e Paulo Afonso (BA). Seu trabalho Nos Trilhos da História do Baixo São Francisco: Um Ensaio sobre a Estrada de Ferro Paulo Afonso, publicado numa reunião de textos sobre o Velho Chico chamada Rio Sem História? Leituras sobre o Rio São Francisco recebeu muitos elogios, inclusive do historiador Sávio de Almeida, que o classificou como uma grande contribuição para a história alagoana daquela região.


COMEÇO DE CONVERSA


Antes de dar início à lista das obras que elege como essenciais para pensar Alagoas, a socióloga trata de avisar: “Eu sou uma pesquisadora. Não tenho compromisso político e ideológico de enaltecer determinadas correntes. A minha função de pesquisadora é pensar sobre Alagoas, pois é aqui que eu trabalho. O local de nascimento do autor é o que menos me importa. A mim importa a reflexão que ele fez sobre Alagoas”.


Dos autores do século XIX, ela começa citando o médico e jornalista Tomás Espíndola (1832-1889) e o seu Geografia Alagoana; Descrição Física, Política e Histórica da Província de Alagoas (1860). Evelina ressalta a universalidade do livro de Espíndola e a maneira pela qual o estudioso aborda os vários aspectos da geografia tratada.


Tavares Bastos também serve de fonte para seus estudos. “Ele é da área do Direito, mas dá pistas importantes e bonitas sobre a sociedade alagoana de sua época. Ele tem considerações de natureza nacional que nos ajudam a pensar o que poderia estar acontecendo aqui”, explica.


O livro Introdução à Antropologia, do alagoano Arhur Ramos, é outro citado pela pesquisadora. “O objeto dele também é nacional, não local, mas é lógico que ele contribuiu para a intelectualidade local”, diz ela, também citando Sobrados e Mocambos, do pernambucano Gilberto Freyre. “Ele qualifica com muita propriedade as relações sociais que se deram no Nordeste, e Alagoas é Nordeste. Não dá para pensar o que acontece em Alagoas sem pensar o que acontece no Brasil”, observa.


Outro alagoano cujos trabalhos servem de base para as pesquisas de Evelina é Adalberto Marroquim, com seu Terra das Alagoas (1922). “Foi uma boa lanterna para iluminar minhas pesquisas sobre o Baixo São Francisco, sobre a estrada de ferro de Paulo Afonso. Eu estava querendo entender o que acontecia ali, naquela época”, diz. “É uma descrição, um mapa. É muito interessante também você ver o estilo de redação da época. Ele tem considerações interessantes sobre cada município alagoano do começo do século XIX”, comenta. Theodoro Sampaio é mais um nome imprescindível para quem pretende conhecer o Baixo São Francisco, segundo a pesquisadora.


Contemporâneos


Dos autores contemporâneos, Evelina cita o historiador Luis Sávio de Almeida como uma das principais fontes de sua pesquisa. Os estudos sobre as ferrovias alagoanas de Douglas Apratto Tenório, de 1977, também são mencionados pela socióloga, assim como Alberto Saldanha e seu estudo sobre o movimento estudantil no Estado.


Evelina faz questão de incluir em sua lista nomes de pesquisadores e estudiosos que, para ela, desenvolvem trabalhos fundamentais sobre Alagoas e concentram seus estudos nesse pedaço de terra do Nordeste. São eles: Maria do Carmo Vieira, mineira, socióloga, com livros publicados sobre questões ambientais no complexo lagunar Mundaú-Manguaba; Regina Marques, Alice Plancherel, Bruno César e Raquel Rocha; Cícero Péricles e Fernando Lira (na área de Economia); Maia Cecília Lustosa, Paulo Décio de Arruda Melo,Regina Dulce Lins, Maria Angélica Silva, Ruth Vasconcelos, Siloé Amorim, Silvia Martins e Nara Salles. LM


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Bruno César e a lista dos "dez mais"


Citado por alguns dos estudiosos entrevistados pela reportagem como um dos principais nomes da pesquisa sobre a cultura alagoana, o professor Bruno César Cavalcante listou dez títulos os quais considera essenciais para o conhecimentos sobre o território alagoano, embora tenha feito algumas ressalvas.


“A informação de e sobre Alagoas, ao menos nesses últimos 50 ou 60 anos, não mais está disponível em obras de síntese”, afirma ele. “De modo que não há ‘o livro’ que nos explique, que nos dimensione em várias frentes. Temos um ensaísmo constante, e de qualidade, mas deixamos de produzir obras do tipo ‘A História das Alagoas’, ou ‘A Civilização de Alagoas’ e similares”, diz.


“Histórias” diferentes


Dos autores alagoanos o pesquisador cita Sávio de Almeida, Dirceu Lindoso e Douglas Apratto quando o assunto é história política. “No passado, poderíamos dizer o mesmo de gente como Hugo Jobim ou José Prospero Caroatá; e até de viajantes estrangeiros que deixaram suas descrições mais rápidas ainda, a exemplo de Gardner, Ave-Lallemant e outros”, compara. Para a história econômica ou a sociedade formada em torno da economia do açúcar, Bruno cita Moacir Santana, Manuel Diégues Jr. e ainda Manuel Correia de Andrade.


No segmento da cultura e do folclore, o pesquisador lembra os nomes de dois das escolas de Viçosa e Maceió. “É o caso de autores como Abelardo Duarte e Théo Brandão. Aí, nada temos que não uma imensa produção muito especificada, às vezes de um único folguedo, sem nenhuma análise com alcance que mereça ou justifique a inclusão numa lista tão pequena. O mesmo vale para os estudos étnicos, onde, aliás, há também bons estudos isolados”, justifica.


A lista de livros do pesquisador é encabeçada por Formação de Alagoas Boreal, de Dirceu Lindoso. “É o livro mais belo, ao menos o mais agradável de ler, sobre a história alagoana, mesmo que não seja o mais amplo. Um livro para apaixonar o leitor pelos temas que descreve”. Depois vem mais uma obra de título gigantesco: Idéa da população da capitania de Pernambuco e das suas annexas, extenção de suas costas, rios, povoações notáveis, agricultura, número de engenhos, contractos e rendimentos reaes, augmento que estes tem tido & &, desde o anno de 1774 em que tomou posse do Governo das mesmas Capitanias o Governador e Capitam General José Cezar de Menezes (na grafia original), de José Cezar de Menezes. Segundo Bruno, o escrito vale por seu pioneirismo e antigüidade na descrição da paisagem local.


Seguindo o roteiro de Bruno César Cavalcante, surgem ainda Geografia Alagoana, ou Descrição Física, Política e Histórica da Província das Alagoas, de Tomás Espíndola, Opúsculo da Descrição Geographica e Topographica, Phizica, Política e Histórica do que Unicamente Respeita à Província de Alagoas no Império do Brasil, de Hum Brasileiro, que talvez tenha sido escrito pelo Presidente da Província de Alagoas, Antônio Joaquim de Moura, Adalberto Marroquim, com seu Terra das Alagoas, lançado em 1922 - segundo Bruno “uma viagem imagética ao passado; um deleite visual antes de tudo” -, e O Bangüê nas Alagoas, de Manuel Diégues Júnior.


Dirceu e Jorge de Lima


O pesquisador Dirceu Lindoso e o seu A Utopia Armada também faz parte da lista e é considerado um dos títulos fundamentais para o estudioso. “Junto com a tese de doutoramento de Luiz Sávio [ainda inédita], é obra importantíssima por incluir os pobres [índios, caboclos e negros] também como atores da nossa história e da historiografia de e sobre Alagoas”.


Geografia de Alagoas, de Ivan Fernandes Lima, também comparece no conjunto de Bruno César, juntamente com outras obras do autor, igualmente importantes, como Maceió, Cidade Restinga e Ocupação Territorial de Alagoas.


Moacir Santana é citado por seu livro História do Modernismo em Alagoas. “Esse livro é a melhor fonte para se apreciar as relações entre a vida provinciana e os movimentos artístico-literários do Brasil, nas primeiras décadas do século”. Calunga, de Jorge de Lima, completa a lista das obras básicas para a compreensão de Alagoas, segundo Bruno César Cavalcante. |LM


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Luitgard Cavalcante e o legado dos literatos


De sua casa, no bairro de Laranjeiras, na capital carioca, a antropóloga alagoana Luitgard Cavalcante Barros também topou o desafio de apontar os autores e os livros fundamentais para o entendimento da chamada “terra dos caetés” (ou seria “terra dos marechais”?). Enquanto organizava a confusão de papéis em sua mesa de trabalho, ela foi traçando a bibliografia que considera basilar para a compreensão da formação do Estado.


“A Solidão dos Espaços Políticos, de Luis Nogueira Barros”, começa, citando o ensaio político do médico nascido em Pão de Açúcar, publicado em 1988. “É um livro muito interessante para se conhecer Alagoas”, diz. Outra fonte primordial, segundo ela, são os Relatórios de Províncias no Brasil, que podem ser encontrados na Biblioteca do Congresso Nacional. “Muita gente está bebendo dessa fonte”, comenta, dando o caminho das pedras para os pesquisadores desavisados. Viçosa das Alagoas, de Alfredo Brandão, recém-lançado em edição fac-similar estão nesse conjunto, junto com os escritos do professor Hélio Gazaneo.


Para ela, a literatura alagoana representada por Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Lêdo Ivo e Breno Accioly “dizem demais sobre Alagoas”. Luitgard diz que, antes dos historiadores, os literatos resolviam o problema. “São Bernardo e Vidas Secas são importantíssimos. Angústia é Maceió”, diz. “Calunga, de Jorge de Lima, é essencial”, avalia.


O tio do contista Breno Accioly, Tadeu Rocha, e seu trabalho sobre Delmiro Gouveia, é citado por Luitgard como referência para o entendimento das relações sociais no sertão alagoano. A Utopia Armada, de Dirceu Lindoso, também entra na lista da antropóloga. Da história para o teatro, as peças de autoria de Pedro Onofre seriam mais uma indicação na busca dos caminhos para o entendimento do nosso Estado. E mais: Pontes de Miranda, Abelardo Duarte, Moacir Santana, Mário Marroquim, Medeiros Neto, Pedro Costa Rego, o poeta Aloísio Branco, o jurista Guedes de Miranda, o historiador Moreno Brandão, as crônicas de Arthur Ramos, Ernesto Senna, Douglas Apratto, Otávio Brandão e Walter Pedrosa. |LM


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Dirceu Lindoso busca fontes d'além mar


Citado por boa parte dos estudiosos consultados, o professor Dirceu Lindoso é hoje uma unanimidade entre os principais nomes que se debruçam sobre Alagoas. Autor de títulos fundamentais que ajudam a desvendar episódios da nossa história, a exemplo de A Utopia Armada e Formação de Alagoas Boreal, o pesquisador nascido em Maragogi listou alguns livros e fontes nas quais, segundo ele, encontram-se guardados os registros necessários para a compreensão de seu Estado natal.


Lindoso aponta fatos para ele cruciais, cujo entendimento é imprescindível para a compreensão de Alagoas. O processo de formação das cidades de Penedo, Anadia, Viçosa e Maceió é parte essencial desse quebra-cabeças, segundo o pesquisador. A Guerra dos Bárbaros (o levante das tribos confederadas Tapuias) e o que ele denomina de Guerra dos Palmares também seriam episódios importantes para esse processo.


“Livros sobre a história de Alagoas quase não há. O que existe é documentação. Os documentos sobre a Guerra dos Palmares estão todos em Portugal”, afirma Dirceu. “Tem gente que fala que eu sou inventivo, mas eu pesquisei e li essa documentação”, diz ele.


“Se você estudar a destruição de Palmares, você vai ver que o motivo foi a terra, que era muito fértil naquela região. Essa história de que os negros se suicidaram pulando de penhascos não existe. Eram mais de 30 mil negros e a maior parte foi vendida para o sul do Brasil e para a América Central”, conta.


Pioneirismo


Dirceu garante que foi ele o primeiro a tocar no assunto de que havia uma cultura alagoana - o termo cultura era tratado de outra forma. Ele afirma também que é pioneiro em Alagoas no uso do método de pesquisas históricas antropológicas. “Eu trouxe esse método novo de estudar a cultura alagoana que os outros historiadores não tinham”, observa.


Segundo Lindoso, grande parte dos documentos históricos sobre Alagoas estaria na Europa. As informações sobre todas as tribos de índios que habitavam as regiões de Penedo até o alto sertão alagoano estão no Arquivo de Évora, em Portugal. O pesquisador conta ainda que o Arquivo das Índias Ocidentais, na Holanda, também guarda informações sobre a população indígena dos primórdios de nossa formação.


Nos acervos de São Petesburgo, Torre do Tombo, Portugal, Leningrado, Luanda, Uidá, na Nigéria, e Moçambique estariam guardados, segundo Lindoso, documentos importantes sobre a história de Alagoas. “Essas são as minhas fontes. São diferentes das fontes de outros pesquisadores daqui”, explica. “A nossa história não começa aqui”.


Da própria lavra


Quanto aos livros, Dirceu começa indicando os seus: A Utopia Armada: Rebelião de Pobres na Mata do Tombo Real, A Interpretação da Província e Formação de Alagoas Boreal. O pesquisador diz considerar o livro de Manuel Diégues Júnior, O Bangüê nas Alagoas, um dos principais. Cita também Jaime de Altavila, Cristiano Barros, Théo Brandão, especialmente seu estudo sobre o pastoril, e Otávio Brandão.


Sobre Alfredo Brandão, ressalta Viçosa das Alagoas e a sua conferência no Congresso de Cultura Negra do Recife, de 1934. Dirceu critica Próspero Caroatá, embora ache sua leitura fundamental. “Ele fala tanta coisa, mas não cita os negros como parte da população. É a história vista do copiá da casa grande”, observa. LM


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Moacir Santana começa com Bangüê nas Alagoas


Autor de mais de 50 obras sobre a história alagoana e seus personagens, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Alagoana de Letras, Moacir Medeiros de Santana escreveu obras importantes para a compreensão da formação histórica de Alagoas. À frente do Arquivo Público de Alagoas há mais de 40 anos, o historiador também listou as obras e documentos segundo os quais é possível entender a verdadeira alma alagoana.


Ele começa citando O Bangüê nas Alagoas, de Manuel Diégues Júnior, e lembra da visita que fez ao escritor em seu apartamento, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, em 1969. “Ele morava na Rua da Matriz, em Botafogo, numa casa alugada”, conta Moacir.


“Outra sumidade se chama Luis Sávio de Almeida”, diz Moacir Santana, citando Crendices e Superstições em Alagoas, O Negro e a Construção do Carnaval no Nordeste e Alagoas nos Tempos do Cólera, Comeram Dom Pero Fernandes Sardinha e Dois Dedos de Prosa com os Karapotó. “Este homem é uma enciclopédia ambulante”, comenta, sobre Sávio.


Craveiro Costa (1874-1934) é outro considerado fundamental por Moacir Santana, de quem aponta os livros O Indicador Geral do Estado das Alagoas (1902) e Biografia do Visconde de Sinimbu (1937). “Ele era um funcionário público que tinha uma redação maravilhosa”.


A Geografia Alagoana, de Tomás Espíndola, também entra na sua lista, assim como Alfredo Brandão, Otávio Brandão e Théo Brandão, especialmente O Folclore de Alagoas (1949). O jornalista e crítico literário Valdemar Cavalcanti (1912-1982) seria importante para o conhecimento da vida artística e literária de Alagoas. Dele, Moacir indica Jornal Literário (1960), 14 Poetas Alagoanos e suas colaborações em jornais da capital. Ainda no terreno literário, o historiador menciona Calunga e O Mundo do Menino Impossível, de Jorge de Lima, e a obra de Graciliano Ramos, onde estariam contidos aspectos relevantes de Alagoas.


Moacir fala ainda do que ele chama de “livros ferramentas” ao citar os Anais da Biblioteca Nacional e o Dicionário de Victorino Blake, onde constam indicações importantes sobre publicações e onde elas podem ser encontradas. O ABC das Alagoas, de Francisco Reinaldo Amorim de Barros, um dicionário biobibliográfico, histórico e geográfico de Alagoas, lançado este ano pela editora do Senado Federal, é outra obra a ser consultada por quem pretende conhecer Alagoas, segundo Santana. |LM

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